O demônio e o algoritmo

Por Marcelo Tognozzi*

Pablo Marçal virou o demônio da vez. O candidato a ser exorcizado pelos seus adversários. Incrível. Estamos terminando o primeiro quarto do século 21 e os políticos ainda não entenderam como funciona a nova política. 

Antes de seguir em frente, esclareço não ter procuração para defender Marçal ou quem quer que seja. Quero tratar de campanha eleitoral do ponto de vista técnico, sem invencionices ou narrativas de ocasião.

Os adversários de Pablo Marçal estão com medo porque não sabem fazer campanha digital igual a ele. O Brasil, na sua obsessão pelo atraso, foi um dos últimos países a adotar o modelo de campanha digital, simplesmente porque a marketagem política graúda não queria abrir mão do dinheiro grosso vindo dos programas de rádio e TV. Resultado: campanha digital no Brasil, na maioria das vezes, tem pegada analógica, como se transformasse o santinho de papel em santinho de zap.

Aí, veio Bolsonaro em 2018 e mostrou que qualquer político poderia vencer a eleição sem rádio ou TV, apenas com campanha digital. Ele ganhou relevância estrondosa nas redes sociais, as mesmas que agora querem controlar, não só no Brasil, mas na Espanha e em outros países da União Europeia em que aqueles que estão no poder não conseguem manejá-las ou fazer política eficiente com elas. 

A Espanha elegeu neste ano Alvise Peres para o Parlamento Europeu, numa campanha muito semelhante à de Pablo Marçal. Alvise deu um banho nos políticos analógicos.

A incompetência serve de justificativa para a censura, que, como definiu meu amigo André Marsiglianeste em artigo, é o cão de guarda da velha política. Todos os candidatos a prefeito de São Paulo estão aprendendo com Marçal como se faz a nova política digital. Claro que nenhum deles terá humildade para reconhecer, porque todos, como diria Fernando Pessoa, são príncipes na vida. 

Mas é exatamente a realidade. O que me preocupa é a ignorância dos candidatos e respectivas equipes em relação ao manejo da campanha digital. A cabeça analógica faz com que as pessoas tenham dificuldade de entender o que é um algoritmo e como ele funciona.

Algoritmo é filho da matemática, mostrou Alan Touring ao decifrar os códigos alemães na 2ª Guerra. A evolução das redes sociais é também uma evolução dos algoritmos por trás delas. O que fez Marçal diferente dos outros, assim como Bolsonaro em 2018, foi o entendimento sobre como esses algoritmos funcionam. 

Os ignorantes costumam dizer que tanto Bolsonaro quanto Marçal manipulam algoritmos. Isso não passa de uma enorme, grandiosa, bobagem. Quero crer que não seja ignorância ou má fé, apenas baboseira.

Algoritmo segue um padrão para cada rede social. O principal ativo de uma rede social é sua audiência e é exatamente isso que o algoritmo impulsiona, porque é feito para promover resultados, combinando audiência com ganhos financeiros. Quanto maior a audiência, mais anúncios e mais receita. Simples assim.

Portanto, não caia na enganação da narrativa da manipulação de algoritmos, porque não faz o menor sentido que Meta, TikTok, YouTube, X (ex-Twitter) e Google se entreguem passivamente ao deleite da manipulação dos seus algoritmos por terceiros. 

Então, o que faz uma pessoa como Pablo Marçal, conhecedor de algoritmos? Ele aprendeu a alimentá-los com conteúdo que cria audiência, anúncios e receita. Faz com as big techs um jogo de ganha-ganha. Neste jogo, engajamento e mobilização são a alma do negócio. E este conhecimento acumulado vale muito.

Pessoas como Pablo Marçal conseguem amarrar o seu engajamento que, diga-se, costuma ser orgânico, com mobilização, algo que pode ser resumido assim: somos todos e todos somos nós. Não adianta tirar Pablo Marçal das redes sociais, porque este tipo de estratégia ganha pernas. 

É como a Hidra de Lerna da mitologia grega lutando com Hércules. Cada vez que o herói cortava 1 das suas cabeças, 2 outras nasciam. É por isso que os seguidores de Marçal não deixaram de repercutir suas ideias e narrativas, mesmo depois da mordaça imposta pela Justiça Eleitoral. Ninguém segura.

Em vez de entenderem o que está acontecendo para poder reagir à altura, bateu o desespero na concorrência. Vejam os Estados Unidos. Kamala Harris, apesar do discurso e propostas que não param de pé, conseguiu engajar, mobilizar e energizar o eleitorado de tal forma a ponto de ser favorita para ganhar a eleição. 

Donald Trump, já foi um dos príncipes das redes sociais quando Steve Bannon era seu principal estrategista. Como não soube se atualizar e menosprezou os adversários, acabou levando uma invertida e perdendo o rumo. Se vai recuperar ou não é outra história.

Sobre a lógica dos algoritmos, me lembro de uma conversa com o ex-governador do Tocantins José Wilson Siqueira Campos, fundador do seu Estado durante a Constituinte. Siqueirão era flanelinha no antigo Senado no Rio, o Palácio Monroe. Em 1946, o senador comunista Luiz Carlos Prestes empregou o moleque cearense de 18 anos como office boy no seu gabinete. Dali, para entrar na política foi um pulo. 

Um dia, em pleno governo Fernando Henrique, encontrei Siqueirão no corredor do Senado, ele governador. Me contou sobre uma conversa marcada com o presidente. Perguntei como estava a relação deles. “Marcelo, presidente é igual jumentinho. Se você der um capinzinho, uma água boa, um carinho, ele trabalha pra você feliz da vida”, explicou. 

Com algoritmo não é diferente. Se você souber tratá-lo descobrirá que não é santo, muito menos demônio. Só precisa de um capinzinho.

*Jornalista

A pesquisa Ipespe para a Prefeitura do Recife mostra liderança isolada do atual prefeito e candidato à reeleição, João Campos (PSB). Ele tem 76% das intenções de voto, segundo o levantamento divulgado na última quinta-feira (29).

A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Com isso, todos os outros candidatos aparecem empatados tecnicamente.

Gilson Machado (PL) aparece com 6%, Daniel Coelho (PSD) com 5%, Dani Portela (PSOL) com 3%, e Tecio Teles (Novo) com 1%.

Ludmila Outtes (UP), Simone Fontana (PSTU) e Victor Assis (PCO) não pontuaram.

Foram ouvidos 800 eleitores da cidade do Recife pelo Ipespe entre os dias 24 e 26 de agosto. A pesquisa, contratada pela Folha de Pernambuco, foi registrada na Justiça Eleitoral como PE-02238/2024. O nível de confiança é de 95,45%.

Da CNN

Por Larissa Rodrigues

Repórter do blog

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), garantiu que o Estado vai reconstruir o santuário de Nossa Senhora da Conceição, localizado no Morro da Conceição, Zona Norte do Recife. Em visita ao espaço religioso, por volta das 19h30 dessa sexta-feira (30), a governadora conversou com os membros da paróquia e reforçou o auxílio às vítimas.

O teto do santuário desabou por volta das 13h30 da sexta, deixando duas pessoas mortas e outras 22 feridas. Durante toda a tarde de ontem, o clima era de comoção na área, inclusive porque o incidente ocorreu um dia depois da celebração que deu início à contagem regressiva de 100 dias para a grande Festa do Morro, em 8 de dezembro.

“Agora a gente vai cuidar das famílias, cuidar das pessoas e, como prometido, garantir colocar de pé de novo a estrutura que faz parte do coração do Recife, para que a gente possa retomar todas as atividades sociais e religiosas dessa igreja o mais rápido possível”, afirmou Raquel Lyra.

A governadora disse que ainda não tem como precisar se a reconstrução do santuário vai ficar pronta até a data da tradicional Festa do Morro. “Se for possível, vamos fazer. A gente não sabe sequer qual é o valor do investimento que precisa ser feito”, explicou.

Sobre as investigações, Raquel Lyra disse que recebeu relatório do Corpo de Bombeiros, mas ainda não é possível determinar o que motivou o desabamento do teto do santuário. “É um documento (o relatório) que está sendo chancelado ainda pela Secretaria de Defesa Social, dando as primeiras informações, notícias sobre as vítimas e os primeiros informes sobre a estrutura do santuário”, comentou.

Antes de Raquel Lyra chegar ao local, estavam no Morro da Conceição, desde o início da tarde, a vice-governadora, Priscila Krause (Cidadania), o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, a secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Simone Nunes, e o secretário de Assistência Social, Combate à Fome e Políticas sobre Drogas, Carlos Braga.

Ângelo vem do berço do Professor Arlindo

Num curto vídeo enviado, ontem, com exclusividade para este blog, o prefeito de Sertânia, Ângelo Ferreira (PSB), descartou qualquer outro motivo para a facada que levou do comerciante Nelson do Consórcio, na tarde da última quinta-feira, se não o da intolerância política. Por tudo que já levantei sobre o crime – uma tentativa de homicídio – o gestor não finge, fala a verdade.

Ângelo, de 71 anos, vem de uma família cristã, decente e reverenciada pela população de Sertânia, que fica a 313 km do Recife, no Sertão do Moxotó. Conheci o seu pai, Arlindo Ferreira, que foi prefeito do município. Criou seus nove filhos – oito homens e uma mulher – na liturgia da palavra cristã. Admirável ser humano, simples, educado. Nasceu deficiente dos dois pés, andava com dificuldades.

Mas nada abalava a sua alegria de viver, a fé e a enorme capacidade de transformar sonhos em realidade. Ângelo, o primogênito, que continuou o legado do pai na política, não poderia ser diferente. Cresceu com o pai dizendo que educação vem do berço. O berço de Ângelo, portanto, não vem dos bancos das universidades, mas da boa herança do saudoso professor Arlindo.

Um pai bondoso, diga-se de passagem. E paciente também. Dizia que a educação era o maior legado que um pai poderia deixar ao filho. O outro seria a oportunidade de adquirir conhecimento, e isto Ângelo teve nos bancos universitários, largando um pouco seu berço natal para cursar Veterinária na Faculdade Federal de Pernambuco, deixando o pai mais orgulhoso e feliz.

O que aconteceu na fatídica tarde da última quinta-feira, antes de o sol se pôr para a lua clarear mais uma noite poética em Sertânia, terra que Pinto do Monteiro escolheu para viver a maturidade, agarrado a sua viola, foi simplesmente o inconformismo de um cidadão, pai de família, comerciante conhecido entre os seus conterrâneos, com a forma de Ângelo governar e fazer política. Nada além disso!

Diferente do seu agressor, Ângelo aprendeu com o Professor Arlindo, seu pai e mestre dos mestres, que a intolerância só se justifica na luta contra a corrupção, contra a violência, contra tudo que atenta contra a vida humana. E que a intolerância política é uma arma impotente e desestabilizadora. A mente de um fanático, como o agressor de Ângelo Ferreira, é como a pupila do olho: quanto mais luz incide sobre ela, mais se contrai.

Polarização – Sertânia também é terra de Etelvino Lins, uma das raras aves da política sertaneja a governar Pernambuco, como o também saudoso Nilo Coelho, de Petrolina. Ali, a sucessão de Ângelo Ferreira, que está próximo a fechar mais um ciclo de oito anos como gestor, está polarizada entre a sua candidata, a vereadora Rita (PSB) e a empresária Pollyanna Abreu (PSDB), uma figura bastante próxima e apoiada pela governadora Raquel Lyra (PSDB). Nelson do Consórcio, o agressor de Ângelo, nunca militou ao seu lado nem nunca votou em seus candidatos, embora tenha uma sobrinha secretária de Saúde na atual gestão municipal.

O mistério da causa – Os órgãos competentes ainda não confirmaram o que causou o desabamento do telhado do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, localizado no Morro da Conceição, Zona Norte do Recife. No entanto, como adiantado em primeira mão por este blog, a suspeita é de que as placas de energia solar instaladas no teto da igreja tenham causado a tragédia. A empresa responsável pela instalação nega que tenha sido o “peso extra” e coloca culpa na “força excessiva dos ventos”. Duas pessoas morreram e outras 22 ficaram feridas com a tragédia.

Dor e lamento – Em nota, a Arquidiocese de Olinda e Recife expressou “profunda tristeza pelo trágico acidente”. A nota é assinada pelo arcebispo, Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, que diz que o caso “enche nossos corações de luto e solidariedade”. “Em oração, nos unimos às famílias enlutadas e a todos os que foram afetados por esta tragédia. Que o senhor acolha as almas dos falecidos e conforte os corações dos que sofrem.” O reitor do santuário, padre Emerson Borges, por sua vez, disse que o local “se une aos moradores do nosso amado Morro neste momento”.

Relato dramático – “Foi um filme de terror. Eu nasci de novo”. Assim reagiu o pasteleiro José Edson Florentino de Araújo, 52 anos, ao contar, ontem, como escapou da morte. Ele estava tentando receber uma cesta básica no santuário do Morro da Conceição quando o telhado desabafou, provocando duas mortes e deixando 24 feridos. Ele aguardava a sua vez para pegar a cesta, sentado no terceiro banco da igreja, perto da porta. Edson conversou com algumas pessoas e chegou a contar que duas crianças estavam esperando na fila de doação. Segundo relata, um barulho alto, de estalo, aconteceu de repente.

A reação de Lula – Políticos, empresários e formadores de opinião em geral se manifestaram, ontem, pelas redes sociais, sobre a tragédia no Morro da Conceição. O presidente Lula, que é pernambucano de Caetés, também lamentou. “Com muita tristeza, soube das duas mortes e dezenas de feridos, alguns em estado grave, no Santuário do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife. Uma tragédia. Minha solidariedade com as vítimas, seus familiares, amigos e com a cidade de Recife neste momento”, escreveu o petista.

CURTAS

EMOÇÃO 1 – Num texto emocionante, o publicitário Edinho Barbosa, que em Pernambuco fez todas as campanhas de Eduardo Campos de forma primorosa, escreveu chorando e se manifestou sobre a tragédia no Morro da Conceição. Confira abaixo.

EMOÇÃO 2 – “Peço a Deus que esse desabamento sirva ao menos para tirar a máscara da hipocrisia, da compra e venda de indulgências que empesteia quase todos os templos de muitas igrejas em nome da religião, que empesteia a política em nome da fé; que ao menos rezem uma “Salve Ranha”, levem uma telha, entreguem uma arma de fogo à polícia e sintam de verdade a tristeza desse desabamento”.

PRISÃO – Majoritário em Sertânia, o deputado estadual Diogo Moraes (PSB) procurou, ontem, o secretário de Defesa, Alessandro Carvalho, para pedir urgência na captura e prisão do agressor do prefeito Ângelo Ferreira. “Foi um ato covarde e esse monstro tem que pagar caro pelo que fez”, disse o parlamentar referindo-se a Nelson do Consórcio, que deu uma facada em Ângelo.

Perguntar não ofende: A polícia só vai prender o agressor de Ângelo depois que ele livrar o flagrante?