No terceiro dia de curtição no Rio, uma mistura na agenda do que há de melhor em lazer e cultura, minha Nayla Valença e eu conhecemos, ontem, por dentro e por fora, a mansão onde viveu o homem mais poderoso da história recente do Brasil: Roberto Marinho, das Organizações Globo.
O casarão fica escondido no bairro do Cosme Velho, aos pés da Floresta da Tijuca e do Cristo Redentor. Acolheu o fundador da Rede Globo por 60 anos – de 1943 até sua morte, em 2003. Por decisão da família, foi convertido num moderno centro cultural em 2018. Seus salões forrados de mármore, para deleite dos visitantes, abrigam no momento uma espetacular exposição Calder + Miró. Com 150 peças entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, móbiles, stabiles, maquetes, edições, fotografias, joias e têxteis (alguns inéditos no Brasil), que ocupam os 1.200m² de área expositiva do instituto.
A mostra apresenta a forte relação amistosa do escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976) e do pintor espanhol Joan Miró (1893-1983), amigos a partir da década de 1920, em paralelo aos desdobramentos do cenário artístico nacional. Em cartaz até 20 de novembro deste ano, a exposição conta com curadoria de Max Perlingeiro e contempla dois pontos de contato fundamentais na história dos artistas.
Um deles é o Pavilhão Espanhol da Exposição Internacional de 1937, em Paris, onde Picasso apresenta Guernica. A segunda é o Museu da Solidariedade Salvador Allende, no Chile, que recebeu grandes doações dos dois artistas, no começo da década de 1970.
A Casa
A visita à mansão Roberto Marinho começa pelos jardins, repletos de espécies nativas. É um oásis no turbilhão do Rio de Janeiro, concebido para ser uma transição entre a Floresta da Tijuca e a cidade. Os famosos flamingos que eram pets do mandachuva da Globo não estão mais ali, mas o laguinho continua cheio de carpas ornamentais.
Um dos pontos altos da visita ao casarão, que foi habitado por Lily Marinho, viúva de Roberto, até a sua morte, em 2011, é assistir ao filme que mostra como era a decoração original – no cinema privado do casal. Em 15 minutos, a câmera passeia pelos cômodos principais, repletos de tapetes, tapeçarias, candelabros, esculturas, luminárias, antiguidades e obras de arte de fazer cair o queixo.
Entre telas e esculturas, você verá o que a Globo não mostrava: fotos de banquetes nababescos com a presença de políticos, figurões, artistas e intelectuais, de Dorival Caymmi e Tom Jobim, passando por Tônia Carrero, Paulo Autran, Tarcísio Meira, Glória Menezes.
Engordado ao longo de mais de 60 anos, o acervo da Casa Roberto Marinho é de fazer inveja ao MAM: Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cadido Portinari, Victor Brecheret, Alfredo Volpi, Tomie Ohtake. Apesar do foco no modernismo brasileiro, também tem exemplares de diversos artistas estrangeiros, como Marc Chagall, Giorgio de Chirico, Fernand Léger e Salvador Dalí.
Desde a última eleição presidencial, que consagrou Jair Bolsonaro como presidente da República, em 2018, a religião tem sido a tônica do discurso. A começar pelo bordão da campanha: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, o presidente e candidato à reeleição comanda uma espécie de culto permanente junto aos seus seguidores.
Coincidência ou não, ele consegue arrastar para sua militância milhares de fiéis, em especial, de evangélicos. Pesquisa do Datafolha divulgada na última quinta-feira, por exemplo, ratifica esse apoio. De acordo com o levantamento, Bolsonaro tem 49% das intenções de voto entre evangélicos. Não à toa, em quase quatro anos de mandato, Bolsonaro sempre arruma tempo para se fazer presente e manter esse apoio crescente.
Entre suas motociatas pelo Brasil, sempre há espaço para aparições em vários eventos evangélicos, a exemplo das “Marchas para Jesus” que acontece em vários estados. Recentemente, temendo uma possível debandada do “rebanho”, tem aumentado o tom no discurso religioso para atingir seu maior concorrente, o ex-presidente Lula.
Nessa “guerra santa”, a esposa e atual primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi a grande responsável por acender o pavio e colocar fogo nos ânimos já acirrados em uma das eleições mais polarizadas da história da democracia do Brasil. Há pouco mais de 15 dias, em evento religioso em Belo Horizonte, afirmou que o Palácio do Planalto tinha sido “consagrado a demônios”. “Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca. Eu vou continuar louvando nosso Deus. Vou continuar orando. Porque, por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar (Palácio do Planalto) foi consagrado a demônios”, afirmou, na ocasião, a primeira-dama.
Sem a mesma força de Bolsonaro junto ao eleitor evangélico, com apenas 32% de intenção de votos nessa faixa do eleitorado, segundo pesquisa do Datafolha, resta ao candidato e ex-presidente Lula rebater ofensas com ofensas e evocar o Estado Laico. Porém, pelo que se vê, a separação entre Estado e Religião parece existir apenas na teoria, lá na nossa Constituição, aquela que o atual mandatário do Brasil afirma o tempo todo “jogar pelas quatro linhas”.
Treinamento intensivo – O presidente e candidato à reeleição é o primeiro convidado da série de entrevistas promovida pelo Jornal Nacional, a partir de hoje, às 20h30. A ordem da participação dos presidenciáveis foi definida por sorteio. De acordo com informações dadas por aliados do presidente à coluna Radar, Bolsonaro passará por treinamento e “está se preparando para uma guerra”. Aliados orientam que o presidente não ataque as urnas ou ministros do STF e afirme que foi convidado para falar dos atos do governo, caso seja questionado sobre risco de golpe ou sobre supostos esquemas de rachadinha.
Lula vai para cima do 03 – Advogados da campanha do ex-presidente Lula (PT) entraram, ontem, com um pedido ao Tribunal Superior Eleitoral para a retirada de publicações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL) que associam o petista à “invasão de igrejas”. Na sexta-feira, o filho 03 do presidente da República postou nas redes sociais uma montagem sobre a ditadura da Nicarágua em que estava escrito: “Lula e o PT apoiam invasões de igrejas e perseguição de cristãos”. Os advogados afirmam que “Lula nunca fechou igrejas nem vai fechar igrejas, tampouco apoiou a perseguição de cristão ao redor do mundo”. A representação foi feita diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE.
Novo pleito em Maraial – Com defesa da competente Diana Câmara, advogada especialista em Direito Eleitoral, que colaboradora com este Blog e com o programa Frente a Frente, o município de Maraial terá novas eleições. A decisão aconteceu na última quinta, quando os sete ministros do TSE negaram o recurso do ex-prefeito Sérgio da Farinha (Avante) para voltar ao cargo. A expectativa é de que, a exemplo do que aconteceu em Joaquim Nabuco e Pesqueira, a eleição de Maraial seja marcada para 30 de outubro.
Teresa, a atiradora –Após chamar o presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, de “maior pelego do movimento sindical do Brasil”, a candidata ao Senado pela Frente Popular, Teresa Leitão (PT), disparou contra os principais adversários ao posto em Pernambuco. Sobre Gilson Machado (PL), disse que ele é “uma sanfona que toca desafinada e que essa sanfona tem que ir pro saco!”. Já sobre André de Paula (PDT), disparou: “se eu tivesse lá como deputada federal, jamais o Diap ia dizer que eu sou ou que eu fui 100% contra o trabalhador e a trabalhadora”.
Fazendo diferente –O candidato a deputado estadual Tiago Pontes mostrou criatividade no lançamento da sua candidatura, neste sábado (20). Com uma programação diferente do que já foi visto, ele fez um balanço de sua pré-campanha e apresentou os próximos passos da caminhada. O que chamou atenção é que o ‘Tiago Chegou’ foi transmitido de forma simultânea em seis municípios.
CURTAS
TRAPAÇA – Já está disponível nas livrarias de todo o Brasil, o volume 3 de “Trapaça – Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro”, do jornalista pernambucano, mas radicado em Brasília há mais de 30 anos, Luís Costa Pinto. No novo título, Costa Pinto relata o que viu durante reuniões e coberturas por sua passagem em Brasília durante os governos de FHC, Lula até às vésperas do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
SABATINA – Além do presidente Jair Bolsonaro (PL), sabatinado hoje pelo Jornal Nacional, outros três candidatos também serão entrevistados ao longo da semana. São eles: Ciro Gomes (PDT), na terça-feira, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta-feira, e a senadora Simone Tebet (MDB), na sexta-feira. A entrevista terá duração de 40 minutos para cada candidato.
Perguntar não ofende: O tom religioso trará frutos à campanha de Jair Bolsonaro?
