Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Negociador brasileiro para tentar uma solução, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tem agora menos de uma semana para evitar a ameaça de tarifaço imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O prazo dado por Trump para sobretaxar em 50% os produtos brasileiros se inicia na próxima sexta-feira (1).
A tarefa de Alckmin é dura, uma vez que o governo dos EUA não deu até agora nenhuma sinalização no sentido de que possa mudar de ideia. Mas Alckmin, como comenta um interlocutor que tem acompanhado de perto o seu trabalho, se declara “um eterno otimista”. O vice-presidente trabalha a tentativa de reversão por duas frentes: a política e diplomática e a empresarial.
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Se os canais políticos parecem complicados, Alckmin aposta muito no segundo caminho: a pressão feita pelos empresários, tanto os daqui como os norte-americanos. Ele tem se reunido diariamente com os diversos setores prejudicados, exportados e importadores.
Na semana passada, por exemplo, o vice reuniu-se com a maior empresa de um dos setores mais próximos do bolsonarismo: o armamentista. Grande exportadora de revólveres para os Estados Unidos, a Taurus foi a Alckmin negociar ajuda para evitar o tarifaço.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) ajudou a mediar conversas com os empresários dos Estados Unidos. Os que importam tentam evitar o prejuízo. Por exemplo, os importadores de suco de laranja tentam lá nos EUA na Justiça evitar que o tarifaço os atinja. Naturalmente, caso consigam, abrem uma porteira para que outros setores também consigam o mesmo. Mas mesmo as empresas norte-americanas que exportam para o Brasil estão preocupadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem nas mãos a Lei da Reciprocidade. Em tese, pode retaliar. E abrir espaço para negociar com outros países.
Há ainda a pressão política. O trabalho que Eduardo Bolsonaro vem fazendo nos EUA no sentido de tentar sabotar os trabalhos da comissão de senadores que vai ao país esta semana provoca irritação no Congresso. Há na comissão aliados de Jair Bolsonaro.
Estão na comissão dois ex-ministros de Bolsonaro, que são representantes de setores que serão prejudicados pelo tarifaço. Tereza Cristina (PP-MS) representa o agronegócio. E o Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) ligado, por exemplo, à aeronáutica, à Embraer.
Outra pressão que cresce vem dos governadores. Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul, por exemplo, um oposicionista e presidenciável, declarou na quinta-feira (24) que o que a família Bolsonaro está fazendo ao apoiar o tarifaço é “imperdoável”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), embora tenha criticado Lula no processo, sugeriu uma reunião de governadores para tratar da ameaça de Trump. Ainda que não se alinhe ao governo, naturalmente Caiado não deseja que o tarifaço seja um sucesso.
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