Um choro de dor que une história, cultura e jornalismo. Não é fácil aceitar tremendo abandono. Ali, está um pedaço da história do Brasil. A Praça da Independência, situada no Bairro de Santo Antônio, onde se instalou o velho DP, já figurava na planta da Cidade Maurícia como o Terreiro dos Coqueiros, local onde funcionava um grande mercado durante o domínio holandês.
Neste período, o logradouro foi chamado ainda de Praça Grande, Praça do Comércio e Praça da Ribeira. Em 1788, mudou o nome para Praça da Polé. Em 1816, após uma reforma, mudou de denominação para Praça da União. Finalmente, em 1833, recebeu o nome atual de Praça da Independência.
Porém, ficou popularmente conhecida como Praça do Diário ou Pracinha. Em 1945, alguns comícios agitados ocorreram na Praça da Independência, em um deles, no dia 3 de março, foi morto o acadêmico Demócrito de Sousa Filho, no momento em que discursava em uma das sacadas do jornal.
A Praça passou por outras reformas na segunda metade do século XX. Em 1954, a Praça da Independência constitui-se no centro das comemorações do Tricentenário da Restauração Pernambucana. Para a comemoração, foram erguidos um conjunto de esculturas em gesso, simbolizando as três raças unidas contra o invasor, e um arco de triunfo, ambos criados pelo escultor Abelardo da Hora.
Em outra reforma, realizada em 1975, foi colocado o busto de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1891-1968), com uma caneta em punho a escrever, esculpido também por Abelardo da Hora. A Praça da Independência é considerada como aquela de maior movimento na cidade do Recife.
O Diário de Pernambuco foi fundado no dia 7 de novembro de 1825, idealizado por Antonino José de Miranda Falcão. O Diário inicialmente era impresso em prelo de madeira, e declarava, em seu primeiro editorial, ser um simples diário de anúncios. Em 1835, o comendador Manuel Figueiroa de Faria adquire o Jornal, que foi conduzido por sua família durante 65 anos.
Nessa época, o Diário viveu momentos de grandes transformações, chegando, em meados do século XIX, a rivalizar com os periódicos da Corte. O conselheiro Rosa e Silva, então vice-presidente da República, assumiu o seu controle em 1901.
Nessa fase, o jornal é envolvido por agitada disputa política, inclusive sofrendo empastelamento. A sua redação era dirigida por Arthur Orlando e entre os redatores estavam Assis Chateaubriand e Gilberto Amado. Depois de longas e difíceis negociações, o Jornal é incorporado, em 1931, aos Diários Associados e toma um novo impulso, criando novas seções e ampliando os serviços noticiosos, recebendo com exclusividade, despachos do Chicago Daily News e da United Press e operando ainda com a Reuter, o International News Service e o British News Service.
Em relação à vida literária do País, colaboraram no Jornal Tristão de Ataíde, Otávio Tarquino de Souza, José Lins do Rego, Menotti del Picchia, Murilo Mendes e Augusto Frederico Schmidt. Durante a II Guerra, o Diário de Pernambuco encarta semanalmente em suas edições um suplemento sobre o grande conflito, opondo-se ao totalitarismo representado pela Alemanha, Itália e Japão.
Em 1945, move campanha contra a Ditadura de Getúlio Vargas e, em 3 de março daquele ano, o estudante Demócrito de Souza Filho, que se encontrava na sacada do Jornal, foi morto pela polícia do Estado Novo que tentava dissolver manifestação popular concentrada em frente ao edifício.
O Diário novamente sofre empastelamento, o seu redator-chefe, Aníbal Fernandes, é preso em companhia de outros jornalistas, e o Diário de Pernambuco passa mais de 40 dias sem circular, voltando às bancas por força de mandado de segurança concedido pelo juiz Luiz Marinho.
O Jornal já foi dirigido por Nereu Bastos e Antônio Camelo. Nereu implantou o sistema de composição eletrônica e impressão off-set, nos começos da década de 1970. Barbosa Lima Sobrinho e Raquel de Queirós tornaram-se seus colaboradores permanentes.
A antiga sede do Diário de Pernambuco foi construída em 1903. Em 1968, o Jornal deu ampla cobertura à visita da Rainha Elizabeth ao Recife. A Rainha passou em frente à sede que estava iluminada, ostentando enorme faixa com os dizeres Welcome Elizabeth, um grande retrato seu e a bandeira da Inglaterra.
O então governador Nilo Coelho quis lhe mostrar a escola jornalística de Assis Chateaubriand, que fora embaixador em Londres durante o governo de Juscelino Kubistchek, no final da década de 50. A rainha mandou parar o Lincoln conversível que a levava e respondeu com acenos e sorrisos à saudação que lhe dirigiam os redatores e gráficos do Jornal.
O Diário foi condecorado com a Medalha do Rei, concedida pelo pai de Elizabeth, Jorge VI, ao ex-diretor do Jornal, Aníbal Fernandes por sua cobertura da II Guerra. Em 1985, o Jornal recebeu o seu ex-colaborador e então Presidente da República José Sarney, que prestou sua homenagem ao Diário.
Leia aqui o post neste blog que gerou o novo debate sobre o abandono no prédio do Diario.
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