Saiu pela tangente, claro, para não ferir suscetibilidades. Sabe Armando que os motivos da legenda tucana chegar ao fundo do poço vão mais além. Governar o Estado e cuidar dos interesses de um partido são tarefas conflitantes, quase impossíveis. Mas Eduardo Campos foi governador por dois mandatos, delegou a função de dirigente partidário a gente da sua confiança e o PSB nunca cresceu tanto no Estado.
Raquel, na verdade, deve muito a Armando. E não pode reclamar de deslealdade. Foi o ex-senador quem criou, literalmente, a candidatura dela ao Governo do Estado contra a vontade e interesses da família, especialmente o pai, o ex-governador João Lyra Neto, que se comportou o tempo todo contra a ideia de a filha renunciar à Prefeitura de Caruaru, achando ser uma tremenda aventura.
Armando foi mais além. Deu régua e compasso para vê-la chegar ao Palácio do Campo das Princesas, quando abriu mão de presidir o PSDB no Estado. Dirigente tucana, Raquel ganhou visibilidade, já que não tinha mais o comando da Prefeitura. No plano nacional, criou uma liga com as principais lideranças tucanas, entre elas o senador cearense Tasso Jereissati, que contribuiu financeiramente com a campanha da aliada em Pernambuco.
O que se diz é que toda logística da campanha de Raquel foi obra de Armando pelo trânsito nacional que conquistou como presidente da Confederação Nacional da Indústria, a quem ainda hoje presta consultoria, como senador da República e ministro de Estado. Armando se engajou na campanha de corpo e alma, porque enxergou na aliada potencial eleitoral para pôr fim ao reinado do PSB no Estado.
O socialismo foi extirpado, mas Raquel governa bem longe de Armando, o verdadeiro padrinho da sua ascensão ao poder estadual.
Bateu fofo – Confirmada a vitória de Raquel no segundo turno contra Marília Arraes, quando procurado pela governadora na montagem da sua equipe, Armando só fez um pedido: Fred Loyo, empresário arrojado e empreendedor, para ocupar a pasta de Desenvolvimento Econômico, a quem Suape está atrelada. Mas Raquel bateu fofo. Desapontado, o ex-senador sequer foi à posse da governadora, preferindo passar as festas de fim de ano em Portugal.
Fim do ciclo tucano– Desde a sua volta de Portugal, em janeiro deste ano, Armando Monteiro adotou a tática do silêncio sepulcral. O que os seus aliados dizem nos bastidores, no entanto, é que sua estratégia foi dar tempo ao tempo, um tempo que, diga-se de passagem, durou quase um ano e que levou o ex-senador a deixar o PSDB antes mesmo da governadora, que também está à procura de um novo partido. O PSDB, na visão dela e do próprio Armando, está fadado a desaparecer.
Segundo plano – Na entrevista à rádio JC, Armando fez o seguinte desabafo quando forçado a explicar sua jogada de toalha no PSDB: “Raquel Lyra ficou muito dedicada às tarefas do governo e o partido ficou em segundo plano. Essa falta de atividade do partido acabou me colocando uma possibilidade e foi o que aconteceu que a minha missão no partido estava encerrada e dessa forma eu me sentia à vontade para poder ingressar em outra legenda”.
De olho na Câmara – A transferência de Armando para o Podemos, formalizada, ontem, no Recife, tem tudo a ver com o seu novo projeto político: quer voltar à Câmara dos Deputados nas eleições de 2026. “A falta de atividade do PSDB acabou minha missão no partido. Entendi que estava encerrada e dessa forma eu me senti à vontade para poder ingressar em outra legenda”, afirmou.
Petrolina deve R$ 45 milhões – Ao ler nesta coluna o desabafo contundente do prefeito de Petrolina, Simão Durando (Foto), sobre a Compesa, um dirigente da estatal fez o seguinte comentário: “A Prefeitura deve R$ 45 milhões à Compesa. A fatura mensal da água da Prefeitura é de R$ 300 mil, mas o prefeito só paga R$ 20 mil e isso já tem muito tempo, o que gerou esse enorme passivo. Temos problemas em Petrolina, mas 92% da população recebe água diariamente em suas torneiras. O prefeito deveria se preocupar em pagar o passivo ao Estado”.
CURTAS
TRANSPARÊNCIA – O Pará é o Estado com o portal mais transparente entre todas as 27 unidades federativas do País, segundo levantamento realizado pela Atricon (Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil). Tem índice geral de transparência de 80,41%. É seguido por Rondônia, com índice de 79,87%. A Bahia, por sua vez, é o Estado menos transparente.
QUASE LANTERNA – Pernambuco ficou numa posição bastante ruim. Seu índice é de 56,33%, um dos mais baixos entre os 27 Estados. “Quando a gente vai verificar os dados e encontra a média da transparência, quem ficou abaixo da média no Brasil foram os municípios menores, sobretudo aqueles com menos de dez mil habitantes”, declarou o presidente da Atricon, Cezar Miolo.
Perguntar não ofende: Cadê o Estado transparente de Raquel?
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