Enquanto a governadora Raquel Lyra recorre a números cuidadosamente selecionados para tentar sustentar uma narrativa de controle sobre a segurança pública, a realidade que pulsa nas ruas de Pernambuco desmente, com força brutal, qualquer sensação de normalidade. A frieza dos gráficos exibidos pelo governo estadual contrasta com a angústia diária vivida por uma população refém do medo, da violência e da ausência do Estado.
A sensação de insegurança, longe de ser subjetiva, é alimentada por uma sucessão de episódios que não poupam nenhum território — do Agreste ao Sertão, da capital ao Litoral Sul. Os registros recentes são estarrecedores: assassinatos à luz do dia, feminicídios em série, assaltos a ônibus, tiroteios em áreas urbanas, ataques com armas longas e cenas de violência extrema que parecem saídas de zonas de conflito. Não se trata de casos isolados — trata-se de um ambiente generalizado de colapso da ordem pública.
Leia maisEm meio a esse cenário, um gesto político contundente expôs ainda mais a fragilidade do discurso oficial: o prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral, solicitou formalmente à governadora o apoio para um chamado à Força Nacional, uma vez que somente os estados podem realizar esse tipo de solicitação junto à União. O pedido, de forte carga simbólica, representa um grito de socorro institucional e escancara o vácuo de comando que se instalou no campo da segurança pública estadual. Quando um gestor municipal precisa recorrer à União para garantir o mínimo de tranquilidade à sua população, é sinal inequívoco de que a estrutura estadual falhou.
Apesar disso, Raquel Lyra insiste em uma postura tecnocrática, limitando-se a comunicar supostas reduções em índices criminais pontuais — indicadores que, na prática, não dialogam com o cotidiano real da população. A tentativa de blindar-se por trás de planilhas revela uma gestão que prefere o conforto dos gabinetes à escuta sensível das ruas. Mas os números, por mais frios e manipuláveis que sejam, não silenciam os relatos de vítimas nem apagam o luto de tantas famílias.
A desconexão entre o discurso oficial e a vida real é hoje um dos maiores passivos da atual administração. A segurança pública, que exige ação coordenada, investimento estratégico e liderança política, tem sido tratada com negligência técnica e ausência de empatia. Em vez de protagonismo, o governo do Estado tem oferecido omissão.
A realidade de Pernambuco não cabe em tabelas. Ela grita nas esquinas, nos terminais de ônibus, nas escolas e nas comunidades que viraram territórios de exceção. E, enquanto a governadora continuar se escondendo atrás de estatísticas frias, a população seguirá entregue à sua própria sorte — prisioneira de uma violência que os números oficiais se recusam a enxergar.
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