Natália Mendonça, professora de marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), avalia que a migração de eleitores ocorreu de forma mais acentuada entre aqueles que consideravam o governo regular há dois anos para a faixa de ruim ou péssimo. Segundo ela, esse é um indício de que o eleitor mais crítico, que evita a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), foi impactado pela postura mais conservadora adotada recentemente pelo governador, notadamente a defesa do PL da Anistia e os episódios de violência policial que geraram uma crise na segurança pública no final do ano passado.
— Esse campo regular costuma ser do tipo: eu estou de olho, tenho críticas. E após dois anos de governo, as pessoas já têm mais informação para emitir juízo de valor. Na minha percepção, isso está ligado aos posicionamentos mais duros que ele vem tendo, porque acaba causando mais ruído para o político, polariza e fortalece crenças.
O cientista político Antonio Lavareda avalia que a variável mais relevante para prever o comportamento do eleitor nas urnas é a binária, que pergunta ao entrevistado se ele aprova ou desaprova o governo. Nesse sentido, Tarcísio mantém um patamar confortável para conquistar um novo mandato. Ele também pondera que, ainda que se possa levantar hipóteses, o Datafolha não perguntou diretamente sobre o motivo de o entrevistado estar satisfeito ou insatisfeito com o governo, o que torna a questão um tanto especulativa.
— Com esse percentual se mantendo ao longo do tempo, é praticamente impossível um incumbente perder a eleição. O que me parece é que Tarcísio está atendendo às expectativas dos eleitores que votaram nele e ampliando até para aqueles que não votaram, porque ele não teve anteriormente 61% sobre o total dos eleitores de São Paulo — afirma. O governador teve 49,3% dos votos de quem compareceu no segundo turno, disputado contra Fernando Haddad (PT), incluindo na conta os brancos e nulos.
Felipe Soutello, que trabalhou recentemente nas campanhas de Simone Tebet (MDB) à Presidência e José Luiz Datena (PSDB) à prefeitura de São Paulo, concorda que a aprovação de Tarcísio representa um patamar sólido de partida, mas não é excepcional em relação a governos tucanos anteriores e deve trazer reflexão ao governo no que diz respeito à avaliação entre as mulheres e na região metropolitana de São Paulo.
— Existe uma inércia da avaliação de governo na direção negativa que exige algum tipo de cautela e de cuidado — avalia o publicitário, lembrando que também houve recuo numérico na quantidade de eleitores que acham a gestão ótima e boa, ainda que dentro da margem de erro. Ele cita como uma fragilidade demonstrada pela pesquisa o recorte do voto feminino na simulação de segundo turno entre Tarcísio e Geraldo Alckmin (PSB), onde o vice-presidente marca 42%, empatado tecnicamente com os 49% do governador (o intervalo nesse caso é de quatro pontos para mais ou para menos).
O publicitário Duda Lima, que fez a campanha de Ricardo Nunes (MDB) no ano passado, entende que o aumento na avaliação negativa está ligado a uma rejeição ideológica e ao protagonismo de Tarcisio na eleição municipal passada, que engloba, por exemplo, uma base de apoiadores de Pablo Marçal (PRTB) além do petismo. Ao assumir claramente um lado, diz ele, Tarcísio passa a desagradar mais a uma parte do eleitorado e fica sujeito a reveses. Ainda assim, sustenta Lima, o Datafolha sinaliza que ele está muito bem avaliado em termos de gestão.
— A rejeição aumentou pelo protagonismo dele na eleição de São Paulo e com a defesa dos valores conservadores. A partir do momento em que ele assume esse protagonismo, é natural que as pessoas do outro lado rejeitem mais o cara. Isso tem pouco a ver com a administração em si — pontua.
A mesma pesquisa Datafolha mostrou que a maioria da população de São Paulo gostaria que Tarcísio de Freitas disputasse um novo mandato no Palácio dos Bandeirantes em vez de enfrentar um pleito presidencial, para o qual Bolsonaro insiste em ser candidato mesmo declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mais do que isso, algo que pode desmotivar o governador paulista a tentar o governo federal é o cenário aberto em São Paulo na sua ausência.
Nomes como André do Prado (PL), Guilherme Derrite (PP) e Gilberto Kassab (PSD) pontuam pouco, respectivamente, 1%, 3% e 5% no melhor dos cenários, sempre atrás de Pablo Marçal (PRTB), que também está inelegível na Justiça em processo que ainda não tramitou em julgado. O aliado de Tarcísio melhor colocado é o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), mas que não empolga parte da sua base de apoio devido às dificuldades que teve na eleição passada na capital, sobretudo no primeiro turno, quando por pouco não foi superado por Marçal. A situação poderia abrir margem para o vice-presidente e ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) tornar-se um nome competitivo no campo da oposição.
No entorno de Tarcísio, segundo apurou o GLOBO, o discurso é de que os resultados foram muito bem recebidos, que o governador tem até gordura para queimar numa eventual disputa ao governo do estado e só depende dele para ter sucesso na empreitada. Alckmin, que gera algum receio pelo recall principalmente no interior do estado, não é visto como potencial adversário. Outras figuras de oposição, como Márcio França (PSB) e Alexandre Padilha (PT), tiveram resultados ainda menos competitivos.
— São dados que reforçam as tendências do atual momento político: Lula em declínio e a direita em sólida e permanente ascensão — afirma o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), que faz parte da base aliada do governador paulista na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp).
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