Um dos homens públicos mais sábios que conheci e convivi em Brasília, Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas, Pai da Constituição Cidadã, dizia que não existia político nacional, embora enquadrado neste perfil. É que, com exceção do presidente da República, votado em todo o País, o senador ou deputado federal para estar em Brasília depende apenas da sua província, do seu Estado, de onde saem o passaporte, através do voto, para chegar ao Congresso Nacional.
Charles Chaplin dizia que a vida é um assunto local. Ninguém vive sua rotina se não na sua aldeia. Embora do mundo, viajante pelo ar e estradas desde que me abracei com o jornalismo, também sou circunscrito a aldeias. A primeira foi Afogados da Ingazeira, dos meus anos dourados; a segunda Recife, onde consegui botar o canudo do grau de instrução superior debaixo do braço para tentar ser gente na vida em outros eldorados.
A terceira, Brasília, minha universidade do jornalismo político, para onde debandei em meados dos anos 80. Nunca imaginei que o tempo, o senhor da razão, com o tempero do amor, me colocasse na geografia de outra aldeia, de idas e vindas tão gostosas e emocionantes em busca do amor da minha vida, a minha Nayla, que me introduziu de corpo, coração e alma na agora minha Arcoverde.
Leia maisMinha Arcoverde, a 250 km do Recife, está em festa hoje. Mais tarde, mesmo distante, vou brindar seus 96 anos de emancipação política. Sou extremamente urbano, me acostumei desde rapagote com as montanhas de pedras por ofício e dever da profissão. Mas tenho alma matuta, como minha Nayla, que veio de Sertânia se encantar com Arcoverde. Ali, temos a nossa choupana. Na verdade, o meu refúgio.
Quando estou por lá, minha alma se aquieta. A única tempestade é a dos ventos do leste, que batem e sussurram em nossa janela. No alvorecer, ouço também o canto do Sabiá e de noite o ungido assustador de rasgas mortalhas. Menino em Afogados da Ingazeira, ouvia minha mãe dizer que as corujas brancas traziam notícias ruins quando zuniam no telhado.
Minha Nayla, sempre minha Nayla, o amor da minha vida, já me habituou, quando vivemos a semana arcoverdense em nosso chalé, a ir cedo à padaria comprar leite e pão. Também já virei freguês do Ferreira Espetus, o melhor restaurante de Arcoverde. Sou habituê ainda do cafezinho do posto Cruzeiro, o maior ponto de encontro da Nação sertaneja. Seja de passagem para o Recife ou descendo para o Sertão, ninguém resiste à paradinha na loja de conveniência do Cruzeiro para um cafezinho regado a um bom bate papo.
Na véspera do seu aniversário, Arcoverde ganhou ontem um belo espaço verde, o Parque Urbano Iraci Alburquerque Maciel, a maior obra de infraestrutura urbana de meio ambiente, lazer, esportes, recreação e contemplação da história da cidade, tirada do papel e entregue pelo prefeito Wellington Maciel (MDB).
Quando estou na cidade, faço minhas corridinhas diárias de 8 km em seu entorno. Tenho que tirar o chapéu para Wellington. É a maior e mais expressiva intervenção urbana em linha reta, ocupando toda área degradada à leste da cidade, no mesmo local por onde, nos velhos tempos da ainda Rio Branco, primeiro nome da cidade, transitavam os saudosos trens da REFFSA, antes Great Western.
Boa festa de emancipação, minha Arcoverde! Para ti, sou metade alma de cidade, outra metade de interior. Metade sal, outra metade doce. Metade alegria, outra metade paz nos braços da minha Nayla. Também sou metade que escreve, outra metade que só observa e contempla a tua beleza.
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