Indefinição de candidato para a disputa de SP vira ‘problema’ para o governo Lula

Do jornal O Globo

Vista como fundamental para impulsionar a chapa presidencial, a tarefa de viabilizar uma candidatura ao governo de São Paulo em 2026 é classificada por diferentes aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “um problema”. Sem um nome competitivo disponível para entrar na disputa, auxiliares do chefe do Executivo e lideranças do PT admitem que as chances de vitória, em um estado em que a esquerda nunca triunfou, são remotas.

No cenário visto hoje como mais provável no Palácio do Planalto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disputaria a reeleição com amplo favoritismo para conseguir um novo mandato. Mesmo com chances reduzidas de um resultado favorável, o entorno de Lula considera que é necessário ter um palanque forte para fazer o embate com o bolsonarismo no maior estado do país.

O candidato de Lula precisaria entrar na disputa com perspectivas de chegar ao segundo turno. Em 2022, o desempenho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teve 44,7% dos votos válidos na segunda fase do pleito contra Tarcísio, foi considerado fundamental para que Lula vencesse Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Os paulistas representam 22% do eleitorado nacional, com 34 milhões de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O percentual de votos do então candidato a presidente pelo PT em São Paulo foi exatamente o mesmo que o do hoje ministro. Aliados ainda destacam que Lula teve em 2022 no estado 4,3 milhões de votos a mais na comparação com o próprio Haddad, candidato a presidente pelo PT em 2018. Apesar de ter vencido entre os paulistas, Bolsonaro ficou com 1,1 milhão a menos do que na disputa de quatro anos antes.

Leitura do desempenho

Entre os petistas, a melhora do desempenho em São Paulo do presidenciável do partido no intervalo de quatro anos é atribuída em parte ao palanque forte de 2022. Em 2018, o candidato do PT a governador de São Paulo foi Luiz Marinho, que ficou apenas em quarto lugar, com 12,66% dos votos válidos.

O retrospecto de 2022 daria a Haddad a preferência para ser o candidato novamente, mas ele afirma de forma enfática em conversas internas que não tem interesse nenhum em entrar na disputa. Além disso, a sua saída do governo em abril do ano que vem (prazo necessário para desincompatibilização) poderia criar incertezas sobre os rumos da economia e prejudicar a candidatura presidencial.

A avaliação no Planalto é que, sem Haddad, o caminho que resta ao PT é apostar em um aliado. Há um diagnóstico que a legenda enfrenta uma forte resistência no estado, principalmente entre os eleitores do interior, o que inviabilizaria a construção de um novo nome competitivo. O apoio a um representante de outra sigla seria uma forma de driblar essa rejeição ao petismo.

Se isso acontecer, seria a primeira vez que a legenda abriria mão de concorrer no maior estado do país, que é também o seu berço político, desde 1982, quando o próprio Lula foi candidato a governador e terminou em quarto lugar. Os melhores desempenhos de petistas na disputa estadual foram em 2002, quando José Genoino chegou ao segundo turno e perdeu para Geraldo Alckmin, e em 2022.

Agora aliado depois de ter aceitado compor a chapa de Lula e se filiar ao PSB, Alckmin é citado como opção de palanque no estado. Mas o ex-tucano resiste e, segundo pessoas próximas, tem como único plano manter o posto de vice do petista na disputa presidencial. Há no governo ainda quem defenda a sua entrada na corrida para o Senado, outro foco de problema em São Paulo. Mas essa hipótese também é rechaçada pelo vice-presidente.

Já o ministro da Microempresa e do Empreendedorismo, Márcio França, que também é filiado ao PSB e já foi governador de São Paulo por nove meses em 2018 após a saída de Alckmin, tem manifestado a aliados a intenção de ser o candidato de Lula na disputa do estado.

Dúvidas sobre 2026

Segundo aliados, Lula ainda não tem definição sobre a eleição de São Paulo. Mesmo em relação à sua própria candidatura a um novo mandato, o presidente não tem sido contundente. Em reunião ministerial no dia 20 de janeiro, disse que precisaria estar bem de saúde para poder concorrer. O presidente também citou que o governo precisa estar forte para ele ser candidato e ter boa margem para disputar o pleito presidencial. Ao mesmo tempo, Lula é visto no PT como única opção do partido na tentativa de êxito em 2026.

Diante dos mistérios sobre a preferência de Lula em São Paulo, Márcio França evita falar publicamente sobre a sua intenção de entrar na disputa, mas revela que pretende ter uma conversa sobre o assunto.

— Queremos ouvir o presidente Lula. Nosso campo terá uma candidatura a governador e vai depender da opinião dele. E, evidentemente, que os partidos aliados devem estar juntos — afirma o ministro, que é presidente do PSB no estado.

O desenho ainda pouco claro contrasta com a situação em outros estados vistos como prioritários pelo Planalto. O presidente manifestou duas vezes nos últimos dias que gostaria de ver o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) na disputa pelo governo de Minas Gerais. Ao deixar o comando da Casa na semana passada e indicar que avaliaria seus próximos passos, o parlamentar disse que a sinalização de apoio do presidente é motivo de “honra” e que sempre teve o sonho de ser governador.

Embate com a oposição

No Rio, é dada como certa uma aliança em 2026 com o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), reeleito em primeiro turno com apoio do PT no pleito municipal passado e provável candidato a governador. O estado, berço do bolsonarismo e governado por Cláudio Castro (PL), é estratégico no embate com a oposição.

Entre o segundo turno de 2002 e o de 2014, o PT venceu as eleições presidenciais no Rio. A partir de 2018, no entanto, o bolsonarismo ocupou o espaço, na avaliação de especialistas, puxado pela urgência da agenda da segurança pública no estado e pelo predomínio de igrejas evangélicas nas áreas mais pobres. Paes deve enfrentar um aliado de Bolsonaro na disputa.

Além de São Paulo, Lula também enfrenta dificuldade para a construção de palanques competitivos nos estados do Sul. Principalmente Paraná e Santa Catarina, onde o bolsonarismo é mais forte e o PT enfrenta por isso mais resistência.

O Sextou desta semana, programa musical que ancoro pela Rede Nordeste de Rádio, fará um belo tributo ao cantor e compositor paraibano Vital Farias, que fez a última viagem, aos 82 anos, na última quarta-feira, em João Pessoa, vítima de um infarto do miocárdio.

Vital era daquele tipo de artista cujas obras eram muito mais conhecidas do que ele próprio. É muito comum encontrar gente que nunca ouviu falar dele, mas que sai cantando imediatamente a letra inteira quando alguém assopra: “Não se admire se um dia, um beija-flor invadir…”

Além de “Ai Que Saudade D’Ocê”, Vital é autor de vários outros sucessos que ficaram conhecidos principalmente nas vozes de outros cantores como “Veja, Margarida”, “Caso você case” e “Canção em dois tempos”.

Isto tudo, apesar de possuir uma bela voz, com grande intensidade nas suas interpretações e, de quebra, ainda tocar um lindo violão, que pontuava suas melodias com maestria.

Entre tantas canções maravilhosas, compartilho com o leitor esta fábula: Saga da Amazônia.

Confira!

A Prefeitura de Paulista iniciou neste sábado (8) a obra de revitalização total da Praça Agamenon Magalhães, no Centro da cidade, com a instalação de tapumes ao redor do local e mudanças no trânsito. O espaço foi completamente fechado para o início das melhorias estruturais e urbanísticas, que incluem novas instalações e a melhoria do fluxo de pedestres e veículos. Durante a execução, medidas serão adotadas para minimizar os impactos na rotina de moradores e comerciantes da região.

O trânsito na área central sofreu alterações para garantir a segurança e fluidez. A principal mudança é o desvio de veículos, com fechamento parcial da Avenida Floriano Peixoto, exigindo que motoristas contornem a praça pela região do Panorama. A ação envolve a colaboração de diversas secretarias municipais para garantir a organização do espaço e orientar a população sobre os novos desvios. Táxis, transporte alternativo e comércio informal também não terão permissão para operar nas imediações da praça durante a obra.

A Rádio Cultura AM 1320, pioneira entre as rádios comerciais de São José do Egito, iniciou suas transmissões em fevereiro de 1990, sob a direção do empresário José Marcos de Lima. No dia 21 de janeiro de 2025, às 11h11, a emissora concluiu sua migração para a frequência FM 94,7, tornando-se a única rádio FM comercial da cidade e marcando um novo ciclo de sua história.

Para simbolizar essa transição, a primeira música transmitida foi “Rádio Pirata”, do RPM, a mesma que tocou em sua estreia na frequência AM 1320, nos anos 1990. Atualmente, a emissora tem como diretor-presidente Marcos Cesar Crispim (Marquinhos) e conta com a direção executiva do jornalista João Carlos Rocha, que já desempenhou essa função na antiga AM 1320.

Confira grade de programação:

5h às 7h – a Cultura FM 94,7 começa com o irreverente Vanduir de Souza;

7h às 8h – Giro pelos Blogs, com Marcello Patriota;

8h às 11h – Grande Manhã – ancorado pela experiente comunicadora e Jornalista Edivanice Gonçalves;

11h às 12h30 – Jornal da Cultura com o com o renomado jornalista/radialista Marcos Lima e Edivanice Gonçalves;

12h30 às 13h30 – Programas alternativos com informações e entrevistas;

13h30 às 16h30 – Tarde na Cultura sob o comando do experiente comunicador Henrique Vilar;

16h30 às 17h00 – Momento do Brega com Henrique Vilar;

17h às 18h – Valeo o Boi Vaqueiro – com Ademar Locutor e Naldo Cordeiro;

18h às 19h – Programa Frente a Frente com o jornalista Magno Martins da Rede Nordeste de Rádio;

19h às 20h – A Voz do Brasil;

20h às 22h -Cultura Amiga da Noite;

23h às 05h – Saudade teu nome é Música.

• Programação de segunda a sexta-feira.

Do jornal O Globo

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem trabalhado em mais um decreto para demitir milhares de funcionários do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do país (HHS, na sigla em inglês), com alguns gestores já se preparando para demitir trabalhadores identificados como menos essenciais, segundo fontes ouvidas pelo americano Wall Street Journal (WSJ).

A decisão atinge particularmente os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), onde os funcionários foram instruídos a classificar 10% dos trabalhadores em estado probatório como essencial para a missão, 50% como importante e 40% como não essencial. As classificações do CDC para esses funcionários, cujo período probatório pode durar de um a dois anos no serviço federal, deveriam ser enviadas até quinta-feira.

Ao Washington Post, um funcionário afirmou que o processo de revisão de cada funcionário foi “horrível”, com o foco das análises “na missão, e não no indivíduo”. Outras agências federais de saúde relataram pedidos semelhantes para classificar funcionários em período probatório, embora tenham dito que o processo foi menos detalhado do que o do CDC. Os líderes foram instruídos a justificar por que as pessoas deveriam ficar.

A medida pode ser oficialmente anunciada já na próxima semana, depois que os trabalhadores tiverem a oportunidade de aceitar um plano de demissão voluntária. No entanto, segundo o WSJ, os termos do decreto ainda não foram finalizados, e a Casa Branca ainda pode decidir não seguir adiante com o plano. Ainda assim, alguns republicanos já defenderam os esforços da administração, afirmando que o governo Trump deve ter o direito de revisar as qualificações dos servidores contratados no final do mandato de Joe Biden.

Risco para o futuro

Os cortes em estudo afetariam o HHS, que emprega mais de 80 mil pessoas e inclui os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), os Centros de Serviços Medicare e Medicaid (CMS), a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) e o CDC. Essas agências desempenham funções essenciais e que vão desde a aprovação de novos medicamentos até o rastreamento de surtos de gripe aviária e pesquisas sobre o câncer.

— Cortes dessa magnitude poderiam dizimar a força de trabalho da saúde pública federal, agravando a escassez de profissionais e deixando todos os americanos em grande risco quando surgir a próxima crise de saúde pública — disse Richard Besser, ex-diretor interino do CDC, ao Washington Post. — E garanto que haverá mais crises de saúde pública.

Estimativas apontam que até 10% dos 2,3 milhões de trabalhadores federais estão em período probatório — e agora podem ser dispensados mais facilmente do que os demais empregados, segundo fontes ouvidas pelo WSJ. As classificações mais recentes ocorrem no momento em que a administração do republicano busca reduzir o quadro de funcionários federais entre 2% e 5%, combinando incentivos e ameaças crescentes.

Primeiro, o governo anunciou um programa de demissão voluntária, permitindo que os funcionários se demitam e continuem recebendo salário até setembro. A oferta, que deveria expirar na quinta-feira, foi suspensa por um juiz após mais de 40 mil pessoas informarem que deixariam seus cargos sob os termos do acordo. O número, porém, foi menor do que o esperado pelo governo, com sindicatos federais e legisladores democratas pedindo aos funcionários que não aceitassem.

Alguns republicanos no Congresso pediram uma reestruturação da agência de saúde pública após a pandemia de Covid-19. Eles acusam o CDC de ter dado uma resposta “excessivamente rígida e burocrática” à crise de saúde que matou mais de 1 milhão de americanos. O órgão reconheceu ter cometido alguns erros e iniciou uma reformulação sob a administração Biden, mas sem considerar demissões em massa.

Da BBC News Brasil

“Não tínhamos condição de enterrar os mortos. Os corpos ficavam no pátio da aldeia, porque eram muitas pessoas que morriam por dia. O meu avô falava que fugiram dos corpos, porque não tinham condições de vê-los”

Assim o ancião Paliã Zoró, de 80 anos, descreveu a situação de seu povo nos anos 1980, quando fazendeiros, madeireiros e garimpeiros levaram uma série de doenças para o território da etnia indígena zoró, no noroeste do Mato Grosso.

Vivendo em isolamento até poucos anos antes e sem defesa contra doenças como gripe, sarampo e tuberculose, o povo zoró pediu então ajuda externa para pressionar o governo a regularizar seu território como terra indígena.

Só assim, acreditavam, os forasteiros deixariam o território e as comunidades poderiam se recuperar.

Entre as pessoas que acudiram o grupo, havia uma advogada de São Paulo. Viúva e mãe de cinco filhos, Eunice Paiva havia se formado em direito aos 47 anos e, desde então, vinha se dedicando à defesa de direitos indígenas. O encontro seria um ponto de virada na história do povo zoró, que acabaria se recuperando depois de quase sofrer a extinção.

A vida de Eunice é narrada no filme Ainda Estou Aqui, no qual a advogada é interpretada pela atriz Fernanda Torres, que ganhou um Globo de Ouro por sua atuação neste papel. O filme concorre ao Oscar 2025 nas categorias Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz.

O trabalho de Eunice em prol dos indígenas, porém, é pouco abordado na obra e “renderia outro filme inteiro”, diz a antropóloga Betty Mindlin, professora visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).

Visões conflitantes sobre a Amazônia

Apesar da grande mortandade entre o povo zoró nos anos 1980, a demarcação do território enfrentava forte oposição.

Segundo documentos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na época, já havia no território 79 invasores, uma estrada com 45 km de extensão e planos para a ocupação de 24 mil hectares por uma cooperativa de agricultores do Paraná.

Os ocupantes tinham o apoio de setores do governo federal e do governo de Mato Grosso, que havia distribuído títulos de terra dentro do território.

Não muito longe dali, em Rondônia e no norte de Mato Grosso, vastas regiões de floresta vinham sendo destruídas.

O movimento havia sido estimulado pela ditadura militar (1964-1985), que via a ocupação da Amazônia por não indígenas como um escudo contra interesses estrangeiros na região.

Quando Eunice Paiva chegou ao caso zoró, em 1986, fazia um ano que a ditadura havia acabado, mas o desmatamento seguia a pleno vapor. Eunice então elaborou um parecer jurídico analisando os argumentos favoráveis e contrários ao reconhecimento da área zoró como terra indígena. Ao final do documento, foi categórica: “Nada impede a demarcação da Área Indígena Zoró”.

“Os direitos dos índios à posse de suas terras são direitos indisponíveis e que não podem ser negociados, inexistindo qualquer impugnação válida capaz de anular, restringir, extinguir ou modificar direitos da comunidade Zoró sobre a terra que é o seu ‘habitat’ natural”, concluiu a advogada.

As posições de Eunice acabaram prevalecendo, e o governo declarou a área como terra indígena no ano seguinte.

“Quase fomos extintos, muitas doenças vieram com os brancos, e muitos de nossos parentes foram mortos por invasores”, diz à BBC News Brasil Panderewup Zoró, cacique geral do povo.

“Isso só cessou com a demarcação e homologação do nosso território e, com certeza, a doutora Eunice Paiva contribuiu neste processo”, prossegue.

“Se não tivéssemos tido a cooperação de parceiros para provar em documentos nossa existência e posse da terra desde a nossa ancestralidade, teríamos sido exterminados.”

A indigenista Maria Inês Hargreaves, que trabalha junto a comunidades da região desde os anos 1980, endossa a importância de Eunice no processo. “O laudo jurídico, a objetividade e a clareza dos argumentos foram fundamentais para a regularização desta terra indígena e outras em que ela colaborou”, afirma a indigenista.

Hargreaves endossa a noção de que, “se a demarcação não tivesse acontecido naquele momento, talvez os zoró não estivessem vivos mais”. Ela conta que, até 1978, o povo zoró vivia isolado na floresta e somava várias centenas de integrantes.

Nos anos seguintes, porém, as doenças e os confrontos com os forasteiros provocaram um declínio vertiginoso.

O desmatamento em torno da Terra Indígena Zoró

No auge das epidemias, a população zoró chegou a ter só cerca de cem pessoas, segundo os documentos da época.

“A morte acontecia rapidinho”, conta a anciã Ãjut Zoró, de 86 anos. “O sintoma era tosse, vômito, febre e pneumonia. Esses sintomas duravam mais ou menos cinco dias, até chegar a morte. A gente fazia cova para guardar os mortos. Depois de enterrados, fazíamos fogo em cima da cova”

O relato de Ãjut, assim como a fala de Paliã Zoró na abertura desta reportagem, estão no livro Zoró: antes de ver o branco (2024), que compila entrevistas com membros do grupo.

Uma das autoras do livro, a servidora da Funai Lígia Neiva diz à BBC News Brasil que, após a demarcação, o povo começou a se recuperar, e os invasores foram expulsos.

“Eles deixaram um rastro de devastação, com grandes pastagens formadas, mas a garantia de poder estar na terra foi muito positiva”, diz Neiva, que trabalha com o grupo desde 1988.

Ela afirma que o trabalho de Eunice foi essencial para a demarcação, embora poucos membros do povo zoró saibam da participação da advogada.

Isso porque Eunice fez o trabalho à distância analisando documentos e estudos antropológicos, mas não visitou o território devido a dificuldades logísticas.

Mas Neiva também destaca a atuação dos próprios indígenas nesse processo. Pouco numerosos e com raros falantes de português, eles se aliaram a etnias vizinhas — incluindo inimigos históricos, como o povo suruí — para confrontar os invasores e chamar a atenção da opinião pública, ela diz. “Foram para o embate, morreu gente, e aí a coisa tomou uma dimensão maior”, diz Neiva.

Um dos momentos mais críticos da mobilização foi o assassinato do líder Yaminé Suruí, em 1988. Na época com 70 anos, ele teve seu corpo esquartejado e queimado por dois pistoleiros dentro da Terra Indígena Zoró.

A dupla foi condenada por homicídio qualificado quase 30 anos depois, em 2017, mas jamais cumpriu pena por conta de um recurso ainda não julgado.

Ícone da resistência à ditadura

Ainda Estou Aqui aborda a trajetória de Eunice Paiva após seu marido, o engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva, ser capturado e morto pela ditadura militar, em 1971.

A obra retrata a luta de Eunice para que o Estado brasileiro reconhecesse a morte do marido, uma vez que, oficialmente, ele estava apenas desaparecido.

A demanda só foi atendida em 1996, com a emissão da certidão de óbito de Rubens Paiva, que acaba de ser retificada para responsabilizar oficialmente o Estado brasileiro pela morte do parlamentar. Eunice morreu 22 anos depois, aos 89 anos.

Mas se a batalha de Eunice pelo reconhecimento da morte do marido a transformou em um ícone do movimento de resistência à ditadura, as ações dela em favor de indígenas ainda não receberam reconhecimento semelhante, diz a antropóloga Betty Mindlin à BBC News Brasil.

Em 7 de janeiro, Mindlin publicou no Jornal da USP um artigo sobre o trabalho de Eunice junto a povos indígenas.

A antropóloga relata no texto um dia em que, durante o governo de José Sarney, Mindlin, Eunice Paiva, o cacique Raoni Metuktire e os músicos Sting, Gilberto Gil e Rita Lee, entre outros apoiadores da causa indígena, foram ao Palácio do Planalto se reunir com o chefe de gabinete da Presidência da República.

O objetivo era cobrar a demarcação de 4,9 milhões de hectares de terra para o povo kayapó menkragnoti, no Pará. Mas, à entrada do edifício, o grupo foi barrado, conta Mindlin.

“Não admitimos a proibição e, unidos, empurramos a porta de vidro”, ela lembra. “Os funcionários de segurança, pasmos de ver grandes artistas solicitando com respeito a entrada, mas forçando o vidro, mais de forma simbólica que efetiva, acabaram cedendo, nos deixaram passar, cada vez uns poucos, por fim todos.”

Segundo a antropóloga, o próprio Sarney acabou aceitando receber o grupo. Mas eis que, a caminho do gabinete presidencial, Eunice titubeou, conta Mindlin, porque não queria apertar a mão de um político que se aliara aos militares na ditadura.

Por fim, Mindlin conta que Eunice foi “persuadida a nos acompanhar, jurista ponderada capaz de argumentar e comprovar o direito às terras reivindicadas pelos kayapó”. “Sarney prometeu, mas a demarcação demorou muito a ser realizada. Foi homologada pelo presidente Itamar Franco em 1993”, ela diz.

Mindlin destaca no artigo o papel de Eunice no Programa Polonoroeste, nos anos 1980, quando se uniu a um grupo de antropólogos para avaliar o impacto da pavimentação da rodovia BR-364 (Cuiabá-Porto Velho) entre povos indígenas da região.

Foi nesse contexto que, segundo Mindlin, “Eunice fez pareceres magistrais para a causa indígena” — entre os quais o laudo defendendo a demarcação da terra zoró.

“Com os estudos e resultados da equipe de avaliação, incluindo e transmitindo a voz indígena e suas reivindicações, mais de 30 demarcações dos 60 povos afetados foram realizadas, além da defesa de povos isolados até então ignorados”, ela diz.

Hoje, conforme mostram imagens de satélite, grande parte da floresta que sobrou no entorno da BR-364 fica nos territórios demarcados naquela época. Quase todo o resto virou terra agrícola ou pastagem.

Mindlin destaca outras contribuições de Eunice às causas indígena e ambiental: a publicação de livros e artigos, a participação nas ONGs Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAMÁ), Fundação Mata Virgem (FMV) e Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), e sua assessoria à Assembleia Nacional Constituinte (1988), quando influenciou na elaboração do capítulo que trata de povos indígenas.

O trabalho de Eunice, segundo Mindlin, beneficiou “no mínimo 300 povos indígenas, cada um com uma saga, um enredo, uma história de costumes, línguas, enfrentamentos e resistência”.

A antropóloga diz à BBC News Brasil que Eunice foi pioneira neste campo: ao lado de juristas como Dalmo Dallari (1931-2022) e José Gregori (1930-2023), ela foi uma das primeiras pessoas a recorrer a argumentos jurídicos para fortalecer demandas indígenas.

Os casos que envolviam indígenas, porém, ocupavam só parte de seu tempo como advogada, já que ela precisava pegar outros casos para sustentar a família, diz Mindlin.

Segundo a antropóloga, Eunice “era muito discreta” sobre sua vida pessoal e “aguentou muitas dores sozinha”, mas era inegável a conexão entre suas ações em prol dos indígenas e a luta pela memória do marido.

“Ela viu que os indígenas estavam ainda mais desprotegidos que os políticos que tentaram transformar o Brasil em um país diferente, como o Rubens Paiva”, diz.

O povo zoró hoje

Depois da expulsão dos invasores e da demarcação do território, a população zoró voltou a crescer.

Hoje, segundo Lígia Neiva, da Funai, eles somam cerca de mil pessoas e habitam um território de 358 mil hectares — uma área três vezes maior do que o município do Rio de Janeiro.

“Estão muito bem de saúde, e não se veem mais situações de doenças alarmantes”, diz Neiva. “Eles têm uma fábrica de castanha dentro da terra indígena e são referência nessa atividade.”

Não que os problemas tenham desaparecido: segundo ela, o território voltou a ser alvo de madeireiros e garimpeiros nos últimos anos, o que tem preocupado os indígenas. Mas, hoje, o grupo encara esse cenário em situação bem mais confortável do que nos anos 1980.

Neiva conta que hoje a imensa maioria da população zoró vive dentro da Terra Indígena. “É um povo que superou muitos desafios e é muito forte, estratégico, diplomático, com uma cultura viva.”

Segundo ela, mulheres, crianças e idosos só falam a língua zoró, e desde 1992, uma escola construída com apoio do governo norueguês permite que jovens cumpram todo o ciclo educacional dentro do território.

Por tudo isso, diz Neiva, poucos membros do grupo estão a par da repercussão de “Ainda Estou Aqui” e do interesse em torno de sua protagonista.

Em parte graças a Eunice Paiva, quase nenhum zoró hoje sabe quem foi Eunice Paiva.

As chuvas da semana passada atingiram não apenas Pernambuco, mas diversos outros estados no litoral nordestino como Alagoas e Paraíba.

O fenômeno que ocasionou o estrago foi um Vórtice Ciclone de Ar Superior, que fica há aproximadamente 12 km de altura e sempre aparece entre os meses de dezembro e março.

Esse fenômeno ocorre quase todos os anos e a sua força depende de onde estejam as bordas do ciclone, que este ano ficou exatamente em cima do litoral nordestino.

Falta de lonas

Um prefeito do interior do estado, aliado à governadora Raquel Lyra, cuja cidade foi bastante afetada pelas chuvas, foi à Casa Civil para tentar obter emergencialmente lonas para as encostas. “O Governo do Estado não tem sequer um rolo de lona de plástico para fornecer às prefeituras, emergencialmente”, falou o prefeito que pediu para não ter seu nome identificado.

Licitação tem

Todos os anos o Governo do Estado de Pernambuco tem renovado uma ata de registro de preços para a contratação de até 1000 rolos de lona plástica. Os meios estão aí, faltam as atitudes. Só no atual governo essa licitação foi renovada por duas vezes.

Abrigos prontos em 24 horas

No Recife, o prefeito João Campos se anteviu aos estragos da chuva e entregou imediatamente sete abrigos para 500 pessoas, que já haviam sido projetados e implantados. E com mais 24 horas, mais três abrigos totalizando dez. Os abrigos contam com, além de camas e materiais e higiene e limpeza, alimentação e acompanhamento da assistência social.

Não será surpresa se a Paraíba aumentar ainda mais o espaço de poder que ocupa hoje em Brasília com a chegada do senador Veneziano Vital (MDB), que encerrou sua missão de vice-presidente da Casa Alta, ao Ministério de Lula.

Seu nome está cotado para a pasta de Relações Institucionais ou a liderança do Governo no Congresso. É o que tenho ouvido nos bastidores.

Do Correio Braziliense

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse nesta sexta-feira (7) que as críticas contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, motivadas pela alta da inflação no preço dos alimentos, “não ficam de pé” se comparadas com os valores registrados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O que eles esquecem de dizer são duas coisas: primeiro, se você comparar a inflação de alimentos dos dois anos do governo Lula, ela é infinitamente menor do que nos quatro anos do governo Bolsonaro. Ou seja, se comparar, não fica de pé esse argumento, porque os preços em 2023 caíram”, argumentou o chefe da pasta à Rádio Metropole, da Bahia.

O ministro explicou que o preço da carne estava em baixa em 2023 e que isso levou ao que é chamado de “ciclo da carne” — quando os preços “mergulham” muito, os produtores realizam o abate das fêmeas, o que diminuiu o rebanho, e, consequentemente, força a escassez do produto e a subida do preço.

Além disso, ele relacionou a alta dos preços aos eventos climáticos vividos ao redor do mundo e à abertura de novos mercados internacionais para os produtos brasileiros. Segundo Costa, o Brasil abriu para exportação para mais de 200 mercados internacionais e isso impactaria a oferta interna.

O chefe da Casa Civil apontou ainda que as enchentes e secas recordes registradas em 2024 impactaram diretamente no mercado de alimentos nacional. “Primeiro, nós tivemos muita seca e, depois, todos acompanharam o Rio Grande do Sul ficando debaixo d’água por mais de 30 dias. Isso impacta na oferta de alimentos”, frisou.