Por Otávio Queiroz
Do Muita informação
As fortes chuvas que atingiram Salvador nos primeiros dias de maio ultrapassaram a média histórica para todo o mês, acendendo o alerta da Defesa Civil da capital e evidenciando falhas no sistema nacional de monitoramento climático. Em entrevista ao programa De Olho na Bahia, da Rádio Mix Salvador (104.3 FM) – comandado pelos jornalistas Osvaldo Lyra e Matheus Morais -, o diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macedo, revelou, na manhã desta segunda-feira (12), que, em apenas uma semana, a cidade registrou mais de 425 milímetros de chuva, superando em mais de 100 milímetros a média mensal esperada, que é de 302,2 mm.
“Em algumas localidades, já ultrapassamos mais de 100 milímetros do que seria esperado para maio, que já é o mês mais chuvoso do ano”, afirmou o diretor.
Críticas ao governo federal
O gestor destacou que, embora a capital baiana tenha avançado significativamente na prevenção de desastres, o cenário nacional é preocupante. Segundo Sosthenes, o radar meteorológico do Centro Nacional de Monitoramento, de responsabilidade do governo federal, está há um ano sem operar na Bahia, prejudicando o planejamento de municípios que não possuem centros próprios de monitoramento, como ocorre em Salvador.
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“As estruturas que deveriam dar assistência às prefeituras não vêm cumprindo o seu papel. Só para vocês terem ideia, o radar meteorológico da Bahia não funciona há um ano”, criticou.
Cidade mais preparada, mas riscos persistem
Apesar dos desafios, Sosthenes Macedo ressaltou que Salvador está mais preparada para enfrentar eventos extremos. Segundo ele, desde 2015, quando a Prefeitura reformulou a estrutura da Codesal, a capital baiana implementou uma série de medidas para reduzir os impactos das chuvas, como obras de contenção de encostas, instalação de geomantas e capacitação de moradores em áreas de risco.
Hoje, a cidade conta com 553 estruturas de contenção e uma política contínua de formação de voluntários por meio dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (Nupdecs), com cerca de 60 pessoas capacitadas por mês. O centro de monitoramento da Defesa Civil de Salvador é considerado referência na América Latina e certificado pela ONU como Hub de Resiliência.
“Construímos uma Salvador mais resiliente, mais adaptada às mudanças climáticas, mas todos precisamos continuar de mãos dadas para que isso se fortaleça”, disse.
Prevenção começa com população
Além da infraestrutura, Sosthenes ressaltou a importância da atuação da própria população. Segundo ele, os sinais de risco devem ser levados a sério: rachaduras em pisos, paredes e tetos, inclinação de vegetação e solo encharcado são indícios de que a área pode sofrer deslizamentos. Nesses casos, a orientação é evacuar imediatamente e acionar a Defesa Civil pelo número 199.
“O problema não é só quando acontece. Quando a rachadura aparece, quando o vegetal inclina, isso já é um alerta. A pessoa tem que sair da casa imediatamente”, explicou.
A Defesa Civil de Salvador conta com protocolos rigorosos para acionamento de sirenes, definidos em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo. Quando as chuvas acumulam 150 milímetros em 72 horas e há previsão de continuidade, a Codesal envia alertas via SMS, desloca equipes e ativa abrigos com apoio das secretarias de Educação e Promoção Social.
Em 2025, no entanto, houve dificuldades para mobilizar a população durante um feriadão. Muitas pessoas ainda resistem a deixar suas casas por medo de perdas e insegurança sobre para onde ir. “As pessoas não moram em áreas de risco porque querem. São questões sociais que impõem essa realidade”, reconheceu o diretor.
Reconhecimento e desafios
O gestor municipal lembrou que Salvador ficou 4 anos sem registrar mortes causadas por deslizamentos. O último caso ocorreu em novembro de 2023, no bairro de Saramandaia. Apesar disso, ele destacou que tragédias como as de 2015, quando chuvas de 500 mm causaram diversas mortes, mostram o quanto a cidade evoluiu. Em abril de 2024, Salvador enfrentou 821,7 mm de chuvas – a maior da história para o mês – sem vítimas fatais.
“Salvador teve 425 milímetros em uma semana, e no fim de semana a cidade estava funcionando normalmente. Teve transtornos, claro, mas sem abalo maior”, avaliou.
Sosthenes finalizou cobrando maior articulação entre os entes federativos, especialmente o governo federal, para garantir suporte técnico e equipamentos que ajudem na prevenção de desastres.
“Não é possível que a Bahia esteja há um ano sem radar meteorológico. Isso prejudica não só Salvador, mas principalmente o interior do Estado, que não tem estrutura para lidar sozinho com essas situações.”
Chuvas em Salvador
Uma nova frente fria está prevista para atingir a capital baiana entre terça (13) e quinta-feira (15), segundo o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil (Cemadec). Com isso, o tempo deve continuar chuvoso, com possibilidade de pancadas em diversos períodos do dia.
Na primeira semana do mês, Salvador e outras cidades da Bahia já enfrentaram consequências severas das chuvas, como alagamentos, deslizamentos e até famílias desabrigadas no interior do Estado. Mais de 110 municípios baianos chegaram a ser incluídos em alerta meteorológico amarelo pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com risco potencial de acumulados de até 50 mm em 24 horas.
No momento, 28 cidades seguem com alerta laranja, indicando risco moderado a alto por acúmulo de chuva, especialmente em municípios da Região Metropolitana, como Camaçari, Simões Filho e Candeias.
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