Do jornal O Globo
A cantora e compositora Cristina Buarque morreu na manhã de hoje, aos 74 anos. A informação foi confirmada pelo filho da artista, Zeca Ferreira, nas redes sociais.
Filha do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da intelectual e pianista Maria Amélia Buarque de Hollanda, Cristina era irmã de Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda. Ela lutava contra um câncer de mama há um ano e deixa cinco filhos: Ana (52), Zeca (51), Paulo (49), Antônio (48), Maria do Carmo (46).
O velório acontecerá amanhã e logo será marcado um gurufim, despedida regada à música.
Leia maisNascida em São Paulo no ano de 1950, Maria Christina Buarque de Hollanda gravou, em 1974, a canção “Quantas Lágrimas”, de Manaceia, no álbum “Cristina”, que a tornou nacionalmente conhecida. Avessa aos holofotes, jamais usou a fama de “irmã de Chico”.
Era chamada pela turma do samba de “Chefia” e considerada uma enciclopédia do gênero musical, pescadora de verdadeiras pérolas da música brasileira. Formou gerações com suas gravações e repertório. Era farol e referência para colegas como Marisa Monte e Mônica Salmaso.
Com humor sacana e ácido, adorava uma conversa de bar. Nos últimos anos, capitaneava uma famosa roda de samba na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, onde morava.
O filho da artista, Zeca Ferreira, compartilhou um post nas redes sociais com a seguinte legenda:
“Uma cantora avessa aos holofotes. Como explicar um negócio desses em qualquer tempo? Mas como explicar isso nesse tempo específico? Mas foi isso a vida inteirinha dessa mulher que tivemos, nós 5, a sorte grande de ter como mãe. Uma vida inteira de amor pelo ofício e pela boa sombra. ‘Bom mesmo é o coro’, ela dizia, e viveria mesmo feliz a vida escondidinha no meio das vozes não fosse esse faro tão apurado, o amor por revirar as sombras da música brasileira em busca de pequenas pérolas não tocadas pelo sucesso, porque o sucesso, naqueles e nesses tempos, tem um alcance curto. É imagem bonita e nítida mas desfoca as outras belezas que se perderiam na sombra não fossem essas pessoas imunes ao imediato. Ser humano mais íntegro que eu já conheci. Farol, chefia, braba, a dona da porra toda. Vai em paz, mãe”.
Sobrinha de Cristina, Silvia Buarque também celebrou a tia em seu perfil, onde escreveu: “Minha tia Christina, meu amor. Para sempre comigo”.
Trajetória
Cantora de origem paulistana e criação carioca, Cristina estreou em 1967, como convidada do compositor Paulo Vanzolini no disco “Onze sambas e uma capoeira” (1967), quando gravou o samba “Chorava no meio da rua”.
Depois, dividiu com o irmão Chico a interpretação de “Sem fantasia” (1968) no terceiro álbum do cantor. A partir daí, trilhou o próprio caminho. Lançou seu primeiro disco “Cristina” em 1974, dando voz a sambas de Cartola, Manacéia, Noel Rosa, Ismael Silva, Ivone Lara, entre outros.
Foi por ela que o Brasil conheceu “Quantas lágrimas”, de Manacéia, também autor de “Sempre teu amor”, cantado por Cristina em seu segundo álbum, “Prato e faca”. Foi nesse disco que Marisa Monte ouviu “Esta melodia” (Bubu da Portela e Jamelão), samba que gravou em “Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão”. “Arrebém”, “Vejo amanhecer”, “Cristina” e “Resgate” são outros álbuns de Cristina.
Em 1995, Cristina gravou com o músico Henrique Cazes um disco com canções de Noel Rosa, e incorporou o famoso sobrenome Buarque à identidade artística.
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