Meu pai centenário Gastão Cerquinha da Fonseca rompeu, hoje, a sua rotina de reclusão em casa para receber uma homenagem. Foi um dos agraciados com a Medalha Dom Francisco, em solenidade no Cine São José, parte das comemorações pelo transcurso da festa de 113 anos de emancipação política de Afogados da Ingazeira.
A comenda foi entregue pelo prefeito Alessandro Palmeira, o Sandrinho (PSB), na presença de dois dos nove filhos – Augusto e Tarso Martins. Devido a compromissos inadiáveis no Recife, não pude acompanhar esse momento de tamanha emoção. Mas em nome dos meus irmãos Tarso, Maria José, Maria de Fátima, Ana Regina, Marcelo, Gastão Filho e Denise, escrevi o discurso de agradecimento, lido por Augusto. Confira!
Leia mais“Em nome da nossa família, que herdou os princípios da boa educação, alicerçada no amor ao próximo e na fé inabalável em Deus do nosso centenário pai Gastão Cerquinha da Fonseca, alimento permanente e fonte inesgotável da nossa inspiração em vida, agradeço ao Governo Municipal de Afogados da Ingazeira, gerido pelo meu amigo Sandrinho, a outorga da Medalha Dom Francisco a quem nos deu vida, vida em abundância.
Homenagem numa data simbólica, que toca o sentimento de nossa gente orgulhosa deste chão euclidiano, de vidas secas, mas fortemente superadas em sua dor pela poesia que corre nas veias dos nossos mestres do repente e do lirismo, embalada na corrente do Rio Pajeú. Orgulho nosso, terra que meu pai e todos nós amamos, Afogados da Ingazeira faz o seu batismo hoje de 113 anos.
A verdade é que existem vários lugares nesse mundo que podem nos ensinar muito sobre a vida, que nos ensinam o verdadeiro sentido da vida. Nossa Princesa do Pajeú é cheia de histórias incríveis de vida e superação. Pessoas que apesar das circunstâncias da vida são batalhadoras e nunca desistem dos seus sonhos, como o meu pai, um homem que esteve o tempo todo além do seu tempo.
Nunca conheci um homem tão apaixonado pela sua terra, pelo cheiro da sua gente, como meu pai por Afogados da Ingazeira. É sua permanente fonte de inspiração, referência de vida. Ama tanto que deixou a sua história para as gerações seguintes escrevendo três livros sobre personagens que deram uma grande contribuição ao desenvolvimento do município.
Ele mantém, aos cem anos, seu rosto voltado para o sol, mesmo quando há sombras. É o sol escaldante do sertão a luz que abre os caminhos da sua vida. Enquanto houver luz e sol, não haverá nuvens nem escuridão, dizia ele, que é um poeta nato. O sol o ensinou a amar, e seus raios de amor brilham sobre todos nós, seus filhos.
Em um mundo como o nosso, tudo o que precisamos ser é o calor do sol da manhã. E na hora mais sombria, agradecer, porque, no tempo devido, a manhã chegará. Mesmo nos mais difíceis momentos da vida do meu pai, quando ele perdeu mamãe, a nossa flor Margarida, a vida teve seus raios de sol. Algumas pessoas, como ele, parecem receber apenas luz do sol e outras apenas sombras.
Amor e trabalho por Afogados da Ingazeira rimaram na vida de papai como a água e o sol são para as plantas. É um homem altivo, reto, de coração sem tamanho, elevado espírito público. Seu olhar tem a magia que dispensa as nuvens, cria a luz do sol na sua alma.
Seu amor pelo Sertão e Afogados da Ingazeira é tão lindo que vive cantando Catulo da Paixão Cearense feito um Sabiá: “Ah, quem me dera que eu morresse lá na serra abraçado à minha terra e dormindo de uma vez. Ser enterrado numa grota pequenina onde à tarde a sururina chora a sua viuvez não há, oh gente. Este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão. Não há, oh gente, luar mais lindo do que do meu sertão”.
Papai é um homem que sonha, vive e ama o Sertão, a sua pátria sem fronteiras. Seu lema: “Ser e não parecer, regar os sonhos, viver para servir.
Esta medalha que ele recebe vem em nome de um homem abençoado, que lutou muito pelos pobres, que combateu injustiças, que enfrentou poderosos, o nosso Dom Francisco Austregésilo de Mesquita.
Como papai, os sonhos de Dom Francisco vinham da sede da alma. Uma alma sem sonhos é como um sertão sem água. A vida ganha sentido a partir do momento que se tem um “alvo” a ser atingido.
Viva papai, viva dom Francisco, viva nossa querida Afogados da Ingazeira!”
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