O São João desse ano inaugurou uma nova modalidade de burla ao princípio da impessoalidade. Não bastassem os incansáveis alôs e menções aos gestores pelos artistas, agora a moda é ver os prefeitos subindo ao palco com artistas.
Esse exemplo é da tradicional Festa das Marocas, em Belo Jardim, com o prefeito Gilvandro Estrela dançando desengonçadamente no palco ao lado do aliado e Deputado Federal Mendonça Filho no show de Priscila Senna. Ele não tem sequer a preocupação de evitar expor as imagens nas redes. As informações são do Blog do Nill Júnior.
Esse tipo de imagem viralizou no São João, com uma regra: quanto maior o cachê, maior a exposição ilegal. Que o diga Wesley Safadão.
Palco é lugar dos artistas, prefeito tem que atender ao princípio da impessoalidade, cantor e apresentador não deve estar a todo momento mandando alô pra prefeito e secretário. A lei é clara, e vale de Belo Jardim a Afogados da Ingazeira, de Petrolina a Caruaru, de Arcoverde a Gravatá.
Que o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado atentem mais para o combate ao pão e circo em nossas cidades.
Após votar no seu colégio eleitoral do Recife, o candidato a presidente do PT de Pernambuco, Carlos Veras, diz acreditar em sua vitória no Processo de Eleições Diretas (PED). Na ocasião, acompanharam a votação o senador Humberto Costa, a deputado Rosa Amorim, o deputado João Paulo e a vereadora Kari Santos. A expectativa é que o resultado oficial da eleição seja publicado até amanhã (7) às 14h.
“Acreditamos em nossa vitória em razão de nossa construção coletiva que reúne um grande e amplo conjunto de lideranças partidárias, sindicais e sociais, que se farão representar nas urnas hoje para a afirmação de um PT forte, unido e popular”, declarou Veras.
Na oportunidade, ele ainda reforçou as principais diretrizes desse conjunto para os próximos quatro anos e gestão. “Vamos realizar uma gestão ampla e plural com o fortalecimento das bases, protagonismo do PT no estado de Pernambuco e reeleição do presidente Lula para seguir avançando na democracia e na justiça social”, concluiu.
Sua maravilhosa crônica domingueira sobre os avós, com a fotografia da avó/anjo da guarda da sua Nayla, emociona e comove. Avós e anjos da guarda são os mesmos seres protetores ao longo de qualquer existência, por mais perdida que essa existência seja.
Os ditos de Mãe Quitéria são eternos de tão sábios: “Quem não pode com o pote, não pega na rodilha”, diz tudo para praticamente todas as situações da vida. A obra de Guimarães Rosa aborda a ternura intergeracional entre avós e netos, alguém já disse.
As minhas melhores memórias estão com os meus avós maternos, Juca Góis e Antônia, Pai Juca e Mãe Tonha. Os avós paternos, Alexandre Lopes e Hermelinda, com eles praticamente não convivi, o encantamento pegou eles e levou-os para a floresta de Deus, que todos os avós do mundo têm um cantinho no coração do Senhor e a eles todos os pecados são perdoados.
Cabe dizer que Alexandre era Xandu Lopes e lembro dele uma única vez, numa bruma feliz e azulada. Aquele homem tão valente, pois do Pajeú das Flores comportou-se como um menino igual a mim. Afinal, os grandes avós são assim.
Se a minha Mãe Tonha era discreta, uma sombra de ternura e educação, quase reclusão (seu palavrão mais feio era TÍBIS), o meu Pai Juca foi um Dionísio, um semideus da dança, do vinho, das manifestações mais vitais da vida.
Marcava maravilhosas quadrilhas juninas e me chamava para a festa, sendo eu um nerd ensimesmado. Corria e ele me chamava de cabra frouxo, sob o argumento de que corria com medo das meninas. Quem não correu? Ah, se o tempo voltasse!
Compreendo, todavia, que o tempo é um senhor sisudo e implacável, voraz no seu avanço. Ainda a respeito das quadrilhas juninas do meu avô, hoje acho que a felicidade completa com uma mulher tem a mais absoluta gentileza dela.
Assim também pensava o gênio colombiano Gabriel Garcia Marquez, que dizia que o homem é um ser que só funciona com o consentimento da mulher. Acho isso verdadeiro.
O PT (Partido dos Trabalhadores) tem um cenário indefinido sobre quando será possível oficializar o novo presidente da sigla. A expectativa é de uma vitória de Edinho Silva, que é o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A eleição começou a ser feita em diretórios de todo o país neste domingo (6), com exceção de Minas Gerais, que teve a disputa para a presidência estadual judicializada.
Com isso, o chamado PED (Processo de Eleição Direta) foi suspenso no estado, o que pode ter reflexo também no cenário nacional, uma vez que os mineiros não iriam votar em nenhum cargo.
A expectativa era de que amanhã a sigla já tivesse um cenário mais concreto se a eleição para a presidência nacional será ou não resolvida no primeiro turno. Além de Edinho Silva, disputam o cargo máximo do partido os petistas Romênio Pereiraa, Rui Falcão e Valter Pomar.
À CNN, o atual presidente, senador Humberto Costa (PT-PE) explicou que a oficialização depende de alguns fatores. “Depende do número de pessoas que vão votar neste domingo, tirando Minas Gerais. Depende da diferença entre os candidatos entre si. Se a vitória de algum deles não sofrer qualquer impacto, eventualmente, com o PED em Minas, nós vamos divulgar”.
O PT convocou uma reunião extraordinária na terça-feira (8) para tratar do assunto.
Ontem, a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG) conseguiu uma decisão judicial para impedir a impugnação da candidatura dela à presidência do PT de Minas Gerais.
Dandara precisou pagar uma multa de mais de R$ 130 mil com o PT. Um dos boletos, no entanto, não teve o pagamento computado, segundo Dandara por uma falha interna do banco de que não havia saldo. Com isso, a quitação não foi efetuada na data imposta pelo regulamento da eleição.
Aliados da deputada veem a impugnação como uma manobra de Gleide Andrade, atual secretária nacional de planejamento e finanças do PT para evitar a participação do grupo político de Dandara na disputa à presidência estadual. Já aliados de Gleide afirmam que Dandara não conseguiu demonstrar o erro bancário e que os procedimentos do partido foram seguidos.
O advogado e escritor Antônio Campos, irmão do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, publicou hoje um vídeo em seu Instagram prometendo revelações sobre o acidente aéreo que matou o ex-presidenciável em 2014. A postagem foi feita diretamente do túmulo da família Arraes, no cemitério de Santo Amaro, no Recife.
“Detalhes da sabotagem ao avião e os autores do assassinato de Eduardo Campos. No próximo dia 10 de agosto teremos novidades! Aguardem!”, escreveu o advogado na legenda do vídeo, sugerindo que considera o episódio um crime ainda não esclarecido.
No registro, Antônio diz que nunca desistirá de buscar justiça: “Eduardo, o seu legado é gigante, você foi um grande governador, um grande irmão, um grande filho, um grande pai. Quero dizer que nunca desistiremos de fazer justiça à sua história e esclarecer a sua morte e possível assassinato.”
Eduardo Campos morreu em 13 de agosto de 2014, aos 49 anos, em um acidente de avião em Santos (SP), durante a campanha presidencial. As causas do acidente foram alvo de investigações da Aeronáutica, que à época apontou falha humana, sem indícios de sabotagem.
Sem Xi Jinping e com Vladimir Putin em participação online, o grupo Brics organiza hoje e amanhã uma reunião de cúpula no Rio de Janeiro que pretende rejeitar as tarifas e o protecionismo de Donald Trump, apesar da precaução dos países membros em não citar o norte-americano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai liderar a reunião do grupo de 11 países que, juntos, representam quase metade da população do planeta e cerca de 40% do PIB mundial.
Depois que o presidente Trump alertou que enviará, nos próximos dias, cartas aos aliados comerciais dos Estados Unidos para informar sobre a implementação de suas já anunciadas tarifas, o Brics se prepara para apresentar uma frente comum.
“Expressamos nossa séria preocupação com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, afirma o projeto de declaração final ao qual a AFP teve acesso. Lula também antecipou o tom da cúpula ontem.
“Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional”, declarou o presidente brasileiro.
O texto que será submetido aos chefes de Estado, no entanto, evita fazer uma menção explícita a Trump, enquanto vários países, como a China, negociam de modo bilateral com os Estados Unidos suas disputas tarifárias.
Dólar impera
Paralelamente, após as ameaças de Trump de impor tarifas de 100%, não se espera que prospere a ideia de impulsionar uma moeda alternativa ao dólar para o comércio entre os membros dos Brics, apesar do apelo de Lula nesse sentido.
“Se a gente não encontrar uma nova fórmula, a gente vai terminar o século XXI igual a gente começou o século XX”, afirmou o brasileiro durante a semana.
A presidente do banco do Brics, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, descartou a ideia. “Hoje não tem ninguém querendo assumir o lugar dos Estados Unidos (…) Como é que você fornece uma moeda hegemônica para o resto do mundo?”, questionou ontem. “Não vejo possibilidade de que isso esteja ocorrendo”, acrescentou.
Consenso sobre Oriente Médio
Os negociadores alcançaram, no sábado, um consenso sobre a escalada bélica no Oriente Médio, o tema que mais dividia as delegações.
O Irã, sócio do grupo desde 2023, aspirava um tom mais duro do Brics sobre o conflito na região, segundo uma fonte que participou das negociações.
Mas a declaração final dos líderes manterá a “mesma mensagem” que o grupo emitiu em um comunicado em junho, no qual manifestou sua “profunda preocupação” com os bombardeios contra o Irã, sem mencionar Israel e Estados Unidos.
Israel iniciou uma campanha aérea sem precedentes em 13 de junho contra o Irã, país que acusa de ter a intenção de desenvolver armamento nuclear. Teerã nega.
O governo dos Estados Unidos se uniu à ofensiva israelense com bombardeios contra as instalações nucleares. O Irã respondeu com ataques a Israel e contra uma base americana no Catar, antes de Trump anunciar uma trégua do conflito.
Ausências notáveis
Esta é a primeira cúpula do Brics sem a presença do presidente chinês Xi Jinping desde que ele assumiu o poder em 2012. Também não viajaram ao Rio o presidente iraniano Masud Pezeshkian e o russo Vladimir Putin, alvo de um mandado de prisão internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia, embora sua participação por videoconferência esteja prevista.
O Brics também divulgará declarações sobre mudanças climáticas — tema crucial para o Brasil, que receberá a COP30 na cidade de Belém no final do ano —, inteligência artificial e cooperação na área de saúde.
O grupo, criado em 2009, foi ampliado recentemente com a incorporação da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã para reforçar o chamado Sul Global.
As Forças Armadas mobilizaram mais de 20.000 militares para o esquema de segurança da reunião de cúpula no Rio de Janeiro e utilizarão caças com mísseis para controlar o espaço aéreo.
Visitei, há pouco, em Afogados da Ingazeira, na companhia do meu irmão Augusto Martins, o meu amigo Totonho Valadares, ex-prefeito do município. Há 30 dias, ele nos pregou um susto. Foi internado às pressas em consequência de problemas coronários.
Mas o encontrei muito bem. Revelou-me que implantou um marcapasso ultramoderno e voltou a ter uma vida normal. Fiquei feliz em encontrá-lo tão bem. Totonho foi prefeito por três mandatos, de 1993 a 1996, quando não havia reeleição e depois de 2005 a 2012, eleito e reeleito.
Marcou sua passagem pela gestão municipal com obras estruturadoras, sendo lembrado até hoje como um dos mais competentes e eficientes governantes da minha terra natal. Meu irmão Augusto Martins foi vice dele nas duas últimas passagens pelo poder, de 2005 a 2012.
A ele, presenteei com o meu livro Os Leões do Norte, que lanço esta semana. Amanhã em Serra Talhada, Flores na terça, Floresta na quarta, Afogados na quinta e Triunfo na sexta-feira.
Horas depois de a deputada federal Dandara Tonantzin conseguir uma decisão judicial permitindo a manutenção de sua candidatura à presidência do diretório estadual do PT em Minas Gerais, a direção nacional do partido decidiu, na noite de ontem, adiar a eleição no estado. O pleito em Minas aconteceria hoje, juntamente com as demais unidades da federação.
Além de estados e municípios, hoje será escolhido o novo presidente do PT nacional. Disputam o cargo Edinho Silva, Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira. Conforme nota divulgada pelo PT nacional, o caso de Minas Gerais deve ser discutido na terça-feira em “regime de urgência”. As informações são do jornal O Globo.
Na noite de ontem, o diretório do partido em Minas Gerais chegou a anunciar que a eleição seria realizada hoje, com o nome de Dandara. Depois, no entanto, a direção nacional informou o adiamento.
Entre as justificativas estão a “impossibilidade logística” de inserir o nome da deputada nas cédulas já produzidas, impressas e distribuídas aos mais de 700 municípios do estado de Minas Gerais em tempo hábil para a realização da eleição. Também é mencionada a “inviabilidade política decorrente da insegurança que pode ser imposta aos filiados e filiadas do PT que exercerão seu voto nesse domingo”.
“O adiamento cumpre a decisão judicial de garantir igualdade de condições aos candidatos, sem prejuízo da defesa do Diretório do Nacional no processo em referência que demonstrará a plena regularidade de todas decisões tomadas pelas instâncias internas do Partido”, destaca um trecho da nota.
A candidatura de Dandara foi barrada há duas semanas. A justificativa foi uma dívida de campanha de R$ 130 mil que, segundo o partido, não teria sido quitada. A deputada, no entanto, afirma que o valor foi devolvido automaticamente pelo banco e que não percebeu o problema técnico.
A decisão provocou forte reação entre aliados da parlamentar, que acusam uma manobra política para enfraquecer a ala ligada ao deputado federal Reginaldo Lopes, principal fiador da candidatura de Dandara.
Lopes trava uma disputa interna com o grupo da atual tesoureira nacional do PT, Gleide Andrade — mineira com forte influência sobre a estrutura partidária e aliada próxima de Gleisi Hoffmann, ex-presidente nacional e atual ministrra da Secretaria de Relações Institucionais.
Ao GLOBO, Gleide Andrade afirmou que Dandara teve a candidatura inviabilizada por não ter cumprido o regimento. Segundo ela, o empréstimo deveria ter sido pago até 29 de maio, mas a deputada só quitou no dia 4 de junho. Gleide reforçou que, como a liminar saiu às 18h de sábado, não havia como mudar a cédula de votação em 720 municípios.
“Casos como o dela ocorreram com 438 candidatos a presidentes nos níveis estadual e municipal. Há 3900 pessoas na mesma situação em chapas. Ela fez um recurso e perdeu por 57 votos a 32 na executiva nacional”.
No sábado, 17ª Vara Cível de Brasília concedeu decisão liminar em favor de Dandara Tonantzin. Foi determinada a imediata reintegração de sua candidatura à presidência do Diretório Estadual de Minas Gerais.
“A Justiça nos deu razão! Sigo mais candidata do que nunca. Como sempre dissemos: quem deve decidir amanhã quem será a próxima presidenta do PT são os filiados e filiadas. A garantia de que a disputa será feita no voto e nas urnas está dada. A nossa decisão por entrar na justiça foi somente após esgotar todas as discussões nas instâncias partidárias. No entanto, ficou nítido que a última decisão do Diretório Nacional foi política, capitaneada por pessoas que apoiam a candidatura adversária à minha”, comentou Dandara.
De acordo com a assessoria da parlamentar, não fosse falha interna da instituição financeira, todo o débito que Dandara tinha teria sido quitado dentro do prazo estabelecido no edital das eleições.
Na ação protocolada por Dandara foi apontada uma série de supostas irregularidades na condução do processo eleitoral do partido, incluindo o indeferimento de sua candidatura, por decisão majoritária do Diretório Nacional. Isso teria ocorrido mesmo após sua inscrição regular no prazo estabelecido e comprovação de todos os pagamentos efetuados referente a dívidas de contribuições partidárias devidas e nas datas previstas.
A candidata detalha os diversos documentos que comprovam a realização de um empréstimo para a quitação das dívidas com o partido no dia 27 de maio, anterior à data limite (29 de maio), conforme previsto no Regimento Interno. A candidata aponta, inclusive, que consta como quite no Sistema de Arrecadação de Contribuição Estatutária (SACE) do PT.
O ex-deputado federal Fernando Ferro disse, hoje, que esse Processo de Eleição Direta (PED) do PT está servindo ao propósito de alertar sobre a ineficácia da atual direção estadual. Candidato a presidente estadual pela corrente Avante PT, Ferro considera que a mudança é necessária para o partido voltar a ter força em Pernambuco e não ficar submisso a outros grupos politicos.
“Esse PED foi uma provação para a militância e o retorno está sendo muito bom. Queriam uma eleição silenciada e nós cobramos uma melhor organicidade do PT”, disse Fernando Ferro ao Blog Dantas Barreto, quando chegou para votar na Escola Estadual Darcy Ribeiro, no Cordeiro, no Recife.
Ferro ressaltou que, na sua gestão, o PT pernambucano vai recuperar a identidade. “Nosso partido governou o Recife por três vezes e hoje está submisso. O PT precisa ter candidato próprio ao Governo do Estado. Falta ousadia e vontade da atual gestão. O Governo Lula tem seis ministros pernambucanos e nenhum é do PT. O partido já teve cinco deputados federais e hoje só tem um. O BNB e a Sudene não têm petistas no comando. Isso é culpa da atual direção. Por isso, não dá para fazer unidade com quem está degradando o PT”, disparou o candidato a presidente estadual.
Interferência do PSB
Fernando Ferro ainda levantou a suspeita de interferências externas, principalmente do PSB, para favorecer a candidatura do deputado federal Carlos Veras. “Houve influência externa com interesses políticos. O PSB e outros setores estão interferindo claramente na eleição do PT”, afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva votou, hoje, na eleição para o comando do PT. A participação de Lula no pleito não estava programada, porque ele está no Rio de Janeiro, onde participa da Cúpula do Brics. Entretanto, uma urna foi levada ao seu hotel.
“Logo cedo, quem já foi votar no PED 2025 foi ele: o presidente Lula!”, publicou o perfil oficial do partido. O presidente estadual do PT do Rio, João Maurício, também publicou uma foto ao lado do presidente. “Começamos o dia ao lado do maior eleitor do Partido dos Trabalhadores”, escreveu João Maurício. As informações são do jornal O Globo.
À exceção de Minas Gerais, que teve o pleito adiado e sem uma nova data estabelecida, haverá eleição para a presidência do PT nos níveis nacional, estadual e municipal. Edinho Silva, Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira disputam o comando nacional do partido.
Ex-prefeito de Araraquara, que compõe a corrente majoritária “Construindo um Novo Brasil”, Edinho Silva é o candidato preferido de Lula. A eleição será realizada após oito anos em que Gleisi Hoffmann, atual ministra de Relações Institucionais, esteve à frente do partido.
Candidato a presidente do PT de Pernambuco, o deputado federal Carlos Veras chegou, às 10h13 deste domingo (6), na escola Estadual José Maria no Bairro do Santo Amaro localizado no Recife, para votar. Na sua chegada, disse ao Blog Dantas Barreto que, vencendo o Processo de Eleição Direta (PED), pretende imprimir a sua própria marca, embora seja apoiado pela atual gestão, do deputado estadual Doriel Barros. O candidato concorrente é o ex-deputado Fernando Ferro.
“Serei um presidente que vai rodar todo o Estado, realizar reuniões descentralizadas, garantir a presença do partido e a base fortalecida. Teremos um PT forte e unido “, afirmou Carlos Veras.
O parlamentar disse que há dois tipos de filiados. Tem aqueles com uma participação mais ativa nas decisões do PT e outros que precisam estar mais integrados. Veras assegurou que o seu trabalho será buscar esse pessoal para que o partido possa ouvir a todos.
“Fizemos isso na campanha do PED, ouvindo a militância. Foi uma campanha positiva, com cinco debates prepositivos com Fernando Ferro. Debatemos o PT e senti a militância empolgada”, disse o candidato da CNB.
Ele evita cravar os rumos do partido em 2026, apesar de oficialmente o PT integrar a base do prefeito do Recife e pré-candidato a governador pelo PSB, João Campos; e ser oposição à governadora Raquel Lyra (PSD). Segundo Carlos Veras, a atuação da bancada na Assembleia Legislativa vai de acordo com os interesses de Pernambuco.
Carlos Veras contou que circulará durante o dia pelos locais de votação e à noite acompanhará a apuração dos votos, na sede estadual do PT. Segundo ele, há 100 mil filiados aptos a votar, mas a expectativa é que 30 mil compareçam às urnas.
O candidato da CNB acredita que, na noite deste domingo, os resultados parciais em Pernambuco indicarão quem vencerá a disputa pela presidência estadual do PT.
O líder sindical dos trabalhadores rurais de Petrolina, Francisco Pascoal Chicô, é o novo presidente da secional pernambucana da Central das Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB). Ele liderou a chapa eleita no VI congresso estadual da Central realizado neste final de semana na sede do Sindicato dos Servidores da UPE, no Recife. Também integram a direção a professora Anna Davi como vice-presidente e o servidor público federal José Luís Simões como secretário-geral.
A CTB é uma das maiores centrais sindicais do Brasil, organizada sob a influência do PCdoB e do PSB. A chapa eleita é formada por militantes dos dois partidos em articulação conduzida pela presidente estadual do PCdoB, Thiara Milhomem, e pelo secretário sindical nacional do PSB, Evaldo Costa.
Os sindicalistas definiram ainda que darão total apoio às iniciativas do governo Lula para que os super-ricos paguem impostos e para a consolidação da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
“Lutaremos nas fazendas, nas fábricas e nas ruas por melhores salários e condições de vida para os trabalhadores, assim lutaremos para eleger representantes e aliados da classe trabalhadores em todos os níveis na próxima eleição”, declarou Chicô em seu discurso de posse.
Também foram eleitos: Helmiton Beserra (secretário de Finanças), Bismarck Saraiva (adjunto), Ilzenaide Mendes (Saúde do trabalhador), João Francisco Ronda (Política agraria), Fábio Couto (formação), Ana Nery (Mulher Trabalhadora), Maria Oliveira (Saúde), Wallace Melo (Comunicação), entre outros.
A direção eleita tem mandato com duração de quatro anos para executar o programa aprovado pelos mais de 250 delegados que participaram do conclave. A luta contra a jornada 6×1 e pelo resgate das conquistas históricas dos trabalhadores, suprimidas pela chamada reforma trabalhista dos governos Temer e Bolsonaro, são os principais pontos.
Há ausências que não chegam com alarde. Elas apenas começam a ocupar o espaço do que antes era presença. É como uma flor que se desprende da varanda e cai, não por desamor, nem por tempestade, mas porque chegou sua hora de ir. A gente não vê quando ela solta o caule. Só nota quando vai regar e o vaso está vazio. E então começa o luto: não daquele que grita, mas daquele que sussurra dentro de nós por muito tempo.
Perder para sempre não é um ato único. É uma sucessão de descobertas do que já não está. É quando, sem querer, você prepara duas xícaras de café. Quando escuta uma música e sorri, para depois chorar. Quando vê um vestido no armário e se pergunta por que ele ainda está ali, como um fantasma de tecido.
Pablo Neruda escreveu: “Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: ‘A noite está estrelada, e tremem, azuis, os astros, ao longe.’”, e há noites em que parece que o mundo inteiro ecoa essa dor. Porque a tristeza das estrelas não é a escuridão, é o brilho que continua mesmo depois que algumas já morreram. Como certas pessoas. Como certos amores. Como certas vozes.
Cecília Meireles dizia que “a vida só é possível reinventada”. E é verdade: perder para sempre exige reinvenção. Não se trata de esquecer, ninguém esquece o que foi raiz. Trata-se de reorganizar o amor dentro da ausência. De fazer dele um altar silencioso no coração. E como dói.
Rainer Maria Rilke nos lembrava: “A única pátria que nos resta é a infância.” Talvez por isso a perda doa tanto, porque ela nos arranca da pátria. Ela nos desterra. Quem perde alguém que amava perde também um pedaço do chão onde firmava os pés. E então a vida passa a ser esse caminhar vacilante, tentando se equilibrar entre lembranças e rotinas, entre lágrimas escondidas e sorrisos fingidos.
Clarice Lispector disse com a coragem dos que sentem: “A saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença.” Mas e quando a presença não vem mais? E quando o outro virou pó, sombra, vento, nome? A fome vira costume. E o costume vira parte de quem somos. Como o braço que já não temos, mas que ainda coça. Como a voz que já não ouvimos, mas que ainda responde quando a chamamos no silêncio.
Drummond, em sua serenidade triste, escreveu: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” Mas há dores que não permitem escolha. Há dores que nos tornam quem somos. Que nos moldam, que nos quebram, que nos ensinam a amar o que resta. E a flor caída da varanda é só uma imagem. A verdade é que todos temos alguém que se foi. Todos carregamos um nome tatuado em silêncio. Todos, mesmo os que sorriem, guardam um pouco da noite dentro de si.
E sim, a vida segue. As luzes continuam acendendo. As estações mudam. Os filhos crescem. Os amigos envelhecem. Os aniversários chegam, mesmo sem bolo, mesmo sem parabéns. E a gente aprende a caminhar com a ausência — não como quem supera, mas como quem aceita. Como quem aprende a amar o que já não está.
A flor que cai da varanda nunca volta ao caule. Mas, um dia, quando você menos esperar, ela nascerá de novo em outro canto, talvez no jardim da memória, talvez no sonho de uma madrugada calma. E você vai reconhecê-la. Não porque é igual, mas porque carrega o mesmo perfume.
Perder para sempre é um ato de amor que continua mesmo sem reciprocidade. É continuar escrevendo cartas que nunca terão resposta. É seguir olhando para o céu e dizendo: “Se estiver me ouvindo, saiba que ainda te amo.” E, no fundo, acreditar que o amor verdadeiro, como a luz das estrelas, chega mesmo quando parece tarde demais.
*Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras
O PT e a federação do União Brasil com o PP viraram elementos centrais na disputa polarizada entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), para a eleição de 2026 pelo Governo de Pernambuco.
Juntos, esses partidos teriam, atualmente, parcela expressiva do tempo de propaganda no rádio e na televisão, aferido de acordo com o tamanho das bancadas na Câmara. A federação União-PP tem 111 deputados (21% do total), enquanto a do PT, que também tem PC do B e PV, tem 79 (15%).
O cálculo de que, somadas, as duas federações teriam possivelmente mais de um terço do tempo total já é feito pelos aliados de Raquel e Campos, que querem ter domínio nesse campo a fim de se prevenir de críticas do campo adversário.
A federação União Brasil-PP ainda não foi oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral, enquanto PT, PV e PC do B ainda vão definir se continuam federados por mais quatro anos — o atual vínculo vai até 2026.
O partido do presidente Lula (PT) tem como prioridade em Pernambuco no próximo ano a reeleição do senador Humberto Costa (PT). O petista deverá ser candidato na mesma chapa que João Campos, que não faz mais mistério a aliados de que vai concorrer ao governo no próximo ano.
Porém Humberto não fechou as portas para a governadora, que quer ter o petista como um dos dois candidatos ao Senado da sua chapa. O obstáculo para isso é Lula, que tem uma aliança nacional com o PSB.
A interlocutores Humberto Costa já indicou que é muito difícil o PT apoiar a reeleição de Raquel Lyra, seja pelas distâncias ideológicas, já que a coalizão da governadora também reúne bolsonaristas, como pelo pleito do PSB, que tem Pernambuco como sua prioridade número 1 na eleição do próximo ano.
Em Pernambuco, o comando do União Brasil faz parte da base de apoio ao prefeito do Recife. A sigla quer lançar o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho como candidato ao Senado. Porém o acordo entre União Brasil e PP prevê que a federação da legenda seja presidida no estado pelo deputado federal Eduardo da Fonte (PP), um dos principais aliados de Raquel.
A federação União Brasil-PP não descarta, inclusive, tentar emplacar dois nomes numa chapa majoritária, seja a de Raquel ou a de João Campos. O cenário no lado do prefeito está mais congestionado, já que, além de Humberto e Miguel, a ex-deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), também querem disputar o Senado.
Uma das alterações no radar de João Campos é a possível mudança de lado do PP, o que levaria toda a federação com o União Brasil para junto do PSB. O prefeito acredita que, com a governadora atrás nas pesquisas de intenção de voto, poderá atrair o grupo político de Eduardo da Fonte para seu lado.
Dirigentes nacionais da federação União-PP afirmam que querem emplacar um nome para o Senado e outro para a vice, independente da coligação em que estejam. Uma hipótese seria Eduardo da Fonte para o Senado e Miguel como candidato a vice-governador, ou o ex-prefeito indo para a disputa do Senado e o deputado indicando um candidato a vice.
O presidente do PP em Pernambuco, Eduardo da Fonte, que vai liderar a federação União-PP no estado, tem boa relação com Humberto Costa.
João Campos já declarou publicamente que o PSB apoiará a reeleição de Lula, o que o aproxima do PT no estado. Entretanto, há alas petistas que são próximas à governadora, como a bancada de deputados estaduais e parte dos prefeitos do partido no interior.
O presidente estadual do PT, deputado Doriel Barros, afirma que deseja ter o apoio dos dois palanques para Lula no próximo ano em Pernambuco.
“Sou defensor da ideia de que Raquel apoie Lula. Precisamos reeleger o presidente Lula. Quanto mais apoios tivermos para ele, melhor. E isso seria um reconhecimento ao trabalho do presidente por Pernambuco”, diz.
Ele afirma, porém que “essa decisão só vai ser tomada no próximo ano em sintonia com o projeto de reeleição”.
Uma chapa com Raquel, Humberto e Dudu da Fonte é tida pelo Palácio do Campo das Princesas como um xeque-mate eleitoral sobre o PSB. Mas há reconhecimento das adversidades para efetivá-la.
Em 2022, Raquel Lyra optou pela neutralidade e não declarou voto no segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro.
A avaliação no governo estadual é que dificilmente Raquel terá uma posição sobre apoiar Lula antes de 2026 chegar, até porque o seu próprio partido, o PSD, pode lançar candidato próprio à Presidência da República, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior.
Partido do Real e da modernização do Estado brasileiro, o PSDB por duas décadas protagonizou com o PT os rumos da política nacional, vangloriando-se de possuir os mais bem preparados quadros políticos e técnicos do país. Com o mesmo esmero, suas lideranças dedicavam-se nos bastidores a sucessivas traições e sabotagens. Denúncias de corrupção e o surgimento de Bolsonaro acentuaram a crise e rasgaram a superfície de polida competência do partido, que hoje depende de fusão ou federação com outras siglas para sobreviver.
Era uma manhã de março de 2016 quando o destino tocou a campainha do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Aécio Neves, então senador, recém-desembarcado em Congonhas, atravessava a cidade com uma comitiva de repórteres. Não vinha para conversar. Queria arrastar o governador Geraldo Alckmin até a avenida Paulista, onde fervilhava a maior manifestação pró-impeachment de Dilma Rousseff.
“Isso é uma armadilha”, murmurou o governador, seco, a dois assessores. Sabia que, se não fosse, os jornais do dia seguinte o carimbariam como o responsável pelo racha tucano. Suspirou, entrou na van e partiu. No trajeto, os dois homens, que um dia representaram o futuro do país, viajaram lado a lado, calados, como estranhos no mesmo velório.
Na Paulista, antes do cheiro de fritura dos ambulantes, vieram as vaias. Cartazes pediam cadeia. Um manifestante gritou “corrupto” diretamente a Aécio. Para quem conhecia o ninho tucano por dentro, era o início do fim de um projeto que prometera civilizar a política nacional — e acabava linchado no meio da rua.
Alckmin via nas pedaladas fiscais atribuídas ao governo Dilma não um crime, mas uma farsa. Dizia aos próximos que, sob aquele microscópio ideológico, nenhum prefeito passaria sem arranhões. Para ele, o impeachment era juridicamente frágil e politicamente perigoso, um precedente que poderia ser usado contra qualquer governante.
A irritação do governador não era só jurídica. O PSDB começava a flertar com um terreno que jamais fora o seu: polarização sem freios, rua ensandecida, populismo do ódio. “Já não era um movimento que nos cabia bem”, admite hoje Aécio Neves, em entrevista à Folha. “Era uma coisa esquisita, radicalizada.”
Quem também enxergou o erro, tarde demais, foi Aloysio Nunes Ferreira, vice na chapa de Aécio em 2014. “Naquele processo de impeachment, estávamos misturados com gente da extrema direita. Quando surgiu um líder de extrema direita, o eleitorado foi embora.”
Da queda de Fernando Collor (1992) à chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto (2019), o Brasil deslizou para a direita nos costumes, mas não gerou um líder conservador à altura do palco nacional. O PSDB ocupou esse vácuo como figurante de luxo. Colheu votos, mas perdeu a alma. Quando Bolsonaro enfim surgiu, o público voltou ao seu “galinheiro ideológico”.
A travessia do impeachment à pandemia foi uma sangria lenta. O partido definhou em discurso, quadros e votos. Alckmin filiou-se ao PSB e virou vice de Lula. Fernando Henrique Cardoso e José Serra recolheram-se. Aloysio saltou do barco, assim como os governadores Eduardo Leite e Raquel Lyra. Sobrou Aécio, condômino solitário de uma legenda vazia.
Entre os líderes que puxaram a fundação do PSDB estão os senadores Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Afonso Arino. Foto: Luciano Andrade/Folhapress
O desastre estourou nas urnas: 59 deputados federais eleitos em 2002; 43 em 2006; 53 em 2010; 54 em 2014; 29 em 2018; míseros 13 em 2022. Testemunhei essa derrocada de perto, mais especificamente de 2010 a 2018, nas campanhas presidenciais de Serra em 2010 e de Alckmin em 2018. Entre essas duas datas, fui secretário de comunicação de Alckmin no governo do Estado de São Paulo.
Hoje, o PSDB vaga como um zumbi institucional: respira por aparelhos fornecidos pela cláusula de barreira e só se mantém de pé graças à esperança de uma fusão ou federação que lhe garanta tempo de TV e verba do fundo partidário.
A contradição de origem
O PSDB já foi o partido do Plano Real e dos quadros mais bem preparados da política brasileira. Durante duas décadas, encarnou o espírito do diálogo e do consenso. Entre 1994 e 2014, o Brasil viveu sob um duopólio imperfeito. Os tucanos sustentaram seu lado da equação com técnica, compostura institucional e ambição modernizante.
Esse foi o retrato traçado, com certa nostalgia contida, pelo vice-presidente da República. Fundador do PSDB, Alckmin disse à Folha que o partido foi “promotor de grandes avanços sociais e econômicos”, defensor intransigente da democracia. Falava como quem olha para trás com gratidão. Sem ressentimento, sem deslealdade. Talvez apenas com uma ponta de melancolia.
Atrás da superfície polida da competência, o PSDB carregava, desde a origem, uma contradição estrutural. Nunca foi exatamente um partido. Era mais uma federação de caciques, amarrados por conveniências eleitorais e antipetismo comum. Uma social-democracia sem sindicatos. Um clube de notáveis que confundia excelência técnica com legitimidade popular. Seu maior trunfo, o rigor gerencial, foi também seu limite. Sobraram planilhas, mas faltou povo.
Em 2015, FHC parecia ter compreendido o impasse com a clareza dos que já não disputam o poder. Essa lucidez se manifestava nas sessões de pôquer que promovia em seu apartamento, ou no de João Rodarte, jornalista e parceiro de cartas, das quais eu participava.
O ex-presidente durante entrevista na Fundação Fernando Henrique Cardoso, no centro de São Paulo. Foto: Keiny Andrade/Folhapress
As apostas eram modestas: quem vencia saía, no máximo, com R$ 200. FHC não blefava. Seu hobby era desmascarar os blefadores — como se aquele jogo lhe oferecesse um simulacro controlado da política real, onde tudo era engano, mas ao menos havia regras.
À volta da mesa, copos d’água e silêncios longos acompanhavam alguns dos cérebros mais afiados da vida intelectual brasileira — o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues, o historiador Boris Fausto.
Em meio às rodadas, FHC deixava escapar, entre ironias e desabafos, seus diagnósticos sobre o partido que fundara. “A maternidade do PSDB encerrou suas atividades”, dizia, meio rindo, meio resignado. “Não nasce mais ninguém. São os mesmos desde 1994. Vão todos ficando velhos. O único que não envelhece aqui sou eu.”
Em outra conversa, o ex-presidente confessaria: “Se voltasse no tempo, teria me dedicado muito mais ao PSDB”. Soava como um pecado venial, mas ecoava como um epitáfio precoce de um projeto que envelheceu antes de aprender a se renovar.
A ironia era afiada: o sucesso do Plano Real destruiu qualquer senso de urgência pela construção partidária. Com FHC no Planalto e os tucanos distribuídos por governos estaduais e prefeituras, quem precisava de diretórios fortes, convenções vibrantes ou quadros novos? O poder embriagava. A gestão deslumbrava. Mas não deixava descendência.
2004 e 2008: A traição paulistana
A sequência de autossabotagens selou o destino tucano. Das punhaladas internas aos predadores externos, o PSDB construiu sua própria erosão com esmero.
Uma das primeiras emboscadas ocorreu em 2004, com a traição paulistana. Houve um telefonema que poderia ter mudado o rumo da política brasileira.
No apartamento do velejador Lars Grael, filiado ao então PFL, o aparelho tocou. Do outro lado, José Serra fazia um convite improvável: queria o medalhista olímpico como seu vice na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Gestor competente, com passagem pelo Ministério do Esporte no governo FHC, Lars era, para Serra, o tipo ideal de político: alguém que ainda não era político.
A base reagiu com instinto feroz. Tucanos e pefelistas, unificados como raramente se viu, lançaram o ultimato: “Se o vice não for Kassab, a candidatura não vai pra rua”. Serra, pragmático como sempre, cedeu. E Gilberto Kassab, então deputado federal pelo PFL, virou o vice e um dos mais fiéis parceiros do tucano.
Serra foi eleito prefeito naquela eleição de 2004. Quinze meses depois, em março de 2006, quebrou a promessa de cumprir o mandato e renunciou ao cargo para disputar o governo do Estado. Deixou a prefeitura nas mãos de Kassab, que mais tarde construiria o PSD.
José Serra na época em que foi ministro do ex-presidente Michel Temer. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Em 2008, o PSDB expôs à luz do dia sua primeira grande fissura. Serra, governador de São Paulo, jogou todas as fichas na reeleição de Kassab na prefeitura da capital, ignorando sem cerimônia a candidatura de seu correligionário Geraldo Alckmin. Kassab venceu. Alckmin nem chegou ao segundo turno. Mais que uma derrota eleitoral, foi uma humilhação moral para o PSDB.
A ironia histórica foi dessas que a política arquiva com gosto. Se Lars Grael tivesse sido vice de Serra em 2004, Kassab jamais teria herdado a Prefeitura de São Paulo. Sem essa vitrine, talvez não tivesse construído o partido que hoje comanda como uma orquestra regida por pragmatismo implacável: o PSD.
2010: O teatro de Belo Horizonte
A partir de São Paulo, o PSDB se especializou em fazer oposição a si mesmo. Em 2010, foi a vez de Minas Gerais entrar no palco. O teatro da harmonia entre Aécio e Serra encenado em Belo Horizonte escondia, nos bastidores, a disputa mais silenciosa — e mais venenosa — do partido.
Era 4 de março. A inauguração da Cidade Administrativa parecia o que de fato era: o lançamento não declarado de uma candidatura presidencial. Serra, convidado de honra, sorria para as câmeras em sincronia com Aécio, então governador de Minas, como quem sabe que está num jogo, mas finge que não decidiu se quer jogá-lo.
Ambos conheciam o roteiro: 2010 parecia um beco sem saída. Lula, no final de seu segundo mandato, batia recordes de aprovação; Dilma Rousseff carregava o carisma transferido pelo padrinho.
Aécio, favorito natural das prévias tucanas, já havia deixado, discretamente, a disputa. Queria que o provável sacrifício ficasse com Serra, a quem tratava com juras de lealdade, incentivando-o a embarcar na disputa e prometendo o apoio de Minas. O mineiro sabia que a provável derrota do paulista deixaria o campo livre em 2014, quando, calculava, o ciclo do PT no Planalto chegaria ao fim.
Aécio toma posse como governador de Minas Gerais. Foto: Eugenio Savio
O golpe colou, mas Serra e Aécio jamais confiaram um no outro. Viviam mergulhados em clima de paranoia mútua. Aécio suspeitava que Serra espalhava rumores sobre seu suposto uso de drogas. Serra, por sua vez, culpava Aécio por matérias publicadas na imprensa sobre supostos esquemas de corrupção do PSDB paulista.
Na campanha de 2010, levantamentos encomendados sob sigilo por Serra ao cientista político Antônio Lavareda davam sinais dúbios. Apontavam o governador de São Paulo na frente, mas também indicavam que Dilma teria grandes chances de vitória em um eventual segundo turno. Não era o que Serra queria ouvir. O diagnóstico o incomodou tanto que Lavareda foi temporariamente posto na geladeira, sem novas pesquisas encomendadas a ele por um tempo.
Meses depois, Serra voava de Belo Horizonte para São Paulo quando ouviu de um assessor irreverente a pergunta dissonante: “Você já assistiu a ‘O Show de Truman?”. Fazia uma comparação entre o filme de 1998, no qual o ator Jim Carrey é um homem que desconhece que sua vida é uma realidade simulada por um programa de TV, e a campanha presidencial tucana.
Nas imagens, viam-se quarteirões tomados por militantes, bandeiras tremulando, aplausos esfuziantes. Tudo parecia apontar para a vitória. Bastava, contudo, andar dois quarteirões além do palanque para ver o que as lentes não mostravam: ruas desertas, ônibus fretados discretamente estacionados, motoristas confessando que os passageiros haviam vindo em troca de um lanche e algum trocado. Era uma encenação meticulosa. Um “Show de Truman” tucano.
As urnas confirmaram a profecia de Lavareda. Dilma venceu Serra no segundo turno. E pior: mesmo com Aécio oficialmente “ao seu lado”, o tucano foi atropelado pela petista em Minas Gerais: 58,45% contra 41,55%. O estado em que o PSDB dominava o governo tornava-se, ironicamente, seu território mais ingrato.
2014: A última chance
Quatro anos depois, seria a vez de Aécio testar o próprio nome nas urnas. Na noite de 26 de outubro, no início da apuração dos votos, o mineiro estava na frente. O ciclo tucano, adormecido desde FHC, parecia prestes a ser religado.
A reviravolta começou pelo Nordeste. Urna após urna, Dilma virou o jogo e consolidou a vitória apertada, 51,64% contra 48,36%, a menor margem já registrada em uma eleição presidencial brasileira até então. O fantasma de Minas assombrou os tucanos de forma ainda mais intensa: Aécio perdeu em sua própria base eleitoral. Para o PSDB, foi ao mesmo tempo a maior chance de voltar ao Planalto em 12 anos e o último suspiro de relevância nacional.
Quatro dias depois do segundo turno, o partido protocolou no TSE um pedido de auditoria especial nos resultados da votação. Era o início de um novo paradigma: difundiu-se a ideia de que eleições poderiam ser colocadas sob suspeita quando o resultado desagradasse.
Aécio Neves (PSDB) e Dilma Roussef (PT) no último debate das eleições 2014 na TV Globo, no Rio de Janeiro. Foto: Eduardo Knapp/Folhapress
Aécio, até hoje, rejeita essa leitura com veemência. “Essa versão foi espalhada pelo PT, e muita gente comprou”, afirma. “Nunca contestamos o resultado. Às 20h30 do domingo da eleição, liguei para a presidente Dilma e a cumprimentei pela vitória.”
Segundo ele, o pedido de auditoria nasceu de pressões externas. Inundado por mensagens relatando falhas em urnas, o partido se sentiu compelido a dar uma resposta institucional. “Eu, pessoalmente, não duvido do resultado da eleição. Mas acho que uma parcela razoável da população tem dúvidas. E defendo, muito antes de o Bolsonaro existir, um sistema que possa eliminá-las.”
Para Aécio, o problema não está nas urnas eletrônicas, mas na falta de transparência percebida pelo eleitorado. “Isso alimenta o processo contínuo de contestação, principalmente por parte da direita mais radical.”
2016: O usurpador do tucanato
A entrada de João Doria no PSDB foi o atestado de óbito da última tentativa orgânica de reconstrução tucana. Nos bastidores das prévias para a Prefeitura de São Paulo, o governador Alckmin oscilava entre a indecisão e o controle. Andrea Matarazzo era o nome natural do partido, respaldado por FHC, Serra e outras lideranças históricas.
Uma reunião pró-Matarazzo aconteceu na casa de José Gregori, ministro da Justiça no governo tucano. A alta cúpula do partido estava presente, incluindo Serra e FHC.
Alckmin foi convidado por e-mail. Na verdade, ninguém o queria lá, o que o deixou extremamente irritado. Leu a articulação como um ato de traição. O fato é que chamou Doria no dia seguinte e disse: “Agora vá lá e ganhe essa convenção”, contou uma testemunha do episódio.
Uma das leituras é que o apoio de Alckmin a Doria foi também um acerto de contas. Afinal, a lembrança de 2008, quando foi derrotado por um Kassab apoiado por Serra, ainda doía.
Doria, poucos dias antes de deixar o cargo de governador de SP para disputar a Presidência nas eleições de 2022. Foto: Aloisio Mauricio/Agência O Globo
Eleito nas prévias tucanas com gastos próprios até então nunca vistos pelo partido, Doria demoliu nas urnas o petista Fernando Haddad, que buscava a reeleição.
A boa relação de criador e criatura, contudo, durou pouco. Pouco após assumir a Prefeitura de São Paulo, Doria embarcou com Alckmin rumo a Nova York para participar de um roadshow com investidores.
No palco, vendiam o mesmo Estado. O governador fez a defesa burocrática do modelo paulista. O prefeito veio em seguida e apresentou-se como o gestor de que o Brasil precisava. Não fez nenhuma menção a seu padrinho político. Nenhum gesto de deferência.
Na mesa ao lado, o secretário estadual Saulo de Castro cochichou no ouvido do governador: “Viu, Geraldo? Ele acabou de se lançar candidato à Presidência”. No íntimo, Alckmin esperava que Doria o consagrasse como o próximo presidente do Brasil. Começou ali um processo rápido e irreversível de arrependimento e ódio.
Em 2018, Doria repetiu a tática de Serra. Rompeu a promessa feita ao eleitor e candidatou-se ao governo estadual, vencendo no segundo turno. Em 2022, venceu as prévias para concorrer ao Planalto, mas depois desistiu da corrida, alegando sabotagem do partido. Pela primeira vez desde sua fundação, o PSDB ficou sem candidato à Presidência do Brasil.
O ex-deputado tucano José Aníbal assim classifica a introdução de Doria no partido: “Eu disse desde o início. Ele seria o cupim do PSDB”. Aécio Neves concorda: “A entrada do Doria foi o episódio mais trágico da história recente do partido.”
A reportagem procurou João Doria. O ex-governador preferiu não conceder entrevista. Enviou, por escrito, uma mensagem com pedido explícito de publicação na íntegra.
“Venci as três prévias do PSDB que disputei com bons candidatos do partido. Na sequência, venci as eleições para prefeito de São Paulo no primeiro turno, em 2016 — fato único na história política da cidade até hoje. Depois, venci as eleições para governador do Estado, com mais de 11 milhões de votos, em 2018. Já em 2022, venci novamente as prévias do PSDB para presidente da República, disputando com expressivos candidatos do partido. Embora tenha sido vitorioso, o PSDB não honrou o resultado das prévias nem a vontade dos seus filiados. Tomei, então, a decisão de desligar-me do partido. Não tenho mágoas nem ressentimentos de ninguém. E desejo boa sorte ao PSDB.”
2017: A fuga pela garagem
Quando viram que havia imprensa do lado de fora, as pessoas fugiram pela garagem. Era maio de 2017, e a cena, na residência de Aécio Neves em Brasília, tinha todos os elementos de uma tragédia política.
Dias antes, gravações da JBS encaminhadas à Procuradoria-Geral da República, como tentativa de um acordo de delação premiada, mostravam Aécio pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. O diálogo rapidamente se tornou símbolo da degradação política nacional.
Aécio convocou uma reunião de emergência com a cúpula partidária para explicar-se e pedir respaldo. A cena beirava o surreal. Ele disse que pediu o dinheiro como um empréstimo pessoal, e não em um ato de corrupção, para pagar honorários advocatícios decorrentes da eleição de 2014.
Contou que tentou vender seu apartamento no Rio, mas ninguém quis. Estava desesperado. Teria acertado com Joesley Batista a entrega do imóvel como forma de pagamento.
Aécio convocou a imprensa acreditando que, ao fim da reunião, os colegas sairiam em sua defesa. Não saíram. Ou melhor, saíram pela garagem, uma fuga em massa, ao verem jornalistas na porta. Nenhuma palavra foi dada em favor do companheiro em apuros.
“A solidariedade nunca foi mesmo matéria-prima do PSDB”, reconhece Aécio em tom amargo. Acusado de corrupção passiva, ele foi depois absolvido pela Justiça.
2018: o partido nu
O PSDB chegou a 2018 fragilizado, sem o voto antipetista que antes o cobria e com a imagem de lisura arranhada pela Lava Jato. Em acordos de delação premiada firmados com a Procuradoria-Geral da República, executivos da Odebrecht disseram ter repassado milhões de reais em caixa dois para as campanhas eleitorais de Serra, Alckmin e Aécio, entre outros figurões do partido.
Ao longo dos anos também acumularam-se denúncias sobre supostos pagamentos de propina e formação de conluios para a elaboração de projetos e construção das linhas do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) nas gestões tucanas em São Paulo.
Em 2018 Alckmin partiu para sua segunda candidatura presidencial. A despeito de tudo, havia algum motivo para confiança, pois sua gestão como governador seguia bem avaliada.
A realidade, contudo, impôs outro roteiro. Em São Paulo, reduto histórico do tucanato, estado no qual foi o político que por mais tempo ocupou o cargo de governador após a ditadura, Alckmin ficou em quarto lugar, atrás de Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes.
Mais que um tropeço, foi uma humilhação histórica. Alckmin, apoiado por oito partidos e dono de 44% do tempo total de TV, terminou o primeiro turno também em quarto lugar no país. Obteve apenas 4,76% dos votos válidos, o pior desempenho presidencial do PSDB desde sua fundação.
A tragédia tucana foi intensificada pelo abandono. Ao perceber o fracasso iminente, João Doria incentivou nos bastidores o voto BolsoDoria, aprofundando a cisão interna.
Naquela eleição as pessoas viraram as costas para a televisão e passaram a ser bombardeadas por WhatsApp e redes sociais. Bolsonaro, com apenas 8 segundos de tempo de TV, soube explorar esse novo ambiente. O PSDB não percebeu que o jogo havia mudado.
Pela primeira vez em quase três décadas, disputou sem contar com o voto antipetista de direita, que passou a ter dono. Ao contrário, fez uma campanha de centro-esquerda, poupando o PT e criticando duramente Bolsonaro. Revelou-se o que era: um partido dúbio, esvaziado, órfão de base social, de narrativa e ambição.
O diagnóstico e o plot twist
O PSDB contratou recentemente o instituto Quaest para avaliar a opinião da população sobre o partido. O diagnóstico foi brutal. O principal problema constatado tem nome e sobrenome: Aécio Neves. A rejeição do mineiro, segundo a pesquisa, contamina toda a legenda.
Numa reviravolta digna da política brasileira, o PSDB negocia hoje a volta de Ciro Gomes depois de 28 anos. Nesse período, Ciro transformou em esporte ataques cruéis a FHC. Desde as eleições de 2018, porém, tem caminhado para a direita, enquanto seu atual partido, o PDT, insiste em participar do governo Lula. Estariam ambos, Ciro e o PSDB, na centro-direita do espectro político.
Desde que deixou os tucanos, Ciro peregrinou por vários partidos: PPS (hoje Cidadania), PSB, PROS e, desde 2015, PDT. Hoje vê na legenda tucana o espaço para reafirmar seu projeto de oposição ao PT.
Ciro Gomes durante debate com os candidatos à Presidência da República nas eleições de 2018. Foto: Bruno Santos/Folha Press
O movimento ganhou força após revelações de fraudes no INSS, descobertas na gestão petista. Apesar de atuar para o desembarque dos pedetistas da base aliada de Lula, Ciro foi voto vencido, e o PDT optou por seguir no governo.
Epitáfio de uma era
Na década de 1990, o PSDB foi o partido da modernização. Nos anos 2000, representou a imagem anti-PT. Em 2010, ainda parecia competitivo. Em 2014, chegou perto com Aécio. Em 2018, tornou-se irrelevante. Em 2022, saiu de cena. Passou da glória do Plano Real ao próprio funeral.
Em São Paulo, berço tucano, está fora do governo estadual, posto que ocupou de 1995 a 2022, e da prefeitura da capital.
Aécio, que restou como guardião das ruínas, ainda cultiva ambições mais nobres. “Nosso objetivo não pode ser só superar a cláusula de desempenho. Queremos dar musculatura a um projeto de centro, mesmo que não seja para vencer as próximas eleições.”
É o que resta: um projeto de centro. Depois do fracasso nas negociações com o Podemos, o partido agora aposta numa federação com MDB e Republicanos. “Há um interesse grande. A questão é que o MDB está muito no governo”, diz Aécio.
Aloysio Nunes observa o esforço de longe, com a lucidez dos que assistem ao próprio epitáfio ainda sendo rabiscado. “Acho que o PSDB está fazendo um movimento correto na luta pela sobrevivência. Só espero que consigam se livrar da hipoteca do bolsonarismo e caminhem para um centro democrático.” E arremata: “Aliás, é onde o Kassab soube perfeitamente posicionar o PSD”.
Com a morte do PSDB, não morre só um partido — morre uma forma de fazer política. A política da expertise, do debate racional, da moderação como princípio. A política que acreditava que bastava estar certo para convencer, ser competente para vencer, ter boas intenções para ser perdoado.
Morre também uma geração. A geração que fez a transição democrática, criou o Plano Real, inseriu o Brasil na modernidade. Homens que, com todos os defeitos, praticavam uma política mais civilizada, mais institucional, mais respeitosa.
Serra, afastado da vida pública devido à doença de Parkinson, recebeu a Folha em sua casa. Disse uma frase que resume mais do que a situação de seu partido. “Tínhamos os melhores administradores e líderes do país. Obviamente, cometemos equívocos, mas isso talvez não tenha mais importância. A política vive hoje tempos de terra arrasada.”
A democracia brasileira ficou mais pobre. Não porque o PSDB seja insubstituível, mas porque a diversidade partidária é um valor democrático. Um país com dois polos — esquerda e direita populista — é um país com menos possibilidades, menos nuances, mais riscos.
*Advogado e jornalista, foi secretário de comunicação do Supremo Tribunal Federal e do Estado de São Paulo (governo Alckmin). Foi também correspondente da Folha de S.Paulo em Tóquio e Washington
O ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro Edinho Silva, 60, deve ser eleito presidente do PT hoje após uma disputa marcada por divergências internas e sob forte intervenção do presidente Lula.
Com um discurso conciliatório e voltado ao diálogo com forças políticas fora da esquerda, Edinho assumirá o comando do partido no momento em que integrantes do governo Lula, do PT e aliados caminham em sentido contrário, com ataques a expoentes do Centrão.
Petistas apostam em Edinho como canal para reaproximação com os partidos aliados, lembrando que ele mantém boa relação com dirigentes de siglas da centro-direita, como os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do PSD, Gilberto Kassab.
A expectativa é que Edinho vença no primeiro turno. Também disputam o comando do partido o deputado federal Rui Falcão (SP) e os dirigentes petistas Romênio Pereira e Valter Pomar.
De acordo com o PT, estão habilitados para votar cerca de 3 milhões de filiados. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informa que há pouco menos de 1,7 milhões de eleitores filiados ao partido, mas a sigla argumenta que os registros da Justiça são defasados e incompletos.
O atual presidente da sigla é o senador Humberto Costa (PE). Ele assumiu o cargo temporariamente depois que a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) deixou o posto em fevereiro para ocupar o cargo de ministra das Relações Institucionais.
Apesar do expressivo favoritismo de Edinho, o discurso que prevalece hoje no PT é mais próximo do que pregam os adversários do ex-prefeito, que fazem parte de setores mais à esquerda da sigla.
Nas últimas semanas, o partido se unificou em torno do discurso de pobres contra ricos e de disputa aberta do debate público com o bolsonarismo e com o Centrão. O próprio Lula instruiu seus aliados a adotar esse tom, como mostrou a Folha.
O movimento do presidente foi motivado pela série de derrotas impostas ao governo pelo Congresso, que barrou o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A avaliação na cúpula do Executivo é que forças políticas de centro e direita anteciparam a eleição de 2026, agindo para enfraquecer o governo desde já e reduzir as chances de Lula ser reeleito no ano que vem.
Por essa leitura, segundo petistas, não restaria outra opção ao presidente senão fazer uma disputa direta por eleitores e estimular aliados a propagar ideias que unam ao menos seus apoiadores mais tradicionais. Na prática, o discurso mais moderado de Edinho foi atropelado pelo conflito entre petistas e as forças dominantes do Congresso.
O ex-prefeito diz não haver incoerência. “O governo tem posição, e essa agenda muitas vezes é contraditória com a de boa parte dos líderes do Congresso, mas isso não significa interditar o diálogo e a capacidade de construção de pontos de unidade. Mas o presidente Lula não abre mão de debater com a sociedade brasileira”, afirmou Edinho à Folha.
Lula é o líder inconteste do PT, mas mesmo assim teve dificuldades para unificar seu grupo político dentro do partido – a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil) – em torno do nome do ex-prefeito.
O presidente interveio pessoalmente na disputa, tendo participado de duras reuniões com a ala da CNB que resistia à perda de espaço.
Em março, o chefe do Executivo deixou, contrariado, um encontro que ocorria na casa de Gleisi após desafiar os participantes a apresentar um nome melhor para a função.
A reunião havia sido convocada por uma ala petista para convencer Lula a desistir de seu candidato, mas surtiu efeito contrário. A reação negativa ao que foi considerado uma emboscada ao presidente fortaleceu os apoiadores de Edinho.
Em sua cruzada pela eleição do ex-prefeito, Lula trabalhou para enfraquecer grupos opositores. O presidente convidou a tesoureira do partido, Gleide Andrade, a acompanhá-lo na viagem ao Vaticano para o enterro do papa Francisco. Ali, teria a sondado sobre a possibilidade de desistir da reeleição àquele cargo, uma vez que ela representava um grupo político crítico a Edinho. Não houve sucesso.
Depois, foi a vez de negociar com o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, que havia se lançado como candidato. Quaquá retirou seu nome após costuras em favor de seu filho no Rio de Janeiro. Quando esse acordo foi selado, em meados de maio, o favoritismo de Edinho aumentou.
As disputas dentro da CNB se proliferaram pelo país, sendo reproduzidas nas brigas pelos comandos dos diretórios estaduais. Uma das primeiras tarefas de Edinho depois de sua provável eleição será reduzir as divisões dentro da corrente, que é majoritária no partido.
Apoiadores dele afirmam que uma rara pacificação interna seria importante para a sigla ter melhores condições de promover a candidatura à reeleição de Lula no ano que vem.
O cargo de presidente do PT deverá colocar o ex-prefeito em uma posição central na eleição de 2026. Se a tradição petista for mantida, o dirigente escolhido no domingo comandará a campanha de reeleição.
A provável vitória de Edinho também pode dar mais tranquilidade ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O chefe da equipe econômica está afinado com o PT na defesa de taxação dos setores mais ricos da sociedade, mas suas propostas para a economia enfrentaram resistências do próprio partido em outros momentos.
Edinho, em geral, concorda com as medidas do ministro. Haddad apoiou a candidatura do ex-prefeito desde o início. Lula começou a demonstrar a aliados que queria Edinho Silva como presidente do PT ainda no ano passado. O ex-prefeito de Araraquara estreitou ainda mais seus laços com o presidente da República em 2022, quando foi um dos coordenadores de comunicação da campanha presidencial.
Lula e Edinho Silva, porém, se conhecem há mais tempo. As vitórias do petista nas disputas pela Prefeitura de Araraquara (em 2000, 2004, 2016 e 2020) chamaram a atenção do presidente da República. O interior de São Paulo é uma das regiões onde o PT tem mais dificuldades.
Edinho também foi vereador, deputado estadual e ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo de Dilma Rousseff. Além disso, presidiu o diretório estadual do PT em São Paulo.
O PT (Partido dos Trabalhadores) realiza hoje as eleições internas para decidir o novo presidente da sigla. Depois de um hiato de 12 anos, o partido voltou ao formato de escolha direta com votos dos filiados. O 2º turno, se necessário, será em 20 de julho. Além da votação para presidente, a sigla renovará as direções nas esferas municipais e estaduais.
O Diretório Nacional aprovou em 7 de dezembro uma resolução com o calendário do que o partido chama de PED (Processo de Eleição Direta). Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) atualizados até 4 de outubro de 2024, o partido tem 1.653.361 filiados.
A sigla utilizará cédulas de papel. O PT chegou a pedir urnas eletrônicas para a Justiça Eleitoral, mas só 16 Estados autorizaram a concessão. Por isso, adotaram um modelo unificado. O resultado, tanto da presidência nacional do partido quanto dos Estados, deve ser divulgado ao longo da semana.
Nos pleitos anteriores, realizados em 2017 e 2019, a atual ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foi eleita e reeleita presidente do PT com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de votação híbrida.
O mandato de presidente do PT é de 4 anos, sendo permitida até uma reeleição. Essa regra vale também para presidentes de diretórios estaduais e municipais. Trata-se de uma regra interna na legenda. Na lei brasileira, nada impede partidos de reelegerem seus dirigentes indefinidamente.
Candidatos
Quatro nomes disputam o cargo. O ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva é considerado favorito. Ele é apoiado pelo presidente Lula e representa a corrente majoritária da legenda, da CNB (Construindo um Novo Brasil).
Caso seja eleito, Edinho, representante da CNB (Construindo um Novo Brasil) terá como uma de suas principais missões ajudar na organização da campanha de Lula à reeleição e na definição das estratégias do PT para o Congresso. O deputado federal Rui Falcão, 81 de anos, é tido como o principal adversário.