Por Júlio Lossio
Na política, como nos sistemas naturais, a alternância de poder ou da natureza dos sistemas é algo comum e esperado. O dia é sempre precedido da noite, e vice-versa. O frio é sempre precedido do calor, e vice-versa. O que parece ser um fenômeno da natureza também se repete na política.
Direita e esquerda se alternam no poder, sobretudo em sistemas democráticos, e até nos sistemas não democráticos a alternância ocorre, só que em períodos mais longos.
Leia maisNos últimos anos, após uma grande hegemonia dos partidos de esquerda e centro-esquerda pelo mundo, os ventos da mudança começaram a soprar para a direita, que ganhou novo espaço político na Europa e até na América do Sul.
A eleição de Trump, que foi transformado em um ícone da direita, parecia anunciar um novo ciclo de governos de direita e centro-direita pelo mundo.
Contudo, o segundo mandato de Trump tem exposto ao mundo que o presidente americano tem como principal bandeira o egocentrismo e, de tanto citar a frase “Make America Great Again” (faça a América grande novamente), passou a acreditar que ele próprio é o dono do mundo e, assim, passou a atacar todos os países com sua arma predileta: a taxação de produtos oriundos desses países.
A ação de Trump tem sido realizada de forma desmedida e com ares de espetáculo para fazer o mundo temer a mão pesada do presidente americano.
Pois bem: como a toda ação corresponde uma reação, o que temos observado como principal reação às medidas de Trump é a criação de um sentimento de patriotismo nos países que são “atacados” por Trump.
E como a imagem de Trump foi projetada pelos políticos de direita como a de um ícone da direita mundial, o que temos observado é um derretimento da direita, secundário aos movimentos de Trump em todo mundo.
Há pouco, no Canadá, o governo de centro-esquerda enfrentava um desgaste político que já era dada como certa a vitória da direita nas eleições gerais. Bastou Trump anunciar medidas de retaliação e até de anexação do Canadá aos Estados Unidos para a figura de Trump se tornar um anticabo eleitoral, levando o governo de centro-esquerda a vencer as eleições que pareciam perdidas.
No México, a atual presidente enfrentava baixos índices de aprovação e bastou Trump querer aplicar seu tarifaço ao país para a presidenta reagir, despertando o patriotismo nacional e melhorando seus índices de popularidade.
No Brasil, essa semana, o presidente Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre os produtos de exportação do Brasil e ainda fez questão de colocar questões políticas ideológicas como condição de negociação.
Por outro lado, o presidente Lula, no seu terceiro mandato, vinha enfrentando uma importante queda de popularidade que ameaçava claramente seu possível projeto de reeleição, com várias pesquisas já sinalizando uma possível vitória da direita em 2026.
Pois bem, a medida anunciada por Trump acabou, do ponto de vista político, sendo um verdadeiro presente para Lula, que logo percebeu que poderia puxar para ele o sentimento de patriotismo do povo brasileiro e voltar para o jogo com um forte discurso de defesa da nação, das empresas brasileiras, do agro e dos empregos.
Trump parece que, pouco a pouco, se consolida como um verdadeiro “amigo da onça” e vai transformando seus aliados políticos em vítimas das suas ações desmedidas e midiáticas.
*Médico e ex-prefeito de Petrolina
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