Por Angelo Castello Branco *
A atual estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de reacender a polarização social entre pobres e ricos não parece estar limitada apenas à disputa presidencial de 2026.
Diante da crescente queda de prestígio nas pesquisas de opinião, Lula – figura central e insubstituível na estrutura do Partido dos Trabalhadores – parece inclinado a radicalizar o discurso social em toda a linha de frente das eleições do próximo ano, com ênfase não só na reeleição presidencial, mas também nas eleições proporcionais e majoritárias.
O raciocínio político é claro: ao reforçar a ideia de que está do lado dos pobres e que seus adversários representam os ricos e poderosos, Lula busca mobilizar a maioria do eleitorado brasileiro, ainda marcada pela desigualdade e vulnerabilidade econômica. Sobretudo na região do Nordeste.
Leia maisTrata-se de um recurso recorrente em sua trajetória política, mas que agora adquire novos contornos, diante do desgaste de sua imagem e do avanço de forças oposicionistas em várias regiões do país.
Essa estratégia ganhou um elemento revelador: a primeira-dama Janja da Silva promoveu uma reunião com dezenas de influenciadores digitais convidados ao campo favorável do PT.
O objetivo do encontro foi claro — alinhar narrativas e reforçar a presença do discurso lulista nas redes sociais, ambiente decisivo nas próximas eleições.
Esses influenciadores, agora diretamente integrados à lógica comunicacional do Planalto, atuarão como propagadores das chamadas “teses visionárias de classe” de Lula, dando verniz à velha retórica de confronto entre pobres e ricos.
A tendência é que essa linha de ação se estenda também à escolha dos candidatos ao Congresso Nacional. Lula deverá apostar em nomes à Câmara e ao Senado que incorporem esse simbolismo: os “representantes do povo” contra os “candidatos da elite”.
Não será surpresa se os palanques petistas nos estados forem construídos com base nessa narrativa, mesmo que a biografia dos postulantes nem sempre corresponda a esse discurso. Até porque muitos deles já foram flagrados usufruindo mordomias típicas de classes abastadas.
Tudo isso revela uma aposta clara na radicalização do debate político e, ao mesmo tempo, um reconhecimento implícito das dificuldades que o governo vem enfrentando para entregar resultados concretos.
Diante da frustração de parte da sociedade e da base parlamentar fragmentada, Lula volta ao terreno onde se sente mais confortável: o confronto ideológico, a construção de inimigos simbólicos e a retórica emocional.
Resta saber se, em 2026, o país ainda responderá da mesma forma a uma fórmula já conhecida. As pesquisas indicam que o eleitorado brasileiro está mais cético, mais pragmático e cansado da simplificação entre o bem e o mal, entre ricos e pobres.
O uso insistente dessa retórica pode, paradoxalmente, esvaziar o debate democrático e afastar o centro político, que tende a ser decisivo no resultado das urnas.
* Membro da Academia Pernambucana de Letras
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