Do blog do Luís Machado
Nestes tempos de turbulência na Igreja Católica, não faltam comentários de que, de fato, não há nada tão ruim que não possa piorar. É que, enquanto ocorre em Roma a portas fechadas o controvertido “Sínodo da sinodalidade”, aqui no Recife abriu-se uma discussão, nessa sexta-feira (27), em torno de uma permuta imobiliária feita entre a Arquidiocese de Olinda e Recife e a Prefeitura do Recife, a qual, segundo pessoas consultadas, teria sido prejudicial para a Cúria arquidiocesana.
Consta que, há mais de uma década, os mais de cem mil metros quadrados (equivalentes a mais de 10 campos de futebol) onde está encravado o antigo Sítio da Tamarineira – nas proximidades das avenidas Norte, Rosa e Silva e da Rua Cônego Barata, tem-se constituído na cobiça principal de Construtoras e de governos municipais, por conta do valor multimilionário da área objeto da citada transação.
Leia maisA situação vinha se arrastando desde a gestão do então Arcebispo Dom Fernando Saburido, até que nesta sexta-feira (27), o prefeito João Campos (PSB) e o novo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson, após aprovação do Vaticano, decidiram formalizar a permuta por outra área, na Zona Sul do Recife, do Sítio da Tamarineira que juridicamente pertence à Santa Casa de Misericórdia. Esta é ligada à Arquidiocese.
Se por um lado a negociação foi um gol de placa para o prefeito João Campos, que promete construir no local o segundo maior espaço verde da Capital, numa espécie de complexo de lazer beneficiário, especialmente para idosos e crianças de vários bairros do entorno. Por outro lado, já suscita críticas do mundo católico pelo fato de que, se para o município foi ótimo, para o patrimônio da Arquidiocese foi péssimo.
Para se ter uma ideia, os aludidos 105 mil metros quadrados do Tamarineira estão sendo trocados por apenas seis lotes (18 mil metros quadrados), situados no antigo Aeroclube do Pina, onde a prefeitura constrói o Parque Eduardo Campos. Comemorando o que poderá lhe trazer estupendo capital político, disse João Campos que na aludida transação imobiliária, o município economizaria R$ 35 Milhões, se fosse necessário desapropriar a área.
Pois é nesse aspecto que residem as críticas principais, já que, segundo dizem, numa eventual desapropriação a Igreja faria caixa para tocar suas obras sociais, ao invés de receber uma área que, ao que tudo indica, não será beneficiada. Segundo dizem, nem a Santa Casa nem a Arquidiocese têm dinheiro para construir alguma obra relevante no novo local.
Sustentam algumas das pessoas ouvidas em anonimato pelo Blog Luís Machado que, até para pequenas reformas de seus templos paroquiais, precisam fazer bingos, rifas e outros tipos de campanha para arrecadar dinheiro. Fica a Arquidiocese pressionando os padres responsáveis, nas 150 paróquias situadas nas 19 cidades de sua jurisdição eclesial, para que repassem à AOR os percentuais exigidos de contribuições ofertadas pelos fiéis.
“Ora, se tem a possibilidade real de arrumar milhões, então por quê desperdiçar a oportunidade? O que há, então?” questiona um paroquiano, ouvido pelo blog e pediu para não ser identificado.
Procuramos a Arquidiocese para falar sobre o assunto e até mesmo para dizer o que pretende fazer com os seis lotes objeto da permuta. Nos foi sugerido pelo secretário do Arcebispado, Padre Moisés Ferreira, que procurássemos a Santa Casa de Misericórdia. Procuramos a Santa Casa, que nos disse que o diretor de Patrimônio da instituição nos retornaria, mas até o fechamento dessa edição não nos retornou.
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