O sol só nasce para iluminar Raquel
Terra de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, referência mundial na área, cujo legado transformou o ensino ao defender a educação como ferramenta de libertação e consciência crítica, Pernambuco passa a ter agora, na desastrosa gestão Raquel Lyra (PSDB), a Secretaria de Educação ocupada por um nome sem qualquer experiência no setor.
O novo secretário de Educação, Gilson Monteiro Filho, é mais um braço sem qualificação da extensão, lamentável, da chamada “República de Caruaru”. Uma pena para um Estado que já teve à frente da política educacional nomes de renome como José Jorge, hoje ministro aposentado do TCU; Silke Weber, pedagoga e socióloga; Mozart Ramos, ex-reitor da UFPE e ex-presidente da Fundação Ayrton Senna; e Raul Henry, que fez da Educação um dos pilares de sua trajetória política.
Em se tratando de Raquel Lyra, que tem medo de sombra, como disse pelas redes sociais o ex-secretário de Educação paulista que levou um chute no traseiro, ter um secretário numa das pastas mais importantes do Estado, sem qualquer vivência pedagógica, cuja atuação sempre esteve distante das salas de aula e das discussões sobre políticas educacionais, não surpreende.
Leia maisA bem da verdade, sua maior credencial é ser o fiel executor das ordens e assinador de cheques de Raquel Lyra. Gilson já respondia, interinamente, pela pasta, desde janeiro, quando Alexandre Schneider, o paulista importado por sugestão de Gilberto Kassab, foi demitido, mas saiu com a versão de que pediu exoneração após apenas seis meses no cargo.
Nos bastidores, especula-se que Schneider foi afastado do governo por resistir a pedidos de interferência nos critérios do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE), um dos pilares da avaliação da qualidade do ensino no Estado. Agora, o posto máximo da Educação é ocupado por alguém que nunca teve protagonismo nas discussões pedagógicas ou nas políticas públicas para o setor, mas que se consolidou como homem de confiança de Raquel Lyra desde sua gestão em Caruaru.
A trajetória de Gilson Monteiro Filho passa longe das políticas educacionais. Formado em Direito pela Associação Caruaruense de Ensino Superior (Asces), atuou por dez anos como procurador do município de Caruaru, entre 2009 e 2019. Depois, ocupou cargos administrativos na gestão de Raquel Lyra na Prefeitura, sendo secretário executivo de Licitações e Contratos (2020-2021) e secretário de Administração (2022).
Em 2023, quando Raquel assumiu o Palácio do Campo das Princesas, ele foi integrado à equipe da Secretaria de Educação, mas em uma função estritamente burocrática: secretário executivo de Administração e Finanças. Gilson na Educação reforça a tese, corrente em todos os segmentos formadores de opinião, de que a governadora só escolhe secretários que não lhe façam a mínima ameaça de o sol deixar de nascer e brilhar apenas para ela.
CONTROLE ABSOLUTO – A escolha de Gilson para a Secretaria de Educação, o segundo maior orçamento do Estado, demonstra um movimento de controle político da pasta. Em um Estado que construiu um dos mais bem-sucedidos modelos de ensino médio público do País, com escolas em tempo integral e resultados expressivos em avaliações nacionais, o cargo mais estratégico da área foi entregue a alguém que tem apenas o histórico de ser, politicamente, alinhado à governadora.

Kits e merenda, eis o mistério! – A oficialização do novo secretário Gilson Monteiro Filho ocorre em meio a uma sucessão de crises na educação estadual. A pasta passou por duas trocas de comando em pouco mais de um ano, vem enfrentando o adiamento para compra de kits escolares e contestações na licitude para compra e distribuição da merenda escolar, em razão da dispensa emergencial para abastecer a rede estadual de ensino, conforme este blog antecipou com provas irrefutáveis.
Evangélicos: a ameaça à reeleição de Lula – O crescimento constante e o posicionamento político resistente ao PT dos evangélicos ameaçam as possibilidades de reeleição do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026. Segundo estudo da Mar Asset Management, divulgado ontem pelo portal Poder360, mais de ⅓ da população brasileira (35,8%) será evangélica em 2026. Eram 32,1% em 2022. O PT e os partidos de esquerda têm menos votos em municípios com maior presença desse grupo.
Por que Tarcísio esconde o jogo? – A pelo menos uma alta autoridade da República, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitiu, numa conversa privada em Nova York, há cerca de dez dias, que nem sob tortura dirá em público neste momento que deve mesmo ser candidato à presidência em 2026, segundo a coluna de Lauro Jardim, de O Globo. Tudo isso, claro, porque o padrinho dele, o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda alimenta esperanças de recuperar sua elegibilidade, o que não está fora de cogitação com a chegada do bolsonarista Hugo Motta (Republicanos-PB) à Presidência da Câmara.

O exemplo do Ceará – Diferente do que ocorreu em Pernambuco, sábado passado, em Fortaleza, 115 torcedores do Fortaleza e Ceará, que brigaram, ontem, pelas ruas da capital antes do jogo, foram presos imediatamente. E tudo se encerrou por ali mesmo, sem a barbárie do que rolou por aqui. Isso é prova de diferença de gestão, de pulso e capacidade de decidir. Em Pernambuco, lamentavelmente, o que se viu foi os clubes serem punidos, enquanto os delinquentes continuam soltos, prontos para desafiar a polícia e o governo mais uma vez.
CURTAS
PREFEITOS 1 – Aproveitando a presença de vários prefeitos em Brasília, hoje, convocados pelo presidente Lula, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, resolveu reunir o Conselho Político da entidade, que recentemente foi ampliado. Na pauta, está o que será prioridade para os municípios ao longo deste ano no Congresso e no Planalto.
PREFEITOS 2 – Entre o que é mais urgente, está a PEC que traz um pacote de medidas importantes para a previdência dos municípios. A proposta parcela as dívidas dos municípios em até 300 meses. Há ainda o novo regime especial de precatórios, com limite anual para pagamento; e a extensão da reforma previdenciária com as mesmas regras do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) dos servidores da União para os Municípios. São mais de R$ 330 bilhões em impacto aos municípios.
QUEM CALA, CONSENTE – O ex-prefeito de Salgueiro, Marcones Libório Sá (PSB), não deu um pio em relação ao rombo de R$ 20 milhões que teria deixado para o seu sucessor Fabinho Lisandro (PRD). Os detalhes da herança maldita foram apresentados pelo próprio Lisandro numa coletiva com jornalistas na última quinta-feira.
Perguntar não ofende: Com exceção de um seleto grupo de Caruaru, quem conhece o novo secretário de Educação de Raquel?
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