Em recuperação após cirurgias no quadril e nas pálpebras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a última semana no Palácio da Alvorada fazendo sessões de fisioterapia e sem poder receber visitas, mas não abriu mão do trabalho. Lula decidiu não entregar o cargo ao vice, Geraldo Alckmin (PSB), e chegou a sancionar leis, conversar com ministros e cumprir outras demandas enquanto se reestabelece – mas sem se envolver com temas que estão em disputa.
Ao longo da semana de reclusão médica, o petista priorizou assuntos menos “polêmicos” ao governo, e decidiu adiar as agendas com maior custo político. Entre elas, a decisão sobre o que vetar no projeto de lei do Marco Temporal – aprovado no Senado apesar de decisão no outro sentido no Supremo Tribunal Federal (STF) – as indicações para a vaga na Corte e na Procuradoria-Geral a República (PGR), e as negociações com o Centrão pela Funasa e presidência da Caixa. As informações são do Metrópoles.
Leia maisAinda no início da semana, Lula sancionou a lei que regulamenta o programa Desenrola Brasil e o Fundo Nacional do Meio Ambiente, mas evitou analisar o PL do Marco Temporal. Segundo interlocutores do governo, o presidente pretende vetar a proposta. Ele espera, contudo, aproveitar o tempo de isolamento para avaliar melhor a canetada, pois o texto teve apoio total de numerosa bancada do agronegócio. Lula tem até 20 de outubro para tomar uma decisão sobre o tema.
A decisão dialoga com a disposição do governo de se manter distante da queda de braço entre Congresso e Supremo. Parlamentares aumentaram a temperatura dos embates com o Judiciário após a inclusão de temas de inflexão com o Legislativo na pauta da Corte, como a demarcação de terras indígenas, aborto e outras pautas de costumes.
Segurança pública no país
Sem aparecer em público e em reclusão no Alvorada, o chefe do Executivo federal tem se manifestado via redes sociais. Além de publicações protocolares sobre ações do governo, Lula celebrou a alta da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que passou por uma cirurgia cardíaca no início da semana, e lamentou a morte dos três médicos executados no Rio de Janeiro.
O presidente prestou solidariedade aos familiares dos profissionais de saúde, inclusive, à deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP), irmã de uma das vítimas, e ao deputado Glauber Braga (PSol-RJ), cunhado do irmão de Sâmia. Lula anunciou que a Polícia Federal passaria a atuar no caso, um pedido feito pelo titular do Planalto ao ministro da Justiça, Flávio Dino.
Segundo informou a coluna Igor Gadelha, do Metrópoles, Lula conversou com o chefe da pasta sobre os assassinatos por telefone, na manhã de quinta-feira (5). O presidente teria pedido que a PF acompanhasse a investigação e que o crime fosse esclarecido o mais rápido possível, para saber, sobretudo, se houve motivações políticas.
No dia seguinte, a investigação concluiu que as execuções ocorreram por engano e que o alvo seria um miliciano carioca, que estava sendo caçado por traficantes.
Além desse pedido a Dino, Lula buscou o vice-presidente Alckmin para que ele liderasse uma comitiva de ministros em viagem ao Amazonas para verificar os prejuízos causados pela estiagem no Norte do país. E também teria feito telefonemas a governadores, entre eles, o da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). Segundo o chefe do Executivo estadual, a conversa com o presidente foi sobre a situação de segurança pública no estado.
“Anteontem, ele [Lula] me ligou à tarde e eu fiquei preocupado achando que fosse algo da saúde dele, mas foi justamente para saber como estava a segurança na Bahia, não foi a primeira vez, e para saber como estava a nossa relação com os ministérios”, afirmou Jerônimo nessa quinta, durante visita de Dino à capital baiana.
O presidente, no entanto, não se pronunciou publicamente sobre a crise na Bahia. O estado vive uma escalada de violência ocasionada por conflitos entre facções e o aumento da letalidade policial. Apenas em setembro, 68 pessoas morreram em enfrentamentos com a polícia no estado.
A situação crítica gerou incômodo político ao governo Lula, uma vez que o Executivo baiano é gerido por petistas há 17 anos.
Orientações médicas
Por recomendação da equipe médica, o presidente foi proibido de se reunir presencialmente com o primeiro escalão do governo durante as duas semanas seguintes à cirurgia, realizada no último dia 29 de setembro, em um hospital particular de Brasília. Lula, no entanto, poderia voltar a trabalhar de casa – e conversar com a equipe de forma remota, caso se sentisse confortável.
“A orientação da equipe médica é que o presidente permaneça, pelo menos 15 dias, em fisioterapia, que é extremamente importante para a recuperação dessa cirurgia, que é uma cirurgia convencional. Então o presidente fará fisioterapia, mas nada impede que ele, a distância, trabalhe normalmente, dependendo da vontade dele e da necessidade. [Para] isso não há impedimento nenhum”, detalhou o médico Roberto Kalil, que acompanha a recuperação.
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