O golpe vergonhoso de Trump
Sob o ponto de vista econômico, o tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, pelo diabólico presidente americano Donald Trump, terá impacto profundo na indústria nacional. Os Estados Unidos são um importante mercado para produtos como aço, petróleo e aviões. Apenas nos primeiros seis meses deste ano, o Brasil vendeu aos americanos o equivalente a 20 bilhões de dólares.
Com a taxação, as mercadorias ficarão mais caras para quem importa e as transações comerciais entre os dois países tendem a diminuir, desorganizando toda a cadeia produtiva. Sob o ponto de vista político, a confusão também promete ser de grandes proporções. Pego no contrapé, o governo reagiu à ofensiva seguindo o protocolo indicado para uma guerra comercial.
Leia maisAnunciou que pretende sobretaxar na mesma proporção as importações oriundas dos EUA, enquanto tentará resolver o impasse por meio dos canais diplomáticos. O problema é que, a exemplo de uma guerra convencional, o lado mais frágil tende a levar a pior quando não há equilíbrio de forças. E o Brasil é o lado mais fraco dessa disputa.
Em 2 de abril, quando Trump anunciou as novas taxas de importação que seriam cobradas sobre os produtos de cada um dos países com os quais os Estados Unidos mantêm relações comerciais, o Brasil tinha se dado bem, aparentemente. As exportações para os Estados Unidos pagariam “apenas” os 10% de alcance universal, ou seja, a tarifa básica à qual todas as nações seriam submetidas.
O fato de Trump ter definido alíquotas muito mais altas para parceiros como Vietnã (um total de 46%) ou China (34%, que escalaram para mais de 100% depois) foi entendido até mesmo como uma oportunidade para empresários brasileiros ocuparem espaços no mercado americano. De uma hora para a outra, a conta mudou completamente. A taxa imposta agora ao Brasil é a mais alta de todas as que foram anunciadas para mais de vinte países. Na prática, foi um golpe americano na soberania brasileira.
Inicialmente poupado do pior, o Brasil passou a ser o mais atingido pela guerra tarifária do demônio em forma de gente. Não há nenhuma justificativa econômica para isso. A raiz do conflito é outra: uma investida em assuntos comerciais associada a um jogo vergonhoso e sujo na tentativa de salvar o ex-presidente Bolsonaro da cadeia, o curso mais natural do processo que se afunila no STF.
PROMESSA CONCRETIZADA – Trump, como se sabe, cultua uma certa admiração pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Antes mesmo de ser oficializado como candidato ao governo dos Estados Unidos, em 2024, ele disse a Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três do capitão, que a situação jurídica do ex-presidente seria tratada como prioridade caso retornasse à Casa Branca. Faria, enfim, o que fosse possível para ajudar Bolsonaro a se livrar do processo que tramita no STF, onde é acusado de tramar um golpe de Estado no fim de seu governo.

Eduardo mobilizou parlamentares americanos – Desde que tomou posse, em janeiro, Trump enviou recados por meio de seus assessores e aliados indicando que estava disposto a cumprir a promessa. Autoexilado nos Estados Unidos a pretexto de fugir da “perseguição” promovida pelo STF na figura de Alexandre de Moraes, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) mobilizou parlamentares americanos, distribuiu dossiês com um inventário de decisões do ministro tidas como controversas e manteve contatos durante todo esse tempo com a Casa Branca. Numa entrevista à revista Veja chegou a dizer que Moraes se comportava como “um tirano” e que o Brasil estava vivendo sob um regime de exceção.
Peixes retidos em Suape – Apenas 24 horas após Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil, empresários norte-americanos suspenderam a compra de pescados brasileiros. Por isso, 58 contêineres de peixes, lagostas e camarões foram desembarcados de três dos principais portos do Nordeste, os de Salvador, Pecém (CE) e Suape. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, 70% das exportações feitas pelo setor têm como destino os EUA, o que torna os produtores vulneráveis. Para ele, a situação vai na contramão da relação comercial que o Brasil tem com os EUA historicamente.
Preços devem subir – Os tempos sombrios na política de exportação não se restringem ao setor de pescados e já atinge outras regiões e produtos do País. A economista Regiane Vieira alerta que as cadeias produtivas que são mais sensíveis à exportação para Estados Unidos, como pescado, pode ter um reflexo na redução de empregos caso o Brasil não consiga abrir novos mercados. A economista disse, ainda, que, como primeiro efeito do tarifaço, os preços dos produtos devem subir.

Tarcísio recua na besteira que falou – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mudou o tom de aliado bolsonarista. No sábado, disse que é necessário unir “esforços” para “resolver a questão” da tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano). Na prática, a declaração representa uma mudança de comportamento depois de ele responsabilizar, em 9 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela taxação do governo norte-americano. Tarcísio havia dito que não adiantava o petista “se esconder atrás de Bolsonaro”.
CURTAS
PREFEITOS 1 – A revista Veja desta semana traz uma ampla reportagem sobre a polarização antecipada entre Raquel e João nas eleições estaduais de 2026, mas comete um equívoco: afirma que a governadora se fortalece porque está atraindo um exército de prefeitos para garantir a sua reeleição.
PREFEITOS 2 – Prefeito não tem influência nenhuma em eleição majoritária. Miguel Arraes tinha no seu palanque 150 prefeitos e perdeu a eleição para Jarbas. Eduardo Campos, por sua vez, derrotou Mendonça Filho, este no exercício do cargo e contando igualmente com mais de 100 prefeitos ao seu lado.
LANÇAMENTOS – Retomo por Flores, no próximo dia 23, a agenda de lançamentos do meu livro Leões do Norte. No dia 24, estarei em Floresta e no dia 25 em Serra Talhada. Triunfo e Afogados da Ingazeira, que também tiveram suas noites de autógrafos adiadas por causa da morte da minha cunhada Socorro Martins, serão agendados para agosto.
Perguntar não ofende: Trump vai antecipar uma conversa com Lula?
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