A Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu um dossiê de 68 páginas, em junho deste ano, contendo diversas denúncias contra a administração da Santa Casa de Misericórdia do Recife. O material foi produzido por um ex-assessor do superintendente da instituição, padre Claudionor Alves de Lima. O rapaz trabalhou no local entre abril de 2024 e maio de 2025.
Este blog teve acesso ao documento, repleto de detalhes, fotos e prints de conversas que buscam comprovar a veracidade das informações. Entre as denúncias, estão supostas contratações de funcionários em sistema de apadrinhamento por vínculos afetivos; práticas recorrentes de assédio moral, abuso psicológico e humilhações públicas dentro da Santa Casa; contratos com consultorias fantasmas, sem prestação de serviço compatível com os valores recebidos; e ações que indicam desvios como “rachadinhas” e favorecimento político.
Leia maisCartão corporativo, cursos e casa de Itamaracá

O dossiê também aponta a existência de um cartão corporativo com limite mensal aproximado de R$ 60 mil registrado em nome do Arcebispo Metropolitano Dom Paulo Jackson Nóbrega de Souza, presidente estatutário da Santa Casa. De acordo com as denúncias, o cartão seria usado pelo padre Claudionor Alves de Lima de forma indevida.
“As faturas revelam compras de natureza pessoal — refeições em restaurantes de alto padrão, passagens aéreas de terceiros, hospedagens e itens de consumo doméstico — sem qualquer correlação com as atividades institucionais ou pastorais do titular formal”, afirma o denunciante em um trecho do dossiê.
O ex-assessor também expõe que teria sido instruído a realizar dois cursos de pós-graduação em nome do padre Claudionor Alves, mas sem a participação direta do superintendente. Além disso, ele afirma que há um projeto pessoal do gestor intitulado “Casa de Itamaracá”, supostamente bancado pela Santa Casa.
Câmeras ocultas, comercialização de consultas e assédio sexual
Ainda segundo as denúncias, teriam sido instaladas câmeras de videomonitoramento dentro da Santa Casa sem o conhecimento dos funcionários. “Durante minha permanência na Santa Casa, tornou-se evidente o estabelecimento de uma cultura institucional baseada no controle pelo medo e na vigilância oculta. Foram instaladas câmeras clandestinas em espaços não autorizados, incluindo o setor do Arquivo Histórico e áreas administrativas internas, sem aviso prévio aos colaboradores, sem placas indicativas e sem anuência formal da diretoria colegiada”, relata o denunciante.



O ex-assessor também declara no dossiê a existência de comercialização de consultas médicas dentro da estrutura da Santa Casa; favorecimento ilícito; conluio para acobertar fraudes contábeis; e assédio sexual em ambiente institucional.

O que disse a Santa Casa
Procurada pela reportagem, a Santa Casa de Misericórdia do Recife não se manifestou oficialmente. A Arquidiocese de Olinda e Recife, no entanto, enviou uma nota na qual confirma o recebimento do dossiê e a abertura da investigação.
Confira a íntegra da nota:
“Nota Oficial – Arquidiocese de Olinda e Recife
A Arquidiocese de Olinda e Recife informa que recebeu a correspondência e o dossiê contendo acusações, plenamente ciente da importância e da seriedade das questões apresentadas. Em estrita observância às normas canônicas, foi instaurado de imediato o procedimento de Investigação Prévia, que visa apurar com rigor e imparcialidade todos os fatos narrados.
O referido procedimento consiste, fundamentalmente, na análise minuciosa dos documentos apresentados, bem como na oitiva de todas as partes envolvidas e das eventuais testemunhas, garantindo-se ampla defesa e contraditório.
Cumpre ressaltar que, neste momento, inexiste qualquer responsabilização ou juízo de valor acerca dos fatos, uma vez que se trata de etapa prévia e essencial para a verificação da verossimilhança das alegações. Reforçamos o compromisso com o respeito à presunção de inocência, assegurando que nenhum membro da Igreja será considerado culpado antes da devida apuração dos fatos e do regular trâmite do processo administrativo (Processo Canônico), caso este venha a ser instaurado.
A Investigação Prévia tem como único propósito esclarecer de forma objetiva e transparente todas as circunstâncias que envolvem as acusações. Ao final, caso se constate indícios suficientes de veracidade, poderá ser instaurado o Processo Canônico para apuração aprofundada. Não havendo elementos mínimos de verossimilhança, o procedimento será arquivado de imediato.
A Arquidiocese reafirma seu compromisso com a verdade, a justiça e o devido processo legal, colocando-se à disposição das autoridades competentes e da sociedade para quaisquer esclarecimentos adicionais.”
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