Por Luiz Queiroz – do site Capital Digital
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos, esteve, na última sexta-feira, em Campinas (SP), participando do lançamento do Parque Tecnológico do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer. Teve discurso e até plaquinha com o nome dela e do presidente Lula. Tudo não passaria de mais um evento corriqueiro do setor, não fosse o fato de que o parque é o mesmo que foi inaugurado há 10 anos pelo ex-ministro, Aldo Rebelo, ainda no Governo Dilma Rousseff, em 2015.
O ato de (re)inauguração ocorrido no dia 4 contou com dois momentos inusitados. O primeiro ocorreu quando, durante sua fala, o atual coordenador do parque, o servidor Fernando Ely, ignorou completamente os esforços realizados no período de 2007 a 2015, sonegando a informação de que a obra já existia há 10 anos.
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O segundo momento, mais vexatório, foi o descerramento da placa de inauguração. Isso porque a placa original, contendo os nomes da presidente Dilma Rousseff e do ministro Aldo Rebelo, foi sumariamente substituída por uma nova, com os nomes da atual gestão do MCTI Renato Archer e do CTI, que não atuaram na construção do prédio.
Também foi retirada do local a placa que dava ao edifício o nome de José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarca da independência e pioneiro da ciência, uma homenagem determinada pelo Ministro Aldo em 2015.
“Esse prédio homenageia José Bonifácio não apenas como líder da Independência, mas também como cientista pioneiro no Brasil”, disse na época Aldo Rebelo em seu discurso durante a solenidade de inauguração. José Bonifácio, segundo contou o ministro, chegou a participar de 18 sociedades científicas pelo mundo e foi o fundador da Academia de Ciências de Portugal. Estudou mineralogia em excursões por São Paulo e realizou pesquisas na Alemanha, na França e na Suécia, além de outros países.
Em 2015 o MCTI gastou R$ 4 milhões para a construção do primeiro prédio do Parque Tecnológico do CTI Renato Archer. Já sobre a reforma feita agora não se tem informações de quanto custou, pois transparência não faz parte ultimamente do vocabulário do MCTI. Sabe-se apenas que quem pagou a conta da obra foi a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), provavelmente com dinheiro do FNDCT.
“Expurgo”
O correto teria sido realizar uma solenidade de reativação da proposta do Parque Tecnológico CTI Renato Archer, já que após o Governo Dilma a instituição foi paralisada, servindo apenas de biblioteca para o Instituto Federal de São Paulo. Na época do ministro Aldo Rebelo e o CTI Renato Archer chegaram a lançar editais para atração de empresas, mas eles não tiveram êxito.
Mas havia um pequeno problema político para a reativação do Parque agora. Após dez anos de existência, mesmo sem ter gerado nenhuma pesquisa nova ou alguma inovação, não ficaria bem para a “comunista” Luciana Santos reativar um prédio que foi lançado pelo seu ex-companheiro de partido (PCdoB) Aldo Rebelo. O mesmo que resolveu dar uma guinada política de 180º e passou a ser apoiador de Jair Bolsonaro, na extrema-direita.
Então, seguindo o mesmo modelo político dos “expurgos de Stalin”, na antiga União Soviética, que desaparecia com adversários até em fotos, o MCTI e o ICT Renato Archer de comum acordo trataram de desaparecer com a placa comemorativa do lançamento do prédio do Parque Tecnológico contendo os nomes da ex-presidente Dilma e do ministro Aldo Rebelo, para colocar uma nova no mesmo local com os de Lula e Luciana Santos.
E foi assim que o MCTI e o CTI Renato Archer resolveram dar um tapa no passado e tratar o evento como inauguração. O próprio noticiário do ministério se encarregou de dar uma nova roupagem oficial para o expurgo político. Agora é tarde, não dá mais para voltar atrás no flagrante desrespeito com a memória científica brasileira.
Só que não dançaram não apenas Aldo Rebelo e Dilma Rousseff na antiga plaquinha. Também acabou indo para o esquecimento político o “Patriarca da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva. Isso pega bem para um centro científico?
“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta” – John Galbraith.
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