Já escrevi muito sobre meu pai Gastão Cerquinha, um homem além do seu tempo, fino, extremamente educado e humano. Depois da sua morte, em 2022, choro quase todos os dias de saudade. Acho que se juntasse tudo, daria um compêndio, incluindo minhas declarações de amor à minha mãe Margarida, a flor do meu jardim, de quem herdei o temperamento, o pavio curto e a brabeza.
Com eles, aprendi a viver. Entre as lições, aprendi que a honestidade e a integridade são valores que devem ser cultivados acima de tudo. Embora apaixonado pela minha mãe, que me chamava carinhosamente de “Maguinho”, como homem me espelhei fortemente no meu pai. A preferência de um filho homem pelo pai, em comparação com a mãe, é um fenômeno comum durante o desenvolvimento infantil.
Leia maisPode ser explicada por diversos fatores, como identificação com o gênero, busca por segurança e o papel desempenhado pelo pai no ambiente familiar. A partir de certa idade, crianças do sexo masculino tendem a se identificar com o pai, vendo-o como um modelo de masculinidade e buscando se aproximar dele para aprender sobre o que significa ser homem.
O pai, muitas vezes, é percebido como uma figura mais forte e protetora, o que pode gerar uma sensação de segurança e conforto para o filho, especialmente em momentos de medo ou incerteza. Como todo filho homem, com meu pai isso se deu fortemente. Sábio, meu pai sempre me ensinou a importância do trabalho duro e da perseverança, qualidades que levo comigo até hoje.
Meus amigos dizem que trabalho muito. E é fato! Eduardo Monteiro, amigo-irmão, que tem uma disposição invejável para a labuta diária, administrando usinas, jornal e rádio, já me disse, brincando, que diante de mim ele é o pai do ócio. Papai trabalhava dia e noite. Não sei onde arranjava tanta energia e tempo para ser servidor federal dos Correios e Telégrafos, comerciante, fazendeiro, escritor e político (quatro mandatos de vereador e um de vice-prefeito de Afogados da Ingazeira).
Papai também foi um gentleman! Um homem que praticou o amor, acima de qualquer coisa. A maior lição que aprendi com ele foi amar incondicionalmente e valorizar o ser humano. Meu pai me mostrou que a verdadeira força reside na humildade e na capacidade de perdoar. Com ele, aprendi a fazer o impossível, até para conseguir ser diferente no mundo.
Papai me ensinou até a embalar ovos no silêncio da noite no Sertão, quando, carinhosamente, preparava caixas e mais caixas de ovos de capoeira para mandar aos amados filhos no Recife. Para ele, o ovo era um dos maiores nutrientes, a proteína ideal para dar força e disposição ao trabalho. Meu pai foi meu primeiro herói! Sempre será minha maior inspiração.
Agradeço a ele por cada conselho, cada ensinamento e por todo o amor que me dedicou. Não importa o que aconteça, levarei para sempre comigo os valores e princípios que aprendi com ele, no alto da sapiência dos seus cabelos brancos, seu sorriso encantador e sua voz mansa tratando todo mundo de “Beleza”. Com meu pai, aprendi que a vida é uma jornada de aprendizado constante.
Aprendi que devemos aproveitar cada momento. Seus passos, mesmo no avanço do tempo, sempre foram mais rápidos do que os meus. Nunca, por mais que me esforce, leia, estude, reflita e busque conhecimento, alcançarei a sabedoria dele. Me inspiro no seu amor e na sua paciência para construir as bases de quem sou e do que desejo aos meus filhos.
Quando penso sobre o que é ser pai, os bons exemplos dele me ajudam a encontrar as palavras certas, as atitudes mais corretas, o melhor caminho para nunca desistir. Um pai presente como ele foi é uma luz que guia o peregrino durante sua longa jornada, oferece conforto no lugar do calor, dá abrigo e segurança nos momentos mais difíceis da vida.
O legado de uma família se constrói de geração em geração e, com certeza, pai é peça fundamental para manter essa chama familiar acesa, seja por costumes ou por valores. Ao pai, vale a gratidão, porque é ele que faz tudo para manter um bom legado.
Papai adorava Roberto Carlos, provavelmente por esta canção, que o fazia ir às lágrimas com saudade do meu avô Augusto: “Eu já lhe falei de tudo, mas tudo isso é pouco diante do que sinto. Olhando seus cabelos, tão bonitos, beijo suas mãos e digo: meu querido, meu velho, meu amigo!”
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