A Câmara conseguiu as assinaturas para o projeto que dá anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Dos deputados que assinaram, 55% são de partidos da base do governo, inclusive do seu partido, que contribuiu com 25 assinaturas do Republicanos. Como o senhor vê isso?
Essa não é uma pauta do Brasil. A pauta do Brasil é o combate à criminalidade, a retomada de obras estruturantes, é fazer com que o País cresça, se desenvolva, gere emprego e renda. O presidente do partido, Marcos Pereira, é um democrata, tem espírito público, respeita a posição dos parlamentares, e nós temos que aguardar qual será o encaminhamento do presidente Hugo Motta em relação a votar essa urgência. Acho que é muito importante que a gente possa fazer um grande diálogo com o Supremo Tribunal Federal (STF), com muita serenidade.
O ex-ministro Marco Aurélio escreveu um artigo defendendo que essa matéria é completamente inconstitucional…
Exato, esse é um tema que não cabe ao Parlamento brasileiro. Ninguém pode anistiar ou não alguém. Se eu estivesse exercendo o mandato de deputado federal, não assinaria. Eu iria defender, como tenho defendido, que esse debate tem que ser feito no Poder Judiciário. Acho que houve excessos nas tipificações de algumas penas, essas têm que ser revistas. E penso que o presidente Hugo Motta e o presidente Davi Alcolumbre terão muita serenidade de poder construir essa pauta no Congresso. É uma pena que a principal pauta da oposição hoje não seja econômica ou social, é uma pauta de anistiar muitos que atentaram contra a democracia brasileira.
Em algumas votações importantes, os deputados da base votaram contra o governo. Não é hora do Marcos Pereira dar um puxão de orelha nesse pessoal?
Todos os partidos de centro têm posições ideológicas diferentes. Essa é a beleza da democracia. Um partido tem que ser democrático, respeitando as posições. O mais importante é que todas as vezes que o governo precisou votar as matérias de interesse econômico e social, como o Pé-de-Meia, o Minha Casa Minha Vida, o arcabouço fiscal, em todos esses temas ele teve apoio da bancada do Republicanos. Na anistia, o partido está dividido, o que faz parte do processo.
Não é estranho partidos da base votarem contra o governo?
O Republicanos foi um dos partidos da base que mais votou nas pautas do governo, só atrás do MDB. Isso significa que estamos unidos nas pautas de interesse do País. A pauta da anistia não é uma pauta do governo do presidente Lula, é um tema de setores da sociedade que de certa forma buscam um tensionamento com o STF e querem usar essa pauta da anistia como uma bandeira política.
O presidente Hugo Motta é do seu partido. Tem conversado com ele? Ele está disposto a colocar essa matéria em votação?
O presidente Hugo não trabalha sob pressão. Ele tem tido muita serenidade, muito equilíbrio na condução da Casa. Ele vai ouvir todos os líderes partidários e vai respeitar a vontade da maioria. Temos que aguardar essa reunião. Tenho certeza de que o presidente Hugo sempre estará em defesa da democracia e do fortalecimento das instituições, e ao final se construirá uma solução conjunta que fortalecerá o Congresso Nacional.
Como o senhor avalia as pesquisas que vêm apontando para a alta reprovação do governo Lula? O que está acontecendo?
Pesquisa é um retrato do momento. Se você lembrar em dezembro de 2021, todas as pesquisas davam o ex-presidente Bolsonaro com uma rejeição entre 55% e 60%. Ele terminou a campanha com 44% de rejeição. Isso significa que o governo tem muito tempo para se recuperar. As pesquisas internas já mostram que o governo começou a melhorar a aprovação nesses últimos 15 dias, porque tem o que apresentar. Estou muito confiante de que o governo vai terminar o ano muito fortalecido. E chegaremos em 2026 com um conjunto de ações para apresentar ao povo. Agora, precisamos avançar na agenda do ajuste fiscal, equilibrar contas públicas, melhorar a comunicação, fazer um movimento dos próprios ministros cada vez mais andarem o Brasil mostrando as entregas, ampliar o diálogo com prefeitos e governadores, porque tem muita coisa boa para mostrar.
Um dos calos do presidente reside em setores em que ele ainda não conseguiu convencer, como os evangélicos…
Concordo integralmente. Quem mais defende o segmento evangélico é o governo do presidente Lula, mas precisa ampliar o diálogo. Tenho conversado com líderes evangélicos, com presidentes de igrejas, e eles reconhecem que o presidente que mais fez pelo segmento evangélico foi o presidente Lula. Mas por conta de algumas pautas de costumes que não tiveram o apoio dele, terminou se criando uma narrativa de que o presidente Lula era contra o segmento evangélico e que não dava atenção.
Outro erro grave teria sido na questão do Pix?
A comunicação foi muito errática naquele movimento. O próprio governo faz essa reflexão hoje, tanto que houve uma queda de quase 15% nas pesquisas por conta daquele processo, da falta de comunicação feita naquele momento. Eu não teria revisto, teria mantido a posição em relação ao Pix, porque ali o governo estava protegendo a sociedade brasileira. Mas a questão foi revista e agora naturalmente o governo precisa rever a comunicação quando for anunciar qualquer programa ou projeto para o País.
Sobre a fusão da Gol com a Azul, ocorreria uma concentração do mercado e poderia prejudicar o consumidor? Como o governo tem acompanhado isso?
Tenho dúvidas sobre essa fusão. Hoje, 98% da movimentação da aviação está nas mãos da Azul, da Latam e da Gol. Esse é um processo que não depende de mim, depende do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas neste momento, não vejo uma possível fusão como benéfica para o País. Porque acho que quanto mais companhias aéreas no Brasil, melhor. Conseguimos construir uma linha de crédito de R$ 4 bilhões, que Azul, Latam e Gol sinalizam fazer operações de crédito, e a nossa expectativa é que essas empresas poderão se organizar financeiramente, pagar dívidas, comprar aeronaves, fazer requalificação de aeronaves existentes, para que não se tenha a necessidade dessa fusão
E a Voepass, que deixou de operar no Brasil após aquele acidente aéreo. Eles podem voltar?
Vamos ter possivelmente uma reunião na primeira semana de maio, eles querem apresentar um plano estratégico de fortalecimento da Voepass. Só vamos autorizar qualquer operação de retomada de voos na hora que eles puderem apresentar um plano de reestruturação da companhia. Aliás, a Voepass também está dialogando com companhias aéreas de fora do Brasil. Quem sabe possa acontecer uma incorporação da Voepass a alguma companhia aérea, seja do Brasil ou internacional.
Faltam muitos meses para a eleição, mas temos nomes cotados para disputar o Senado, entre eles o seu. Como tem trabalhado isso?
Agradeço por todas as manifestações de apoio e de carinho que a gente vem recebendo em relação a disputar um mandato de senador. Mas nossa principal eleição agora é ajudar o Brasil. O presidente Lula me confiou a responsabilidade de assumir o Ministério de Portos e Aeroportos, é o maior desafio da minha vida. Tenho trabalho das 7h à meia noite todos os dias, estamos andando o Brasil, fazendo as entregas que o País precisa. E essa não é ainda uma pauta da sociedade. 2026 nós vamos discutir na hora certa. Não vou dar nenhum passo sem ouvir o presidente Lula, até por gratidão a ele. Mas se você me perguntar se eu me sinto preparado para disputar o Senado, eu me sinto preparado para esse desafio.
Dá para cravar essa pré-candidatura então?
Estou com a cabeça muito boa. Posso ficar no Ministério e ajudar na coordenação da campanha do presidente, andando o Brasil com ele. Posso ser candidato à reeleição para deputado federal, para ajudar no projeto do fortalecimento do Republicanos, que deve eleger mais de 60 federais. Digo que o Republicanos vai trabalhar para estar na chapa majoritária e disputar a eleição. Como dizia o nosso Marco Maciel, quem tem tempo não tem pressa
Tem alguma concessão para ser anunciada nos próximos dias?
Estamos anunciando no mês de maio cinco novas concessões nos estados do Rio de Janeiro e do Amapá. Esse ano queremos fazer vinte leilões na B3, e mais vinte em 2026. Vai dar um investimento de quase R$ 20 bilhões. Estou muito animado, tivemos um crescimento de investimentos internacionais no setor portuário nos últimos três anos de quase 30%. O mundo hoje quer o Brasil para poder prover investimentos.
O senhor conseguiu entregar o Voa Brasil, mas parece que há dificuldades em expandir esse programa. Como têm sido as tratativas?
Esse programa tem um impacto de atender até 25 milhões de aposentados no Brasil, que podem comprar passagens até R$ 200. Até ontem já foram quase 40 mil aposentados no Brasil viajando. Isso toca minha alma, toca meu coração, a quantidade de depoimentos que recebi, e até mostrei ao presidente Lula. Estamos dialogando com o ministro Camilo Santana (Educação) para construir essa modelagem do Voa Brasil para alunos do Prouni, mas esse processo está em análise no ministério. Infelizmente, a gente não tem condições de ofertar essa passagem para toda a sociedade brasileira.
O senhor deu uma declaração muito dura sobre a governadora Raquel Lyra, de que em Pernambuco ela não tem uma obra com o DNA dela, que tudo é do governo federal. O senhor poderia explicar melhor isso?
Fui muito verdadeiro e transparente. Goste-se ou não do presidente Lula, é muito bom poder governar com ele. Se pegar no governo passado, Pernambuco praticamente não teve uma obra do governo federal. Foram três ou quatro obras de continuidade. Naqueles quatro anos, foram investidos R$ 3,5 bilhões em Pernambuco. No governo do presidente Lula, através do PAC, nós temos quase R$ 20 bilhões. A governadora Raquel Lyra está tendo o privilégio de governar com o presidente Lula. Mas vamos lá: a duplicação da BR-423, a conclusão da BR-104, as barragens e adutoras, os seis Institutos Federais, a triplicação da BR-232, o Arco Metropolitano, os investimentos na aviação do estado, no Porto de Suape, a Transnordestina que será licitada no segundo semestre, são todas fruto de apoio e parceria com o governo do presidente Lula. Então, qualquer governador de Pernambuco que governar com o presidente sem dúvida tem uma atenção diferenciada. Tanto que ele já autorizou para Pernambuco quase R$ 5 bilhões de empréstimos pelo BNDES.
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