Coluna da quinta-feira

Série governadores: Nilo Coelho

Capítulo 3

Gordo, como a maioria dos Coelho, verdadeira enciclopédia de histórias que varreram o País pelo apetite voraz ao redor de uma boa mesa, o governador Nilo Coelho (Arena) era leve como uma pluma no trato com as pessoas. Chegou ao Governo do Estado nomeado pelo presidente Castelo Branco em 1966, auge dos anos de chumbo imposto pelo golpe de 1964.

Sua era foi de 1967 a 1971. Seu maior feito foi reverter a forma histórica de governar Pernambuco, de costas para o Sertão, política adotada pelos seus antecessores. No poder, como a profecia do beato Antônio Conselheiro, pelas suas mãos poderosas o Sertão virou mar. Mar traduzido numa grande estrada, a verdadeira via do desenvolvimento, que marcou uma nova era.

Marcou mais do que isso, o fim do isolamento com a capital: como num passe de mágica, Nilo pavimentou 700 km de Petrolina, sua terra natal, até Recife. Obra de estadista? Não, de um homem que governou com o coração e a mente voltados para o Sertão, provavelmente inspirado na saga da sua família.

Patriarca do Clã, o coronel Clementino de Souza Coelho, pai de Nilo, puro sangue batizado nas águas do Velho Chico, fez brotar prosperidade no chão de vidas secas. De grande proprietário de terras, comerciante e industrial, virou o maior acionista da Companhia Hidroelétrica do São Francisco.

Conhecido como Coronel Quelê, se transformou numa figura lendária do sertão nordestino. Por muito tempo, foi o chefe político mais importante de Petrolina, criou 17 filhos, ergueu um império econômico de fazendas, indústrias e meios de comunicação pelo Nordeste. 

Considerado um dos responsáveis pela industrialização de Petrolina, inspirou livros, entre os quais Coronel Quelê, Adversidade e Bonança, de José Américo de Lima, e Quelê, o Gigante do São Francisco, de José Nivaldo Júnior.

Virou até tese de doutorado, como “As práticas do coronelismo: estudo de caso sobre o domínio político dos Coelho em Petrolina”, de José Morais de Souza, da Universidade Federal de Pernambuco. Nilo Coelho nasceu em Petrolina no dia 2 de novembro de 1920. Ingressou na vida pública como deputado estadual, eleito em 1947 pelo PSD. Em seguida, foi eleito deputado federal.

Antes de virar governador, sina que estava escrita nas estrelas, foi secretário da Fazenda no Governo Etelvino Lins, entre os anos de 52 e 54. Como governador, além de levar o desenvolvimento ao Sertão, a marca da sua gestão, pôs em prática uma política de eletrificação rural, implantou o Lafepe, a Fiam e ampliou a rede rodoviária estadual.

Apoio ao golpe – Nilo Coelho era médico, formado pela Faculdade de Medicina de Salvador. Em 1947, já atuando na profissão, voltou para Petrolina, onde, como o pai, foi seduzido pela política. Em 1954, casou-se com Maria Tereza Coimbra de Almeida Brennand, com quem teve seis filhos. Como deputado federal, estava em Brasília quando eclodiu o movimento militar de 1964, que teve seu apoio. Participou do Bloco Parlamentar Revolucionário, que deu origem à ARENA, após a promulgação do Ato Institucional nº11, em 27 de outubro de 1965.

Irrigação e o Detran – Em 1966, escolhido governador, Nilo sucedeu a Paulo Guerra. Durante seu governo, intensificou a política de irrigação, diversificando a produção irrigada, que se baseava no cultivo da cebola, para o plantio de alho, algodão, uva, frutas e verduras. Desenvolveu uma política de eletrificação rural. Levou energia a mais de 200 distritos da zona da Mata, Agreste e Sertão. Implantou a Comissão Estadual de Controle e Poluição das Águas, o Instituto de Pesos e Medidas e o Departamento de Trânsito de Pernambuco.

Um liberal empreendedor – Sempre de bom humor, Nilo costumava visitar obras em fins de semana e convidava jornalistas para acompanhá-lo. Bom de mesa e de conversas muito agradáveis, ganhou a simpatia da opinião pública e teve um suporte importante de seu irmão Oswaldo Coelho que, nomeado secretário da Fazenda, foi responsável pela modernização modelar no País do sistema fiscal em Pernambuco. Nilo era um liberal que protegeu muita gente perseguida pela ditadura militar.

Patrono de Nova Jerusalém – Como governador, Nilo surpreendeu muita gente ao aparecer de repente sozinho, altas horas da madrugada, nas residências de famílias para avisar de riscos que alguém estaria correndo por causa de questões ideológicas e políticas. Certa vez, chegou sem avisar nas terras do saudoso jornalista Plínio Pacheco, em Brejo da Madre de Deus, para comunicar a ele que iria bancar o projeto da Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo, onde se realiza há 55 anos o drama da morte e ressurreição de Cristo. “Ele chegou na região perguntando onde morava meu pai, depois de ler no Diário de Pernambuco que meu pai queria construir o teatro. Foi determinado e obrigou papai a inaugurar a Nova Jerusalém com menos de ano depois de iniciadas as obras bancadas pelo seu governo”, recorda Robinho Pacheco, filho de Plínio.

Presidente do Congresso do Brasil – Nilo Coelho morreu de um infarto fulminante aos 66 anos, em 9 de novembro de 1983, dias depois de um pronunciamento como presidente do Senado, quando, contrariando o Governo, defendeu a necessidade de investigação da explosão da bomba do Rio Centro. Da tribuna, de improviso, entrou para a história com a frase antológica: “Não sou presidente do Congresso do PDS. Sou presidente do Congresso do Brasil”.

CURTAS

O “NÃO DIZER” – Em outro discurso memorável, em 1 de março de 1983, Nilo Coelho arrancou aplausos do plenário pela sua coragem e compromisso com o povo brasileiro. “Não pretendo passar à história como parlamentar do “não dizer”, quando minha missão é a de falar, de traduzir o pensamento daqueles que represento e expressar a vontade nacional”, disse.

ÁGUA, O MOTOR – Para o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, sobrinho de Nilo, o ex-governador foi incansável no esforço de criar as condições para o desenvolvimento sustentável do sertão. “O acesso à água foi o motor do desenvolvimento que Nilo levou para o Sertão ao implantar os perímetros irrigados do Vale do São Francisco”, disse FBC.  

AMANHÃ TEM PAULO GUERRA – Hoje, o São Francisco produz riquezas por causa da obsessão empreendedora de Nilo Coelho. Morreu com a missão cumprida: Petrolina e Juazeiro (BA) produzem hoje 90% das exportações de uva e manga do Brasil, um negócio pujante, que gera mais de 400 mil empregos diretos. Amanhã, tem Paulo Guerra, que chegou ao poder com a cassação de Miguel Arraes, de quem era vice.  

Perguntar não ofende: Por que Lula não consegue patamares de aprovações como nas duas gestões passadas?