“Louvado seja Deus/Abençoada a canção/Louvado seja o homem/Que dá água para o Sertão”, cantou Luiz Gonzaga, ao celebrar a iniciativa do então governador Marco Maciel no ano de 1980, ao criar o projeto Asa Branca, voltado para perenização dos rios sertanejos. Inspirado numa canção de Gonzagão, que fala do pássaro símbolo do Sertão tangido pela seca, o projeto era ambicioso.
Leia maisA meta hídrica previa a perenização de inúmeros rios, com a utilização de águas acumuladas em reservatórios reguladores, distribuídas em sucessivas barragens, utilizando, inclusive, águas do Rio São Francisco. O Projeto Asa Branca envolvia, ainda, a perfuração de milhares de poços para uso humano e animal, impermeabilização de barreiros, construção de adutoras e a recuperação de barragens, entre outras ações.
Em geral, as intenções do projeto visavam ajustar as metas de vários órgãos do Governo a seus objetivos, como no caso da construção de estradas e eletrificação rural. Muitas das obras relacionadas pelo projeto foram concluídas, mas quase metade das barragens sucessivas foram danificadas ou destruídas completamente em 1981, depois de chuvas intensas.
Essa fragilidade deveu-se, também, segundo estudo do Condepe, à rapidez da construção das barragens, com obras iniciadas antes mesmo da entrega dos projetos executivos. Resultado: grande parte estourou. Foi embora um sonho. O projeto ganhou a marca do improviso, as barragens ficaram conhecidas como obras com cara de Sonrisal, que logo se dissolve.
Mas Luiz Gonzaga ainda fez a música Projeto Asa Branca, contando os feitos de Marco Maciel. “Bendito foi o momento/De divina inspiração/Quando feita a conclusão/De um grande planejamento/Dia onze de dezembro/Do ano setenta e nove/Vem à tona e se promove/Uma ideia rica e franca/ Marco Antônio Maciel/Criou o Projeto Asa Branca”.
A própria música lembra que o lançamento do projeto foi feito na cidade de Salgueiro em 21 de março de 1980. “Maciel num tempo escasso/Prevendo a seca cruenta/Na cidade de Salgueiro/Promoveu o lançamento/Para o engrandecimento/Da terra em sua mensagem/Consagrou esse projeto/ Pra salvação da estiagem”.
O desejo de Gonzagão e de milhares de sertanejos, como ele, que era de Exu, não se concretizou. A perenização dos rios não foi alavancada pelo Projeto Asa Branca. Segundo ainda o estudo do Condepe, na elaboração dos projetos foram utilizados dados de cheias vintenárias, quando o pico de cheia mínimo normalmente utilizado deveria ser o da cheia centenária.
“Outro fator que talvez tenha contribuído para a pouca segurança das obras foi a concepção única de um tipo de barragem para todos os vales, quando se sabe que cada vale tem características diferentes”, relata o documento. Nos vales da região sertaneja, conforme o estudo indica, as obras foram de baixa qualidade. No Vale do Pajeú, as chuvas que caíram em 1981, um ano após as primeiras barragens, avariaram, não ficando uma intacta.
No Vale do Navio registraram-se danos de pequeno e grande porte, em quase todas. “Uma, em particular, merece transcrição do documento: foi constatado um caso de incoerência de locação na Barragem Caiçara, pois a mesma fora implantada em margens aluvionais e, quando se deu a cheia houve sua destruição total”, acrescenta o Condepe.
No Vale da Terra Nova, as barragens resistiram bem, com poucos danos, mas em agosto de 1982, o nível de água da barragem mãe baixou consideravelmente, levando produtores situados à jusante a serrar a descarga de fundo para que a água fluísse para as barragens menores. “Esse episódio demonstrou que o objetivo, de perenização dos rios, não havia sido atingido. Nos outros vales, os danos foram menores, em parte, porque as cheias, que os atingiram, em 1981, também foram menores”, descreve o documento.
Os estudos sobre a potencialidade dos solos irrigáveis também foram inadequados e superficiais por dois motivos, segundo o Condepe: consideraram apenas uma faixa de 5 km, de cada lado dos rios, e generalizaram os resultados obtidos apenas em algumas bacias para todas, ignorando as particularidades de cada uma, como já ocorrera em relação às barragens.
“O mais interessante diz respeito ao consumo hídrico programado, que deveria ficar entre 7.500 e 15.000 m3/ha, quando a maioria dos vales não tinha capacidade de reter água suficiente para suprir tal demanda. A questão da qualidade da água, sobretudo em relação a salinização do solo, foi praticamente deixada de lado, o que tecnicamente não tem explicação, desde que é por demais conhecido ser esse um dos grandes problemas do semiárido.
Por sua vez, as obras de eletrificação, também inseridas nas metas do Projeto Asa Branca, não se adequaram aos projetos de irrigação, porque as redes implantadas não eram contínuas em relação ao eixo dos rios e, portanto, aos solos irrigáveis. Quanto às estradas, somente uma pequena parcela do programado foi construída, 19%, embora o Condepe tenha considerado, mesmo assim, que foram de importância para a dinâmica do interior do Estado.
Se o Asa Branca não deu certo, para frustração de Maciel, o abastecimento de água, por outros meios recorridos, foi estendido para 70 cidades, distritos e vilas pernambucanas. Em seu Governo, o Complexo Industrial Portuário de Suape saiu do papel e teve o primeiro navio atracado. O Metrô do Recife foi viabilizado financeiramente e sua construção saiu do papel também sob sua gestão. Na Educação, foram criadas 167 mil novas vagas. Na Saúde, Maciel foi pioneiro no País ao pagar pensão para portadores de hanseníase.
“O governo Marco Maciel foi marcante no desenvolvimento econômico-social do nosso Estado. Empreendeu o mais arrojado programa habitacional com a construção de 100 mil casas, priorizando a educação, cultura e turismo, a saúde, o saneamento e água para o sertanejo. Deu início concretamente à implantação do Complexo Industrial Portuário de Suape. Quando vice-presidente, trouxe para Pernambuco a expansão do Metrô do Recife, altos investimentos”, relembra o ex-secretário de Educação, professor Roberto Pereira.
Ele destaca ainda a ampliação do Aeroporto dos Guararapes, a duplicação do trecho Prazeres/Cabo, na BR-101, a construção do gasoduto Pilar-Cabo, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, “esta uma ação muito do seu empenho, quase diria da sua religiosidade católica. Partiu dele o Centro Regional de Ciências Nucleares, pioneiro no Nordeste, o primeiro Centro de Desenvolvimento tecnológico na área de Ciência Nuclear”, afirmou.
Veja amanhã
Joaquim Nabuco foi a grande escola e referência para Marco Maciel
Leia menos