Uma guerra civil no Brasil
Saiu, ontem, o segundo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O Brasil teve, em 2023, queda pelo terceiro ano seguido no número de homicídios. O País chegou ao menor patamar desde que a série histórica começou, em 2011, além de ser a primeira vez nesse período em que foram contabilizados menos de 47 mil óbitos.
Foram 46.328 homicídios no ano passado no Brasil, taxa de 22,8 casos para cada 100 mil habitantes. Isso equivale a uma queda de 3,4% ante o indicador do mesmo período de 2022. Mesmo com a tímida queda, o Brasil continua a viver uma guerra civil. Por hora, a média é de cinco assassinatos no Brasil. O número ainda é considerado mais alto não só do que a média mundial, mas em relação a outros países da América Latina.
Leia maisEm meio a esse cenário, especialistas reforçam a necessidade de medidas focadas em rotas do narcotráfico – que reúnem algumas das cidades mais violentas – e em excessos cometidos pela polícia. “O Brasil ainda continua respondendo por 10% de todos os homicídios do planeta e, em números absolutos, é o país que mais mata”, disse Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum, em entrevista ao Estadão.
Diante disso, segundo ele, há um caminho bem mais longo a ser percorrido que o de outros países. Os Estados que reúnem as maiores taxas são Amapá (69,9) e Bahia (46,5), onde, segundo especialistas, a atuação mais violenta da polícia se soma à forte presença do crime organizado para consolidar novas rotas do tráfico – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) são as principais facções do País.
SÃO PAULO, O MENOR – Os menores índices de homicídios em 2023 foram os de São Paulo (7,8) e Santa Catarina (8,9). O maior recuo em números percentuais foi em Rondônia (-14,2%), ainda que o Estado siga com taxa elevada (29,2%). Ocorreu piora em seis Estados: Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Amapá, com destaque para os dois últimos. Ainda assim, diferentemente do balanço do ano passado, agora houve queda nos indicadores em todas as regiões.

Quatro vezes maior que a taxa mundial – Os casos descritos como homicídios correspondem à contabilização de mortes violentas intencionais (MVI), criado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Considerado o principal indicador para aferir os níveis de violência do Brasil, ele agrega casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais. A taxa de mortes violentas intencionais no País, mesmo com as quedas recentes, é quase quatro vezes maior do que a taxa mundial de homicídios – de 5,8 para cada 100 mil habitantes, segundo dados reunidos pelas Nações Unidas (ONU).
UM ALENTO – “A boa notícia é que na maior parte dos países as mortes vêm caindo, e entre as grandes causas, há um componente demográfico importante, já que a população está envelhecendo”, afirma Lima. Historicamente, camadas mais jovens concentram a maior parcela de mortes violentas, sobretudo na população negra. “O Brasil está conseguindo ter redução maior do que a média da região. Isso é notícia boa, mas insuficiente, porque nossa taxa de mortes violentas, de 22,8, é 18,8% maior do que a média regional”, afirma.
REAÇÃO DO GOVERNO – Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que “trabalha pela articulação da rede de DHPPs (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), para aumentar a capacidade de investigação de homicídios pelas unidades especializadas, com vistas ao aumento da taxa de esclarecimento dos crimes em âmbito nacional”. Ainda de acordo com a pasta, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) tem reforçado parcerias com os Estados e o Distrito Federal em ações de inteligência e atuado de forma integrada com as polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal e Científica, e em conjunto com os Ministérios Públicos estaduais e Federal no combate ao crime organizado.

Pernambuco, terceiro mais violento – No mesmo levantamento, Pernambuco aparece como o terceiro Estado mais violento do País, abaixo apenas da Bahia e do Amapá. Em 2023, primeiro ano da gestão Raquel Lyra (PSDB), foram 3.638 mortes violentas em 2023. Na contramão da tendência nacional, o Estado teve 211 assassinatos a mais do que em 2022, último ano de Paulo Câmara. A taxa é de 40,6 para cada 100 mil habitantes.
CURTAS
SEM ESTRESSE – O desfecho do acordo de João Campos com Lula na composição da chapa com Victor Marques (PCdoB) se deu sem traumas. Em nenhum momento, o petista criou qualquer constrangimento para João deixar de ter a sua liberdade na escolha do companheiro de chapa.
ENCONTRO – Tão logo Lula e João bateram o martelo do fechamento da chapa, os presidentes nacionais do PT e PSB, Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, respectivamente, tiveram uma longa conversa para discutir o pós-entendimento. E também detalhes do anúncio de Victor na segunda-feira.
IRMÃO CANDIDATO – A família de Victor Marques tem ramificações políticas no Interior. Um irmão dele vai disputar a Prefeitura de São José do Belmonte, no Alto Sertão, com amplas chances de ser eleito.
Perguntar não ofende: Como se dará a reação do PT após o anúncio de Victor na segunda-feira?
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