Aos 100 anos, papai ganha nova homenagem em Afogados da Ingazeira

Gastão Cerquinha

Meu pai centenário Gastão Cerquinha da Fonseca rompeu, hoje, a sua rotina de reclusão em casa para receber uma homenagem. Foi um dos agraciados com a Medalha Dom Francisco, em solenidade no Cine São José, parte das comemorações pelo transcurso da festa de 113 anos de emancipação política de Afogados da Ingazeira.

A comenda foi entregue pelo prefeito Alessandro Palmeira, o Sandrinho (PSB), na presença de dois dos nove filhos – Augusto e Tarso Martins. Devido a compromissos inadiáveis no Recife, não pude acompanhar esse momento de tamanha emoção. Mas em nome dos meus irmãos Tarso, Maria José, Maria de Fátima, Ana Regina, Marcelo, Gastão Filho e Denise, escrevi o discurso de agradecimento, lido por Augusto. Confira!

“Em nome da nossa família, que herdou os princípios da boa educação, alicerçada no amor ao próximo e na fé inabalável em Deus do nosso centenário pai Gastão Cerquinha da Fonseca, alimento permanente e fonte inesgotável da nossa inspiração em vida, agradeço ao Governo Municipal de Afogados da Ingazeira, gerido pelo meu amigo Sandrinho, a outorga da Medalha Dom Francisco a quem nos deu vida, vida em abundância.

Homenagem numa data simbólica, que toca o sentimento de nossa gente orgulhosa deste chão euclidiano, de vidas secas, mas fortemente superadas em sua dor pela poesia que corre nas veias dos nossos mestres do repente e do lirismo, embalada na corrente do Rio Pajeú. Orgulho nosso, terra que meu pai e todos nós amamos, Afogados da Ingazeira faz o seu batismo hoje de 113 anos.

A verdade é que existem vários lugares nesse mundo que podem nos ensinar muito sobre a vida, que nos ensinam o verdadeiro sentido da vida. Nossa Princesa do Pajeú é cheia de histórias incríveis de vida e superação. Pessoas que apesar das circunstâncias da vida são batalhadoras e nunca desistem dos seus sonhos, como o meu pai, um homem que esteve o tempo todo além do seu tempo.

Nunca conheci um homem tão apaixonado pela sua terra, pelo cheiro da sua gente, como meu pai por Afogados da Ingazeira. É sua permanente fonte de inspiração, referência de vida. Ama tanto que deixou a sua história para as gerações seguintes escrevendo três livros sobre personagens que deram uma grande contribuição ao desenvolvimento do município.

Ele mantém, aos cem anos, seu rosto voltado para o sol, mesmo quando há sombras. É o sol escaldante do sertão a luz que abre os caminhos da sua vida. Enquanto houver luz e sol, não haverá nuvens nem escuridão, dizia ele, que é um poeta nato. O sol o ensinou a amar, e seus raios de amor brilham sobre todos nós, seus filhos.

Em um mundo como o nosso, tudo o que precisamos ser é o calor do sol da manhã. E na hora mais sombria, agradecer, porque, no tempo devido, a manhã chegará. Mesmo nos mais difíceis momentos da vida do meu pai, quando ele perdeu mamãe, a nossa flor Margarida, a vida teve seus raios de sol. Algumas pessoas, como ele, parecem receber apenas luz do sol e outras apenas sombras.

Amor e trabalho por Afogados da Ingazeira rimaram na vida de papai como a água e o sol são para as plantas. É um homem altivo, reto, de coração sem tamanho, elevado espírito público. Seu olhar tem a magia que dispensa as nuvens, cria a luz do sol na sua alma.

Seu amor pelo Sertão e Afogados da Ingazeira é tão lindo que vive cantando Catulo da Paixão Cearense feito um Sabiá: “Ah, quem me dera que eu morresse lá na serra abraçado à minha terra e dormindo de uma vez. Ser enterrado numa grota pequenina onde à tarde a sururina chora a sua viuvez não há, oh gente. Este luar cá da cidade tão escuro não tem aquela saudade do luar lá do sertão. Não há, oh gente, luar mais lindo do que do meu sertão”.

Papai é um homem que sonha, vive e ama o Sertão, a sua pátria sem fronteiras. Seu lema: “Ser e não parecer, regar os sonhos, viver para servir.

Esta medalha que ele recebe vem em nome de um homem abençoado, que lutou muito pelos pobres, que combateu injustiças, que enfrentou poderosos, o nosso Dom Francisco Austregésilo de Mesquita.

Como papai, os sonhos de Dom Francisco vinham da sede da alma. Uma alma sem sonhos é como um sertão sem água. A vida ganha sentido a partir do momento que se tem um “alvo” a ser atingido.

Viva papai, viva dom Francisco, viva nossa querida Afogados da Ingazeira!”

Marcos Valério

Marcos Valério Fernandes de Souza é um homem de muitos segredos. No escândalo do mensalão, pelo qual foi condenado a 37 anos de cadeia, atuou como operador de pagamentos a parlamentares em troca de apoio no Congresso ao então recém-eleito governo Lula. Quase dez anos depois de ele ter recebido a maior pena imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos mensaleiros, a Revista VEJA revela trechos inéditos da delação premiada que o publicitário fechou com a Polícia Federal – e que foi homologada pelo ministro aposentado do STF Celso de Mello. Em um de seus mais emblemáticos depoimentos, Valério afirma que ouviu do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, detalhes sobre o que seria a relação entre petistas e o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal facção criminosa do país.

Segundo Valério, o empresário do ramo dos transportes Ronan Maria Pinto chantageava o então presidente Lula para não revelar o que supostamente seria uma bala de prata contra o partido: detalhes de como funcionava o esquema de arrecadação ilegal de recursos para financiar petistas. O delator afirma que soube da suposta chantagem contra Lula após conversar com Pereira.

De acordo com o delator, o então secretário-geral petista o informou que Ronan ameaçava revelar que o PT recebia clandestinamente dinheiro de empresas ônibus, de operadores de transporte pirata e de bingos e que, neste último caso, os repasses financeiros ao partido seriam uma forma de lavar recursos do crime organizado. Valério é claro ao explicar a quem se referia ao mencionar, genericamente, crime organizado: o PCC.

Em uma série de depoimentos à Polícia Federal, o operador do mensalão informa que o então prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002 em um crime envolto em mistérios, havia produzido um dossiê detalhando quem, dentro dos quadros petistas, estava sendo financiado de forma ilegal. O que Daniel não sabia, disse o delator aos investigadores, é que a arrecadação clandestina por meio de empresas de ônibus não beneficiava apenas a cúpula partidária: vereadores e deputados petistas que mantinham relações com o crime organizado estavam recebendo livremente dinheiro sujo. Na versão do operador do mensalão, o dossiê elaborado pelo prefeito assassinado simplesmente sumiu. “Ninguém achou esse dossiê mais”, diz. Clique aqui e confira a matéria da Revista Veja na íntegra.

Partidos preveem financiar mais candidaturas ao Legislativo após TSE definir teto de gastos

Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definir o teto de gastos para as campanhas dos candidatos este ano, os partidos preveem que o limite deve incentivar o investimento em um número maior de nomes na disputa pelas vagas no Legislativo. Ontem, o TSE definiu que cada candidato a presidente poderá desembolsar no máximo R$ 88,2 milhões e, caso passe para o segundo turno, mais R$ 44 milhões. O valor deve ser usado com despesas como viagens, publicidade na TV e nas redes sociais, entre outros gastos de campanha. As informações são do O Globo.

Nos últimos meses, dirigentes partidários procuraram o presidente da Corte, ministro Edson Fachin, pedindo que o limite para as campanhas presidenciais fosse ampliado. O PT, por exemplo, pretendia gastar até R$ 200 milhões com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão do TSE, contudo, foi de corrigir o teto de gastos com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a taxa de inflação, calculada em 26% nos últimos quatro anos. Assim, o partido decidiu, ontem, que vai investir os R$ 132 milhões permitidos na disputa pelo Palácio do Planalto, bem acima dos R$ 39 milhões usados por Fernando Haddad em 2018.

A Corte também seguiu o mesmo índice para limitar os gastos de candidatos aos demais cargos. Para deputado federal, por exemplo, o máximo será R$ 3,1 milhões, e para deputado estadual, R$ 1,2 milhão. Nas eleições para governador e senador, os limites variam de acordo com o eleitorado de cada estado. Em São Paulo, maior colégio eleitoral, o valor poderá chegar a R$ 39,6 milhões nos dois turnos.

Para Marcelo Issa, diretor do Transparência Partidária, com um teto menor do que inicialmente esperado, as candidaturas devem ficar mais bem distribuídas, com uma pulverização maior entre mais candidatos do que houve na última eleição geral.

— Tem mais um elemento aí que é o fim das coligações para as eleições proporcionais, que deve estimular os partidos a lançarem mais candidatos. Então essa divisão pode ficar mais pulverizada ainda em função disso — disse Issa.

Enquanto no PT o valor para a campanha de Lula já foi definido, o PL, do presidente Jair Bolsonaro, ainda discute como dividir os recursos após o partido receber uma leva de novos filiados. A expectativa da cúpula da legenda era gastar até R$ 150 milhões com a disputa presidencial, mas os valores terão que ser reajustados após a decisão do TSE. Dirigentes da sigla, contudo, admitem que apenas com o fundo eleitoral não será possível financiar todas as candidaturas que pretendem lançar e apostam em doações de pessoas físicas.

— Para o presidente, a gente ainda tem a opção da vaquinha virtual. Estamos apostando muito nisso — afirmou o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente do PL.

Aliado de Bolsonaro, o presidente do PP, deputado Claudio Cajado (BA), afirmou que a sigla não pretende contribuir com a campanha presidencial e vai priorizar candidatos à Câmara dos Deputados. O partido definiu que vai destinar para quem disputar esse cargo um valor igual ao do teto de 2018, sem uma correção: R$ 2,5 milhões.

Mesmo com o fundo eleitoral maior neste ano, no entanto, Cajado afirma que faltarão recursos. Isso porque, como não haverá coligação proporcional, a legenda vai lançar um número muito maior de candidatos a deputado.

— Pela primeira vez, cada partido vai lançar o número máximo de candidatos porque não haverá coligação. Antes, por exemplo, o PP da Bahia lançou nove candidatos. Agora, devem ser 40. Isso vai trazer um gasto muito maior.

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), por sua vez, afirmou que o partido precisará fazer ajustes no orçamento a partir da decisão do TSE. Hoje, a legenda tem R$ 242 milhões no fundo.

— Os valores que já eram escassos (para cada candidato) ficarão mais ainda. Estava esperando essa decisão de hoje para ajustar com a Executiva do partido (quanto será gasto em cada campanha) — afirmou Pereira.

Pereira diz ainda que, a exemplo do PP, o Republicanos não dará uma fatia do orçamento para apoiar a campanha de Bolsonaro. A prioridade de investimento será nas campanhas para deputados federais e senadores, seguido por deputados estaduais e governadores, na ordem de importância.

No PSD, por exemplo, que tem R$ 350 milhões de fundo eleitoral, o pleito dos deputados federais com mandato é de gastar no mínimo de R$ 2,5 milhões. O presidente da legenda, Gilberto Kassab, porém, ainda não comunicou oficialmente quanto cada um terá direito de gastar, mas a expectativa é de que os candidatos sem mandato terão que negociar “no varejo”, a depender do interesse do partido em investir em suas campanhas.

No União Brasil, que é dono da maior parcela do fundo (782,5 milhões), o reajuste pela inflação já era esperado, segundo o deputado Junior Bozzella, vice-presidente do diretório paulista, e deve estimular que o dinheiro seja distribuído em mais candidaturas.

— É bom (o teto) porque gera mais isonomia. Em vez de se comprometer só com quem tem mandato, dá para estimular a chapa e dar uma oportunidade para quem está de fora. Em 2020, já não havia coligações, então foi um laboratório disso. Todo partido tinha que caçar candidato para lançar.

Carlos Lupi, presidente do PDT, afirma que a definição do teto de gastos não deve mudar os planos do partido, que estima investir cerca de R$ 24 milhões dos R$ 253,4 milhões do fundo na campanha presidencial de Ciro Gomes. Para Lupi, o valor é pouco.

— Nós temos que dividir o pouco que temos entre um candidato a presidente, oito governadores, sete senadores e cerca de 1500 deputados estaduais e federais. O teto para nós é inatingível. E como somos pobres, estamos felizes com o que temos — disse o pedetista.

Luiz Inácio Lula da Silva

O PT busca uma forma de impedir que as emendas de relator, parcela do Orçamento sob controle do Congresso, tornem-se impositivas –ou seja, tenham pagamento obrigatório– a partir de 2023. O partido se preocupa com um possível novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto. Ele assumiria com poderes reduzidos caso ganhe a eleição e, paralelamente, as emendas de relator se tornariam impositivas. As informações são do Poder360.

A CMO (Comissão Mista de Orçamento) aprovou, na última quarta-feira, a obrigatoriedade de até R$ 19 bilhões em emendas de relator na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). O mecanismo ainda precisará ser aprovado em outras votações para vigorar.

Caso as mudanças entrem em vigor, o presidente da República não terá a opção de não pagar as emendas de relator.

Isso transfere ao Congresso mais poder sobre o Orçamento e dificulta a liberação/bloqueio de recursos como forma de obter apoio político, algo tradicional no presidencialismo brasileiro.

O Poder360 apurou que os petistas avaliam ao menos duas possibilidades frente à dificuldade de conseguir os votos necessários para impedir a transformação das emendas de relator em impositivas:

Postergar – tentar atrasar a discussão e postergar a votação do Orçamento de 2023 para o começo do ano que vem, quando a correlação de forças no Congresso poderá ser diferente e Lula talvez esteja à frente do Planalto;

Judicializar – tentar uma vitória judicial sobre o tema.

“É uma tremenda de uma sacanagem. Colocar a impositividade da RP9 [emendas de relator] é reduzir ao máximo a capacidade de construção de políticas públicas do Executivo”, disse o deputado Enio Verri (PT-PR), um dos representantes do partido na CMO.

“O Parlamento, nesse momento, está olhando só para dentro. Os parlamentares estão olhando só para eles”, declarou o deputado.

“Vamos trabalhar no plenário”, disse o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG). A votação da LDO pelo conjunto dos congressistas será nas próximas semanas.

Lula tem dado declarações contrárias a essa forma de usar recursos públicos.

As emendas de relator como conhecidas atualmente são recentes. A primeira disputa entre governo e Congresso sobre o tema foi em 2020. À época, a Câmara estava sob Rodrigo Maia (então no DEM, hoje no PSDB-RJ) e o Senado, sob Davi Alcolumbre (então no DEM, hoje no União-AP).

Atualmente quem tem mais poder sobre esses recursos é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em 2022, foram separados R$ 16,5 bilhões para as emendas de relator.

As pesquisas eleitorais mostram Lula com chances de vencer no 1º turno a eleição presidencial. O último levantamento PoderData, divulgado em 22 de junho, mostra Lula com 44% das intenções de voto para o 1º turno. O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), tem 34%.

Fernando Bezerra Coelho

O senador Fernando Bezerra Coelho classificou como “velha e ultrapassada” a afirmação feita pelo deputado Danilo Cabral sobre a privatização da Eletrobras e a suposta “venda” do rio São Francisco. Mentor do governador Paulo Câmara, segundo Bezerra, o pré-candidato do PSB dissemina ideias que levaram Pernambuco a liderar os indicadores de pobreza no país, acrescentou o senador.

Leia a íntegra da nota:

“Essas ideias velhas e ultrapassadas do deputado Danilo Cabral, mentor do governador Paulo Câmara, levaram Pernambuco a liderar os indicadores de pobreza e violência do Brasil. Do São Francisco, Danilo e a turma dele não entendem nada. A onda da mudança para o novo Pernambuco nasce de Petrolina e vai tomar conta de todo estado”, disse Fernando Bezerra Coelho.

Fernando Monteiro

O prefeito de Bom Conselho, João Lucas Cavalcante (PSB), é o novo apoio a Fernando Monteiro (PP), pré-candidato à reeleição como deputado federal. A proximidade entre eles vem desde 2018, quando o prefeito de Bom Conselho era Dannilo Godoy. Isso significa que Godoy, que é pré-candidato a deputado estadual pelo PSB, e Fernando Monteiro também devem formalizar uma dobradinha.

Ontem, o deputado anunciou novos investimentos para o município. São R$ 3 milhões para a saúde e R$ 2 milhões para infraestrutura. Com isso, chegam a R$ 20 milhões os recursos repassados por Fernando Monteiro para Bom Conselho desde 2018. Monteiro destinou de R$ 12 milhões na gestão de Dannilo Godoy e, desde que João Lucas assumiu, outros mais de R$ 3 milhões em emendas importantes para o município.

Boa parte das mais recentes obras de infraestrutura, incluindo a recuperação de estradas, além de recursos federais para a saúde de Bom Conselho, são conquistas de Fernando Monteiro e de sua articulação em Brasília e junto ao Governo do Estado. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas do município, que atende também as cidades vizinhos, é um exemplo das conquistas de Fernando Monteiro. A parceria do deputado na candidatura de Dannilo Godoy deve acontecer também nos municípios Inajá, Tabira e Caetés.

Paulo Diniz

O Sextou de hoje, produzido e transmitido pela Rede Nordeste de Rádio no horário do Frente a Frente, das 18h às 19h, será um tributo ao cantor e compositor Paulo Diniz, que morreu no último dia 22, aos 82 anos. Natural de Pesqueira, Paulo Diniz marcou uma geração entre os anos 70 e 80 com grandes sucessos, como “Pingos de amor”, “Quero voltar para Bahia”, “Um chopp pra distrair” e “E Agora, José”.

O entrevistado será o instrumentista Renato Bandeira, do Som de Madeira, que tocou guitarra e violão por mais de 20 anos na banda de Paulo Diniz. Aos 40 anos, com 30 de carreira, Renato Bandeira é professor de música e toca em bandas de vários artistas, como Silvério Pessoa e até o Spokfrevo. 

Se você deseja ouvir o Sextou pela internet, clique no botão Rádio acima ou baixe o aplicativo da Rede Nordeste de Rádio na play store.

Marco Maciel

Capítulo 17 

Pernambucanidade é um conceito de identidade, construído socialmente através do orgulho da terra, da sua gente, da história e identidade do seu povo. Mais do que isso, é a construção da cultura de um povo guerreiro, de batalhas ganhas e perdidas, que reafirmaram a identidade irredenta dos que nasceram na terra dos altos coqueiros, onde corre o sangue dos seus heróis, como diz o seu hino.

Marco Maciel, com coerência, expressou essas ideias da pernambucanidade, uniformemente, desde os tempos de aluno dos jesuítas no Colégio Nóbrega, na Faculdade de Direito, nas associações estudantis de âmbito estadual e federal, na Assembleia Legislativa, na bancada federal, na Presidência da Câmara dos Deputados, nos Ministérios da Educação e da Casa Civil, no Senado Federal, no Governo do Estado e na Vice-Presidência da República.

Também nas organizações internacionais em representação do Brasil, nas campanhas políticas, em múltiplas tribunas, na cátedra de Direito Internacional Público, em tudo, enfim. Para ele, as belezas soberba e estendal de Pernambuco, que representou na vida pública com o espírito de uma Nova Roma de bravos guerreiros, eram motivo de inspiração, de orgulho, o orgulho estampado na face do Pernambuco imortal, imortal!

“Um homem deve ter uma cultura, a minha cultura é a da pernambucanidade”, costumava dizer Marco Maciel aos que recebia em sua ampla sala na Vice-Presidência da República, em Brasília, apontando para o mapa do Estado exposto na parede, ao lado de uma bela foto do Recife e dos seus rios Capibaribe e Beberibe. Está nos compêndios escolares: Quem nasce em Pernambuco, nasce no meio da história brasileira. A pernambucanidade tem espírito de província, sem provincianismo, sem melancolias”.

Parece resultar da assimilação cultural que só nos faz levar à coexistência. “Fiz de minha vida uma missão: pôr-me sempre a serviço de Pernambuco e do povo pernambucano”, disse Marco Maciel em várias entrevistas e discursos. Para ele, por mais universal que seja a vocação de cada um, como foi a de Joaquim Nabuco, é na terra em que nascemos que buscamos força, inspiração e alento. 

“Devo a Pernambuco e ao povo pernambucano não apenas o que sou, mas tudo quanto, ao longo de minha existência, conquistei no exercício de sucessivos mandatos que sempre me foram concedidos. A esta generosidade não poderia responder senão com empenho e trabalho”, assinalou. Acadêmico, imortal da Academia Brasileira de Letras, o pernambucano Marcos Vilaça prestou uma grande homenagem a Marco Maciel na ABL.

Para ele, Marco Maciel tinha o sentimento do arrocho pernambucano, sem queda da expressão da brasilidade: “Tinha o sentimento e a percepção do sacrifício supremo de Frei Caneca, sempre presente na consciência dele como exemplo da dedicação pernambucana à causa da nacionalidade e das ideias liberais”, disse Vilaça. 

Certa vez, perguntaram a Carlos Drummond: Por que você não volta a Itabira? Ele disse: “porque nunca saí de lá. Com isso, Drummond queria dizer que tinha dentro dele uma alma telúrica; que estava preso à sua terra, à sua gente. Marco Maciel também era assim. Pernambuco, para ele, era a própria imagem da pátria, sua primeira veneração como homem público.

“Marco era um pernambucano extraordinário. Sempre cobrava ações para o seu Estado. Insistiu muito na consolidação do porto de Suape”, testemunhou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu livro de memórias. “Era coerente, discreto, mas sem o pecado da omissão. Seu tempo era o Brasil, o coração Pernambuco, sem pressa e sem descanso”, acrescentou FHC.

“O modo de me portar é o dos pernambucanos: com honestidade, seriedade e trabalho. Meu modo de encarar a vida é, também, o do povo do meu Estado: com amor, alegria, esperança e respeito”, discursou Marco Maciel como senador, em agosto de 2010, ano que sofreu a única derrota nas urnas como político em ação desde 1959, a reeleição para o Senado, quando foram eleitos Armando Monteiro e Humberto Costa na chapa de Eduardo governador.

Em novembro do mesmo ano, Marco Maciel subiu à tribuna do Senado para se despedir. “Desejo iniciar minhas palavras expressando o meu agradecimento a Deus, que me permitiu, com resignação e humildade, aceitar os seus elevados desígnios. E ao povo pernambucano, igualmente agradeço o privilégio de, nos últimos 40 anos, tê-lo representado nos mais altos fóruns do País”. 

“Decidiram os eleitores não renovar o mandato que pleiteei. Isso não significa que deixarei de lutar por seus direitos, propugnar por sua ampliação e combater violações. Pernambuco e os pernambucanos são a razão de minha total dedicação. Mais do que uma vocação, a vida pública que abracei há quase meio século é um compromisso com o nosso povo e suas instituições”, afirmou em seu último e histórico discurso de despedidas. 

A intensa vida pública de Marco Maciel se construiu sobre as bases sólidas da terra de Joaquim Nabuco. Foi secretário de Estado, deputado estadual, deputado federal por dois mandatos, governador, senador por três mandatos e vice-presidente da República nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso. Como governador de Pernambuco, sob o lema “Desenvolvimento com Participação”, deixou um legado extenso de obras e ações na educação, na interiorização da saúde.

Na habitação, ao fim do mandato, entregou 100 mil casas populares. O legado de Marco Maciel, que governou Pernambuco de 1979 a 1982, se estendeu a outras conquistas duradouras para a população, como a urbanização de favelas, a ampliação do abastecimento de água, a implantação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, o início da construção do Metrô do Recife e realizações que atravessaram gerações, tais como: mais de 2,3 mil km de rodovias pavimentadas; irrigação do Vale do São Francisco; perenização de 400 km de rios, no Projeto Asa Branca; ou a ampliação da pista de pouso e do terminal do Aeroporto dos Guararapes. 

Seja na posição de parlamentar, no Congresso Nacional, seja no Palácio do Planalto, durante os oito anos em que foi vice-presidente da República, Marco Maciel possuía como cotidiano de trabalho a obstinada busca pela melhoria da qualidade de vida dos pernambucanos. Revezaram-se em manifestações carinhosas a Marco Maciel, os senadores Antônio Carlos Júnior (DEM-BA), Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Papaléo Paes (PSDB-AP), Eduardo Suplicy (PT-SP), Neuto de Conto (PMDB-SC), Demóstenes Torres (DEM-GO), Marisa Serrano (PSDB-MS) e Álvaro Dias (PSDB-PR).

Marco Maciel foi aparteado pelo colega de Estado e geração política Jarbas Vasconcelos, um dos fundadores do MDB. Foi um dos momentos mais emocionantes da sessão. Jarbas defendeu Maciel das palavras agressivas do então presidente Lula, que, para eleger candidatos aliados ao Senado e preparar o terreno para Dilma Rousseff na Casa, disse mais de uma vez que Marco Maciel transcorreu décadas como protagonista político em Pernambuco, sem reverter essa experiência em benefício dos pernambucanos.

“Quem o agrediu foi nada mais nada menos que o presidente da República – que, na maioria das vezes, se torna uma figura pequena, tacanha. E foi assim que ele se comportou no centro do Recife Antigo quando o agrediu, dirigindo-lhe palavras grosseiras, chulas, impróprias, sem o mínimo de respeito a um parlamentar, ex-governador, ex-ministro, ex-vice-presidente da República, presidente da República – pois vossa excelência tantas vezes ocupou a Presidência”, protestou Jarbas.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) elogiou Marco Maciel, sublinhando a trajetória do colega. Mencionou o nome de vários políticos de estatura que também perderam eleições, como o primeiro-ministro da Inglaterra, Winston Churchill (1874-1965). “Eu mesmo perdi, e a derrota me ajudou muito – disse Simon, que criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter se empenhado na derrota de Marco Maciel.

O tempo passou e se encarregou de mostrar a importância de Marco Maciel. Há pouco, a Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou – e o governador Paulo Câmara sancionou – a lei “Patrono do Legislador” com o nome de Marco Maciel, de autoria do deputado Clodoaldo Magalhães. “É importante valorizar a história e a memória de Pernambuco daquele que foi o símbolo da conciliação. Daquele que unia as divergências e trazia para o centro o equilíbrio. Neste momento que o Brasil vive de tanta tensão política, e de tantos extremismos, Marco Maciel deve ser celebrado e sua memória ser trazida para o aprendizado da política brasileira”, afirmou o parlamentar.

Veja amanhã

Com o voto vinculado, Marco Maciel elegeu Roberto Magalhães governador e derrotou Marcos Freire