Por Fernando Castilho*
Depois que Homero Fonseca escreveu no LinkedIn e José Nivaldo no Jornal O Poder, falar sobre Ivan Maurício é muito difícil. Difícil algum colega acrescer mais alguma coisa sem ser repetitivo. Os textos deles quase esgotaram o assunto como resgate histórico.
Mas eu me atrevo a contar dois episódios da passagem de Ivan pelo Diário de Pernambuco. Foi no período no qual o empresário Eduardo Monteiro assumiu o controle da empresa depois de um acordo com Joezil Barros e Gladstone Vieira Belo. Ivan foi escolhido para comandar o projeto e, como relatou Homero, fez uma revolução na gestão da redação. Iniciando, inclusive, a digitalização dos textos pelos próprios jornalistas. Literalmente, puxando um fio do outro prédio e acomodando os terminais na conhecida redação da Praça de Independência.
Leia maisAntes de completar um ano, o sindicato dos jornalistas radicalizou na campanha salarial e numa assembleia na quinta-feira foi decretada a greve. Na manhã de sexta-feira o grupo que tentou evitar a greve foi abordado com a proposta de poder ter acesso à redação e assim furar a greve. Ivan avisou aos seus editores e colunistas que era para respeitar a greve. E não queria ninguém trabalhando até que a reunião de negociação terminasse. A greve durou apenas uma manhã e voltamos todos ao trabalho antes do meio-dia. Ficou o exemplo.
Porém nada foi mais emblemático que o gesto de Ivan: deixar que o time da velha guarda mantivesse o hábito de ter uma garrafa de uísque ou conhaque debaixo da mesa. Eu era colunista de economia e comecei a levar um lanche para os colegas para fugir do sanduíche da Cristal na Rua Primeiro de Março. A onda pegou e dois meses depois às seis da noite, a redação quase parava para lanchar porque voluntariamente todo mundo começou a levar comida e até cerveja.
Na semana que antecedeu ao Natal eu e Ivan inventamos de fazer uma ceia festiva. Ele liberou uma grana e no meio de queijo do reino, bolos e coxinhas de galinha, incluímos cerveja em lata. O movimento cresceu e na hora de servir a ceia tinha vinho, Johnnie Walker selo preto e até cerveja sem álcool.
Acompanhado de Dona do Carmo e Eduardo Monteiro, Dr. Armando Monteiro Filho desceu à Redação. Diante do que viu, ficou preocupado.
Discretamente, com o seu vocabulário peculiar, perguntou a Ivan:
“Camarada velho, com tanta bebida alcoólica sendo consumida, o nosso Diario vai circular amanhã?
Ivan tranquilizou.
“Vai sair cedo e bom, Dr. Armando”.
Foi o que aconteceu. Uma das maiores confraternizações que o velho DP já teve em seus, até então, mais de 170 anos. E uma edição histórica, inspirada, da primeira à última página.
*Jornalista e colunista de economia do Jornal do Commercio
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