A música é um dos pilares possíveis da justiça social. Quando aliada aos ideais que valorizam a promoção de oportunidades aqueles que mais precisam, pode ser um fio condutor capaz de transformar sonhos em realidade. Exemplo na busca por reparação de desigualdades é a Orquestra Criança Cidadã (OCC), do Coque, que se apresenta, daqui a pouco, às 19h30, na praça Arruda Câmara, em Afogados da Ingazeira.
O grupo chega ao Sertão do Pajeú, pela primeira vez, numa promoção do Grupo empresarial GM, em comemoração ao aniversário de 40 anos do Maria do Carmo Diagnósticos, laboratório de excelência na região, do casal empresário Maria do Carmo e Joseph Domingos.
Leia maisA maior conquista da Orquestra é realizar a transformação de vidas desses jovens pobres.”O projeto deu certo e está dando certo por ser de inclusão social pela música, com o maior objetivo de formar o cidadão”, disse o idealizador e coordenador geral da Orquestra, João Targino.
Na pandemia, a OCC passou cerca de um ano e quatro meses funcionando no modelo on-line e híbrido – de um lado, visto como alternativa para a continuação das aulas. Por outro, representou mais um contratempo frente ao número de crianças da comunidade sem acesso à internet ou aos aparelhos eletrônicos necessários.
“O sentimento é de conquista a cada ano. Estávamos vivendo um período muito difícil para todo mundo, as crianças tinham muita dificuldade, alguns alunos não tinham internet. Outros, só o pai tinha o celular e levava para o trabalho, e a criança não conseguia assistir às aulas. Foi muito difícil”, descreveu a professora de iniciação musical da Orquestra, Rebeka Muniz. Segundo ela, a alta no desemprego no País tem sido outro fator adverso, uma vez que a permanência das crianças no projeto ficou em risco.
“Às vezes, vem a desmotivação, às vezes os pais querem que o filho comece a trabalhar logo para ajudar em casa e o aluno perde oportunidade de estudar. Mas entre tantas dificuldades, a maior conquista é conseguir segurar esses alunos”, acrescenta. Isso é possível, muitas vezes, por meio da bolsa auxílio oferecida pela OCC aos alunos que tocam na Orquestra.
Foi através das sementes espalhadas pela Orquestra Criança Cidadã que Rebeka, hoje, colhe seus próprios frutos. Aos 10 anos de idade, ela projetava ser professora de matemática. Os sonhos, no entanto, mudaram a partir do primeiro contato com a música. A recifense fez parte da primeira turma da Orquestra, iniciada em 2006. No projeto, tocou viola por sete anos e viu a mudança social acontecer na prática, por meio de sua própria história. Hoje, aos 25, ela tem licenciatura em Música pela Universidade Federal de Pernambuco e é a primeira ex-aluna a se tornar professora no projeto.
Titulação que carrega com orgulho, principalmente quando olha para trás e observa a trajetória que trilhou. Rebeka Muniz foi aluna e, hoje, é professora de iniciação musical. “Foi a realização de um sonho. Quando eu era aluna, tive como inspiração uma professora e foi quando decidi que queria ser professora de música da Orquestra, para que eu pudesse retribuir a outras crianças da minha comunidade aquilo que eu recebi. Sou totalmente realizada fazendo o trabalho que faço lá”, afirmou.
Ao todo, a Orquestra Criança Cidadã atende 400 crianças distribuídas nos núcleos do Coque, Ipojuca e Igarassu, e já levou a música clássica, regional e pernambucana para países como Alemanha, China, EUA, Argentina, Itália e Portugal. Este mês deve ser inaugurada a Escola de Formação de Luthier e Archetier, com o objetivo de profissionalizar jovens na fabricação de instrumentos e arcos.
Leia menos