Carta aberta
“Não são os cargos que dão liderança. Os cargos têm um mandato certo. As lideranças, quando são lideranças, permanecem no tempo”. – Ulysses Guimarães
Nasci com meu pai já na política como Deputado Estadual. Em 1978, eu tinha apenas seis anos quando o vi disputar o Senado pelo MDB, contra Nilo Coelho e Cid Sampaio, ambos da Arena. Meu pai, apesar de ser o mais votado, foi derrotado pela sublegenda.
Lembro, apesar da pouca idade, de viajar com os meus pais e a minha irmã mais velha pelo interior no nosso estado. Acompanhei praticamente toda a sua vida pública.
Senti na minha casa o medo da ditadura, principalmente quando meu pai ia para tribuna da assembleia citar os nomes dos torturados e dos torturadores. Lembro da minha mãe falando em códigos, no período da ditadura, com Ofélia, esposa do saudoso Paulo Cavalcanti.
Fui pra rua pela redemocratização. Lutamos pelas Diretas Já! Conheci Dr. Ulysses Guimarães, Ibsen Pinheiro, Pedro Simon e muitos outros.
Ainda adolescente, fiz parte da turma que fazia as pesquisas no Centro Teotônio Vilela, sob a liderança da saudosa Cristina Tavares, que, além de referência intelectual e política, foi também uma pioneira ao se eleger deputada federal por Pernambuco, abrindo caminhos para tantas outras mulheres na política.
Conheci todos que faziam parte do MDB autêntico: Egídio Ferreira Lima (tenho orgulho de tê-lo como padrinho), Fernando Lyra, Maurílio Ferreira Lima, Edgar Moury Fernandes, Marcus Cunha. A sede do MDB, que na época funcionava no Derby, era muito bem dirigida por Adilson Gomes e Bezerrinha.
No dia 13 de março de 1985, quando foi inaugurado o escritório político Debate, eu estava lá. Participei ativamente da estratégia da campanha de 1985, idealizada por Téogenes Leitão, quando saíamos todas as noites de porta em porta mostrando o nosso candidato e apresentando as suas propostas.
Na Caravana da Esperança, em 1986, com Dr. Arraes, eu também estava presente. Participei nos bastidores de todas as campanhas eleitorais. Lembro muito do Sr. Raul, pai de Raul Henry, junto com meu pai na luta por votos na zona da mata sul. Lembro do carinho do meu pai por Raul Henry ao longo desses anos. Todos até diziam que ele era o filho mais velho. Querer negar a trajetória de Raul ao lado do meu pai é um grande erro. Com apenas 21 anos de idade ele já era chefe de gabinete do meu pai na Prefeitura do Recife.
Dentre tantas outras lições, com meu pai aprendi que política se faz com diálogo, mas que se deve ter lado e, sobretudo, que campanha se ganha no voto.
Acho lamentável o que está acontecendo no nosso partido. Trazer meu pai para essa disputa é não respeitar a sua vontade de não mais querer se envolver em disputas políticas. Ele me declarou de viva voz sua posição de neutralidade. É importante lembrar que ele se licenciou do cargo de Senador por não mais se sentir em plenas condições de seguir num cargo de tamanha relevância e de não poder se dar por inteiro à estatura do cargo. “Não consigo fazer nada pela metade”, dizia ele, às vésperas de renunciar.
Nos últimos anos, Raul tem mostrado competência da condução do partido. E continua sendo o mais preparado para seguir no seu comando. Entrei no partido com Raul na presidência e continuarei com ele. E juntos estaremos unidos com um único objetivo: fortalecer o partido e lutar para que o MDB esteja no protagonismo que sempre ostentou.
Já faço parte da comissão provisória do MDB/Recife e, agora, entrarei também no diretório estadual, ao lado de Raul e de tantos outros, como Paulo Roberto e Iza Arruda.
Aliás, ao citar Iza, que faz um brilhante primeiro mandato federal, aproveito para destacar a necessidade de um protagonismo feminino na política, que representa um avanço essencial para a consolidação da democracia e para a promoção de uma sociedade mais justa e plural. À medida que mais mulheres ocupam espaços de poder e decisão, elas contribuem com perspectivas diversas, promovem políticas públicas mais inclusivas e desafiam estruturas historicamente dominadas por homens.
Ainda que a representatividade feminina esteja em constante crescimento em todas as esferas da sociedade, persistem desafios estruturais e culturais que precisam ser enfrentados para garantir igualdade de oportunidades e valorização efetiva da participação feminina na construção do futuro do país.
Nesse contexto, é fundamental que continuemos fortalecendo espaços que incentivem e acolham a presença feminina na política, reconhecendo a capacidade, a sensibilidade e o compromisso das mulheres com a transformação social. Com coragem e responsabilidade, sigo somando esforços nessa caminhada, movida também pelo propósito de honrar e defender o legado do meu pai, que dedicou mais de 50 anos à vida pública com integridade, respeito e dedicação ao bem comum. É com esse mesmo espírito que me coloco à disposição para seguir contribuindo com a construção de um futuro mais justo, inclusivo e comprometido com os verdadeiros valores da política.
Recife – PE, 11 de abril de 2025.
Adriana de Andrade Vasconcelos – advogada
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