Eleição no PT e a assombração de 2026
O PT volta às urnas na próxima sexta-feira. Trata-se de uma eleição interna, o PED, Processo de Eleições Diretas, voltado para renovação dos comandos da legenda em nível nacional e nos Estados. Ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, deve ser eleito, substituindo o pernambucano Humberto Costa, que encerra sua missão interina de seis meses, sucedendo a Gleisi Hoffman, que virou ministra.
Mas tanto Edinho quanto seus adversários não escondem preocupações com as derrotas enfrentadas pelo presidente Lula no Congresso e a dificuldade do governo petista para reverter a crise de popularidade. Esses dois fatores acentuaram as preocupações do PT com as eleições de 2026. Nos debates entre os candidatos à presidência do partido, lideranças petistas falaram abertamente sobre o temor de uma eventual derrota na disputa presidencial e sobre o desânimo da militância.
Leia maisO processo de eleição interna do PT evidencia os desafios do partido para melhorar a aprovação do governo Lula. Nos debates com os quatro candidatos ao comando nacional da legenda são frequentes as cobranças sobre a estratégia eleitoral para 2026 e sobre quais serão as bandeiras para tentar reeleger o presidente. São recorrentes também as críticas à política econômica, à articulação política, sobretudo com o Congresso, e à demora para estruturar as candidaturas à Presidência e nos Estados.
Além de Edinho, disputam a presidência do partido o ex-presidente do PT e deputado Rui Falcão; o secretário de Relações Internacionais da sigla, Romênio Pereira; e o dirigente Valter Pomar. Nos cinco debates já realizados pelo PT no País, os postulantes —, que já vivenciaram crises como o mensalão, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a Operação Lava-Jato e a prisão de Lula —, foram explícitos ao dizer que o atual momento é o mais difícil da história recente da legenda. Além de convergirem na preocupação, outro consenso é que Lula será candidato à reeleição em 2026.
As discussões entre os candidatos têm sido marcadas pela pressão por mudanças nos rumos do governo, especialmente na área econômica, e para que Lula e o PT reajam para reverter a alta desaprovação do governo.
CRÍTICAS DURAS – “Não podemos fechar os olhos para os erros. Defender o governo não é blindá-lo de críticas. É preciso dizer com responsabilidade: ou o governo não é blindá-lo de críticas. É preciso dizer com responsabilidade: ou o governo muda ou o povo muda de governo”, disse Romênio Pereira, em São Paulo, em debate na última sexta-feira. Há pressão também para reforçar o diálogo com os trabalhadores informais, jovens e conservadores, além da necessidade de se reaproximar dos pobres e de melhorar a comunicação nas redes. Outra questão é qual discurso usar em 2026.

Conjuntura gravíssima – Edinho Silva, candidato favorito, representante da corrente majoritária do PT, avalia que a conjuntura enfrentada pelo partido e por Lula é “extremamente grave”. “É a mais difícil para nós, da esquerda, no pós-segunda guerra mundial”, disse, em Porto Alegre, também num debate. “Não vivenciamos mais o presidencialismo. Quando o Congresso executa R$ 52 bilhões de emendas, esse regime não é mais presidencialista”, acrescentou. Com apoio nos bastidores de Lula, Edinho relembrou do enfraquecimento do partido em 2024 e disse que é preciso “disputar as periferias e as novas classes trabalhadoras”.
Risco de derrota – Com críticas semelhantes, Valter Pomar, também postulante à presidência do PT, disse que o partido tem se afastado de suas origens e afirmou que a legenda vive um “momento crítico”. “Corremos o risco de perder as eleições de 2026 ou então ganhar, mas com uma vitória de Pirro, sem condições de fazer governo com o programa vitorioso”, disse, em Porto Alegre, em discurso semelhante ao feito no Rio. “Estamos perdendo crescentemente apoio na classe trabalhadora. Apesar do esforço da militância, o partido não se faz presente na organização e luta cotidianas”, acrescentou.
Falcão fala em inércia – Rui Falcão, por sua vez, reclama da “inércia” do partido para 2026 e ressalta a preocupação com as derrotas no Legislativo. “Estamos emparedados no Congresso, sob um cerco violento. Eles tentam, ao mesmo tempo, criar as condições para a nossa derrota e preparar um candidato supostamente moderado, como se fosse possível um bolsonarista ser moderado”, disse no debate do Rio, em referência ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), possível adversário de Lula.

Botar o time para jogar – Na disputa pelo comando do PT em Pernambuco contra o favorito Carlos Veras, o ex-deputado federal Fernando Ferro tem batido duro também na postura do partido na relação com o PSB. Em debates, chegou a pregar a necessidade urgente de o PT deixar de ser sub-legenda do PSB, como assim definiu. Para ele, o partido tem nomes competitivos para disputar o Governo do Estado em faixa própria, como os senadores Humberto Costa e Teresa Leitão. O próprio Ferro se mostra disposto a encarar o desafio, desde que o partido tenha consciência de que não pode continuar a ser capacho do PSB. “Time que não joga, não ganha campeonato”, adverte.
CURTAS
CIDADES RUINS 1 – Pernambuco tem dez municípios em condições críticas ao acesso da população às necessidades básicas para o ser humano viver bem, como alimentação adequada, cuidados médicos básicos, água potável, saneamento, moradia e segurança pessoal. É o que avalia o Índice de Progresso Social (IPS) 2025, levantamento sobre a qualidade de vida da população.
CIDADES RUINS 2 – Itamaracá lidera o ranking, com a média 54,55. Em uma situação semelhante está a segunda colocada, São José da Coroa Grande (56,13), no litoral Sul. A nota baixa em Segurança é idêntica, 9,64, e responsável por rebaixar a média geral. Terceiro no ranking com piores índices em acesso às necessidades básicas à população está Casinhas (56,26), no Agreste. Completam a lista Paranatama, Rio Formoso, Araçoiaba, São Vicente Férrer, Carnaubeira da Penha e Jupi.
WOLNEY NO PODCAST – Retomando o podcast Direto de Brasília, hoje, depois da paradinha para os festejos juninos, entrevisto o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, que tem pela frente muitos desafios, especialmente com a instalação da CPI Mista do INSS, cujos trabalhos devem começar no próximo mês, abrindo a agenda do Congresso no segundo semestre. O podcast vai ao ar às 18 horas, em parceria com a Folha de Pernambuco.
Perguntar não ofende: Por que a eleição no PT ainda acontece com cédula no papel?
Leia menos