Alckmin, o conversador, se fortalece
Na semana passada, quando esteve com o presidente Lula (PT), o prefeito do Recife e presidente nacional do PSB, João Campos, ouviu rasgados elogios do petista ao desempenho do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) na condução das negociações com empresários brasileiros na busca de soluções ao tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos produtos exportados pelo País aos americanos.
Principal rosto do governo nas negociações com o setor produtivo e definido por Lula como o “conversador número 1”, Alckmin foi alçado ao posto tão logo o presidente soube da ofensiva da Casa Branca. O movimento ocorre num momento em que cresce a pressão do PT para que o vice concorra ao Senado por São Paulo ou ao governo, em um arranjo que busca fortalecer o palanque do mandatário à reeleição.
Leia maisE, por isso, a decisão de dar protagonismo a ele vem sendo lida como um gesto que fortalece sua posição para se manter na chapa presidencial em 2026. Interlocutores de Lula no Planalto também consideram que a crise com os EUA e a melhora na popularidade do chefe do Executivo são favoráveis à permanência de Alckmin na vaga de vice. Há uma ponderação, no entanto, sobre o desfecho do caso: se as negociações fracassarem, haverá um desgaste também que pode entrar na conta dele.
Caso não haja contratempos, Alckmin fica onde está, na descrição desse grupo de auxiliares presidenciais. Eles apontam, porém, que o pragmatismo de Lula não o constrangeria de usar o posto se for necessário na busca por uma aliança mais ampla para espichar o tempo de propaganda eleitoral atraindo o centro, com legendas como MDB e PSD.
Petistas avaliam que na hipótese de o posto de vice ser oferecido ao centro, dificilmente legendas como MDB e PSD trariam apoio integral à reeleição, especialmente nos estados do Sul e Sudeste, em que integrantes das legendas têm mais alinhamento com os bolsonaristas. Já o PSB, sigla de Alckmin, apoia o petista em todo o país, conforme reiterou João durante o encontro na condição de presidente da legenda socialista.
CANDIDATO EM SÃO PAULO – Enquanto o PSB firma a posição pelo lugar na chapa, dirigentes petistas ressaltam que Alckmin seria um nome competitivo para, junto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disputar a eleição em São Paulo no próximo ano. “As eleições de 2026 são tão importantes que todas as nossas grandes lideranças terão de cumprir missões. Vamos conversar com o PSB e o Alckmin — disse em entrevista ao Globo na semana passada o presidente do PT, Edinho Silva.

João cumpre seu papel – Em entrevista aos jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto, tão logo saiu do encontro com Lula, o presidente do PSB, João Campos, foi categórico no recado implícito frente aos petistas para fortalecer o aliado Alckmin à reeleição na chapa de Lula: “Alckmin tem buscado soluções que garantam previsibilidade, respeito aos acordos internacionais e a valorização do que o Brasil produz com qualidade. É um exemplo de servidor público que alia equilíbrio, experiência e espírito público”, disse.
Confortável na vice – A articulação buscaria um palanque competitivo para Lula em um Estado onde Bolsonaro venceu em 2022 e que avalia positivamente a gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Há ainda um outro fator na conta. Caso o chefe do Executivo estadual desista da reeleição para tentar o Planalto ou mesmo sofra desgastes derivados dos impactos do tarifaço, segundo essa avaliação, poderia se abrir um vácuo político que a base lulista tentaria conquistar. Apesar das movimentações, o entorno de Alckmin nega que o olhar já esteja em 2026, mas admite que ele se sente confortável como vice.
Ouve mais do que fala – As conversas sobre o futuro político de Geraldo Alckmin ocorrem em paralelo às negociações diplomáticas e comerciais. No primeiro encontro com o setor produtivo, o vice-presidente mais ouviu do que falou e evitou projeções, tom que foi modulando com o passar do tempo. Nas reuniões seguintes, por mais de uma vez, disse que a prioridade do governo era abrir o diálogo para derrubar a taxação antes de 1º de agosto, o que parece cada vez mais improvável. Além dessa mesa de negociações, Alckmin coordena as conversas com a Embaixada dos Estados Unidos, que ocorrem em caráter reservado.

A pedra do meio do caminho de Conrado – A lembrança do nome da prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, para compor a chapa de João Campos a governador nas eleições de 2026, na condição de mulher e representante do PT, esbarra num problema de natureza política local: Faeca, o vice-prefeito da petista, é filiado ao Avante, partido alinhado à governadora Raquel Lyra, comandado a mão de ferro pelo ex-deputado federal Sebastião Oliveira, que é candidato a deputado estadual. Para complicar, o marido de Márcia, Breno Araújo, já foi lançado por ela para disputar um mandato na Alepe, virando, assim, concorrente de Sebá, como é conhecido o dirigente do Avante.
CURTAS
AUSÊNCIA– Por falar em Serra Talhada, a governadora Raquel Lyra (PSD) esteve no município na quinta-feira passada para assinar a ordem de serviço de uma barragem, mas não teve a companhia da prefeita Márcia Conrado (PT) não por questões políticas, mas porque a gestora petista se encontra no Recife dando assistência a uma filha que se internou em consequência de complicações decorrentes de uma virose.
MALDADE – Márcia, aliás, cancelou todos os compromissos em Serra Talhada, inclusive sua presença no lançamento do meu livro “Os Leões do Norte”, na sexta-feira passada, sendo representada pelo vice-prefeito Faeca. Os maldosos e fofoqueiros, entretanto, se encarregaram de espalhar que a prefeita boicotou a agenda de Raquel para agradar a João Campos.
PODCAST – Ministra da Ciência e Tecnologia e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos é a entrevistada de amanhã do meu podcast “Direto de Brasília”, em parceria com a Folha de Pernambuco. Em pauta, suas ações na pasta, a crise nacional e sua visão em relação às eleições presidenciais de 2026.
Perguntar não ofende: Até quando o PT vai insistir na tentativa de queimar Alckmin na chapa de reeleição de Lula?
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