Por José Adalbertovsky Ribeiro*
Dedico este artigo ao meu colega o artista americano Bill Finger, criador do super-herói Batman para combater os delinquentes de Gotham City da Guanabara
MONTANHAS DA JAQUEIRA – No reino de Gotham City existe um território chamado de Baía da Guanabara do Rio das Pedras de Janeiro. Batman, o homem morcego, mandou prender todos os donatários que praticavam descuidos nas sesmarias do poder. O mais graúdo deles roubou até as pilastras da ponte Rio Gotham-City-Niterói e foi condenado a 400 anos de cadeia em homenagem a Padrálvares. Mas, foi anistiado por bom comportamento democrático porque praticava apenas pequenos furtos na cadeia produtiva dos roubos.
Leia maisCom suas mãos bobas os fariseus da Baia de Ghotam City da Guanabara furtavam os cofres públicos, cofres particulares, relógios Rolex, Relógios Roskopf, merendas das crianças, remédios dos velhinhos, automóveis, asfalto das estradas, aviões, celulares. Um dia um iate pousou no jardim do donatário da sesmaria da Guanabara. Subitamente, não mais que subitamente, o iate voou para o bolso do fariseu. Milagre! O cara falou que o iate voou por conta própria, assim feito os passarinhos. Se os bois voam, engenhocas também voam, disse ele.
Depois de cumprir uma temporada de luxo atrás das grades e de ser anistiado por bom comportamento democrático, o cara hoje é um cidadão recuperado. Só rouba celulares no calçadão da praia de Gotham City. Será homenageado pelos bicheiros como a alma mais honesta da Baía de Gotham City. Com seu gingado de malandro, vai desfilar como porta bandeira da ala dos lobisomens.
A malandragem da Guanabara de Gotham City tem raízes históricas. O tempo é uma árvore, um pé de coentro, um baobá, deita raízes, gera flores, folhas, frutos e espinhos. A suntuosa “Gaiola de Ouro” de RJ, inaugurada em 1923 para abrigar os conselheiros da antiga Capital da República, consumiu 23 mil contos de reis. Uma exorbitância, pois o Teatro Municipal, muito mais luxuoso, custou na época 10 mil contos de reis. É a casa dos vereadores. Com móveis banhados a ouro, vem daí o apelido.
O apelido ufanista “Cidade Maravilhosa” vem do cancioneiro popular. A opinião pública é um papagaio falante, repete tudo que a mídia divulga. Paisagem são apenas geografia. A poetisa americana Elizabeth Bishop bem disse: “The Rio de Janeiro não é uma city maravilhosa, é uma paisagem maravilhosa para se construir uma city”. O donatário Duarte Coelho cantou em Olinda: “Olinda situação para se construir uma vila!” Os maconheiros hoje dizem, ao contemplar o pôr-do-sol no Alto da Sé: “Ó linda situação para dar uma tapa na pantera!” Geografia vale para a fauna e a flora. Cidades são convivências, humanidades, civilidade, habitação, segurança, saúde, qualidade de vida.
Aquela é uma cidade maravilhosa para os milicianos, bicheiros, bandoleiros e seus parceiros. Assim feito na Faixa de Gaza, milhões de criaturas são feitas de escudos humanos na mira de guerrilheiros urbanos e cada esquina é uma cruzeta.
*Periodista, escritor e quase poeta
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