Por Marcus Prado*
Oitenta anos após a descoberta do campo de Auschwitz-Birkenau, o mais hediondo e letal campo de concentração da II Guerra Mundial, e a libertação de seus raros sobreviventes, no mês de fevereiro de 1945, o Holocausto é uma história que não deve ser jamais esquecida. O mês de fevereiro foi um dos momentos-chave da ofensiva soviética para derrotar a Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial.
Essa maldita fábrica de mortes foi construída pela vontade de um ditador, Adolf Hitler, sinônimo de um dos maiores flagelos da humanidade, para matar mais de 1 milhão de pessoas, a maioria esmagadora de judeus, entre a primavera de 1942 e o início de 1945. Na época, Hitler era chefe do comando supremo do III Reich, apoiado desde o começo pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDA), de onde partira para conquistar o poder.
Leia maisA historiadora e professora da USP, Maria Luiza Tucci Carneiro, uma das renomadas especialistas no Brasil sobre o Holocausto, autora de uma excelente Antologia com a participação de historiadores brasileiros de notória formação acadêmica sobre o tema: “O Discurso do Ódio”, enfatiza que o Holocausto diz respeito também ao Brasil.
Lembra os 120 judeus brasileiros entregues pela França à Alemanha nazista; como o governo brasileiro, na Era Vargas, o Estado Novo, manteve circulares secretas de 1933 a 1949 barrando a entrada de judeus europeus no país. Ela considera uma forma também de “colaboracionismo” com Alemanha esse governo não ter acolhido refugiados em função das circulares secretas.
Vargas colocou em prática uma política imigratória notoriamente racista, vetou, com base em argumentos racistas, a concessão de vistos aos judeus, negros e japoneses. O livro “Entre 1930 e 1945, o governo de Getúlio: O Brasil diante do Holocausto e dos judeus refugiados do nazismo”, da mesma autora, documenta e historia, de forma contundente, o rechaço oficial aos judeus no período autoritário da Era Vargas, o Estado Novo.
“Os cerca de 14 mil judeus refugiados ingressaram no Brasil de forma clandestina, portando falsos documentos e com vistos de católicos, como turistas ou em trânsito”. Ao centrar seu estudo no primeiro governo Vargas, Tucci Carneiro elabora um primoroso trabalho de pesquisa de fontes primárias e secundárias.
Sabe-se que nestas últimas décadas o mundo está sendo sacudido por novas ondas de antissemitismo propagado amplamente através de sites na internet a serviço de grupos neonazistas que têm também seus representantes no Brasil. O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) apresentou à Organização das Nações Unidas (ONU) preocupações acerca do crescimento de grupos neonazistas no Brasil ao longo dos últimos anos. O documento classifica o cenário atual como “alarmante”.
Por fim, sobre a questão judaica em Pernambuco, no Agreste e no Sertão, há pesquisas com preciosa documentação de Tânia Kaufman, Caesar Sobreira e Jacques Ribemboim.
*Jornalista
Leia menos