O Plano Real, 28 anos depois
Passados 28 anos da adoção do Plano Real, que elegeu e reelegeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o pernambucano Gustavo Krause, ministro da Fazenda na gestão Itamar Franco, faz uma radiografia das políticas que conseguiram domar o dragão da inflação. “Foi o mais exitoso plano na história da construção de uma moeda forte”, destaca.
Leia maisPara ele, a cultura inflacionária foi alimentada pela cumplicidade aritmética entre os agentes econômicos, a indexação, e um armário de esqueletos financeiros e fantasmas institucionais que enfraqueciam gravemente a gestão macroeconômica. “A faxina econômica percorreu longo e penoso caminho desde a concepção do plano, do convencimento dos atores estratégicos como pressuposto da eficácia, até um gigantesco esforço de comunicação de FHC e equipe para obter um amplo consenso sobre o complexo e sofisticado projeto na esteira de repetidas frustrações”, diz.
Krause acrescenta que não bastava ter uma moeda forte. “Era preciso mantê-la de pé. Consolidá-la sobre os alicerces da cultura de estabilidade, do equilíbrio fiscal da Federação, dos avanços na privatização, na eficiência da governança e na capacidade de enfrentar crises internas e externas mediante a articulação de políticas fiscal, monetária e cambial”.
Em sua visão, enquanto persiste, a inflação cumpre um papel trágico: destrói os segmentos mais indefesos das sociedades. “O Brasil é um País desigual. Para crescer sustentavelmente, a estabilidade é condição insuficiente, mas necessária. A nossa memória inflacionária não sofre de amnésia. Estão de volta os assustadores dois dígitos da inflação e a peçonha dos desequilíbrios. No outro lado do “mundo”, refiro-me à Praça dos Três Poderes, sob o cabresto de Bolsonaro, nossos representantes se irmanaram e criaram o mega balcão eleitoral”.
“Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do particular”, profetizou, em 1627, Frei Vicente do Salvador. A PEC 1/2022 constitucionalizou o populismo e o monstruoso patrimonialismo. Transformou o erário numa fonte de recursos para injetar dinheiro na veia do eleitor. É um retrocesso civilizatório. R$ 41,2 bilhões é a conta a ser paga, pesadamente, pelos mais pobres. O dragão inflacionário e os rentistas agradecem”, complementa.
Emenda pix – O Orçamento, na visão de Krause, tem sido seguidamente profanado, culminando com a aprovação das Emendas do Relator, segundo ele, opacas, que ganharam o apelido de “emenda Pix” porque caem direto na conta das prefeituras, não sendo passível da fiscalização dos órgãos de controle, o que fere o princípio constitucional da transparência na gestão pública. “A rigor, o plano real não se limitou à criação da moeda forte. Foi muito além de eliminar a corrosão inflacionária. Foi e continua sendo um projeto político-institucional. Para enfrentar tentações autoritárias, o primeiro mandamento é defender as instituições que, mesmo imperfeitas, formam uma barreira contra a tirania”, afirma.
Ministro vapt-vupt – Em outubro de 1992, após uma série de indecisões entre os partidos que apoiavam Itamar Franco sobre quem iria assumir o comando da área econômica, Gustavo Krause aceitou o convite do presidente para assumir o Ministério da Economia, Fazenda e Administração, substituindo Marcílio Marques Moreira, mas sua passagem pela pasta só durou dois meses. A escolha de Krause causou surpresa no meio político, empresarial e financeiro, tendo repercutido na oscilação do índice Bovespa, que na data de sua posse fechou o pregão em queda de 7,9%. A responsabilidade pela condução da política econômica no primeiro ministério do governo Itamar Franco, no entanto, dividiu-se entre Krause e o ministro do Planejamento, Paulo Haddad.
Em recuperação? – O presidente Jair Bolsonaro (PL) acha que o Brasil enfrenta consequências econômicas decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia, mas afirma que a economia do País já começa a se recuperar. “Passamos por momentos difíceis, como a pandemia. Lamentamos as mortes. Consequências na nossa economia também por uma guerra lá fora. Mas essas questões são passageiras”, disse em fala na Marcha para Jesus, sábado passado, na zona norte de São Paulo.
Turismo em alta – Neste julho, mês de férias, a expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (Abih) prevê uma ocupação da rede hoteleira no Recife 10% superior a de julho do ano passado, quando 60,69% das vagas de hospedagem foram ocupadas na capital pernambucana. “O setor foi muito afetado pela pandemia”, afirmou Carlos Maurício Periquito, diretor executivo da Abih. Ele explicou que o setor hoteleiro tem um impulso muito grande nas férias do início do ano, por causa do verão no Nordeste, e que, no recesso de meio de ano, que ocorre no inverno, o benefício é menor.
Mainha, a abandonada – Os raros apoios que a pré-candidata do PSDB ao Governo do Estado, Raquel Lyra, tem conquistado aos trancos e barrancos, de olho no Palácio das Princesas, estão fazendo a travessia para o palanque de Marília Arraes, pré-candidata do Solidariedade. Uma das últimas a dar tchau à tucana foi a ex-prefeita de Bonito, no Agreste, Lúcia Heráclio. Levou todo o seu grupo político. Viu que “Mainha”, como a ex-prefeita de Caruaru é conhecida, é candidata olímpica.
CURTAS
NA ILHA – Em Fernando de Noronha, o presidente do Conselho de Turismo da ilha (Contur), Hayrton Almeida Menezes, acredita que o fluxo turístico ainda vai crescer neste mês de julho e disse que a ocupação dos leitos pode chegar a 75%, com a presença de muitos grupos familiares.
IMPUNIDADE – Seis meses após perder a patente por causa de denúncias de assédio sexual contra três mulheres, Maurício Gomes da Fonseca, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, continua trabalhando na corporação. Ele foi considerado culpado pela Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social, que pediu sua demissão. No entanto, o caso ainda tramita na Vara da Justiça Militar.
Perguntar não ofende: Será que na composição da sua chapa, Raquel Lyra adotou a máxima de Marco Maciel “quem tem tempo não tem pressa”?
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