Por Osvaldo Matos Júnior*
Só defende a inexistência de um hospital militar quem não faz ideia do que significa viver na linha de frente da guerra urbana que assola Pernambuco. Quem enxerga como “privilégio” a assistência médico-hospitalar exclusiva a policiais e bombeiros militares desconhece o risco permanente a que esses profissionais – e suas famílias – estão expostos. Falta sensibilidade. Falta visão de Estado.
Há uma perigosa banalização do sofrimento do agente de segurança pública, tratado como descartável pelo próprio governo que deveria protegê-lo. A ausência de um hospital estruturado e exclusivo é mais que uma negligência: é uma aposta na sorte. Jogar um policial ferido numa emergência comum, ao lado de criminosos que combateu horas antes, é mais que imprudente – é desumano. Já houve retaliações. Já houve mortes. E mais virão, se nada for feito.
Leia maisEm Pernambuco, o Hospital da Polícia Militar (HPM) foi idealizado na década de 1930 e inaugurado em 1940, para atender a um efetivo pequeno. Tornou-se, por décadas, uma referência em saúde no estado. Mas, hoje, vive à míngua: sem recursos humanos, sem equipamentos e com parte de suas clínicas fechadas por absoluta falta de pessoal. Médicos, psicólogos, dentistas, enfermeiros e técnicos se aposentaram, e o Estado não repõe os quadros há anos. O resultado é o sucateamento progressivo da estrutura que deveria cuidar de quase 20 mil policiais e bombeiros ativos, além dos inativos e pensionistas.
Para sua manutenção o Estado de Pernambuco envia do orçamento em torno de R$ 3,5 milhões mensais. Outros R$ 4,2 milhões vêm de descontos diretos nos contracheques dos próprios militares. É com esse orçamento apertado que o HPM tenta sobreviver. Chega a ser cruel.
E mais grave ainda é ver autoridades – inclusive militares de alta patente e políticos que posam como defensores da segurança – não destinarem sequer os 6% do seu imposto de renda devido para o HPM, como permite a legislação. Se os próprios agentes e a sociedade civil organizada não mobilizarem essa destinação, continuaremos assistindo à degradação de um equipamento vital.
Faço aqui um apelo aos policiais e bombeiros de Pernambuco: destinem parte do seu imposto de renda devido, até 6% ao HPM é muito simples e não sai do seu bolso. Pode salvar vidas.
E faço também um chamado aos deputados estaduais, federais e senadores: destinem emendas parlamentares para a revitalização do hospital. No caso das federais a emenda parlamentar federal não entra direto no Hospital, porém pode ir para uma Fundação ou para o próprio Governo Estadual e o mesmo desloca uma verba que iria ser gasta em um local para outro. Parte de 1% dos empréstimos consignados dos Militares Estaduais eram para retornar ao Sistema de saúde da PM/ BM desde 2015, e nada foi repassado. Isso é política pública real. Isso é compromisso com quem protege a população.
Outro ponto inadiável é a realização de concurso público para recompor os quadros do hospital. O ciclo de aposentadorias está matando, lentamente, a capacidade operacional da unidade.
É inaceitável que um agente da lei tenha que se submeter ao SUS, nos mesmos corredores que criminosos, sem garantia de segurança nem de atendimento especializado por profissionais que compreendam a dinâmica da tropa. É por isso que existem hospitais militares no mundo inteiro. Eles não são regalias. São escudos institucionais. Governos vêm e vão. O problema permanece. A estrutura é a mesma desde 1941. A população cresceu. A criminalidade explodiu. O efetivo aumentou. E o hospital? Parado no tempo. Faltam recursos. Faltam equipamentos. Falta gestão. Falta visão estratégica.
Se você não gosta de polícia, o problema é seu. Mas o Estado tem a obrigação legal, moral e constitucional de garantir condições mínimas para seus agentes.
A Polícia Civil, inclusive, também deveria ter acesso ao hospital, com a estrutura necessária para esse atendimento – não com a esmola institucional que hoje é repassada.
A governadora Raquel Lyra conhece bem essa realidade. Antes de ser chefe do Executivo, foi delegada da Polícia Federal, procuradora e deputada. Sabe que a tropa precisa de estrutura. Sabe que o hospital precisa de vida. E sabe, principalmente, que ignorar esse problema é assinar embaixo de uma política de abandono institucional dos que arriscam a própria vida para proteger a sociedade.
É hora de agir. A tropa está sangrando. O hospital também.
*Publicitário, Cientista Político e Social, Especialista em Gestão Pública, Turismo, Comércio Exterior, Inteligência Competitiva, Marketing e Comunicação Pública.
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