Se a moda pega…
Se os debates no Recife envolvendo os candidatos a prefeito reproduzirem o que se deu no primeiro confronto na Band entre os postulantes a gestor da Prefeitura de São Paulo, a maior do País, o nível será subterrâneo. Foi um horror! O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi alvo preferencial de todos os concorrentes.
Na única vez em que tentou fazer uma dobradinha com Pablo Marçal (PRTB) para criticar Boulos, viu o influenciador e empresário devolver com ataques de cunho pessoal, como apontar “problemas cognitivos” no emedebista. Nunes precisou ficar quase o tempo todo na defensiva, exatamente como já estava esperando.
Leia maisA fúria dos demais com Nunes ajudou Boulos (Psol) a apanhar menos do que o previsto. Sobretudo de Datena (PSDB) e Tabata (PSB), que parecem muito mais dispostos a fustigar o prefeito. O psolista não escapou ileso, é verdade. Mas as respostas que precisou dar foram sobre temas pelos quais já é abordado há outros tempos: a relação com o governo Lula.
E as contradições da esquerda na defesa da democracia e a posição no movimento social que promove invasões de prédios desocupados. Enquanto as trocas de farpas ganhavam atenções, Datena ficou apagado a maior parte do tempo, sobretudo no primeiro bloco, o que tem a maior audiência nesse tipo de encontro.
Ganhou atenção apenas nos embates com Nunes. Não que precise de conhecimento de quem tanto tempo ficou na TV, mas em meio ao desafio de despontar em meio à disputa particular com Tabata e Marçal pelo título de opção à polarização dos dois primeiros, foi pouco. Tanto que saiu reclamando de que foi atrapalhado e que não estava acostumado com o formato.
Pablo Marçal, como dito, queria fazer do embate um picadeiro para ganhar evidência nas redes sociais. As frases de efeito e o estilo kamikaze não trazem nada para o debate público, mas funcionam para quem queria chocar quem não o conhece e viralizar nas redes sociais. Saiu como o previsto, sendo sem qualquer dúvida o candidato mais citado nas redes.
Mas ele acabou caindo em uma armadilha ao ver o tema de sua condenação por fraude bancária tornar-se o principal assunto relacionado ao seu nome. Ao prometer desistir da candidatura se a condenação existisse (e ela existe), levantou a bola primeiro para Tabata e depois para Boulos. Na fala dela sobre o tema, ficou visivelmente nervoso.
Vantagem para Tabata – Nesse cenário, o debate serviu mais justamente a Tabata. Não pelo fato de que ela tenha se destacado em relação aos demais. Mas, enquanto pouco apanhou e tentou mostrar postura mais ponderada, a candidata do PSB acabou aproveitando sobretudo os embates com Marçal em relação à condenação do ex-coach, e com o prefeito sobre o boletim de ocorrência de agressão à mulher, para tornar-se conhecida de parte do eleitorado. Se a essa hora não são tantos os que ficam acordados para ver o debate, os recortes nas redes e a repercussão no dia seguinte devem ajudá-la nesses dois pontos.
Cabeçada em Teresina – Em Teresina, o prefeito Dr. Pessôa (PRD) agrediu o candidato do PSOL à Prefeitura da capital piauiense, Francinaldo Leão, durante o debate realizado na quinta-feira passada. Após responder uma pergunta de Francinaldo, Pessôa deu uma cabeçada no rosto do adversário. Após a agressão, Francinaldo pediu respeito por parte de Dr. Pessôa. O prefeito de Teresina, por sua vez, acusou o candidato do PSOL de dar cusparadas durante o debate. “Com todo o respeito, eu estou fazendo perguntas que o povo quer fazer”. “Não me cuspa, está molhado, deixa eu tirar o lenço aqui”, respondeu o chefe do Executivo teresinense.
Amor por Maduro – Em São Paulo, o debate na TV Band indicou ainda o que já se esperava: Guilherme Boulos (PSOL), até aqui o líder nas pesquisas de intenção de voto, não mira em Tabata Amaral (PSB). Os dois deputados de partidos de esquerda deverão ser aliados num segundo turno. O mesmo Boulos tentou flertar com Datena (PSDB) em dobradinha, mas o jornalista e apresentador de televisão, que estreia numa corrida eleitoral, refugou. Preferiu lembrar que o deputado do PSOL gosta do ditador Nicolás Maduro.
0071 goiano – O único assunto que conseguiu unir a maioria dos candidatos em São Paulo foi o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Candidato à reeleição e bem posicionado nas pesquisas, Nunes foi atacado por Datena, Boulos, Tabata e Marçal. Este último cumpriu o papel de franco atirador. Chamado de “0071 goiano” por Tabata, Marçal falou palavrão, insultou os demais e tentou arrastar o nível do debate para abaixo do rés do chão.
Tirar a cadeira de prefeito – Quando Nunes propôs uma aparente trégua perguntando a ele sobre investimentos em empreendedorismo, levou de volta uma pedrada de Marçal: “minha proposta número 1 é te tirar da cadeira de prefeito”, respondeu o candidato do PRTB. Nos momentos em que não se atacavam, os candidatos concordaram que o centro de São Paulo precisa voltar a ser lugar seguro e que a saúde tem filas de espera longas demais e que precisam ser encurtadas. Para o transporte público estrangulado, uma e outra promessa foi lançada ao vento. Coisa comum em campanha.
CURTAS
VAI DEVOLVER – O presidente Lula (PT) disse, na reunião ministerial, que devolverá o relógio Cartier que ganhou em 2005. Fará isso para evitar que a manutenção da peça seja utilizada para beneficiar Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias sauditas. O ministro do Desenvolvimento Agrário usou sua conta no X para dizer que o presidente não quer “se confundir” com uma decisão que pode beneficiar seu adversário político.
AUDIÊNCIA BAIXA – Levantamento exclusivo do Poder360 mostra que GloboNews, Jovem Pan News, CNN Brasil, Record News e Band News têm no máximo 195.636 telespectadores assistindo a essas cinco emissoras ao mesmo tempo. Esse número médio dos seis primeiros meses de 2024 é alcançado no período da tarde (12h-17h59), que é o de melhor desempenho.
DESPENCOU – A Globo News, emissora da família Marinho, teve um pico de audiência em maio por causa do destaque dado em seu noticiário para as enchentes no Rio Grande do Sul, mas despencou um mês depois. Em janeiro de 2024, tinha até 125.766, em média. Agora, tem no máximo 93.160.
Perguntar não ofende: João Campos vai mesmo a todos os debates no Recife?
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