Por Aldo Paes Barreto*
Estudiosos da criminologia classificam admiradores de bandidos famosos como portadores de uma patologia: a Síndrome de Bonnie and Clyde. É uma alusão ao casal norte-americano que colocou em polvorosa os habitantes os estados de Kansas e do Texas, em meados da década de 1930, cometendo vários assassinatos e incontáveis assaltos.
Na mesma época e a milhares de quilômetros dali outro casal – Lampião e Maria Bonita –, aterrorizavam os Sertões nordestino brasileiros com as mais cruéis perversidades, os crimes mais hediondos.
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Quase cem anos depois, os dois casais de bandidos continuam sendo admirados, enaltecidos e popularizados como heróis ou revolucionários.
Em qualquer página do Código Penal Brasileiro o famigerado Lampião seria enquadrado e condenado. Cruel, sanguinário, impiedoso, latrocina, assaltante, ladrão de cavalo, de gado, Lampião matou, roubou, chantageou, fez reféns, torturou, estuprou, decapitou, emasculou, profanou suas vítimas.
À frente do bando de criminosos durante mais de 20 anos, Lampião atacou pequenas fazendas, cidades pobres e passou o conto do vigário no Padrinho Cícero Romão. Quando o padre Cícero convenceu o governo a se associar ao bando do cangaceiro para combater a Coluna Prestes, Lampião recebeu a patente de Capitão, dinheiro e armas. Embolsou tudo e conhecendo cada pedaço da região, prudentemente evitou a Coluna.
Os dois grupos nunca se enfrentaram.
Sua companheira, durante noves anos e por vontade própria, Maria Gomes de Oliveira, Maria Bonita, o seguiu nesses crimes. Seria a primeira mulher a integrar um bando de cangaceiros. Esse foi o grande mérito dela.
Há relatos críveis de que ela participou de tortura e morte de mulheres julgadas aos olhos dos bandidos como infiéis. Nem um nem outro, tiveram qualquer piedade com as vítimas.
Maria Bonita era filha de um coiteiro e foi obrigada a casar aos 16 anos, com um sujeito que a maltratava e era alcoólatra. É mais razoável dizer que ela entrou para o bando criminoso mais por fuga do que por adesão.
Ao lado de Lampião, gostava de exibir joias valiosas e usar perfumes caros, produtos de roubos, de latrocínios. A imagem mais correta é a de que era, no mínimo, comparsa, conivente com os mais brutais crimes dos companheiros. Maria de Déa ou Maria Bonita heroína, líder feminista, não cabe nesse papel.
Mesmo assim, a visão fantasiosa continua. Não é incomum. Toda nação tem seu bandido de estimação. E, no Brasil, temos muitos. Para todos os gostos.
*Jornalista
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