Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Mais uma vez, o governo se viu encalacrado pelo Congresso e, mais uma vez, constata que o seu grande problema é de comunicação. Há, neste momento, de parte do governo a constatação de que vem há tempos fazendo uma aposta errada na forma de tentar se comunicar com a sociedade. A aposta quase total nas redes sociais revelou-se um erro.
Além de se mostrar menos capaz do que a direita em fazer o jogo nas redes, a aposta unicamente nas plataformas pouco fura a bolha. A esquerda fala somente para a esquerda. Não mobiliza a seu favor o restante da sociedade. Além disso, alguns temas são mais complexos e exigiriam um aprofundamento que o jogo de palavras de ordem e ideias resumidos das redes não suporta.
Leia maisO governo teria que falar com a imprensa tradicional. Chamar para conversas colunistas. Mas como furar o preconceito de parte do governo de que não se pode confiar na “mídia”? Falar somente com o que chamam de “mídia progressista” fura a bolha?
No início do primeiro governo Lula, quem muito cumpriu essa função foi o então secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci. A partir dele, muito se compreendeu sobre os planos e ideias do governo. Até o mensalão, Lula teve em torno de si uma “mídia” muito favorável.
Agora, a complexidade está em conseguir passar a ideia de que o Congresso tem sido hipócrita no seu discurso. Ao mesmo tempo, o Parlamento colocava em votação o decreto que derruba o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e outros tributos com o discurso de que o governo é gastador, pouco austero e precisa cortar gastos. E aumentava os seus próprios gastos, aumentando de 513 para 531 o número de deputados federais. Um impacto anual adicional de R$ 64 milhões. O gasto pode ser ínfimo na escola das contas públicas, mas claramente sinaliza que o discurso de austeridade só vale para os outros.
Amanhã, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e Davi Alcolumbre (União-AP), irão pessoalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) defender emendas parlamentares ao orçamento. No caso, estamos falando de R$ 50 bilhões.
Por que as emendas e outros gastos do Congresso não devem entrar no discurso de esforço por cortes que o Congresso tanto prega para o poder Executivo? Por que esse esforço não deve atingir a diminuição dos diversos subsídios dados a vários segmentos da economia?
A qualquer inclinação prática de cortes desses subsídios, esses segmentos movem seus lobbies. Eles estão representados por várias frentes parlamentares de peso. Somente com relação ao empreendedorismo, há três diferentes no Congresso Nacional.
O problema é como fazer isso chegar à sociedade. Ontem, tentou-se animar nas redes a hashtag “Ricos, paguem a conta”. Isso arrefeceu os ânimos do Congresso? Os fez recuar? A comunicação do governo sabe que precisa furar bolhas. Mas não sabe como.
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