Por Marcelo Tognozzi
Colunista do Poder360
As eleições de domingo (23) na Alemanha marcarão a volta da direita ao governo da principal economia europeia. Com a França em um momento político dos mais delicados da sua história, no qual o presidente Emmanuel Macron saiu da eleição mais fraco do que entrou, não consegue fazer funcionar o governo e corre o risco de ter seu mandato encurtado, os partidos de direita começam a conquistar o coração do eleitorado.
A esquerda vive um momento de esgotamento, não só na Europa, mas no mundo todo. As recentes pesquisas mostram uma queda acentuada na popularidade do presidente Lula, o líder com maior prestígio entre a esquerda latino-americana, com uma rejeição que beira os 60%. Lula, como o Rei Lear de Shakespeare, envelheceu sem ficar sábio.
Se sábio fosse, não teria embarcado na aventura de desejar a reeleição nesta altura da vida. Daria mais importância aos resultados do seu governo do que aos de uma eleição marcada para 2026, quando, tudo indica, haverá fortíssima renovação no Executivo e no Legislativo.
Leia maisNa Espanha, as últimas pesquisas mostram uma ascensão cada vez mais consistente do PP (Partido Popular) de centro-direita, com um encolhimento do Psoe (centro-esquerda) do primeiro-ministro Pedro Sánchez, cujo governo vem tropeçando em escândalos de todo tipo.
Áustria, Holanda, Itália, Grécia, Polônia, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Hungria estão governadas pela direita e centro-direita. No início deste mês, Bart de Wever, líder do partido nacionalista Aliança Flamenga, foi empossado primeiro-ministro na Bélgica.
A volta da direita na Alemanha passou a ser uma realidade depois dos sucessivos fracassos do governo social-democrata de Olaf Sholz, num momento crucial para a União Europeia, cuja diplomacia não mostrou competência para solucionar o conflito entre Rússia e Ucrânia, afetando a economia de um continente onde os ucranianos se transformaram nos grandes fornecedores de produtos agrícolas, especialmente soja e milho, base para a produção de aves e suínos, principais fontes de proteína do europeu médio. Além do trigo.
A Europa tem amargado momentos difíceis, com os preços da energia disparando, especialmente nesta época do ano em pleno inverno. Sem o gás russo barato e os grãos ucranianos, a qualidade de vida piorou muito.
Scholz sucedeu Angela Merkel, cujo governo era de centro-direita. Agora, enfraquecido, terá de enfrentar Friedrich Merz, do Partido Democrata Cristão (CDU), que tem 31%, seguido pelo partido de extrema-direita AfD com 21%. A se confirmarem estes números, a direita terá mais de 50% dos votos e condições para formar governo. CDU é o partido de Merkel.
A ex-líder alemã não tem a mínima simpatia por Merz. Há 25 anos, ela assumiu as rédeas do CDU depois que o ex-chanceler Helmult Kohl foi abatido por um escândalo, acusado de receber doações de um traficante de armas. Merkel assumiu o partido, tomou o poder e isolou Merz. Ele, agora, ressurge depois de traído e isolado por Merkel, que o empurrou para fora da política e fez Ursula von der Leyen comandante da União Europeia. Sem Merkel para atazaná-lo, Merz faz o caminho de volta ao poder, desta vez com inimigos menos astutos e um quadro político que é quase uma tempestade perfeita.
Para o Brasil o significado de uma vitória da direita alemã é mais uma pedra no sapato da nossa diplomacia que parece viver nos anos 1980, corteja a China e anda de braços dados com Irã, palestinos, milicianos do Hezbollah e ditaduras africanas e latino-americanas. A China, como mostra Harry Kissinger no seu livro “Sobre a China”, não vai brigar com os Estados Unidos, muito menos se meter em qualquer tipo de confusão capaz de colocar em xeque sua oferta de alimentos, porque esta é uma questão de segurança nacional que Xi Jinping conhece bem.
A volta da direita ao poder na Alemanha abre caminho para a direita francesa de Marine Le Pen, cuja renovação tem sido estimulada com o surgimento de novas lideranças como o Jordan Bardella, 29 anos, uma espécie de Nikolas Ferreira gaulês, que na sexta-feira (21) abandonou evento promovido por partidos de direita em Washington por discordar de Steve Bannon, que saudou o público com o braço erguido à moda dos nazistas. Bannon é uma figura decadente que precisa da polarização porque fez dela seu meio de vida.
Em Portugal, o deputado direitista André Ventura (Chega!) tem ganhado muito espaço com suas críticas ao governo do primeiro-ministro Luiz Montenegro, cuja leniência com a corrupção vem se transformando numa marca perigosa, não apenas na politica, mas em todos os setores, de acordo com Margarida Mano, presidente da Associação Transparência e Integridade.
Mas certamente não é por causa da corrupção da esquerda que a direita cresce e engorda dos dois lados do Atlântico. A corrupção é uma condição da humanidade, desde antes de Judas com seus 40 dinheiros.
A esquerda tem sido soberba, transita por caminhos estranhos aos interesses do cidadão comum em busca de serviços eficientes, saúde e educação. Sofre da chamada fadiga de material. E aí, como dizia o Leão da Montanha no desenho animado, “saída pela direita”. Nunca é demais lembrar que estamos entrando num novo ciclo e que nada acontece por acaso, nem a volta de Trump ou o ocaso de Lula.
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