Centrão: Eu sou você ontem, Zé Mané!
Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Que tal o Centrão?! Isto é novidade velha. Veio da Constituinte de 1988, de nome palatável Centro Democrático. O deputado pernambucano Ricardo Fiuza (PFL), falecido em 2005, pontificava no centro de gravidade, como articulador e cérebro pensante. O deputado Gilson Machado Filho (PFL) vinha em segundo plano. Havia uma disputa ideológica silenciosa entre eles.
O artigo a seguir foi publicado em 06.11.1987 no Diario de Pernambuco. Antes o Centrão era ideológico, hoje é fisiológico. Mudou o fenótipo, a forma, o genótipo, o DNA, continua o mesmo. É história viva. Confiram:
“O Centrão, que está à direita, agita a Constituinte. Colhe assinaturas para mudar o regimento e permitir apresentação de novas emendas. As últimas contas indicavam a adesão de 286 parlamentares do total de 587 constituintes. Seriam 286 partidários da direita que investem na desestabilização da Constituinte? Longe disso. Os que assinaram o documento do chamado Centro Democrático vislumbram a perspectiva de modificar o regimento para apresentar novas emendas sem comprometimento ideológico.
“Apesar de estar na moda dizer que a Constituinte gera um monstrengo, cabe reconhecer importantes avanços. Aí é que o Centrão não perdoa. Falar mal da Constituinte é a palavra de ordem, dizer que produz um texto prolixo e contraditório, repleto de absurdos. Em linguagem grosseira a chamam de “Prostituinte”.
Agressão injusta. Sem ser jurista já dá para conferir nos primeiros capítulos. O dos “Direitos e liberdades fundamentais”, por exemplo. Deve ser extenso, mas já dá para enxugá-lo. Vai da livre manifestação de pensamento ao “Habeas Data”, que permite aos cidadãos obterem informações pessoais a seu respeito, em entidades particulares, públicas ou oficiais.
“Num ponto o substitutivo da Constituinte merece críticas unânimes: o detalhismo, a floresta de artigos. Mas dá para podá-los, chegar a um documento mais sintético. Quem investe contra a Constituinte não vai por aí, não quer podar as árvores, quer tocar fogo na floresta. A alegação é que está sendo obra de uma minoria radical. Na Comissão de Sistematização, “minoria radical” quer dizer 47 votos, metade mais um de 93. Num conjunto de 93, sistema de base 10, a aritmética milenar ensina que minoria seria menos ou igual a 46. O que não confere com as contas dos aliados do Centrão. Para estes, a operação preferida é subtrair credibilidade da Constituinte para apostar no pior. A quem interessa dizer que todos os políticos representam uma tragédia? Quem gostaria que fosse fechado o Congresso e imperasse a lei do arbítrio.
“Posicionado à direita, o Centrão vislumbra na maioria insatisfeita uma massa de manobra. Nessa etapa final dos trabalhos na Comissão de Sistematização, os sinais são sintomáticos de que há um esforço redobrado para entornar o caldo. E os setores mais consequentes querem, ao contrário, decantar o caldo”.
Arriba, leitores Magnaneanos, paraibanos, gregos e troianos de Pernambuco, Urbi et Orbi.
*Periodista e escritor