O alto custo do projeto, no entanto, termina colocando o Metrô em segundo plano, concentrando os estudos mais avançados em soluções mais factíveis, como o VLT, os monotrilhos e o BRT. Ainda assim, os modais sobre trilhos são predominantes entre as soluções propostas pelo BNDES para a capital pernambucana e cidades vizinhas.
De acordo com a versão mais recente do estudo, o Boletim Informativo nº 4, o Recife tem potencial para mais do que dobrar sua rede de transporte público coletivo de média capacidade (TPC-MAC) nas próximas três décadas, acrescentando 81 quilômetros (km) à sua rede atual, que conta com 68 km.
Ao todo, o levantamento se concentra em seis projetos de sistemas de BRT, VLT ou monotrilho que poderiam ser implementados nas próximas décadas. As propostas foram selecionadas entre 15 soluções avaliadas na primeira etapa do estudo, tendo como base obras já cogitadas, em algum momento, para a RMR.
As intervenções estudadas incluem as linhas Igarassu-Joana Bezerra e Oeste Derby-São Lourenço, de uma eventual expansão do metrô, além do Corredor Norte-Sul (VLT), do Corredor BR-101 (VLT, BRT ou Metrô), do Corredor da Avenida Norte (VLT, BRT ou Metrô) e do Corredor da Avenida Agamenon Magalhães (VLT, BRT ou Metrô). Os três últimos projetos teriam modais sobrepostos.
Já a expansão da rede de trens urbanos operados a diesel pela CBTU, a exemplo da linha Cabo – Suape (Trem); a extensão da linha Sul de Cajueiro Seco a Suape (Metrô) e várias linhas de VLT (como Largo da Paz, Tancredo-Werneck, entre outras) foram descartadas por apresentarem demanda muito baixa.
Projetos
O detalhamento de cada uma das seis intervenções selecionadas ainda será divulgado na próxima etapa do estudo, atualmente em elaboração, pelo Banco de Projetos. Nessa fase, prevista para durar até o fim do próximo mês, cada proposta contará com informações detalhadas sobre traçado, tecnologia, estimativas de investimentos, custos operacionais e benefícios esperados.
Dos 15 projetos iniciais avaliados, quatro são oriundos da Prefeitura do Recife (um VLT e três corredores exclusivos de ônibus), quatro do Governo de Pernambuco (dois BRTs, um VLT e um monotrilho) e sete (já excluindo o trem a diesel) do governo federal (expansão do metrô).
As cinco novas linhas propostas para o Metrô Recife teriam um custo aproximado de R$ 10 bilhões, uma média de R$ 2 bilhões por projeto, enquanto, comparativamente, o VLT do Corredor Norte-Sul custaria R$ 698 milhões. De todos projetos, apenas esse último tem estudo prévio de demanda realizado.
Resultados Esperados
Com a expansão projetada, a malha de transporte coletivo do Grande Recife saltaria para 150 km até 2054, representando um acréscimo de 119% na infraestrutura existente, caso os investimentos necessários sejam viabilizados. Na prática, isso significaria que o número de pessoas atendidas diariamente por corredores de transporte mais eficientes poderia quase dobrar, passando de 462,3 mil para 838,8 mil usuários.
O impacto dessa possível expansão iria além dos números absolutos. O índice PNT (People Near Transit), que mensura o percentual da população que reside no raio de até 1 km de estações de sistemas de transporte público, a proporção de pessoas transportadas poderia passar dos atuais 21,8% da população para 45,9%, mais do que dobrando.
Em outras palavras, quase metade dos moradores da Região Metropolitana do Recife teria acesso facilitado a um sistema de transporte coletivo eficiente, contra o pouco mais de um quinto, atualmente.
“O investimento em corredores de transporte mais eficientes é uma política pública necessária para ampliar o acesso a oportunidades e melhorar a qualidade de vida das pessoas, especialmente das populações mais carentes”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em nota enviada ao Diario.
Segundo ele, além dos benefícios diretos para a mobilidade, a expansão projetada para Recife poderia ter “efeitos também para redução do número de acidentes e das emissões de poluentes e gases do efeito estufa, além do melhor uso do espaço público”.
Cenário Nacional
A projeção para Recife faz parte de um estudo mais amplo que analisou as 21 maiores regiões metropolitanas do país. No cenário nacional, o ENMU prevê uma possível expansão de aproximadamente 2,5 mil quilômetros nas redes de transporte público coletivo de média e alta capacidade até 2054, incluindo novos trechos de metrôs, trens, VLTs, BRT e corredores exclusivos de ônibus, caso os projetos sejam implementados.
Detalhando essa potencial expansão, o estudo projeta mais 323 km de linhas de metrô, 96 km de trens urbanos, 1.930 km de sistemas de BRT, VLT ou monotrilho, além de 157 km de corredores de ônibus. Atualmente, as 21 regiões metropolitanas pesquisadas, distribuídas nas cinco regiões do país, somam 2.007 km de rede de transporte público.
“Estamos fortalecendo o planejamento urbano com base em dados concretos, que nos permitem identificar prioridades e orientar ações de médio e longo prazo. Nosso foco, com a mobilidade urbana, é tornar o transporte coletivo mais eficiente, dinâmico e sustentável, assegurando qualidade de vida à população. Reduzir o tempo de deslocamento, com conforto e segurança, transforma a forma como as pessoas vivem, acessam oportunidades e se relacionam com as cidades”, destacou o ministro das Cidades, Jader Filho, também por meio de nota.
Confira 15 projetos estudados pelo BNDES:
Prefeitura do Recife
1. Corredor Norte-Sul
Modal: VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)
Extensão: 22,2 km
Demanda estimada: 176.000 passageiros/dia
Responsável: Prefeitura do Recife
Status: Estudo elaborado em 2022, com previsão de implantação para 2030
Abrangência: Município do Recife
2. Arquiteto Luis Nunes
Modal: Corredor Exclusivo de Ônibus
Extensão: 3,3 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Prefeitura do Recife
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
3. Binário Antônio Falcão / Félix de Brito
Modal: Corredor Exclusivo de Ônibus
Extensão: 4,0 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Prefeitura do Recife
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
4. Binário Jean Emile Favre / Raimundo Diniz
Modal: Corredor Exclusivo de Ônibus
Extensão: 3,6 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Prefeitura do Recife
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
Governo de Pernambuco
5. Corredor BR-101
Modal: Inicialmente proposto como BRT (Bus Rapid Transit), mas a tecnologia pode ser reavaliada
Extensão: 30,6 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Estado de Pernambuco
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife e Paulista
6. Monotrilho Macaxeira-Pina
Modal: Monotrilho
Extensão: 17,5 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Estado de Pernambuco
Status: Estudo elaborado em 2015, sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
7. Corredor Avenida Norte
Modal: Inicialmente proposto como BRT (Bus Rapid Transit), mas a tecnologia pode ser reavaliada
Extensão: 10,0 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Estado de Pernambuco
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
8. Eixo Boa Viagem – Sul
Modal: Inicialmente proposto como VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), mas a tecnologia pode ser reavaliada
Extensão: 15,0 km
Demanda estimada: Não disponível
Responsável: Estado de Pernambuco
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
Governo Federal (CBTU)
9. Linha Cabo – Suape
Modal: Trem Urbano
Extensão: 12,0 km
Número de estações: 5
Custo estimado: R$ 533 milhões
Responsável: CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos)
Status: Estudo elaborado em 2017, sem previsão de implantação definida
Abrangência: Municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca
10. Linha Cajueiro – Macaxeira
Modal: Metrô
Extensão: 19,8 km
Número de estações: 13
Custo estimado: R$ 3,5 Bilhões
Responsável: CBTU
Status: Estudo elaborado em 2017, sem previsão de implantação definida
Abrangência: Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife
11. Linha Igarassu – Joana Bezerra
Modal: Metrô
Extensão: Não especificada no documento extraído
Responsável: CBTU
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Região Metropolitana do Recife
12. Linha Largo da Paz – Forte do Brum
Modal: VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)
Extensão: 5,0 km
Número de estações: 8
Custo estimado: R$ 330 milhões
Responsável: CBTU
Status: Estudo elaborado em 2017, sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
13. Linha Cajueiro – Suape
Modal: Metrô
Extensão: 16,0 km
Número de estações: 11
Responsável: CBTU
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca
14. Linha Oeste Derby – São Lourenço
Modal: Metrô
Extensão: 18,0 km
Número de estações: 15
Custo estimado: R$ 2,2 bilhões
Responsável: CBTU
Status: Estudo elaborado em 2017, sem previsão de implantação definida
Abrangência: Municípios de São Lourenço da Mata, Camaragibe e Recife
15. Linha Noroeste Macaxeira – Cruz Cabugá
Modal: Metrô
Extensão: 8,0 km
Número de estações: 10
Responsável: CBTU
Status: Sem previsão de implantação definida
Abrangência: Município do Recife
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