Qual é o lugar da política? Após junho de 2013, surgiu no Brasil a expressão nova política. Eram inúmeros os atores que afirmavam que os eleitores desejavam nova forma de fazer política. Diversos aspirantes à atividade política e os que já a exerciam criticavam a divisão do poder com partidos políticos e a troca de favores. A política supostamente antiga estava exterminada em razão dos desejos dos manifestantes expressos nas ruas.
A operação Lava Jato surge como continuidade, não causal, das manifestações de junho de 2013. Ela chega com pressa, defendendo a destruição do sistema político vigente, pois este estava dominado pela corrupção e por práticas não adequadas para a nova política. Por consequência da Lava Jato, e aqui vejo relação causal, surge o bolsonarismo, o qual representa o fim das consequências bem visíveis das Jornadas de Junho e da Lava Jato.
A política sobreviveu aos eventos de 2013, à Lava Jato e ao bolsonarismo. A nova política, tão propalada, não nasceu. É claro que a transparência da vida pública aumentou exacerbadamente em virtude das redes sociais, mudanças institucionais e da imprensa. Contudo, a velha política, injustamente assim definida, segue a existir com vigor. Políticos desejam apoiar governos em troca de cargos. Governos querem apoio no Legislativo e ofertam espaços aos políticos. A relação Executivo-Legislativo é necessariamente simétrica.
Como o Parlamento tem poder de veto e de fiscalização, o Executivo não pode maltratá-lo. Como o Executivo tem recurso financeiro e muitos cargos, o Legislativo não pode desprezá-lo. Bons governos cooperam com o Legislativo. E parlamentares felizes cooperam com o Executivo.
Em decorrência da condenação da velha política, nasceu a dicotomia desnecessária entre o político e o técnico. Presidentes, governadores e prefeitos precisam ser políticos. No caso, eles devem saber dialogar e cooperar com o outro, em particular, com parlamentares e eleitores. O técnico que exerce a função pública nos poderes Legislativo e Executivo também. Não existe diferença entre o técnico e o político no exercício da atividade pública.
Qualquer pessoa que conquista um mandato tem algum mérito político. É claro que existem políticos que têm méritos políticos exacerbados. Suponho que chefes do Executivo sabem que precisam oferecer espaços aos membros do Legislativo para adquirir condições de governabilidade, ou seja, realizar bom governo com técnicos ou políticos.
O governador deve saber que para a condução do governo sem sobressaltos é necessário que o técnico-secretário (ministro) tenha competência (dimensão técnica) e política (habilidade política). O chefe do Executivo pode optar também em nomear o político-secretário. Este terá as mesmas obrigações do técnico-secretário: distribuir espaços no poder e contribuir para o governo ser bem-sucedido.
É absolutamente normal a oferta de espaços aos indicados de parlamentares nas secretarias. Ressalto que o deputado é um ser coletivo, representa um partido. Portanto, quando um deputado obtém espaços no governo, este representa a cota do partido no governo. Existem as secretarias com porteiras fechadas. Elas tendem a ceder espaço a apenas uma força política. E existe a secretaria com porteira aberta, a qual está à disposição de várias forças políticas.
A discussão sobre velha e nova política é inócua. A política é o instrumento para a promoção do bem-estar da população. Quando assim a política é encarada, governos são aprovados e tendem a ser reeleitos, independente se no primeiro escalão estão técnicos ou políticos. O que não pode acontecer é a negação da política com o argumento de que a nova política surgirá. A política brasileira sofre processo de aperfeiçoamento. Ela está, para o bem de todos, com alto grau de transparência.
A essência da política é a cooperação, o diálogo e a troca de apoio por espaços. Na relação política, os sábios políticos sabem que o interesse público deve estar, em algum grau, acima do interesse privado. Pois é a contemplação do interesse público que trará popularidade para os governos. Níveis de patrimonialismo existirão na máquina pública. O excesso dele dinamita a eficiência estatal. O bem-sucedido governante é aquele que pratica a política limitando os efeitos negativos advindos dela.
*Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Em 1958, eu tinha sete anos de idade e presenciei uma cena assustadora. Meu pai, Anchieta Pinto, um homem severo e honesto, partiu ao meio o receptor de rádio com uma machadada quando a Suécia abriu o placar no jogo final da Copa do Mundo da Fifa, em Estocolmo. Assim, a família inteira teve de se valer de informações dos vizinhos que acompanharam toda a partida, para saber o resultado final de 5 a 2 para o Brasil, que ali conquistou o primeiro dos cinco títulos mundiais de futebol, o que torna nosso selecionado o primeiro colocado no ranking das Copas.
O placar foi encerrado com um magistral golpe de cabeça de um rapazola de 17 anos, que ali se tornaria o atleta do século 20. Embora o jogador consagrado como melhor do torneio tenha sido Valdir Pereira, Didi, meia armador, inventor da folha seca, um chute capcioso que enganava os goleiros adversários, desviando-lhes da bola das mãos.
Em 1962, Didi ainda jogava quando Pele contundiu-se num jogo contra o México, tendo de abandonar a disputa que ficou a cargo de Mané Garrincha, o mago das pernas tortas. Eu tinha 11 anos e no primeiro ano de internato no Instituto Redentorista Santos Anjos, em Campina Grande, não tinha como acompanhar em tempo real jogos nos quais a seleção dita canarinha se consagraria bicampeã com ajuda do árbitro, que deixou de marcar um pênalti contra os campeões mundiais a favor da Espanha. E cujos cartolas raptaram o apitador do jogo semifinal contra o Chile, no qual o melhor jogador do torneio foi expulso após falha disciplinar infantil.
Em 1966, viajava do sertão para a Borborema no caminhão do meu primo Neinho quando as cidades do caminho se cobriam de luto na desclassificação dos bicampeões do mundo nos primeiros jogos. Anos depois pude acompanhar pelo YouTube o banho de bola e a pancadaria brutal do brilhante time português, dos quais o rei do futebol foi a maior vítima da violência e da impunidade, para as quais a Fifa até hoje fecha os olhos de forma vergonhosa.
Em 1970, com 30 anos, no auge de sua esplendorosa forma física, o goleador do Santos calou os críticos que o consideravam inapto para a prática do violento esporte bretão. No México, Pelé confirmou definitivamente a profecia certeira do genial autor de Vestido de Noiva nos palcos numa crônica, que o Estadão acaba de republicar. Neste coroou rei o mineiro de Três Corações, filho de Dondinho e Dona Celeste, majestosa centenária que acaba de perder seu filho, com coroa e cetro.
“Verdadeiro garoto, meu personagem, anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, Não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope” escreveu o filho de Mário Rodrigues e irmão de Mário Filho, homenageado com o nome do estádio em que o rei de Nelson fez de pênalti o milésimo gol no goleiro argentino Andrada, do Vasco da Gama, seu time do coração.
Nelson pôs na fila os franceses em cuja seleção na semifinal de 1958, ele marcou três gols, e reivindicam a primazia que deve ser transferida ao tricampeão mundial, bi de clubes e autor de proezas e encantamentos. Estes despertaram a subliteratura de Armando Nogueira, que continua sendo citado com a frase “se Pelé não tivesse nascido gente, teria nascido bola”. A publicação pelo Estadão do texto “A Realeza de Pelé”, em 25 de março de 1958, põe junto ao túmulo real as glórias em seus devidos lugares na hora em que ele estiver se apresentando ao Altíssimo lá no mais alto.
Sua Alteza Real tem biógrafo oficial no sãopaulino Benedito Ruy Barbosa, maior contador de histórias na televisão para o povo brasileiro. Autor de um livro e roteirista de um filme sobre o insigne rei morto, Benedito considera-se tricolor e pelezista. Assim como o autor deste texto contando momentos gloriosos de seu tema maior.
Em 1969, eu estava no lado certo da arquibancada para ver seu gol único contra o Paraguai, que classificou o Brasil para a /Copa, que ajudaria a conquistar para sempre. E também no momento de antologia que surpreendeu o companheiro do Santos e titular da /Argentina, Cejas.
Em julho de 1971, o menino Edson despediu-se da amarelinha no Maracanã com 138.575 torcedores contra a Iugoslávia, sendo substituído por Claudiomiro no intervalo, aos berros de “Fica, Pelé”. Na preliminar, os juvenis cariocas bateram a seleção brasileira júnior com gols de Zico, o melhor da partida. Faltou Nelson Rodrigues para profetizar a verdadeira troca: ele saiu e o ídolo do Flamengo subiu ao trono naquela tarde.
Nos anos 70, convidado por Augusto Marzagão, que organizou para a Televisa um encontro de comunicação em Acapulco, vi que as maiores atenções nunca foram paras os astros que subiram ao palco, como Umberto Eco, autor de A Obra Aberta e se preparando para se tornar best seller com O Nome da Rosa, Michael Jackson, estrela pré-adolescente dos Jackson Five, e Luis Echeveria, então presidente do país anfitrião. As multidões que o viram brilhar nos estádios do país o cercaram com amor e gratidão por seu talento e sua simpatia.
Em 1989, ouviu ao meu lado, à mesa do empresário José Carlos da Silva Júnior, Collor prometer reduzir o ministério para 12 membros, caso ganhasse a eleição presidencial. Um ano depois, o geriatra Eduardo Gomes me convidou para comemorar seus 50 anos no restaurante III Whisky, na Bela Vista, em São Paulo.
Agora eles nos deixa órfãos de sua realeza aqui na Terra para no céu confirmar a Nelson Rodrigues, o “anjo pornográfico” de Ruy Castro, que Pelé nasceu, viveu, jogou e morreu para brilhar. Rei morto, viva o Rei para sempre.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, assinou uma portaria autorizando o uso da Força Nacional na Esplanada dos Ministérios entre este sábado e segunda-feira. A medida tem o objetivo de evitar protestos organizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A portaria autoriza a utilização da tropa “na proteção da ordem pública e do patrimônio público e privado entre a Rodoviária de Brasília e a Praça dos Três Poderes, assim como na proteção de outros bens da União situados em Brasília, em caráter episódico e planejado, nos dias 7, 8 e 9 de janeiro de 2023″.
“Além de todas as forças federais disponíveis em Brasília, e da atuação constitucional do Governo do Distrito Federal, teremos nos próximos dias o auxílio da Força Nacional. Assinei agora Portaria autorizando a atuação, em face de ameaças veiculadas contra a democracia.”
Como mostramos, caravanas organizadas por apoiadores de Bolsonaro chegaram neste sábado (7) ao acampamento em frente ao Quartel do Exército em Brasília. Após a posse de Lula, o acampamento chegou a ficar quase vazio. Bolsonaristas, porém, marcaram um novo ato na capital federal na próxima segunda-feira (9).
Relatórios de inteligência em poder do governo indicam que 100 ônibus com 3.900 pessoas chegaram em Brasília com disposição de retomar protestos de rua contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Convocados pelas redes sociais, os extremistas falam em um ato na capital federal neste domingo. Para evitar depredações como as que ocorreram no dia 12 de dezembro, a segurança em Brasília foi reforçada e o governo passou a falar em endurecer o tratamento contra quem adotar discurso golpista.
Desde a posse de Lula, o acampamento dos extremistas no QG do Exército vinha sofrendo esvaziamento. Na última semana, apenas 200 pessoas permaneciam por ali. Com a chegada das caravanas de ônibus, em viagens organizadas por grupos de Whatsapp, o contingente voltou a preocupar o governo.
Autoridades do Executivo relataram ao Estadão que a movimentação dos extremistas vem sendo monitorada. Até o momento, os que estavam acampados na frente do Quartel General do Exército vinham recebendo tratamento respeitoso, sem que fosse forçada uma saída do local.
A partir de informações de que os extremistas decidiram retomar atos em Brasília e seguem com discurso de enfrentar o governo eleito, até com pregação de atos para impedir distribuição de combustível e ir para “o tudo ou nada”, a cúpula do governo Lula mobilizou o aparato de segurança federal: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional foram acionadas para proteger a Esplanada. Também houve uma articulação com o governo do Distrito Federal para reforçar a proteção.
Segundo um integrante do governo, apesar de ainda acampados na porta de quartéis, os extremistas não têm apoio dos militares. Mas o relato que tem sido levado ao presidente Lula é de que ainda há dúvidas entre parte dos oficiais sobre o resultado da eleição. Nas palavras de um auxiliar do presidente, os militares estão “pacificados, mas não totalmente convencidos”. Assim, o cenário descrito é de situação pacífica, porém “delicada”.
Com esse diagnóstico em mãos, ministros do governo decidiram neste fim de semana deixar claro que a atual gestão não poupará esforços para reprimir atos extremistas e espera contar com apoio das forças de segurança para isso. Neste sábado, o ministro da Justiça, Flávio Dino, passou o dia em conversas telefônicas com seu colega da Defesa, José Múcio. Dino também conversou com diretores da PF e da PRF. O próprio Dino acabou relatando que teve as conversas em rede social: “Sobre uma suposta “guerra” que impatriotas dizem querer fazer em Brasília, já transmiti as orientações cabíveis à PF e PRF. E conversei com o governador Ibaneis e o ministro Múcio”, escreveu.
O Estadão apurou que Dino e Múcio pretendem inspecionar pessoalmente a situação da Esplanada neste fim de semana. O acesso de veículos à Praça dos Três Poderes foi fechado.
“Pauta unificada”
Pelas redes sociais, os grupos que organizam os atos em Brasília alegam que não pretendem depredar nada, mas falam em intervenção militar e enfrentamento ao governo. Uma “pauta unificada” foi distribuída em grupos para explicar o que os extremistas querem.
“O que deve ser nosso Movimento daqui pra frente? Desobediência Civil; Qual o nosso objetivo imediato? Limpeza dos 3 Poderes; Quais os nossos objetivos finais? Impedir a implantação do Comunismo ou Socialismo no Brasil e erradicar a Corrupção; Qual a nossa exigência? Intervenção imediata das Forças Armadas; Quais as nossas ações? Ocupar a Praça e as Edificações dos Três Poderes, bloquear todas as refinarias, paralisar o transporte rodoviário, paralisar as atividades industriais, comerciais e agropecuárias, e suspender todos os pagamentos de impostos”, diz o texto.
Após a exoneração em massa de comissionados do governo Paulo Câmara (PSB), a governadora Raquel Lyra (PSDB) busca aumentar o número de profissionais incorporados à máquina do Estado. A possibilidade está prevista no texto de reforma administrativa enviado pela gestora à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na última sexta-feira (6).
Segundo o governo do Estado, o projeto prevê a manutenção do número de secretarias (27) e, para atender às novas áreas estratégicas, um quadro total de 12.088 ocupantes de cargos em comissão e funções gratificadas, representando um ajuste de 2,1% no organograma atual. As informações são do Jornal do Commercio.
Primeiro ato da gestão Raquel Lyra, um decreto assinado pela governadora exonerou 2.754 nomes que ocupavam cargos comissionados na composição do governo anterior.
A medida foi alvo de repúdio de diversos órgãos e entidades, em função da paralisia de serviços sem o material humano necessário para as atividades.
O governo do Estado diz que o número maior de comissionados não trará mais gastos, vide a economia de R$ 150 milhões decorrentes do Plano de Qualidade do Gasto Público, anunciado na quinta-feira pela Secretaria da Fazenda.
Além do gastos com mais comissionados, o governo também prevê o aumento de 43% da gratificação das funções técnico-pedagógicas da rede pública estadual de ensino, que são os responsáveis pela gestão das escolas.
O teto para tais gratificações passa, conforme a proposta da governadora, de R$ 2,1 mil para R$ 3 mil. O texto prevê que o detalhamento dessas gratificações será normatizado via decreto, conforme cargos e critérios de porte da escola, por exemplo.
De acordo com o governo, os R$ 25 milhões calculados como impacto financeiro anual com a Reforma serão absorvidos sem impacto fiscal. O valor representa 0,07% da Receita Corrente Líquida do Estado de Pernambuco em 2022, nas contas da gestão.
Uma briga de família com acusações de crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, fraudes e execuções trabalhistas levou ao ocaso um dos principais grupos empresariais do Nordeste.
Dono de uma das maiores fabricantes de cimento do Brasil, a Nassau, o Grupo João Santos faturava há pouco mais de uma década cerca de 3 bilhões de reais por ano e a produzia 6,4 milhões de toneladas do produto, o que o colocava na segunda posição do mercado nacional.
No último dia 23 de dezembro, o conglomerado de 48 empresas de setores tão variados como comunicação, celulose e usinas sucroalcooleiras teve anunciada sua recuperação judicial, com dívidas de 13 bilhões de reais. As informações são da revista Veja.
O abalo financeiro no grupo é tamanho que do total de empresas 43 foram envolvidas no processo de recuperação e as cinco restantes são consideradas inaptas pela Receita Federal. Do total, apenas quinze possuem faturamento, estimado atualmente em 1 bilhão de reais.
A derrocada do Grupo João Santos é um exemplo típico de ruína de um grupo familiar engolfado por disputas entre herdeiros. O conglomerado teve origem na compra de uma usina de açúcar pelo empreendedor João Pereira dos Santos.
Nascido na cidade sertaneja de Serra Talhada, ele foi amigo do também pernambucano José Ermírio de Moraes, criador do Grupo Votorantim, que depois se tornou o seu grande rival no ramo de cimentos. Juntos, os dois empresários foram os fornecedores da matéria-prima para a construção da hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores estruturas de concreto armado do planeta.
Apesar da pujança do conglomerado, um dos três maiores do Nordeste, ao lado das construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão, a companhia nunca teve um plano de sucessão estruturado. Com a morte do patriarca, aos 101 anos, em 2009, o grupo foi tomado por disputas entre cinco filhos e três netos, filhos do primogênito, João Santos Filho, morto num acidente de avião no Paraguai, em 1980.
Comandado pelos irmãos José Bernardino e Fernando Santos, o grupo entrou em uma trajetória errática ao não conseguir fazer frente ao aumento da concorrência no mercado nordestino e realizar uma série de investimentos para a expansão na Região Sudeste, que não trouxeram os resultados esperados.
Em 2021, a gestão ruinosa dos negócios culminou na Operação Background, que envolveu ações de busca e apreensão em endereços das empresas e dos herdeiros em São Paulo, Pernambuco, Distrito Federal, Amazonas e Pará.
De acordo com a Polícia Federal, os herdeiros transformaram 8,6 bilhões de reais (o equivalente a 10 bilhões de reais em valores atualizados) de passivo tributário do conglomerado em patrimônio pessoal — um calote que, além do governo federal, vitimou 8 000 ex-funcionários. Atualmente, a empresa é comandada por dois executivos externos, Paulo Narcelio e Guilherme Rocha, que, na prática, atuam como co-CEOs.
“O grupo estava sendo sufocado por bloqueios judiciais e penhoras da Fazenda. Com a recuperação judicial, teremos um fôlego para administrar de fato a empresa”, disse Rocha a VEJA.
A expectativa de sobrevivência do grupo hoje se concentra na retomada das obras, principalmente no Nordeste do país, com o novo governo. Entre as promessas de investimento durante a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva está o valor de 10 bilhões de reais em 2023 no programa Minha Casa Minha Vida, aumentando a demanda por cimento. Ainda assim, é difícil imaginar o conglomerado como o gigante de outrora.
A Fenauto, a federação que reúne os vendedores de veículos seminovos e usados do país, registrou uma queda no comércio de carros seminovos e usados de 12% no ano passado, ante ao mesmo período de 2021. Os dados incluem automóveis, motos, caminhões e ônibus. Em Pernambuco, a queda foi um pouquinho menor, 10,7%. Aliás, todos os estados nordestinos registraram queda. As vendas em Sergipe desabaram 16,1%; na Bahia, 14,5%. Ainda em Pernambuco, uma preocupação: o setor de veículos pesados (o que denota uma estabilidade ou elevação na produção comercial, industrial e da construção civil) teve um péssimo desempenho, registrando queda de 18,6%.
O comércio de motos no estado, principalmente as populares usadas para entregas ou transporte ao trabalho, ficou estável para baixo (-1,9%). Em relação aos índices nacionais, o presidente da Fenauto, Enilson Sales, considera o resultado bom. “A economia sofreu com a guerra na Ucrânia, o aumento dos juros, maior restrição ao crédito e ao cenário político nas eleições presidenciais”, comentou. “Agora, com as primeiras ações do novo governo, em 2023, esperamos que a economia volte a se equilibrar”.
E as de eletrificados, como vão? – Por falar nisso, as vendas de carros eletrificados no Brasil (híbridos, híbridos plug-in e elétricos) bateram novo recorde em 2022, com 49.245 emplacamentos – ou 41% na comparação com 2021, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Com isso, a quantidade de eletrificados nas ruas já passa das 125 mil unidades. Os 10% elétricos já tem 17% de participação, com 8.460 unidades; os híbridos, têm 62% de participação (30.439) e híbridos plug-in chegam a 21% de participação.
Carros novos: os feras de 2022 – A picape pequena Fiat Strada foi mesmo o xodó dos brasileiros no ano passado e foi para as garagens de 112.456 consumidores. O Hyundai HB20 (com 96.255) ficou em segundo lugar no ranking dos mais vendidos. O Chevrolet Onix fechou o ano em terceiro (85.252), mas vale reforçar que o Onix Plus, sedã, chegou às 75.243 unidades vendidas. Em seguida, ficaram o Fiat Mobi (72.756), o finado VW Gol (72.606). Entre os SUVs compactos e médios, se destacaram o Chevrolet Tracker (70.672), Volkswagen T-Cross (65.191), Jeep Compass (63.467) e Hyundai Creta (62.572). Por fim, o Jeep Renegade (51.318) e o Fiat Pulse (50.483). Entre as marcas, a Fiat manteve a liderança do segmento de carros e comerciais leves, com 21,97% do mercado. Logo atrás, vem a GM, com 14,89%.
Confira o ranking das 10 marcas, em volumes:
1º Fiat – 429.014
2º Chevrolet – 291.037
3º Volkswagen – 271.013
4º Toyota – 191.109
5º Hyundai – 187.651
6º Jeep – 137.337
7º Renault – 123.009
8º Honda – 56.622
9º Nissan – 53.586
10º Peugeot – 41.463
Diesel no Nordeste: recuo no fim do ano – O mais recente Índice de Preços Ticket Log (IPTL) apontou que, no fechamento de dezembro, o Nordeste apresentou os maiores recuos do país no preço médio do litro do diesel. Segundo o levantamento, o tipo comum teve recuo de 3,42%, no comparativo com novembro, e foi comercializado a R$ 6,84, enquanto o diesel S-10 foi encontrado a R$ 6,90, após baixa de 3,33% no valor médio. A gasolina foi encontrada a R$ 5,28, com recuo de 1,64%, já o etanol foi o único combustível a registrar aumento, sendo comercializado a R$ 4,23, com alta de 1,24% – o maior aumento entre todas as regiões do país.
Novo Mustang Dark Horse – A Ford acaba de revelar mais detalhes do novo Mustang 2024 de sétima geração que começa a ser vendido nos EUA no segundo semestre de 2023. Ela avança na potência e na tecnologia. O destaque é o inédito Mustang Dark Horse, primeira série de alto desempenho da linha em 21 anos, desde o lançamento do Mustang Bullitt em 2001. Edição não-Shelby mais potente de todos os tempos, o Dark Horse é equipado com um motor Coyote V8 5.0 de quarta geração com 500cv de potência e 57,8 kgfm de torque. Ele é o V8 naturalmente aspirado mais potente da história.
GWM Brasil trará SUV cupê – A Great Wall Motor Brasil confirmou a estreia do Haval H6 GT ainda neste trimestre no mercado brasileiro. O modelo estilo cupê será vendido em configuração única, com motorização híbrida plug-in: um motor 1.5 turbo e dois elétricos, um em cada eixo, com tração integral. O Haval H6 GT será capaz de acelerar de 0 a 100 km/h abaixo dos 5 segundos. A autonomia somente em modo 100% elétrico será na faixa de 170 km.
Brasil: 30 anos de Corolla, Hilux… – Em 1992, o então presidente da República, Fernando Collor, abriu comercialmente o Brasil. Chamava os carros brasileiros de carroças – e eram mesmo. Por isso, o setor automobilístico começou a trazer modelos de tudo quanto é lugar. No Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, em 1992, a Toyota trouxe diversos modelos – alguns já reconhecidos internacionalmente, como o sedã Corolla, a picape Hilux, o SUV SW4 e o sedã de luxo e topo de linha Camry. Trinta anos depois, a marca vendeu 2 milhões de unidades. O Corolla, ou “Coroa de Flores”, em latim, se tornou por aqui um sucesso de vendas. Vinha do Japão, com um motor quatro cilindros 1.8L 16V com 115 cavalos e transmissão manual de cinco velocidades. A Hilux desembarcava no Brasil com motorização quatro cilindros, diesel, nas opções de cabine simples e dupla. Proveniente da combinação das palavras em inglês “high” (alto) e “luxury” (luxo), a picape atendeu desde então aos mais variados perfis de consumidores ao oferecer a motorização 2.4L, com 83 cavalos, e a 2.8L, com 88 cavalos, nas opções de tração 4×2 e 4×4.
Harley-Davidson Sportster S no Brasil – Confirmado: a motocicleta Sportster S chega às 19 concessionárias da marca no primeiro semestre de 2023. A pré-venda do modelo já começou, por sinal. A Sportster S é Sport Custom nova, feita para inaugurar uma nova era de alta performance na linha. O motor, por exemplo, é o Revolution Max 1250T V-Twin de 121 cavalos. Tem chassi rígido e leve e suspensão para garantir uma pilotagem responsiva – e intuitiva. Ela chega com preço sugerido de R$ 126 mil.
Estilo – De perfil, a Sportster S é baixa, com o tanque de combustível e a seção traseira emoldurando o motor como a peça central predominante. O pneu dianteiro, enorme, remete ao para-lamas de uma bobber clássica. Na parte traseira, o escapamento alto e o assento solo compacto são inspirados na H-D XR750. Os grossos garfos invertidos e os pneus de perfil largo acentuam seu lado esportivo de alto desempenho.
Desempenho – O motor foi ajustado para produzir um torque superior em baixas rotações, com uma curva que permanece plana: o motor fornece forte aceleração desde o início com potência vigorosa nas rotações intermediárias.
O uso de materiais leves ajuda a alcançar uma relação peso-potência ideal. Com o tanque de combustível de 11,8 litros cheio, a Sportster S pesa apenas 228 quilos.
Pilotagem – A moto é equipada com três modos de condução pré-programados (Sport, Road e Rain). Eles controlam eletronicamente as características de desempenho e o nível de intervenção tecnológica. Dois modos Custom podem ser usados para criar um conjunto de características de desempenho que atenda às preferências pessoais ou para situações especiais.
Instrumentos – Uma tela TFT redonda de 4,0 polegadas de diâmetro exibe toda a instrumentação e infotainment gerados via Bluetooth com o dispositivo móvel e fone de ouvido do capacete do motociclista. Vai da música às chamadas recebidas e efetuadas e à navegação, fornecida pelo aplicativo Harley-Davidson. A iluminação é totalmente em LED.
A nova Honda Africa Twin – A marca japonesa anunciou que a nova Africa Twin já começou a ser montada no Brasil, na linha de Manaus (AM) – e essa iniciativa fecha o portfólio todo nacional. A novidade é a inclusão do câmbio automático de dupla embreagem com 7 velocidades (DCT), tecnologia que vinha direto do Japão. As outras mudanças são visuais, secundárias – como cores e detalhes no grafismo. O motor, usado em todas as versões, é o motor bicilíndrico de 1.084 cm³ de capacidade, capaz de entregar 99,3cv e 10,5 kgfm e transmissão mecânica ou DCT automática de 6 velocidades.
Confira os novos preços da Honda Africa Twin 2023
CRF 1100L (preto fosco ou branco): R$ 81.100
CRF 1100L DCT (preto fosco ou branco):R$ 88.100
CRF 1100L Adventure Sports ES (branco): R$ 102.130
CRF 1100L Adventure Sports ES DCT (branco):R$ 109.130
Mercado 2023: 10 desafios e tendências – O avanço da ciência de dados e o cenário de incertezas econômicas devem ditar o ritmo do mercado automotivo brasileiro em 2023. Ainda por influência da pandemia de Covid-19, disrupções na cadeia produtiva devem ser preocupações para gestores. Além disso, a produção deve ficar abaixo da capacidade produtiva instalada, mas provavelmente em números maiores que os deste ano. Por outro lado, o avanço da eletrificação da frota e a chegada dos veículos autônomos evidenciam a tecnologia como principal direção do segmento, fator importante também para conhecimento e personalização do cliente. Nesse sentido, destaca-se a importância de as empresas terem uma boa capacidade de análise das informações coletadas para gerar insights — um grande diferencial para revendedores e montadoras em 2023. Ferramentas de CRMs (Customer Relationship Management, termo em inglês para definir a gestão do relacionamento entre empresas e clientes), computação em nuvem e integradores de dados podem ganhar escala nas diversas pontas da indústria. Também no próximo ano, a qualificação do processo de supply chain deve demandar maior previsibilidade de demanda e política de estoques. Por isso, confira os principais desafios que surgirão para o setor automotivo em 2023:
Impactos na produção por conta de disrupções na cadeia de valor iniciadas por questões sanitárias e intensificadas por tensões geopolíticas globais;
Tomada de decisão de investimento em meio a um cenário de incertezas;
Manutenção da rentabilidade do negócio, com queda de margem, aumento dos custos financeiros e recuperação lenta e desbalanceada de estoques;
Novo perfil de experiência de compra do consumidor.
Já as grandes tendências que devem direcionar o caminho do setor no próximo ano são:
Maior eletrificação da frota (híbridos, plug-in híbridos e a bateria), ainda que não de maneira uniforme por conta das particularidades de cada região do país;
Chegada de novas empresas no mercado nacional;
Avanço da participação das vendas diretas e dos canais de comércio online;
Personalização de produtos e serviços a partir do avanço do uso de dados, como, por exemplo, a customização do mercado de seguros automotivos;
Manutenção do crescimento do segmento duas rodas;
Envelhecimento da frota devido à queda do número de novos veículos em circulação nos últimos três anos, impactando oficinas e mercado de peças.
Hoje, o mercado automotivo é muito globalizado, com cadeias de produção complexas e ciclos de investimento longos, sendo o Brasil inserido em maior ou menor grau nesse contexto. Nossa indústria ainda produz volumes inferiores da sua capacidade produtiva instalada e, apesar da fabricação aumentar em relação a 2022, devemos ficar aquém de períodos pré-pandêmicos. Questões macroeconômicas e de diminuição do poder de compra serão intensificadas, levando os veículos a um status de produtos “premium”.
Com isso, as motos continuam sendo uma alternativa mais acessível para grande parte da população. Já a categoria de veículos utilitários esportivos, os chamados SUVs, deve ter competição intensificada no país com a entrada de novos players, principalmente os asiáticos. Vendas diretas crescem e passam a ser uma alternativa para as montadoras em meio a esse contexto, com locadoras e empresas necessitando atualizar as frotas. (*Por Alexandre Ribas, diretor para soluções da indústria de bens duráveis da Falconi)
Renato Ferraz, ex-Correio Braziliense, tem especialidade em jornalismo automobilístico.