João Campos chega à Câmara do Recife para posse

Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog

O prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), chegou há pouco à Câmara do Recife para tomar posse do cargo. Ele estava acompanhado pelo vice-prefeito, Victor Marques (PCdoB), da namorada, a deputada federal Tábata Amaral (PSB), e de familiares.

Antes de entrar na Casa José Mariano, o prefeito conversou com jornalistas e informou que o líder do governo na Câmara continuará sendo o vereador Samuel Salazar (MDB).

“É um dia muito especial, o dia 1º de janeiro de 25, dia no qual eu tomo posse para o segundo mandato. A gente sabe da confiança que o Recife nos depositou com a maior votação da história. Só tem uma forma de ser retribuída, com trabalho. Trabalho para todos e todas. Não importa quem foi eleitor ou quem não pôde votar em mim nas eleições. Agora a gente governa para todo mundo. Palanque desmontado, olhar para frente, esperança no peito e capacidade de trabalho”, declarou o prefeito.

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Um dos mais influentes jornais do País, O Globo abriu três páginas inteiras na sua edição de hoje para enaltecer o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Não foi uma matéria convencional. O repórter Caio Sartori foi fundo no histórico do herdeiro político de Eduardo Campos. Aos que entendem da natureza política, O Globo quis dizer, traduzindo ao pé da letra, que vê João como a mais nova e expressiva liderança de esquerda no plano nacional pós Lula.

Da escola do pai e do bisavô Miguel Arraes, João foi ninja. Deu a Lula, que está em baixa, enfrentando o revés da pior crise do seu terceiro governo, a da desastrosa intervenção no PIX, tratamento de estadista. E disse que vai trabalhar pela reeleição do petista, a maior e mais incontestável liderança de esquerda do País, segundo ele.

Claro que Lula adorou. Sabe que, a partir de maio, João deixa um pouco a província de lado e assume um protagonismo nacional como presidente do PSB, sucedendo a Carlos Siqueira. Protagonismo voltado todo para fortalecer um governo que não vai bem e colocar Lula como prioridade em seu projeto de reeleição.

Nunca um prefeito do Recife teve tanto espaço no plano nacional. João aproveitou também para dar umas estocadas na governadora Raquel Lyra, com quem vai duelar o Palácio do Campo das Princesas em 2026. Quando forçado a tratar de 26 e da provável adversária, disse o seguinte abaixo:

“As pessoas querem resultados. Estamos num tempo em que o simbólico é muito importante, mas o concreto também. Não adianta falar e não fazer. As pessoas querem ver o resultado. Isso faz toda a diferença na hora da indicação de voto. Eleição é comparação”.

Para um bom entendedor, João quis dizer: “Eu faço, Raquel não faz”.

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O deputado estadual Luciano Duque (Solidariedade) participou, na manhã deste domingo (26), de uma reunião com as cerca de 300 famílias da comunidade da barragem de Pirapama, no Cabo de Santo Agostinho. Os moradores enfrentam a ameaça de remoção por decisão judicial, já que a área, atualmente de propriedade da Compesa por concessão do Governo do Estado, é considerada de preservação permanente (APP).

Luciano Duque destacou o compromisso de buscar uma solução que concilie o direito à moradia e o desenvolvimento sustentável da região, onde as famílias vivem há mais de 20 anos. “O presidente da Compesa já está ciente do caso, assim como o prefeito do Cabo, Lula Cabral. Estamos unindo esforços para garantir uma saída justa para essas famílias”, afirmou o deputado.

O parlamentar também informou que já se reuniu com uma comissão de representantes da comunidade e a secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Simone Benevides, que se comprometeu a levar a questão à governadora Raquel Lyra. “Estamos trabalhando para que essas famílias tenham sua situação regularizada, sem comprometer a preservação ambiental da área”, reforçou.

A mobilização liderada por Luciano Duque demonstra o compromisso com os direitos das famílias e o equilíbrio entre moradia e proteção ambiental. A expectativa é que, com o envolvimento dos órgãos responsáveis, seja encontrada uma solução definitiva para o impasse.

Camaragibe Avança 2024

Do jornal O Globo

O chapéu branco modelo Panamá que passou a usar para esconder os curativos vai ficar de lado a partir de agora, disse Luiz Inácio Lula da Silva em reunião com os ministros, na segunda-feira, ao se declarar “totalmente recuperado”. No mesmo encontro, no entanto, o presidente afirmou que não definiu ainda se vai concorrer à reeleição em 2026, que chegar bem até lá dependia de Deus e que gostaria de ter saúde para fazer o sucessor.

A ponderação acentuou a impressão que auxiliares já vinham colhendo em conversas reservadas com Lula: a disposição para o cotidiano árduo da política está distante da exibida nos mandatos anteriores. Nas últimas semanas, O GLOBO ouviu ministros e demais assessores presidenciais sobre como o petista tem se comportado a portas fechadas, especialmente depois do acidente doméstico que o levou a fazer uma cirurgia às pressas em dezembro para conter uma hemorragia na cabeça.

Todos são unânimes em dizer que a saúde do presidente, que tem 79 anos, está em dia e que ele tem adotado uma rotina rigorosa de cuidados pessoais, auxiliado pela primeira-dama Janja. Mas quem convive com Lula no dia a dia do governo reconhece que ele tem se tornado um político menos disponível e, por vezes, mais impaciente em reuniões. O mandatário não faz, por exemplo, encontros aos finais de semana como costumava realizar nas gestões passadas, não dedica tanto tempo para conversas com parlamentares nem gosta de ser incomodado tarde da noite. Segundo um ministro, o petista já deixou claro que quer o sábado e o domingo “para ele” sempre que possível — o que não o impede de telefonar a ministros quando julga necessário.

No início do governo, Lula passou a fazer reuniões no começo da noite no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Após o acidente, esses encontros ficaram mais escassos. De um lado, o presidente demonstra vontade de ter mais tempo livre. Do outro, tem a necessidade de descansar mais para aguentar compromissos muitas vezes exaustivos durante a semana ou em viagens, que, por ora, estão suspensas.

Essa dinâmica acaba se refletindo na agenda do presidente que, não raramente, sofre alterações em cima da hora para não tornar a rotina extenuante. Assuntos mais áridos são tratados no início do expediente, quando Lula se sente mais disposto. Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) não comentou.

Susto com a queda

Em conversas com ministros, o presidente ainda rememora como ficou impressionado com o fato de ter sido operado às pressas em São Paulo, em 10 de dezembro. Naquele dia, Lula passou mal enquanto despachava no Palácio do Planalto e, após fazer um exame de imagem na cabeça, constatou uma hemorragia intracraniana. Diante da gravidade da situação, foi transferido na madrugada para a unidade de São Paulo do Hospital Sírio-Libanês, onde realizou uma cirurgia sem intercorrência. Em entrevista, o médico Roberto Kalil, um dos responsáveis pelo tratamento do petista, disse que “corria o risco de acontecer o pior”.

Após receber alta, Lula foi liberado pelos médicos para exercer todas as atividades que cabem à Presidência. Mas o petista tem dado sinais de que, para tentar a reeleição, terá que avaliar o seu estado de saúde em 2026.

— Tenho certeza que o presidente Lula chegará com saúde e apetite em 2026 para defender o nosso governo. A melhor forma de fazê-lo é ser candidato à reeleição — minimiza o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Outro episódio que marcou Lula e tem sido repetido por ele em diferentes momentos foi a pane na aeronave que o trazia do México para o Brasil, em outubro do ano passado. Devido ao problema técnico, o avião oficial precisou ficar por horas dando voltas no ar e gastando combustível para poder aterrissar. O incidente deixou Lula incomodado. O ocorrido foi relembrado na reunião ministerial na semana passada como um momento de adversidade vivido pelo petista.

Incômodo com Biden

O caso da candidatura de Joe Biden nos Estados Unidos também deixou o presidente incomodado. Lula chegou a comentar na reunião ministerial como o ex-presidente norte-americano havia errado ao demorar a se afastar e indicar Kamala Harris como sucessora. A ideia de alguém que gozava de prestígio internacional e acabou prejudicando sua biografia ao insistir numa campanha causou impacto no petista, afirmam pessoas próximas.

— Não vejo saída fora da candidatura do presidente Lula. Tenho absoluta convicção de que, com a vitalidade e disposição que ele exibe hoje, será nosso candidato — reforça o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

No governo, pondera-se que não interessaria a Lula confirmar a reeleição neste momento para não dar munição aos rivais e antecipar a disputa. Ainda assim, interlocutores do petista reconhecem o peso que Lula carrega ao ser o único político que está em campanha permanente ao longo das últimas três décadas e de ser recordista de mandatos presidenciais desde a redemocratização — ao todo, com três.

Mas pessoas próximas ao petista têm buscado convencer o presidente de que não há alternativa além dele no PT para encarar um opositor da direita em 2026.

Entre os integrantes do partido, a confiança de que Lula não desistirá da candidatura deriva de duas constatações. A primeira é a que o “lulismo” segue como um campo muito maior do que o petismo. A preço de hoje, qualquer outro nome implicaria num risco muito maior de derrota ao partido. A ausência de sucessores e nomes populares no campo de esquerda também fazem com que opções da legenda enxerguem na campanha de Lula condição fundamental para impulsionar a candidatura de quadros do PT.

A segunda constatação é que Lula segue mostrando enorme interesse pela política e teria muita dificuldade em simplesmente se afastar do jogo do poder. Um integrante da direção petista diz que tem certeza de que Lula “está louco para ser candidato” e que sonha ampliar a margem de presidente com mais mandatos na História no regime democrático — já são dez anos na Presidência e podem virar 16 caso seja reeleito e fique até 2030.

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Do Blog Marcelo Damasceno

Em 1982, o sertanejo Ranilson Ramos era eleito com expressiva votação para a câmara municipal de Petrolina. Cumpriu esse mandato, de 1983 a 1986, exercendo a presidência da casa Plínio Amorim no biênio 1985/1986.

Como vereador e liderança política de Petrolina, Ranilson Ramos tocou importantes projetos de lei que fortaleceram atividades sociais e do desporto petrolinense. Com suas ligações profundamente afetivas com o Palmeiras Esporte Clube no tradicional bairro Atrás da Banca, além do seu empenho pessoal em dar visibilidade e destaque histórico com muita robustez à festa de centenário do jurista, deputado federal e jornalista, Manoel Francisco de Souza Filho, nome do fórum da cidade e importante avenida urbana.

Eleito deputado estadual em 1986 por Pernambuco, Ranilson Ramos interrompeu seu mandato de vereador que se estenderia até 1988.

Em 1989, Ranilson Ramos foi relator do capítulo sobre tributação na Assembleia Legislativa de Pernambuco para a Constituição deste Estado. Sua relatoria até hoje tem sido reconhecida, entre seus pares daquele ciclo político, como fundamental na condução econômica de Pernambuco quanto a condução tributária em contextos aos encargos sociais e racionalidade econômica nas atividades de pequenas e grandes empresas nos 184 municípios pernambucanos.

Hoje, Conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco onde foi presidente no biênio 2022/2023, Ranilson Ramos é formado em Economia e estudioso da política que rege o desenvolvimento dos municípios a partir de suas vocações econômicas e sociais aliadas a um esboço tributário. Em tempos de escassez no universo político de perfis públicos, Ranilson Ramos é uma referência para o debate social pernambucano. Da vocação e tenacidade política que tanto se fazem necessárias nesses dias de incredulidade eleitoral em currículos da cidadania.

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Do jornal O Globo

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, acompanhou o desembarque dos brasileiros deportados dos Estados Unidos (EUA) após a posse do presidente Donald Trump. Em vídeo publicado nas redes sociais, a ocupante da Esplanada dos Ministérios afirma que países podem ter políticas migratórias, mas sem violar direitos de ninguém.

O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com os 88 brasileiros aterrissou no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte (MG), às 21h10 de sábado.

A ministra também repercutiu o relato de brasileiros deportados de que teriam sido agredidos por agentes norte-americanos durante voo de repatriação. Macaé classificou como “muito grave” o episódio, em entrevista a jornalistas ao recepcionar os brasileiros extraditados.

— A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves — disse a ministra.

Em postagem do governo federal, Macaé afirma que “o que aconteceu no voo foi a violação dos direitos dos brasileiros”.

Segundo o Estado de Minas, os brasileiros relataram que as agressões aconteceram no Panamá, durante a parada da aeronave no país centro-americano. Segundo eles, um dos motores apresentou problemas, o que causou atraso para que voltasse a operar. Durante esse período, os migrantes não receberam autorização para sair da aeronave, que enfrentou momentos em que o ar-condicionado permaneceu desligado.

O governo brasileiro criticou o que chamou de tentativa dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil. Por orientação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a Polícia Federal recepcionou os brasileiros em Manaus e determinou que os representantes do governo norte-americano retirassem as algemas.

O brasileiros relataram, ainda, que algumas pessoas passaram mal, incluindo mulheres e crianças, e que enfrentarem dificuldade para ir ao banheiro, se alimentar ou beber água. Após os protestos para que agentes americanos permitissem que os passageiros deixassem a aeronave, acabaram gerando discussões, momento em que teriam ocorrido as agressões.

Segundo o passageiro, que estava há seis anos nos Estados Unidos e foi preso há seis meses, por conta da situação, ele e os demais tomaram uma “atitude drástica”: abriram a porta de emergência e pediram socorro, quando a aeronave pousou no aeroporto de Manaus. “Eles agrediram a gente”, disse, enquanto mostrava uma marca no pescoço.

Itamaraty cobrará explicação do governo Trump

O Ministério das Relações Exteriores afirmou que pedirá explicações ao governo dos Estados Unidos sobre o tratamento “degradante” dado aos brasileiros deportados algemados. Neste sábado, o ministro Mauro Vieira se reuniu com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional da Força Aérea Brasileira (FAB).

“A reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo”, afirmou o Palácio do Itamaraty nas redes sociais.

Retorno ao Brasil

O retorno de imigrantes ilegais ao Brasil ocorre com base em um acordo firmado com Washington em 2017, durante o governo de Michel Temer. O objetivo é viabilizar o repatriamento de pessoas que ingressaram ilegalmente nos EUA, foram processadas e não têm direito a recurso. O Itamaraty esclareceu que a vinda desses brasileiros, porém, não tem relação com as novas medidas migratórias de Trump.

Pelo acordo, as aeronaves trazem de volta quem já não tem mais como recorrer à Justiça norte-americana. O objetivo é evitar que essas pessoas permaneçam em presídios. De forma geral, são pessoas detidas nos EUA por estarem em situação irregular. O governo brasileiro não aceita a inclusão, nos voos, daqueles com possibilidade de revisão de sentença.

Em nota, a Embaixada dos Estados Unidos afirmou que os cidadãos brasileiros do voo de repatriação estão sob custódia das autoridades brasileiras.

Por Américo Lopes, o Zé da Coruja*

Recife, 26 de janeiro de 2025.

Ofereço à querida Usina Cucaú, um ente vivo e sagrado em minha vida — cuja beleza e acolhimento me acompanha ao longo da existência —, e ao seu chefe, o poeta das mercadorias e das energias, Eduardo Monteiro. Eduardo tem origem pajeuzeira, é mais um de nós em peleja pelo mundo afora.

Magno, que espetacular sua crônica domingueira sobre Zé Dantas, nosso conterrâneo, pois de Afogados e do Riacho do Mel à Carnaíba é uma fração de segundos, fecha os olhos, abre os olhos e estamos lá. Pedir ajuda a Rogaciano Leite para dizer quem somos nunca é demais:

“Eu sou da terra onde as almas
São todas de cantadores
— Sou da Pajeú das Flores —
Tenho razão de cantar!

Não sou um Manuel Bandeira, Drummond, nem Jorge de Lima;
Não espereis obra-prima
Deste matuto plebeu!
Eles cantam suas praias,
Palácios de porcelana,
Eu canto a roça, a cabana,
Canto o sertão, que ele é meu”!

Zé Dantas tinha cheiro de bode, mesmo sendo médico. Tomava banho mas o cheiro não saía. Ele, com Seu Luiz, criaram países maravilhosos que ficaram na imaginação nacional.

Um dos seres humanos mais especiais com quem convivi, o amigo Djair Pedrosa de Albuquerque — de querida memória de todos nós do Grupo EQM —, aconselhava comprar uma passagem, sem volta, para o Riacho do Navio, se a vida ficasse difícil.

No Riacho do Navio nós viveríamos sem rádio e sem notícias do mundo civilizado, saudados pelos pássaros e pelo lugar mais bonito da face da terra.

Além do mais caçaríamos e pescaríamos alimentos do corpo e da alma e dos nossos sonhos de felicidade.

O Riacho do Navio de Dr. Djair equivalia à Pasárgada, de Manuel Bandeira. É como se ele dissesse, parodiando Bandeira: “Vou-me embora pro Riacho do Navio. Aqui eu não sou feliz”.

Como se a existência desses gênios fosse pouca, eles criaram o São João brasileiro na sua forma mais lírica com suas marchinhas e baiões, com as poderosas e necessárias tradições dos reinos do Pajeú e do Araripe.

Há sete anos atrás, em um shopping de luxo em São Paulo, onde enfrentava a encruzilhada do encantamento ou do viver, amparado pela fé em Deus, pelos braços solidários de um casal amigo (não posso dizer o nome, pois os constrangeria), e por minha mulher e três filhos, escuto, no som da bodega de luxo: “Ai que saudades que eu sinto, das noites de São João”. O verdadeiro e mais belo hino nacional deste Brasil amado.

Peço a você, querido Magno, que não espalhe por aí, pois naquele momento eu sentei e chorei, disfarçando, ninguém ali entenderia o meu choro e as minhas memórias. Pois foi assim um dos grandes momentos que vivi com Luiz Gonzaga-Zé Dantas, para sempre nossos heróis.

Caro Magno, suas crônicas domingueiras estão mexendo com os corações e as mentes de Pernambuco. Abandone seu ofício de jornalista político e vá cuidar desses assuntos relevantíssimos, comer bode assado com farofa de bolão e de sobremesa mel de mandaçaia com farinha. E não esqueça, como ensinou João Guimarães Rosa, as pessoas não morrem; ficam encantadas.

Maciel Melo anda dizendo por aí que o próximo São João em Barra de São Pedro, pequeno distrito de Ouricuri, contará com a presença de Gonzaga e Zé Dantas. Você duvida?

Seu amigo,

Zé da Coruja

*Diretor operacional da Folha de Pernambuco

Da Agência Brasil

Informações levantadas junto à concessionária BH Airport por Ricardo Morgan, que acompanha, fotografa e filma a movimentação de aviões no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG), mostram que 11.291 brasileiros foram deportados dos Estados Unidos desde 2019, quando foi iniciada a operação de deportação periódica que segue ocorrendo até hoje.

Ao todo, foram realizados 118 voos por cinco companhias aéreas diferentes: iAero, Eastern Airlines, Kaiser Air, Omni Air International e GlobalX Airlines. Essa última empresa foi a responsável por trazer os 2.012 brasileiros irregulares dos EUA durante o ano de 2024.

No último ano, foram 16 voos, todos com origem na cidade de Alexandria, que fica no estado da Luisiana. Todos os voos tiveram duas escalas para reabastecimento, na Cidade do Panamá e em Manaus, antes de pousarem no destino final, o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.

A expectativa para 2025 é que ocorram ainda mais deportações. A primeira delas já partiu hoje, 10 de janeiro, como reportado mais cedo pelo AEROIN.

De acordo com um artigo da revista Time, a promessa de campanha do Presidente eleito, Donald Trump, prevê a expulsão de 11 milhões de imigrantes ilegais e será a “maior operação de deportação doméstica na história americana”. Para isso, o novo governo deverá encurtar processos e realizar expulsões sem audiências, como determina a lei, hoje.

O republicano anunciou que Tom Homan, ex-diretor interino de Imigração e Fiscalização Aduaneira, retornará ao cargo em seu segundo governo. “Tenho uma mensagem para os milhões de estrangeiros ilegais que Joe Biden libertou em nosso país, violando a lei federal: é melhor vocês começarem a fazer as malas agora”, disse Homan em Milwaukee.

Segundo Trump, na rede Truth Social, Homan atuará como o “czar das fronteiras”. “Conheço Tom há muito tempo e não há ninguém melhor para policiar e controlar nossas fronteiras”, salientou o republicano.

De acordo com o último levantamento do Pew Research Center, feito em 2022, cerca de 230 mil brasileiros estariam em ilegalidade nos Estados Unidos. Esse número já inclui um aumento de 30 mil em relação a 2021.

Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, 1,9 milhão de brasileiros moram nos EUA, o país com maior número de imigrantes do Brasil, seguido de Portugal (360 mil) e Paraguai (254 mil).

Dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA, de 2023, indicam que o Brasil foi o 10° país que mais recebeu green cards. Foram 28.050 documentos emitidos para brasileiros, o maior número na história.

NÚMERO DE DEPORTADOS POR ANO (Fonte: BH Airport):

2019: 50 (1 operação)
2020: 1145 (21 operações)
2021: 2150 (24 operações)
2022: 4516 (42 operações)
2023: 1418 (14 operações)
2024: 2012 (16 operações)

TOTAL: 11.291 (118 operações)

NÚMERO DE OPERAÇÕES POR COMPANHIAS AÉREAS DESDE 2019:

iAero: 80
Global X: 20
Omni Air: 9
Eastern: 5
Kaiser: 4

AERONAVES UTILIZADAS:

Boeing 737: 84 voos
Boeing 767: 14 voos
Airbus A320: 13 voos
Airbus A321: 7 voos

CIDADES DE ORIGEM:

Alexandria: 69 voos
Phoenix: 19 voos
El Paso: 16 voos
Miami: 8 voos
Fort Worth: 3 voos
Yuma: 2 voos
Wiscasset: 1 voos

Da Folha de São Paulo

Chefe da Ajudância de Ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou no primeiro depoimento de sua colaboração premiada que a ala “mais radical” do grupo que defendia um golpe de Estado no Brasil no final de 2022 incluía a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

A íntegra do depoimento de Cid, datada de 28 de agosto de 2023, foi obtida pelo colunista Elio Gaspari. Em novembro daquele ano, o UOL revelou que a delação de Cid apontava Michelle e Eduardo como incitadores do golpe.

“Tais pessoas conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado, afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores] para dar o golpe”, diz a transcrição do depoimento de Cid, que agora vem a público.

O relatório final da investigação da Polícia Federal sobre a trama golpista, concluído em 21 de novembro de 2024 — ou seja, um ano e três meses após o depoimento inicial de Cid —, não traz Michelle nem Eduardo entre os 40 indiciados.

O nome da ex-primeira-dama nem é mencionado no documento. Eduardo é citado apenas de forma lateral, no contexto de que seu nome aparecia como contato no telefone celular de um dos investigados.

À época em que vazaram esses pontos da delação de Cid, Eduardo e Michelle negaram ao UOL envolvimento em ações pró-golpe.

As afirmações são “absurdas e sem qualquer amparo na verdade”, disse a defesa de Michelle à época, acrescentando que Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”. Eduardo disse que a delação de Cid não passava de “devaneio” e “fantasia”.

O relatório da PF está sob análise da Procuradoria-Geral da República, a quem cabe oferecer denúncia ao STF contra os 40 suspeitos ou arquivar os indiciamentos.

Michelle e Eduardo são atualmente cotados para disputar a Presidência em 2026, no lugar de Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030.

No depoimento dado em agosto de 2023, Cid disse que havia três grupos distintos em torno de Bolsonaro no final de 2022, momento em que o país vivia com acampamentos de bolsonaristas em frente a quartéis do Exército pedindo um golpe de Estado.

De acordo com o tenente-coronel, o primeiro trabalhava para convencê-lo a admitir a derrota e se tornar “o grande líder da oposição”. Entre eles estariam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, entre outros.

O segundo grupo, segundo Cid, não concordava com os rumos que o país estava tomando, mas também se colocava contra medidas de ruptura. Fariam parte dele, entre outros, o comandante do Exército, Freire Gomes.

Já o terceiro grupo, favorável a medidas golpistas, era formado por duas alas nas palavras de Cid. Uma “menos radical”, que buscava encontrar indícios de fraudes nas urnas para justificar uma virada de mesa. Outra, mais radical, “a favor de um braço armado”.

Esse grupo mais belicoso defendia assinatura de decretos de exceção, de acordo com ele.

No depoimento, Cid diz que essas pessoas “gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado”, queriam que Bolsonaro assinasse um decreto de exceção e “acreditavam que quando o presidente desse a ordem ele teria apoio do povo e dos CACs”.

“Quanto a parte mais radical”, prossegue o relato do depoimento de Cid feito pela PF, “não era um grupo organizado, eram pessoas que se encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigir uma atuação mais contundente do então presidente”.

Nessa ala, Cid cita nominalmente Felipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, que ocupou quatro ministérios na gestão Bolsonaro, Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, o general Mario Fernandes, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, e os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES), além de Eduardo e Michelle.

Desse grupo, apenas Felipe Martins e Mario Fernandes acabaram sendo indiciados pela PF no relatório final da trama golpista.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é citado por Cid nessa ocasião como integrante da ala “menos radical” que buscava o golpe, a que buscaria indicativos de fraude eleitoral que justificassem a virada de mesa.

Valdemar está entre os indiciados pela PF. De acordo com a investigação, ele é suspeito de ter ingressado com questionamento do resultado eleitoral em que Bolsonaro foi derrotado por Lula mesmo ciente de que eram falsos os argumentos que usava para sugerir fraude nas urnas eletrônicas.

A Câmara dos Deputados elege em 1º de fevereiro a nova Mesa Diretora da Casa e com um grande favorito para assumir a presidência: Hugo Motta (Republicanos-PB), deputado indicado pelo atual presidente Arthur Lira (PP-AL).

Motta tem o apoio do governo e da maioria dos partidos da Casa, com exceção do Psol e do Novo. O outro candidato é o Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).

Até o momento, a chapa favorita se desenha para manter a estrutura partidária da atual gestão, composta pelo Republicanos, PL, PP, PT, União Brasil, PSD e MDB.

Hoje, além de Lira na presidência, Marcos Pereira (Republicanos-SP) é o 1º vice-presidente; Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o 2º; Luciano Bivar (União Brasil-PE), o 1º secretário; Maria do Rosário (PT-RS), a 2ª secretária; Júlio César (PSD-PI), o 3º, e Lucio Mosquini (MDB-RO), o 4º.

Os congressistas escolhem o próximo presidente, dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes. Ao todo são 11 cargos com mandato de dois anos.

A sessão preparatória para a eleição da Mesa começa às 16h. Os candidatos têm até as 13h30 para registrarem suas candidaturas.

Os cotados

Com Motta na presidência, o líder do maior partido na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), é o mais cotado para ser 1º vice-presidente. Seu cargo faz parte de um acordo que envolve o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A ala mais radical do PL resistia em apoiar Motta porque queriam candidatura própria. Mas o partido fechou a aliança ainda em outubro de 2024.

Lula da Fonte (PP-PE) é cotado para 2º vice-presidente. Ele tem 24 anos e foi eleito aos 21, em 2022, com o apoio do pai, Eduardo da Fonte (PP-PE). Seu nome foi indicado pelo partido.

O PT, do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participa da chapa na 1ª secretaria, com o nome do deputado Carlos Veras (PE). Hoje, ele é vice-líder do partido na Casa e coordena a bancada de Pernambuco.

A formação da chapa de Motta ainda depende das definições das demais secretarias. Elas devem ser distribuídas entre o União Brasil, PSD e MDB. Eles vão preencher a 2ª, a 3ª e a 4ª secretaria, mas ainda não se sabe qual sigla ficará com cada cargo.

Em definição

No MDB, os deputados Carlos Chiodini (SC), Sérgio Souza (PR) e Simone Marquetto (SP) manifestaram interesse na vaga que ficará com o partido.

Simone defende que a escolha da bancada seja por uma mulher. “Acho que é o momento de ter uma mulher representando, o MDB é um partido de centro, mas eu represento a centro-direita”, disse a deputada ao Poder360.

A congressista afirma que conversou com o presidente do partido, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), e o líder da sigla na Casa, Isnaldo Bulhões (AL), e apresentou suas pautas. Simone diz ser “uma defensora pró-vida” e de pautas relacionadas à centro-direita. Carlos Chiodini e Sérgio Souza não responderam os contatos do Poder360.

Se o critério for de proporcionalidade em relação aos tamanhos das bancadas na Câmara, o MDB ficará com a quarta secretaria. O União Brasil ficaria com a segunda e o PSD com a terceira secretaria. As conversas e negociações ainda estão em andamento.

O Poder360 apurou que o União Brasil definirá o nome a ser indicado em votação interna. Os membros da bancada do partido na Casa decidirão os representantes às vésperas da eleição.

O deputado federal Zacharias Calil (União Brasil-GO) colocou seu nome à disposição do partido, mas pondera o preço de se tornar secretário e não poder integrar as comissões. Médico, o congressista é membro das comissões de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e de Saúde. No PSD, ainda não há nomes cotados.

Atribuições da câmara

A Mesa Diretora é responsável pela organização dos trabalhos legislativos e pela administração da Casa.

O presidente comanda a Câmara e tem as funções de convocar, presidir e suspender as sessões do plenário, manter a ordem, nomear comissão especial, organizar o cronograma de votações das propostas.

Ele também é o responsável por definir a composição das comissões e presidir as reuniões da Mesa Diretora.

Do Poder360.

Por Caio Sartori

Do jornal O Globo

Sob o sol de 15 de janeiro numa comunidade do bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, uma suada senhora evangélica, vestindo uma camiseta da Assembleia de Deus, não escondia a euforia antes de pedir uma foto.

— Quero ver o rosto do homem! Já vi muito o do pai e o do avô — gritou ao lado do rapaz de olhos azuis e nariz avantajado. — Vai virar governador! — vaticinou um outro apoiador.

Quando percorre as ruas da cidade — sempre de camisa de manga curta, jeans e tênis esportivo —, o jovem tratado como celebridade se depara a todo momento com ecos do passado e projeções sobre o futuro. Aos 31 anos, o prefeito do Recife é hoje mais João do que Campos, mas não deixa de ser o bisneto de Miguel Arraes e o filho de Eduardo Campos, os dois políticos mais vivos na memória pernambucana. Reeleito com 78% dos votos, também já escuta aos montes gritos que o colocam na disputa do ano que vem pelo Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado comandado pelo bisavô em diferentes momentos dos anos 60, 80 e 90, e pelo pai entre 2007 e 2014.

É assim todo dia, e os dias são longos. O mais jovem prefeito de uma capital brasileira se gaba de ter realizado mais de 1.300 agendas em cerca de 1.200 dias de mandato, numa média de mais de uma por dia. Em uma terça-feira de janeiro, começou às 6h em visita a obras de contenção de encostas, passou por reuniões internas e voou para o velório do pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), em Alagoas. À noite, deu entrevista, cortou o cabelo e se reuniu com três secretários já de visual novo. Quando saiu da prefeitura, um destacado prédio alto no Recife Antigo, era madrugada de quarta-feira. Como é de praxe após todos os atos da rotina profissional, registrou com orgulho nas redes sociais o horário de encerramento do expediente. “Nada vence o trabalho”, escreveu na selfie em que aparece sorridente.

Todos os passos de João são seguidos de perto por um assessor que o filma com o celular, mas o próprio prefeito planeja cerca de 80% do que publica nas redes. É na arena digital, na qual a direita dá de goleada na esquerda, que agiu como uma espécie de consultor para o governo Lula na semana da crise do Pix.

Naqueles dias, o “prefeito TikTok” foi chamado a Brasília e deu pitacos na área em que ostenta números relevantes. São 2,8 milhões de seguidores no Instagram, o maior montante entre todos os comandantes de cidades do Brasil e quase o dobro da população recifense, que é de 1,5 milhão de pessoas. Integrantes da equipe de João passaram a compor o time do novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, e o estrategista de sua campanha de reeleição, Rafael Marroquim, também desembarcou por uma semana na capital federal para ajudar o Planalto.

— O principal é ter conexão e sinergia com o povo, e Lula tem isso como poucos. O desafio é entender que no mundo de hoje é preciso ser mais rápido, mais simbólico, não tem direito a falhas. Estamos falando de um tempo na comunicação digital que tem a força do Reels, de um bumper, uma propaganda de cinco segundos no máximo no YouTube. Se você fizer um pronunciamento de uma hora, ninguém vai ver o que você falou, mas vão ver a falha de cinco segundos que cometeu — avalia João Campos, em claro recado à língua do presidente.

O prefeito constrói o “simbólico” de que tanto fala nas redes sociais, e o momento de virada se deu no carnaval de 2024. Era verão, mas nevou no Recife: instigado pela turma do bregafunk, o gênero musical nascido na periferia da cidade, descoloriu o cabelo e dançou com óculos Juliet, dois símbolos das regiões mais pobres. Com o gesto, ganhou centenas de milhares de seguidores em poucos dias, transcendendo as fronteiras recifenses e alcançando outras cidades do estado e do país.

— O que me fez nevar foi que quem neva são os jovens periféricos que pintam o cabelo para brincar o carnaval, e parte da sociedade vê isso com preconceito. Eu fiz como ato de manifesto social, para dizer que quem é da periferia tem nosso respeito — afirma. — Foi um verdadeiro sucesso. É um tempo do símbolo. Não precisei explicar, as pessoas entenderam.

Apoio a Aécio e foto bebê com Lula

A parceria de hoje entre João Campos e PT esconde um passado de atritos. Em 2014, quando o pai, então candidato a presidente, morreu em um acidente aéreo, ele fez campanha para Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) no segundo turno presidencial. Dois anos depois, a maior parte do PSB abraçou o impeachment de Dilma, e o partido entrou com cargos no governo Michel Temer (MDB). Quando Lula estava preso em Curitiba no auge da operação Lava-Jato, era daqueles que achavam que a esquerda deveria buscar alternativas. O partido chegou a flertar com a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa.

Hoje, João tem olhar mais crítico sobre esse passado:

— Não participei das decisões, mas acho que de fato foi um momento histórico muito ruim para o Brasil, e tenho certeza que se meu pai estivesse ali nada disso teria acontecido. Até porque ele seria presidente do país. O PSB já disse que hoje não tomaria a mesma medida, eu certamente não tomaria. Mas o principal é que o partido já superou isso, e o PT também, ou Lula não teria Geraldo Alckmin como vice — afirma em relação ao ex-tucano, agora filiado ao PSB.

João se orgulha de ter uma foto com 1 ano de idade nos braços do presidente, e de, aos 7, ter matado aula para encontrar o petista na casa de Arraes. Classifica Lula como um personagem de tamanho único no Ocidente: a maior liderança do passado e do presente, além de esperança para o futuro. Conta com este ativo — somado ao imaginário político sobre a família e à bem avaliada gestão na capital — para cativar os pernambucanos em 2026. Ele não confirma ainda se será candidato ao governo, mas sabe que a questão será martelada por jornalistas e apoiadores ao longo do ano.

— O próprio fato de a pergunta ser feita em toda entrevista traz um sinal. Se ela é feita, é porque as pessoas acreditam que o caminho pode ser esse. Mas na política há tempo, há prazo, e o momento não é esse. O ano da eleição é 2026.

Um sinal do desejo de disputar o governo do estado foi a escolha do vice da chapa de reeleição, no ano passado. Victor Marques, que se filiou ao PCdoB, é amigo de João desde o primeiro período de faculdade na UFPE. Assim como o aliado, Marques vem de uma família com histórico político, mas bem mais humilde: o pai foi vereador no município de São José do Belmonte, no sertão pernambucano, terra de pouco mais de 30 mil pessoas.

Durante o primeiro mandato de João, o agora vice e secretário de Infraestrutura, pasta de grande visibilidade, trabalhou como chefe de gabinete. Na prefeitura, sabia-se que, quando se ouvia Victor, deveria se ouvir João. É o braço direito inconteste do prefeito e vem sendo a cada dia mais projetado na rotina municipal, uma forma de ganhar capital político antes de se sentar na cadeira em 2026.

Indiretas a Raquel Lyra

Na próxima eleição estadual, o embate tende a ser entre João Campos e a atual governadora, Raquel Lyra, do PSDB. Há meses, Raquel negocia migrar para o PSD, que corteja o PT no estado a fim de neutralizar a parceria entre Lula e o prefeito. Pesquisa Quaest de dezembro do ano passado mostra João com quase o triplo das intenções de voto a menos de dois anos da eleição: 64% a 22%. O prefeito evita falar tão mal da provável futura rival, mas solta críticas indiretas.

— As pessoas querem resultados. Estamos num tempo em que o simbólico é muito importante, mas o concreto também. Não adianta falar e não fazer. As pessoas querem ver o resultado. Isso faz toda a diferença na hora da indicação de voto. Eleição é comparação.

Nenhuma comunicação é capaz de segurar sozinha uma avaliação de governo tão alta como a dele, afirma João. É preciso ter entrega. Orgulha-se das “três obras por dia em área de morro”, do aumento de vagas em creche e do “investimento recorde ano a ano”, além do monitoramento rigoroso de metas e da digitalização de serviços. A cidade virou de fato um canteiro de obras, sempre com placas chamativas para reivindicá-las politicamente: “Mais uma obra da prefeitura”, “A prefeitura do Recife está trabalhando aqui” e outros avisos do tipo pululam em todo canto.

Os críticos o chamam de “o prefeito moderno, mas que sabe usar a velha lógica de máquina”. No início do ano, houve aumento de 25% no número de cargos comissionados na cidade, com impacto de R$ 65 milhões. Existem mais contratados dessa modalidade na administração municipal do que na estadual.

Duas vitrines do prefeito entraram nos últimos meses no radar do Tribunal de Contas do Estado, que apontou possíveis superfaturamentos e outras irregularidades no Parque da Tamarineira e no Hospital da Criança. A prefeitura afirma que os itens destacados no documento sobre o hospital “estão sendo cuidadosamente analisados, e as informações técnicas necessárias estão sendo levantadas para subsidiar a resposta”. O relator no tribunal é Marcos Loreto, primo da mãe de João. No caso do parque, a gestão rechaça os argumentos do TCE e garante que todo o processo licitatório foi feito de forma correta e até mais econômica do que o sugerido pela auditoria.

Sucessor político da família

Na política, escreveu certa vez a historiadora Angela de Castro Gomes, funerais costumam provocar uma “alegoria às avessas”: ao invés de uma ideia ser dotada de um corpo, um corpo passa a representar uma ideia.

O enterro de Eduardo Campos, em plena campanha presidencial de 2014 e um dia depois de o candidato ser entrevistado no Jornal Nacional, é considerado por muitos em Pernambuco o momento em que a ideia simbolizada por ele não só se imortalizou, como passou a habitar outro corpo.

Diante de toda a dor no funeral, recorda um integrante da família, o mais velho dos filhos homens do ex-governador logo incorporou o papel de herdeiro político. Ao mesmo tempo em que se despedia do corpo do pai, era o único capaz de ter a frieza de cumprimentar os apoiadores que faziam fila para chegar perto do caixão.

— Ali ficou cravado que ele seria o sucessor político da família — afirma o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que assumiu o partido até então chefiado por Eduardo Campos.

Foi depois da morte do pai, com Marina Silva encabeçando a chapa e Paulo Câmara concorrendo ao governo estadual pelo PSB, que João fez campanha em palanques pela primeira vez.

— É como se disséssemos que nossa bandeira não ficaria a meio mastro. Meu pai não gostava de nada triste, a última coisa que queria era a família dele de cabeça baixa. Decidimos fazer o que ele faria. Eu nunca tinha feito um comício político, fiz o primeiro 15 dias depois de ele ter falecido. Meu primeiro discurso foi em Caetés, onde Lula nasceu. Em 20 dias, fui a 44 cidades do estado — relembra o prefeito.

Eduardo e ‘pai Arraia’

Sempre que falam do ambiente da casa nos tempos de Eduardo governador, os olhos dos Campos brilham. Era um permanente evento político, e por lá passaram todas as grandes figuras da República. O pernambucano Lula a visitou sete vezes em um mesmo ano, na esteira de agendas presidenciais no Recife.

O escritor Ariano Suassuna, tio-avô de João, era sempre convidado quando o petista aparecia, e o cardápio incluía clássicos da culinária local: carne de sol, macaxeira, feijão verde e bolo de rolo. Para ajudar a descer a fartura, uísque, o mesmo destilado que João, iniciado na bebedeira apenas aos 23 anos, tem hoje como quitute alcoólico favorito.

Se o pai é a grande referência política, de Arraes João se recorda mais como bisavô do que como figura mítica da esquerda brasileira, o homem cassado pela ditadura que partiu para o exílio e voltou para cumprir outros dois mandatos de governador. O reconhecimento do tamanho do “Pai Arraia” na política pernambucana se deu com o tempo e nas ruas, onde os mais velhos se emocionam quando veem “o netinho de Arraes”.

Pai e filho haviam selado um acordo: enquanto Eduardo estivesse na política, João não disputaria eleições. Na esteira da morte, teve quem incentivasse o então jovem de 20 anos a cobiçar uma cadeira de deputado federal já naquele processo eleitoral, o que exigiria que algum outro candidato da nominata do PSB desistisse. Ele recusou: preferiu terminar a faculdade e esperar quatro anos para se colocar nas urnas.

Formou-se em Engenharia, vocação notada ainda na infância e da qual se vale hoje para detalhar obras da cidade. Quando criança, João andava pela casa dos pais, no bairro Dois Irmãos, com uma caixa de ferramentas para lá e para cá. Gostava de consertar tudo o que via pela frente — incluindo relógios antigos, que desmontava e montava “para entender como funcionava”.

Fora do padrão

Os slogans de João em campanhas narram a história política que construiu de 2018 para cá. Começou como “filho da esperança” quando concorreu a deputado federal, passou por “a esperança (que) se renova” na primeira vitória para o Executivo municipal e virou, enfim, “meu prefeito”.

A mãe, Renata Campos, costuma contar uma anedota que também ilustra a passagem de bastão na política pernambucana. Diz que era conhecida como a mulher de Eduardo, até que virou a viúva de Eduardo. Agora, é a mãe de João.

João é inquieto. Quando senta para conversar, as mãos se mexem com frequência. Afagam as pernas ou se embrenham uma na outra. Orgulhoso da rotina insana de trabalho, tem como hobby a corrida, que o ajuda a desopilar. Foram duas meias maratonas concluídas no ano passado, mas admite que, desde a reeleição, anda meio “fuleiro” com os treinos.

É teimoso, obsessivo, perfeccionista, exigente, workaholic, e por aí vai — palavras de todos que falam de João, além do próprio. Sobre ele, no entanto, não se ouvem críticas voltadas para o temperamento. Ao contrário do pai, avaliam aqueles que conheceram os dois Campos, não é “temperamental”.

Fora do padrão na política, o prefeito mora sozinho, uma solidão caseira que se dá pela distância física da namorada, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP). Os amigos que analisam a entrada de Tabata na vida de João, assim como ele mesmo, citam como maior impacto o estímulo ao estudo e a ser mais questionador. Com vidas em cidades diferentes, os dois tentam se ver aos fins de semana, seja em Brasília, São Paulo ou Recife.

João e a prima Marília

João é bisneto, mas na boca do povo virou neto do ex-governador. Neta mesmo é Marília Arraes, a prima de Eduardo Campos que, brigada com o outro lado da família em 2014, sequer foi ao funeral. Seis anos depois, João e Marília protagonizaram uma eleição municipal — ele pelo PSB, ela pelo PT — que rachou os dois núcleos, com ataques na linha da cintura.

Foi Marília quem começou a trocação, mas João, à época com 26 anos, mostrou no segundo turno que, apesar da cara de bom moço, era capaz de acirrar a guerra familiar para vencer o jogo. Chegou a contar com Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos principais líderes religiosos do universo bolsonarista, para pregar voto contra a então petista, hoje dirigente estadual do Solidariedade. Ao mesmo tempo, fez uma campanha em que pintou Marília como alguém de ideias mirabolantes e inviáveis. Deu certo, e o resultado foi uma vitória até confortável: 56% a 44%.

Parte dos ataques cara a cara se concentrou em acusações de corrupção envolvendo os respectivos partidos, que volta e meia se bicam no Recife em busca de protagonismo. Depois que a candidata que carregava o nome Arraes citou operações da Polícia Federal contra o então prefeito Geraldo Júlio, do PSB, o de sobrenome Campos mencionou suspeitas de “rachadinha” no gabinete da prima e disse que “em relação ao PT, não cabe nos dedos das duas mãos quantos gestores presos têm no Brasil”. Declaração impensável para o João de hoje.

A reconciliação entre os primos só veio em 2022, quando o palanque de Lula em Pernambuco fez os dois ficarem frente a frente pela primeira vez desde então, e foi o próprio petista quem intermediou o encontro. Mas, depois daquela traumatizante eleição municipal, a relação entre os Campos e os Arraes nunca mais foi a mesma, a despeito da paz restabelecida.

Hoje, tanto João como Marília têm irmãos com mandatos na Câmara dos Deputados, Pedro Campos (PSB) e Maria Arraes (Solidariedade), ambos orbitando os 30 anos. Em Pernambuco, os dois sobrenomes são uma espécie de passaporte para a política, e Pedro e Maria foram eleitos com mais de 100 mil votos cada em 2022.

João tem ainda outros três irmãos: a única mais velha, Duda, e os mais novos, Zé e Miguel, até o momento sem experiência eleitoral. Ele e Pedro sempre foram os mais interessados nas conversas políticas do pai.

PSB e o elo com Lula

Em maio, o prefeito vai assumir a presidência nacional do PSB, apesar de ainda adotar cautela ao falar da missão, outra que o pai e o bisavô cumpriram por vários anos. À frente da sigla, lidará com a construção do processo eleitoral de 2026, enfrentando pela primeira vez dilemas de outros estados e, sobretudo, impondo pressão para Lula manter Geraldo Alckmin como vice na chapa de reeleição.

— Isso é uma prioridade do partido. Quando fizemos a aliança com Lula, o maior partido a apoiá-lo foi o PSB. Nenhum dos grandes partidos que hoje têm ministérios apoiou Lula — observa. — E tenho certeza que muitos também não coligarão no ano que vem. Isso é uma disfunção, claro que é, mas para resolver não é simples. Hoje o modelo de representação no Congresso quase que exige que isso seja feito.

Insistente na tese de que é preciso “ouvir o povo”, João é há bastante tempo crítico do protagonismo das chamadas pautas identitárias na esquerda. Ainda em 2021, quando começava a se reaproximar de Lula, disse ao GLOBO que “os problemas e as soluções do Brasil não estão nessas pautas puramente identitárias ou ideológicas”, e que era necessário tirar o debate desse campo, no qual o bolsonarismo cresce. Prega que as energias estejam concentradas nas políticas públicas mais amplas.

Outra crítica que fez a parcelas da esquerda, esta diretamente ao aliado Lula, foi à visita pomposa do venezuelano Nicolás Maduro ao Planalto. O episódio exemplifica o que o prefeito considera deslizes do governo que dão munição para opositores desviarem o foco do que importa.

Os casos do passado recente do partido, nos anos de turbulência da política nacional e também nas brigas locais, evidenciam que, a exemplo do pai, João nutre uma relação mais sólida com Lula do que com o PT. Ex-ministro de Ciência e Tecnologia do petista antes de virar governador, Eduardo resolveu, afinal, tentar a presidência contra Dilma.

Quando é perguntado sobre o cenário para 2026 se o atual presidente não disputar a reeleição, o futuro chefe máximo do PSB evita projetar outros nomes e considerar conjunturas.

— Lula é o nome natural, e o que torço e espero é que ele seja candidato — limita-se a dizer.

Sem ter sequer os 35 anos necessários para disputar a Presidência da República, João é considerado a grande aposta nacional do PSB, o elo entre o sonho interrompido de Eduardo Campos e o futuro. Enquanto corta o cabelo — sem “nevar”, ao menos até o próximo carnaval — com Weydson Alves, que vai todo mês à prefeitura prestar o serviço, conversas descontraídas sobre o passado e o horizonte político do prefeito tomam conta da sala, incluindo projeções presidenciais.

Se dependesse de Weydson, fã dos slogans políticos da família Campos, o bordão para a eventual candidatura ao Planalto já estaria definido: “João Campos, a sorte do Brasil”, vislumbra, arrancando o sorriso do prefeito diante de um quadro na parede em que o pai também sorri.

A corridinha diária de 8 km, hoje, foi no Parque da Jaqueira, no Recife, onde botei os pés ontem de volta depois das férias vapt-vupt entre o litoral e o sertão. Na sexta-feira, já embarco para Brasília. Na pauta, as eleições para renovação das Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado.

Do Metrópoles

Brasileiros deportados dos Estados Unidos que foram algemados e acorrentados denunciam que sofreram agressões dos agentes do governo estadunidense dentro do avião que os trouxe ao Brasil.

“Eu fiquei 50 horas acorrentado pelo braço, barriga e pés. Sem poder ir no banheiro. Nós pedimos para sair porque estava muito quente [dentro do avião] e não deixaram. Me agrediram e me enforcaram”, relatou o vigilante Jeferson Maia ao Metrópoles.

O avião com os deportados pelo governo de Joe Biden – porém os primeiros a serem mandados de volta ao Brasil na era Donald Trump – saiu dos Estados Unidos e parou por algumas horas no Panamá. Em seguida, foi até Manaus (AM). Os brasileiros – 88 no total – fizeram um protesto porque estavam trancados, a temperatura estava muito alta e queriam sair da aeronave. O destino final era Belo Horizonte (MG).

“Eles queriam que a gente esperasse sem água, sem comida, todo mundo apavorado”, conta Aeliton Cândido, morador de Divinópolis (MG). Famílias inteiras, incluindo crianças, estavam no voo. Vários dos deportados exibiam marcas das algemas e correntes.

“Meteram porrete sem dó”

O deportado Luis Fernando Caetano Costa disse que testemunhou a agressão contra cerca de cinco pessoas dentro da aeronave. “Os meninos estavam todos algemados. Os caras meteram porrete sem dó. Jogaram o moleque no chão. Teve um menino que deram um golpe nele até desmaiar”, conta o brasileiro.

Diante do problema técnico no avião norte-americano, houve uma escala em Manaus. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, desautorizou o uso de algemas e correntes, e os deportados foram transferidos para uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) a fim de concluir a viagem até Minas Gerais.

“Denúncias graves”

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, esteve no aeroporto de Belo Horizonte para recepcionar os brasileiros deportados e chamou as denúncias de agressão de muito graves.

“As denúncias das pessoas que chegaram são muito graves. A gente tinha numa mesma aeronave famílias, crianças, crianças com autismo, com algum tipo de deficiência, que passaram por situações muito graves”, declarou a ministra.

Macaé disse que o ministério irá fazer um relatório para o presidente e para o Ministério das Relações Exteriores, com as denúncias dos brasileiros deportados. Além disso, o governo federal está em articulação com a Prefeitura de Belo Horizonte para acolher os repatriados.

“Os países têm suas políticas imigratórias, mas as suas políticas imigratórias não podem violar os direitos humanos. O Brasil sempre tratou com muito respeito toda a população, tanto refugiados que chegam no Brasil quanto pessoas que nós temos que repatriar.”