Assassinato do juiz é culpa do Estado
Na apuração do assassinato do juiz Paulo Torres Pereira da Silva, 69 anos, na quinta-feira da semana, em Jaboatão, sobrou para o Governo do Estado a fatura mais alta. De todas as suspeitas inicialmente levantadas – crime passional, vingança ou execução – assalto, conforme a polícia concluiu, foi terrível para a governadora Raquel Lyra (PSDB).
Quando a família perde alguém por uma tentativa de latrocínio – roubo seguido de morte – o que se deduz de imediato é que falta uma política de segurança pública. E a responsabilidade recai no Governo. Próximo a completar um ano de gestão, a governadora não pôs em prática nenhum programa de combate à violência.
Leia maisNa segurança pública, o Estado está, literalmente, às moscas. A violência campeia solta em qualquer região. Deixou de ser exclusividade da Região Metropolitana do Recife para se adentrar pelo Sertão afora, deixando todos os segmentos da sociedade apreensivos. A governadora parece ignorar o clamor da população, que teme sair às ruas.
Aliás, nem política salarial para quem faz a segurança existe no Governo dela. Ontem mesmo, policiais que atuam nas mais diversas áreas, de bombeiro ao pessoal científico e técnico, promoveram um grande protesto contra o Governo pela falta de abertura nas negociações salariais e na melhoria das condições de trabalho.
Pernambuco é o Estado que tem o maior número de mortes violentas por 100 mil habitantes em todo o Brasil, com base nos números oficiais da Secretaria de Defesa Social. São 35,3 assassinados a cada 100 mil residentes e a governadora vive no mundo da lua, cuidando de outros projetos que não levam a lugar nenhum, como a ferrovia Transnordestina, cuja empresa interessada, a Bemisa, já caiu fora.
O que ela gosta mesmo é de holofotes, de falar sobre sexo dos anjos e tanto blábláblás. O que o cidadão pernambucano precisa é de segurança, ter a certeza que saindo para trabalhar voltará com vida e em paz. Pelo menos por enquanto, o Governo dela não está garantindo e por isso mesmo ninguém confia nas suas palavras, que são como folhas secas, levadas na direção que o vento sopra.
Situação sem controle – Um motorista de aplicativo de 33 anos foi feito refém e roubado por criminosos que solicitaram uma corrida em Boa Viagem, no último domingo. O assalto foi filmado por uma câmera de segurança que o motorista havia instalado no veículo. Nas imagens, em vídeo postado no portal G1, da TV-Globo, é possível ver três homens no carro, um deles no banco de passageiro dianteiro e os outros dois, no banco traseiro.
Magistrado reagiu ao assalto – Um dos suspeitos pela morte do juiz confessou que o magistrado reagiu à tentativa de assalto. Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, os suspeitos presos foram indiciados por latrocínio. Eles foram identificados pelo TJPE como Kauã Vinícius Alves da Rocha, Esdras Ferreira de Lima e Alcides da Silva Medeiros Júnior. Somente Kauã confessou o crime.
O crime – O juiz Paulo Torres Pereira da Silva foi assassinado a tiros no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, enquanto dirigia o próprio carro. Ele foi cercado por criminosos que dispararam contra o veículo e fugiram do local. Segundo as investigações, o crime aconteceu por volta das 20h na Rua Maria Digna Gameiro, a cerca de 300 metros da casa do magistrado. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionada, mas o juiz já estava morto quando os socorristas chegaram.
TJ negou prisão – Um dos homens presos suspeito pelo assassinato do juiz Paulo Torres Pereira da Silva teve a prisão preventiva negada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco em abril deste ano. Alcides da Silva Medeiros Júnior foi denunciado pelo crime de homicídio, que teria sido praticado em janeiro de 2022. Segundo o Ministério Público, na época ele já integrava uma facção criminosa com atuação na região.
Latrocínio e organização criminosa – Alcides da Silva Medeiros Júnior foi preso na última segunda-feira junto a outros dois suspeitos pela morte do juiz Paulo Torres. Os criminosos foram encontrados próximos ao local do crime, na praia no Cabo de Santo Agostinho, em Gaibu. Após prestarem depoimento à polícia, Alcides, Kauã Vinícius Alves da Rocha e Esdras Ferreira de Lima foram autuados por crime de latrocínio e organização criminosa. Em depoimento, eles afirmaram que tentaram assaltar o magistrado que teria reagido à abordagem.
Curtas
Envelopar – A intenção do grupo, que segundo a polícia faz parte de uma facção criminosa do Estado, era “envelopar” de preto o veículo para escapar das investigações policiais e para que não sofressem represálias do tráfico.
Autorização – De acordo com os criminosos, eles tinham autorização para roubar na área, mas não matar. Os criminosos acreditavam que podiam ser punidos pelos traficantes por terem assassinado Paulo Torres. O delegado Roberto de Lima Ferreira pediu a prisão preventiva dos três criminosos, incluindo o crime de “organização criminosa”, “dada a sofisticação” na divisão de tarefas entre eles.
Perguntar não ofende: Cadê o plano de segurança, governadora?
Leia menos