Por Antônio Campos*
Se o futuro do livro já esteve em dúvida, a Geração Z e seus booktokers deram uma resposta clara: ele será jovem, digital e profundamente conectado com as emoções dos leitores.
O BookTok terá vez e voz na Fliporto 2025, que criou um espaço dedicado a essa importante tendência de leitura — a Fliporto Aventura — além da editora digital Edições Aventura. Nos últimos anos, uma revolução silenciosa, porém poderosa, vem transformando o mercado editorial brasileiro. No centro desse movimento está o BookTok, comunidade de criadores de conteúdo no TikTok que fala sobre livros de forma envolvente, emocional e direta. São os chamados booktokers, que conquistaram milhões de seguidores e têm influenciado decisivamente os rumos da literatura jovem.
Leia maisAlimentado pela Geração Z — jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010 — o fenômeno transcende as redes sociais e reconfigura hábitos de leitura, estratégias editoriais e até as listas de mais vendidos. Essa geração cresceu em meio à hiperconectividade, à linguagem dos memes e à instantaneidade digital. Muitos acreditaram que seriam avessos aos livros. No entanto, contrariando os prognósticos mais pessimistas, esses jovens tornaram-se protagonistas de uma nova cultura leitora — nos seus próprios termos: lendo o que querem, como querem e quando querem. E o BookTok é o palco onde essa autonomia floresce.
Vídeos curtos, de 15 a 60 segundos, com reações emocionadas, indicações apaixonadas e estética cuidadosamente pensada, têm o poder de esgotar tiragens inteiras. Romances com finais impactantes, tramas com reviravoltas psicológicas e narrativas inclusivas estão entre os favoritos. O resultado é que obras como É Assim que Acaba (Colleen Hoover) e A Hipótese do Amor (Ali Hazelwood) se tornaram best-sellers no Brasil, impulsionadas diretamente por essa vitrine digital.
Editoras e livrarias, atentas ao alcance desses influenciadores, passaram a reformular suas estratégias. Autores antes invisibilizados ganham reedições com capas voltadas ao gosto da Geração Z; novos selos editoriais foram criados para atender a esse público; e parcerias com booktokers tornaram-se parte do planejamento de marketing. Hoje, a influência digital é muitas vezes mais decisiva que uma resenha em jornal tradicional.
Outro ponto notável é a democratização do acesso à literatura. O BookTok abre espaço para autores independentes e narrativas diversas. Ao escolherem o que consomem e divulgam, jovens leitores desafiam as curadorias tradicionais e constroem uma cena literária mais plural, emocional e engajada.
Essa revolução, no entanto, traz desafios. A efemeridade dos algoritmos e a pressão por viralização podem limitar a diversidade de gêneros lidos e gerar ciclos rápidos de consumo e esquecimento. Ainda assim, o saldo é positivo: mais leitores, mais livros vendidos e uma cadeia editorial que precisa, cada vez mais, ouvir e dialogar com esse novo público.
O BookTok não é modismo; é o reflexo de uma geração que encontrou nos livros um espaço de acolhimento, identidade e resistência — e que, ao fazer isso com likes, hashtags e vídeos curtos, reinventou o mercado editorial brasileiro. A Fliporto 2025, atenta a esse movimento, criou a Fliporto Aventura e a editora digital Edições Aventura como espaços de escuta e celebração dessa nova onda leitora. A tendência merece ser não apenas observada, mas acolhida com entusiasmo — com voz, vez e protagonismo.
*Curador-Geral da Fliporto – Festa Literária Internacional de Pernambuco
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