Quando trabalhei no Correio Braziliense entre 84 a 87, Gilberto Amaral, então colunista social do jornal mais poderoso da corte, que Deus chamou hoje aos 87 anos, ainda no batente, era o que podia se afirmar de celebridade na elite candanga. Abria portas com a mesma velocidade que se infiltrava nas rodas mais fechadas do poder.
No povão, o jornal tinha outra celebridade entre os seus quadros: Mário Eugênio, editor de Polícia, assassinado com 11 tiros em frente à Rádio Planalto pela polícia do DF, a mando do secretário de Segurança, Lauro Rieht, um homem que fazia medo no olhar, que comandava grupos de exterminadores.
Leia maisCom Mário Eugênio, criei um elo de amizade muito forte. No dia anterior à sua morte, ele passou em minha casa, jantou e de lá seguimos para o Clube Primavera, em Taguatinga, onde participou do corpo de jurados do concurso Miss Primavera. Foi recebido como rei. Taguatinga é, ao lado da Ceilândia, uma das maiores concentrações de pobres da capital.
Já Gilberto Amaral morava no Lago, circulava entre os ricaços e poderosos. Apesar de colega de redação, só falei com ele uma vez, quando me pediu informações sobre um jantar na casa de Paulo Maluf, que eu estava como repórter plantonista do Correio.
Também eu era foca, ele famoso. Gilberto foi o colunista social mais antigo do País. No Correio, atuou por mais de 30 anos. Mandava igual a um diretor, mas foi demitido sumariamente pelo jornalista Ricardo Noblat sem motivos aparentes. Noblat também demitiu Marconi Formiga, paraibano, que fazia uma coluna mesclada com notícias sociais e políticas. Noblat passou por cima da história de Gilberto Amaral como um trator.
Mineiro, com carreira no rádio e na televisão, Gilberto Amaral chegou a Brasília dias antes da inauguração para ajudar na “epopeia” da mudança da capital. Deixou três filhos, Rodrigo, Bernardete e Marcelo; e a esposa, Mara, com quem foi casado por mais de seis décadas. Como colunista, circulou nos eventos mais prestigiados do DF e se tornou amigo de vários presidentes da República – teve Juscelino Kubitschek como padrinho de casamento, estabeleceu amizade com Costa e Silva, passou feriados na fazenda de Collor e conheceu todos os mandatários da nação desde 1959.
Conviveu com os militares, conheceu Rússia e Japão a trabalho e teve até um bate-papo com a rainha da Inglaterra, quando ela visitou Brasília e recebeu jornalistas para o tradicional beija mão.
Até os 84 anos permaneceu ativo com três programas na televisão, colunas sociais em dois veículos impressos e um blog. Em março de 2021, passou o bastão de sua coluna homônima no Jornal de Brasília para a colaboradora Lia Dinorah.
“Jornalismo é uma cachaça, difícil de largar”, dizia ele.
Com Gilberto, vira-se uma página do jornalismo em Brasília que a caneta era sinônimo de poder. Da sua geração ainda permanece na ativa, mas sem coluna social a jornalista Consuello Badra. Atuou por muito tempo no Jornal de Brasília como colunista social extremamente influente.
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