O ministro pernambucano Jorge Messias, advogado-geral da União, não tem exposição frequente na mídia, mas quando expõe a sua sapiência em dosagens homeopáticas impressiona. Tem brilho, sabe o que diz. Neste momento de conflito do Brasil com os Estados Unidos, a sua caneta tem sido extremamente importante para o Governo se posicionar além do território nacional, como este artigo no NY Times (abaixo).
Pelas redes sociais, sua inteligência é perceptível também em vídeos extremamente criativos, como o que está linkado (abaixo) nesta postagem. Jorge consegue ser leve e didático, explorando conteúdo cultural de afirmação brasileira. Ao mesmo tempo, apresenta um Lula firme, popular, sem polarizar, onde se mostra mais sábio. Parece até coisa do além, como se Duda Mendonça tivesse psicografado, pois lembra o Lulinha Paz e Amor.
Confira o vídeo abaixo!
Leia maisConfira também o artigo na íntegra, em livre tradução, publicado em 14 de julho no jornal The New York Times:
“Tarifa generalizada imposta ao Brasil é injustificável
Em 9 de julho, o presidente dos Estados Unidos anunciou unilateralmente uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras — uma medida sem precedentes na história moderna das relações entre nossos países. A justificativa apresentada pelo presidente Trump — supostas práticas comerciais desleais por parte do Brasil, alegados ataques à liberdade de expressão e a persecução de um ex-presidente — exige uma resposta cuidadosa, baseada em princípios, e uma firme defesa de nossa ordem jurídica, de nossa soberania e da integridade de nossas instituições.
Brasil e Estados Unidos mantêm, há muito tempo, uma relação madura, diversa e estratégica. No ano passado, celebramos 200 anos de laços diplomáticos, desde que o presidente James Monroe recebeu José Silvestre Rebello em Washington como o primeiro enviado do recém-independente Império do Brasil. Nossa parceria resistiu a conflitos globais, crises econômicas e transições políticas por causa de valores que compartilhamos: democracia, respeito ao Estado de Direito e um compromisso geral com a cooperação internacional pacífica. Esses princípios não são meras abstrações. São os alicerces sobre os quais nossas sociedades se constroem e exigem vigilância constante e respeito mútuo — especialmente em tempos de discordância.
A alegação do sr. Trump de que os Estados Unidos sofrem com uma relação comercial injusta e não recíproca com o Brasil é desmentida pelos fatos. De acordo com dados do próprio governo dos EUA, somente em 2024 o superávit comercial americano com o Brasil chegou a US$ 7,4 bilhões. Quando se incluem os serviços, segundo cálculos do governo brasileiro com base em dados americanos, esse número sobe para US$ 28,6 bilhões — o que faz do Brasil o terceiro maior contribuinte para o superávit comercial global dos EUA quando se somam bens e serviços. Nos últimos 15 anos, os Estados Unidos acumularam superávits recorrentes e significativos com o Brasil, totalizando US$ 410 bilhões.
A imposição de uma tarifa geral de 50% não é apenas desproporcional, mas também contrária às regras do comércio justo. Medidas assim minam a segurança jurídica para empresas e investidores, desorganizam cadeias produtivas globais e violam o espírito de cooperação que tem marcado nossa relação. No Brasil, respondemos a esse tipo de desafio com respeito à lei, às normas internacionais e ao nosso mandato constitucional de defender o interesse nacional — inclusive, se necessário, por meio de medidas recíprocas.
O sr. Trump afirmou que as tarifas estão relacionadas aos processos judiciais em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de envolvimento em uma tentativa de golpe — algo que Trump chamou de “caça às bruxas”. Como ministro da Justiça, devo enfatizar que o governo brasileiro rejeita categoricamente qualquer tentativa de interferência externa em nossos processos judiciais. Os processos em andamento contra indivíduos acusados de tentar subverter nossa democracia em 8 de janeiro de 2023 são de competência exclusiva do Judiciário independente do Brasil. Nenhum governo estrangeiro tem o direito de ditar ou questionar a aplicação da Justiça em nosso país. A defesa da legalidade e da autonomia de nossas instituições são pilares inegociáveis de nossa democracia.
Outras alegações feitas pelo sr. Trump na semana passada, a respeito de censura a empresas de tecnologia americanas e ataques à liberdade de expressão no Brasil, também não têm fundamento. No Brasil, o direito à liberdade de expressão é protegido, mas não deve ser confundido com o direito de incitar violência, cometer fraudes ou minar o Estado de Direito — limitações amplamente reconhecidas nas sociedades democráticas. No mês passado, nosso Supremo Tribunal Federal reconheceu que, sob certas circunstâncias, plataformas digitais podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros que violem nossa legislação, como pornografia infantil ou outros conteúdos ilícitos, inclusive incitação a atos antidemocráticos ou discurso de ódio. Todas as empresas, nacionais e estrangeiras, que operam no Brasil estão sujeitas às nossas leis — da mesma forma que empresas brasileiras cumprem as normas dos EUA quando atuam em território americano.
Estamos diante de um momento crítico. Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo brasileiro continua comprometido com uma relação construtiva e pragmática com os Estados Unidos, baseada no respeito à soberania, à legalidade e ao Estado de Direito. Nossas divergências devem ser enfrentadas por meio do diálogo, da negociação e do respeito mútuo — não por ameaças ou medidas punitivas.
Nossos países já superaram desafios maiores no passado. A força de nossa parceria está na capacidade de enfrentarmos divergências mantendo os princípios que nos unem. O Brasil continuará a defender sua soberania, a integridade de seu sistema jurídico e os interesses de seu povo — ao mesmo tempo em que busca aprofundar a cooperação com os Estados Unidos em prol da paz e da prosperidade globais.
O mundo está observando. Que escolhamos o engajamento em vez da escalada, a parceria em vez da provocação e nossos valores duradouros em vez da arbitrariedade.”
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