Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Zé Nêumanne Pinto é um tecelão de palavras. Com as tintas e as fibras do coração, manufaturou mais um livro de poesias, desta vez “Antes de Atravessar”. Assim feito o bicho-da-seda que tece vestimentas de fios de ouro para o Rei Salomão, o poeta Neuma tece versos, poemas, cantigas.
O bicho atravessou os sertões da Parahyba, o Vale do Rio do Peixe, as estradas de Uiraúna, cidade pequena, porém decente, as campinas da Serra da Borborema, as praias de Tambaú em João Pessoa até aterrissar na Pauliceia Desvairada.
O livro evoca a mãe Dona Mundika, que lia para ele na infância poemas das Espumas Flutuantes de Castro Alves (Dona Mundika era “afável, posto que estrábica”, como dizia Drumond), o pai Seu Anchieta Pinto, nas estradas do Sertão, memórias avoengas dos tempos de menino, as três irmãs ceguinhas emboladeiras na feira, os cinemas Capitólio e Babilônia, a Rádio Caturité, os ídolos da adolescência, os filmes de Glauber Rocha, as proezas de Zé Limeira e o Velho Tomé de Sousa ao lado de Orlando Tejo no açude de Bodocongó. Saudade maltrata.
Leia maisZé Nêumanne é arriado os quatro pneus pela regente da Isabelândia, a Madonnella da Rainha da Borborema. Ele é o tecelão da Isabelândia.
“Meu amor por você tem chama de vela e fulgor de estrelas. // Meu amor por você é forte que nem Sansão e frágil qual um bebê. // Meu amor por você fere como espinho e cheira feito jasmim”.
A gente somos todos Zés lá da Parahyba, do Vale do Rio do Peixe, do Sertão das Espinharas de Patos, da Rainha da Borborema, do Território Livre de Princesa Isabel, do por do sol em Cabo Branco ao som do Bolero de Ravel, do xaxado de Ravel ou do rock n’roll de Ravel. Somos os Zé Limeira, Zé Américo de Almeida, Zé Lins do Rego, Zé Gomes Filho/Jackson do Pandeiro!
O menino grande de Dona Mundica e Seu Anchieta Pinto plantou livros, filhos e açucenas. Nos tempos da Inocência em Campina Grande, cidade do algodão e dos tropeiros, a gente sentava praça na praça do cinema Capitólio e nos bancos escolares do Colégio Estadual da Prata. Ainda quase menino Nêumanne pegou um Ita e foi sentar praça na Pauliceia Desvairada. Começou a trabalhar como periodista na Folha de S. Paulo, lugar de gente grande. Vim, vi e venci, proclamou. A catraca do tempo rodou.
Zé Grandão do Vale do Rio do Peixe sentou praça na Academia Paraibana de Letras, ao contemplar as catedrais imensas no coração do poeta Augusto dos Anjos. Ele tece cantigas de amor para sua musa Isabel, a regente da Isabelândia, e cantigas de ninar para seu pimpolho Artur. O nome do filho evoca o genial poeta francês Arthur Rimbaud (ídolo de Nêumanne), que abandonou a poesia precocemente para mergulhar no turbilhão da vida sem fantasias literárias.
Arriba, paraibanos, jacksonpandeirianos, pernambucanos, paulistanos, ucranianos, gregos e troianos!
*Periodista e escritor
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