A dança eleitoral do pastoril
Nos últimos meses, a governadora Raquel Lyra (PSD) tentou “vender” a ideia de que o seu Governo está melhorando, conseguindo sair da faixa de desconforto na opinião pública. Mas a nova pesquisa do instituto Opinião, postada ontem neste blog com exclusividade, não aponta nessa direção.
A aprovação continua estagnada em 44% e a desaprovação insiste em ser maior do que a aprovação na comparação com o levantamento de fevereiro passado. A desaprovação, aliás, só se reduz um pouco no Agreste, por causa de Caruaru, município que governou antes de se eleger governadora em 2022 no embate de segundo turno contra Marília Arraes.
Compreensível. A sua Caruaru ela tem dado um tratamento diferenciado, tem um prefeito aliado e está muito presente. Só para os festejos juninos, dos cofres do Estado Raquel repassou R$ 5 milhões, enquanto Petrolina, que se transformou num grande polo junino, tão procurado por turistas quanto a capital do forró, recebeu apenas R$ 1 milhão. Claro, o prefeito Simão Durando, que sucede a Miguel Coelho, é eleitor de João Campos, provável adversário da governadora.
O nó difícil de desatar por Raquel está na Região Metropolitana do Recife. Concentrando 44% do eleitorado do Estado, seus ventos sopram para João, que tem mais de 70% das intenções de voto ante apenas 16% de Raquel. É uma diferença estrondosa, que não se abate com os votos do eleitorado do interior, os que moram na Zona da Mata, nos Agrestes e nos Sertões.
Nestes redutos, o que funciona eleitoralmente é a tese do pastoril: os cordões do azul e vermelho, ou seja, politicamente só existem dois lados, governo e oposição. Sendo assim, em qualquer município que a governadora tiver o apoio do prefeito, no caso o cordão azul, no outro lado, o cordão vermelho, da oposição, tende a dar no mínimo 30% dos votos a João.
O que impacta no jogo desigual enfrentado pela governadora para tentar reverter a grande diferença pra João na Região Metropolitana. Eleição não tem mistério, é resultado de uma soma, que tem a sua lógica, mesmo a política não se traduzindo numa ciência exata.
MARATONA ELEITORAL – De olho na reeleição, a governadora Raquel Lyra botou o pé na estrada neste período junino para prestigiar gestores de municípios polos do São João. Começou por Caruaru no final do mês passado, depois esteve em Arcoverde, Surubim, Salgueiro, Bezerros e Gravatá. A agenda inclui ainda Petrolina e Araripina, municípios que também deu um aporte de recursos para custear a festa.

Descaso em Noronha – O afundamento da pista do aeroporto de Fernando de Noronha, ontem, por uma aeronave da Azul, só traduz o abandono da ilha pelo Governo do Estado. A governadora tem dito que priorizou a reforma da plataforma da pista do aeroporto, mas as obras não andam, tanto que o ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, em nota após o incidente, cobrou do Estado o andamento das obras.
O efeito Lula na eleição do PT – Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alertam sobre a necessidade de mudanças no rumo do governo para evitar uma derrota em 2026. Durante debate para eleição à presidência nacional do PT, na última terça-feira, Rui Falcão afirmou que o partido está “às vésperas de uma batalha decisiva: as eleições em 2026″. “Um de nós comandará coletivamente nossa preparação para o embate de reeleger o presidente Lula. Caberá às novas direções ajustarem nossa linha política, nosso fortalecimento organizativo e articulação com aliados do campo popular, numa campanha polarizada”, disse.
Mudanças no Governo – Para a eleição no PT, que acontece no próximo dia 6, foram lançadas quatro candidaturas: a de Edinho Silva, da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil; de Romênio Pereira, do Movimento PT; de Walter Pomar, da Articulação de Esquerda, e Rui Falcão, que não pertence a nenhuma corrente. No centro da disputa, estão as articulações para eleições de 2026. No debate, Romênio Pereira, atual secretário de Relações Internacionais do PT, cobrou mudanças no governo diante da alta taxa de reprovação a Lula. “Ou o governo muda ou o povo muda de governo”, disse ele.

Surubim, novo polo – O prefeito de Surubim, Cleber Chaparral (UB), conseguiu transformar o município no mais novo polo junino do Estado. Famosa como capital da vaquejada, Surubim fez uma grade junina tão atrativa e montou uma estrutura tão gigantesca para a festa que chamou atenção e despertou ciúmes até de Caruaru, cidade vizinha, responsável pelo maior São João do Nordeste.
CURTAS
Obra sonrisal – O asfalto derretido das obras do aeroporto de Fernando de Noronha, que quase afunda uma aeronave da Azul, gerou até memes pelas redes sociais, com um vídeo no qual a governadora comemora a conclusão da obra, parada na gestão de Paulo Câmara.
O patinho feio – O prefeito de Paulista, Ramos Santana (PSDB), é um poço de mágoa com a governadora Raquel Lyra, por ter recebido apenas R$ 300 mil como ajuda dos custeios juninos. Aos que justificam que a cidade não tem tradição como polo junino, responde que está a tentando criar, mas para isso precisa do apoio do Estado.
Intervalo – Devido ao São João, cujo feriado ocorre hoje, não apresentarei o podcast Direto de Brasília esta semana. Voltamos no próximo dia 1. O convidado será confirmado até amanhã.
Perguntar não ofende: fazer maratona eleitoral no período junino rende votos?
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