Por Cláudio Soares*
A soberania de uma nação vai muito além das fronteiras geográficas e da capacidade de defesa militar. Ela se manifesta na capacidade do Estado de garantir o bem-estar de seus cidadãos, assegurar a justiça, promover o desenvolvimento e manter a ordem social.
No entanto, quando nos deparamos com um cenário onde a população idosa tem seu dinheiro roubado, o saneamento básico é um luxo para metade dos habitantes, a impunidade se alastra, as facções criminosas ditam regras e a corrupção é uma mancha indelével nas instituições, a questão que se impõe é: “Que soberania é essa?”.
Leia maisA crise de soberania em um contexto como o descrito é multifacetada. O roubo de aposentadorias não é apenas um crime financeiro, é um ataque direto à dignidade de quem dedicou uma vida ao trabalho, minando a confiança no sistema previdenciário e na capacidade do Estado de proteger seus cidadãos mais vulneráveis.
Da mesma forma, a ausência de saneamento básico para uma parcela tão significativa da população não é apenas um problema de infraestrutura; é uma questão de saúde pública, dignidade humana e direito fundamental, que expõe a ineficiência e, por vezes, a inoperância do poder público.
A impunidade generalizada é um dos pilares que sustenta a fragilidade da soberania. Quando crimes, sejam eles pequenos ou de grande repercussão, não são devidamente investigados e punidos, a sensação de desordem se instala, incentivando a transgressão e enfraquecendo o Estado de Direito.
Esse ambiente é o terreno fértil para o avanço das facções criminosas, que, diante da ausência ou da ineficácia do poder estatal em certas regiões, assumem o controle, impõem suas próprias leis e subjugam comunidades inteiras. A soberania do Estado, nesses casos, é diretamente desafiada e, em muitos aspectos, suplantada pelo poder paralelo.
Por fim, a corrupção endêmica nas instituições é o câncer que corrói a base da soberania. Ela desvia recursos que poderiam ser aplicados em serviços essenciais como saúde, educação e saneamento, perpetua a desigualdade, descredibiliza os órgãos públicos e afasta a população da participação política. Quando a própria estrutura que deveria garantir a soberania é permeada pela ilegalidade, o conceito se esvazia, deixando em seu lugar um vácuo de confiança e efetividade.
Diante de tal panorama, a pergunta “Que soberania?” se torna um clamor por uma reflexão profunda e por ações concretas. A verdadeira soberania se constrói e se sustenta na capacidade de um país de garantir justiça, bem-estar e segurança para todos os seus cidadãos, combatendo de frente as mazelas que a ameaçam e reafirmando, a cada dia, o compromisso com o Estado de Direito e a dignidade humana.
A reconstrução dessa soberania passa, necessariamente, pelo fortalecimento das instituições, pelo combate implacável à corrupção e à impunidade, e pela garantia dos direitos básicos a cada indivíduo.
Por outro lado, a administração do presidente Lula tem enfrentado uma série de críticas que, na minha percepção, indicam um cenário de instabilidade. A inflação iminente e o descompasso entre gastos e arrecadação têm sido pontos de destaque, levantando questionamentos sobre a saúde fiscal do país. Paralelamente, o desemprego e a crise com o Congresso Nacional são apontados como questões persistentes, afetando diretamente a população.
Denúncias de corrupção no INSS adicionam uma camada de má gestão, enquanto as críticas se estendem à política externa do governo. Os encontros com líderes de regimes autoritários e sanguinários e declarações desastrosas têm gerado forte repercussão negativa. Adicionalmente, a figura da primeira-dama, Janja, é mencionada como um fator que, para muitos, afeta a imagem presidencial.
Nesse contexto de queda nas pesquisas de popularidade, observa-se uma narrativa por parte do governo e de seus apoiadores que tende a atribuir agora parte dos problemas e críticas a fatores externos, como a influência de figuras como Donald Trump e Eduardo Bolsonaro. Essa estratégia, segundo a perspectiva apresentada, buscaria desviar o foco de uma gestão fraca e os problemas internos do terceiro mandato do governo petista.
*Advogado e jornalista
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